Dourado,
Cinza e Esquisito
Por Trevas
Quinto capítulo da
conturbada jornada musical de John Dyer Baizley e seu Baroness, Gold & Grey marca a
estreia de Gina Gleason nas guitarras, substituindo o membro de longa data Peter Adams. Novamente ornado com bela arte gráfica de criação do
vocalista/guitarrista, o disco foi composto como uma espécie de biografia de Baizley, hoje convivendo com as dores
crônicas deixadas pelo sério acidente que quase ceifou a vida dos membros da banda
em 2012.
Baroness, turma de 2019 |
Rápida introdução etérea e logo Front
Towards Enemy toma de assalto nossos ouvidos. Idos são os tempos em que os
caras soavam como um Mastodon parte
2, o que temos aqui é uma banda de Rock versátil, repleta de melodias
interessantes. Do Sludge de outrora,
restam algumas intrincadas partes de guitarra, engrandecidas com a chegada da
nova caloura.
I’m
Already Gone tem de início uma levada em Loop e linha e baixo bacana (por Nick Joost, que também toca os sintetizadores) que remetem aos Synth Pop de outras eras, uma beleza de música, mas que explicita um
grande defeito do disco: a produção de Dave
Fridmann (Weezer, Flaming Lips, Mercury Rev) é
simplesmente horrorosa. Não sei qual foi a intenção aqui, mas a sujeira
constante, como se estivéssemos ouvindo a música em uma caixa de som estourada
não confere nenhum charme ao trabalho. E convenhamos, ouvir 17 faixas (uma hora
e pouco de disco) nessas condições não é lá muito agradável.
Seasons
começa, como diz o próprio Baizley
como “o The Police no pior de seus dias”, mas ganha o ouvinte com o peso ao
meio da canção aliado a solos de guitarra bem diferentes e uma inesperada
presença de Blast Beats.
Sevens é um dos delicados
interlúdios instrumentais aqui presentes, fazendo as vezes de introdução para Tourniquet. Primeira faixa composta
para o novo disco, ela começa absolutamente sessentista, para então evoluir
para algo que poderia figurar em alguma rádio rock nos anos 1980. E quando você
acha que entendeu para onde a música está indo, ela toma um novo rumo. Bela canção,
Gina mostra que trouxe ideias muito
boas para os temas de guitarra e Sebastian
Thomson preenche os espaços com
padrões sempre interessantes de sua bateria, lembrando somente nesse ponto as
comparações passadas com o Mastodon.
Anchor’s Lament faz a ponte entre a faixa anterior e Throw Me An Anchor. Com seus intrincados temas de guitarra, senso
de urgência e bateria tresloucada aliados a um baita refrão, ela é forte
candidata a música de destaque aqui. I’d
Do Anything, uma bela e dark balada, mantém a versatilidade e qualidade em
alta. Blankets Of Ash é só uma colagem
de efeitos sonoros e Emmet – Radiating
Light, com as vozes combinadas de
John e Gina e clima sensível, parece saída de um disco de MPB.
Cold-Blooded Angels continua a toada
mais calma, uma das favoritas de Baizley,
traz inclusive a filha do “hômi” nos Backing
Vocals. Ainda que a música ganhe um
pouco de energia em sua metade final, não conseguiu me ganhar com a mesma força
que outras do pacote. Broken Halo é a música mais “normal” em todo o
disco, e definitivamente não chega a se destacar de início, mas cresce bastante
com o belo tema de guitarra em sua reta final.
Can Oscura é uma loucura instrumental repleta de psicodelia que prepara
o terreno para Borderlines, um
excitante elo perdido entre o Baroness
dos primórdios e o de agora. Temas instrumentais intrincados convivem em
harmonia com melodias radiofônicas e climas que se alternam como se saltassem
de década para década.
Bem que o disco poderia acabar aí, infelizmente ainda temos a irritante
vinheta Assault On East Falls, seguida da viajante Pale Sun, com harmonias vocais repetitivas em cima de uma levada em Loop. Uma pena que a longa duração do
disco, superpovoado com 17 faixas, aliada a uma produção irritantemente suja,
seja capaz de minar o que poderia ser o trabalho definitivo do Baroness. Gold & Grey pode ser um disco de difícil
digestão num primeiro momento (num segundo também, quiçá num terceiro), mas
acredite: vale a insistência. (NOTA: 8,57)
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Gravadora: Abraxan Hymns (importado)
Prós: denso e repleto de belas músicas
Contras: produção porca, longo demais
Classifique como: Sludge Metal, Prog Metal
Para Fãs de: Opeth, Mastodon
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