sábado, 30 de novembro de 2019

Baroness – Gold & Grey (CD-2019)



Dourado, Cinza e Esquisito
Por Trevas

Quinto capítulo da conturbada jornada musical de John Dyer Baizley e seu Baroness, Gold & Grey marca a estreia de Gina Gleason nas guitarras, substituindo o membro de longa data Peter Adams. Novamente ornado com bela arte gráfica de criação do vocalista/guitarrista, o disco foi composto como uma espécie de biografia de Baizley, hoje convivendo com as dores crônicas deixadas pelo sério acidente que quase ceifou a vida dos membros da banda em 2012.

Baroness, turma de 2019
Rápida introdução etérea e logo Front Towards Enemy toma de assalto nossos ouvidos. Idos são os tempos em que os caras soavam como um Mastodon parte 2, o que temos aqui é uma banda de Rock versátil, repleta de melodias interessantes. Do Sludge de outrora, restam algumas intrincadas partes de guitarra, engrandecidas com a chegada da nova caloura.




I’m Already Gone tem de início uma levada em Loop e linha e baixo bacana (por Nick Joost, que também toca os sintetizadores) que remetem aos Synth Pop de outras eras, uma beleza de música, mas que explicita um grande defeito do disco: a produção de Dave Fridmann (Weezer, Flaming Lips, Mercury Rev) é simplesmente horrorosa. Não sei qual foi a intenção aqui, mas a sujeira constante, como se estivéssemos ouvindo a música em uma caixa de som estourada não confere nenhum charme ao trabalho. E convenhamos, ouvir 17 faixas (uma hora e pouco de disco) nessas condições não é lá muito agradável.


Seasons começa, como diz o próprio Baizley como “o The Police no pior de seus dias”, mas ganha o ouvinte com o peso ao meio da canção aliado a solos de guitarra bem diferentes e uma inesperada presença de Blast Beats.


Sevens é um dos delicados interlúdios instrumentais aqui presentes, fazendo as vezes de introdução para Tourniquet. Primeira faixa composta para o novo disco, ela começa absolutamente sessentista, para então evoluir para algo que poderia figurar em alguma rádio rock nos anos 1980. E quando você acha que entendeu para onde a música está indo, ela toma um novo rumo. Bela canção, Gina mostra que trouxe ideias muito boas para os temas de guitarra e Sebastian Thomson preenche os espaços com padrões sempre interessantes de sua bateria, lembrando somente nesse ponto as comparações passadas com o Mastodon.



Anchor’s Lament faz a ponte entre a faixa anterior e Throw Me An Anchor. Com seus intrincados temas de guitarra, senso de urgência e bateria tresloucada aliados a um baita refrão, ela é forte candidata a música de destaque aqui. I’d Do Anything, uma bela e dark balada, mantém a versatilidade e qualidade em alta. Blankets Of Ash é só uma colagem de efeitos sonoros e Emmet Radiating Light, com as vozes combinadas de John e Gina e clima sensível, parece saída de um disco de MPB. 



Cold-Blooded Angels continua a toada mais calma, uma das favoritas de Baizley, traz inclusive a filha do “hômi” nos Backing Vocals. Ainda que a música ganhe um pouco de energia em sua metade final, não conseguiu me ganhar com a mesma força que outras do pacote. Broken Halo é a música mais “normal” em todo o disco, e definitivamente não chega a se destacar de início, mas cresce bastante com o belo tema de guitarra em sua reta final.



Can Oscura é uma loucura instrumental repleta de psicodelia que prepara o terreno para Borderlines, um excitante elo perdido entre o Baroness dos primórdios e o de agora. Temas instrumentais intrincados convivem em harmonia com melodias radiofônicas e climas que se alternam como se saltassem de década para década.


Bem que o disco poderia acabar aí, infelizmente ainda temos a irritante vinheta Assault On East Falls, seguida da viajante Pale Sun, com harmonias vocais repetitivas em cima de uma levada em Loop. Uma pena que a longa duração do disco, superpovoado com 17 faixas, aliada a uma produção irritantemente suja, seja capaz de minar o que poderia ser o trabalho definitivo do Baroness. Gold & Grey pode ser um disco de difícil digestão num primeiro momento (num segundo também, quiçá num terceiro), mas acredite: vale a insistência. (NOTA: 8,57)

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Gravadora: Abraxan Hymns (importado)
Prós: denso e repleto de belas músicas
Contras: produção porca, longo demais
Classifique como: Sludge Metal, Prog Metal
Para Fãs de: Opeth, Mastodon


quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Skyblood – Skyblood (CD-2019)




Multi-Mats Levén
Por Trevas

Skyblood é na verdade o nome escolhido para o primeiro trabalho solo de Mats Levén, sueco cuja voz já ornou mais de 50 trabalhos de gente como Krux, Candlemass, Therion, Firewind e At Vance. Quando digo trabalho solo, nesse caso é de maneira literal, Mats, que comemora 30 anos de carreira, gravou absolutamente tudo, sim, tudo mesmo, o que ouvimos aqui. E ainda assinou a produção. Só faltava ser dele também a bela arte de capa do projeto. Bom, vamos a Skyblood, banda e disco.

Mats e sua banda
A sonoridade escolhida parece querer encapsular um pouco de cada projeto em que o vocalista já se envolveu. E consegue. Há elementos de Doom, Hard, Prog e sinfônico aqui, mas de maneira equilibrada. Não, não soa como um balaio de gatos, há uma curiosa personalidade própria no projeto. Após uma introdução orquestrada que dá uma cara de trilha sonora ao início do disco, The Voice mostra o primeiro relance da...ehr, voz, de Skyblood


Claro que, para saber se você deve ou não investir seu dinheiro (ou tempo) no Skyblood, é importante perguntar se você é ou não fã da voz de Levén. Dono de um alcance invejável, seu timbre não é exatamente algo que me encante, e aqui está mais rascante do que o usual. Em alguns momentos lembra bastante um Axl Rose se este resolvesse tomar umas boas aulas de canto.


A destacar, as melodias e climas são muito bacanas. Seja no ar de AOR moderno de For Or Against (que sei lá bem por que me lembrou o clima de We Don’t Need Another Hero, da Tina Turner), seja na urgência da faixa de trabalho The Not Forgotten ou na grandiloquência prog dos 10 minutos da faixa de encerramento Le Venimeux, há muita personalidade e criatividade aqui. Enfim, Skyblood é um disco interessante e que possui uma sonoridade por vezes estranha, mas sempre única.  Uma grata surpresa (NOTA: 8,10)

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Gravadora: Napalm Records (importado)
Prós: clima bem único
Contras: Mats pode irritar
Classifique como: Hard Rock, Prog Metal
Para Fãs de: Queensrÿche, The Devin Townsend Project


segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Saint Vitus – Saint Vitus (CD-2019)



Scott is Dead, Long Live Scott
Por Trevas

Sete anos após o decepcionante retorno do Saint Vitus aos trabalhos em estúdio (então vindos de um hiato de 17 longos anos), de maneira absolutamente inesperada me deparo com a notícia de que a banda soltaria um novo rebento. Homônima, a bolachinha marca o retorno de Scott Reagers ao microfone, posto que ocupou na estreia da banda, também com um disco homônimo, 35 anos atrás. Scott substitui seu xará, Scott Wino Weinrich, que abandonou o SV para reativar o The Obsessed mais uma vez. O Saint Vitus atualmente é praticamente a banda de Dave Chandler, o outro membro original na formação. O restante do bando é composto por Henry Vasquez na bateria e o estreante Pat Bruders (Down, Crowbar) no baixo. Um disco homônimo a essa altura da carreira geralmente gera a expectativa de reinício ou reinvenção. A forte e simples arte gráfica também parece pressagio de que um novo Saint Vitus nos espera. Será que o som acompanha a expectativa? 

Rostinhos bonitos? Saint Vitus 2019
Sujeira e fuzz sempre fizeram parte do cardápio em se tratando dos veteranos do Doom estadunidense, e elas dão as caras logo na abertura, com a Sabbathesca e soturna Remains. Doom até a medula, a faixa é um bom cartão de visitas da banda e serve também para mostrar que a voz de Reagers está vívida como da última vez em que a ouvimos, mais precisamente em Die Healing, de 1995. A produção de Tony Reed é consideravelmente mais Old School do que a do disco anterior, e essa possivelmente foi a intenção. Casa bastante bem com a proposta e nos faz pensar no título do disco como uma referência aos primórdios da banda. Um reinício e não uma reinvenção, enfim. 


A climática e quase The Doors A Prelude To... soa exatamente como prelúdio para um algo que nunca chega a acontecer. Mas ainda assim funciona. Principalmente por anteceder a fúria Punk da visceral Bloodshed. Nela Chandler mostra que seu repertório vai desde os riffs monolíticos de um Iommy até uma urgência quase Motörheadiana. A trauletada seguinte, 12 Years In The Tomb, é o tipo de belezura que esperávamos encontrar no mal-acabado Lillie: F-65.


Wormhole é outra faixa que faria sentido realocada em qualquer bom disco do passado da banda. Hourglass, inteiramente composta pelo baterista Vasquez, parece um tributo ao primeiro disco do Black Sabbath: o perfeito elo perdido entre um Blues sujo e o Heavy Metal primitivo. Como nem tudo são flores, City Park não contribui com nada além de 4 intermináveis minutos de sons aleatórios, fuzz e falação. Para nossa sorte o disco volta aos eixos com o quase Funeral Doom de Last Breath, com ótima interpretação por parte de Reagers, terminando com a curta e feroz Useless. Enfim o Saint Vitus está de volta, e dessa vez com um disco que faz justiça a seu legado - que não tenhamos que esperar tanto pelo próximo disco! (NOTA: 8,21)

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Gravadora: Urubuz Records (nacional)
Prós: Um retorno digno do legado do Saint VItus
Contras: City Park é inexplicável
Classifique como: Doom Metal
Para Fãs de: Black Sabbath, Trouble

domingo, 24 de novembro de 2019

Kadavar – For The Dead Travel, Fast (CD-2019)



Retro-Rock Direto da Toca do Vampiro Doidão
Por Trevas

Após dois discos em que envenenou seu stoner com mais peso e experimentalismo, somados a alguma modernidade na produção, parece que o hirsuto trio teutônico Kadavar resolveu dar marcha-a-ré na máquina do tempo, apostando numa história conceitual baseada nas várias releituras da mitologia do senhor dos mortos, Drácula.

Convenção de Bruxos velhos?
Em meio a muita fumaça, The End se mostra uma introdução lânguida e psicodélica que ironicamente inicia os trabalhos, preparando território para uma pérola do Doom progressivo: The Devil’s Master. A produção, nas mãos do tresloucado batera Tiger Bartelt, muito mais vintage do que nos discos anteriores, a voz de Lupus Lindemann emulando o que parece ser um jovem Ozzy com sífilis, tornando a apreciação do som um pouco ardilosa. Mas vale a tentativa! Os riffs matadores estão lá, apenas trabalhando de maneira mais contida ao longo da canção.


A virulência e peso retrô habituais passa a frente na viciante Evil Forces, com baixo gorduroso, bateria alucinante, grandes riffs e solos. O som do Kadavar, sempre com pés fincados no passado, nunca soou tão genuinamente antigo, casando com perfeição com a foto envelhecida e os trajes dos músicos na arte de capa. Na verdade, o novo disco soa totalmente Kadavar, mas de uma maneira diferente, nada como nenhum dos discos anteriores. Children Of The Night confirma a impressão passada pelas faixas anteriores: os caras continuam mestres na rifferama, apenas decidiram criar um clima de suspense na construção das canções, de maneira a casar com as letras, pequenos contos de horror com um enfoque algo existencialista. 


Dancing With The Dead é uma valsa algo progressiva repleta de climas interessantes e que provavelmente pedirá por improvisos em sua execução ao vivo. Poison é bem mais pesada e urgente, e mostra o Rei dos Vampiros em sua conhecida repulsa pela humanidade dessa vez temperada por um viés de crítica social e comportamental.  Demons In My Mind é excelente e algo espacial, parecendo fazer a ponte entre o novo trabalho e os caminhos seguidos nos dois discos anteriores.



Saturnales é mais experimental, com o baixista Simon Bouteloup assumindo os vocais principais. Funciona praticamente como uma preparação para Long Forgotten Song, um misto de Blues com Doom que faria tio Iommi orgulhoso, a faixa mais longa de For The Dead Travel, Fast. Com seu quinto trabalho de estúdio, o Kadavar mergulha de maneira firme e certeira na história de Drácula e num som que parece erguido triunfantemente das brumas lisérgicas do final dos anos 1960. Absolutamente matador (NOTA: 9,39)

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Gravadora: Shinigami Records (nacional)
Prós: esfumaçado e repleto de climas
Contras: o disco mais viajante dos barbudos
Classifique como: Retro-Rock, Stoner, Rock Psicodélico
Para Fãs de: Graveyard, Uncle Acid & The Deadbeats


sábado, 23 de novembro de 2019

Crobot – Motherbrain (CD-2019)



As Novas Aventuras de Crobot  
Por Trevas

Quem acompanha a Cripta deve se lembrar que nosso chimpanzé adestrado escreveu em janeiro de 2015 uma empolgada resenha sobre o primeiro Full Length dos estadunidenses do Crobot: Something Supernatural (ler aqui). Pois então, os caras tiveram um impacto considerável com aquele disco, mas o trabalho seguinte, Welcome To Fat City (2016) falhou em manter o Hype. Eis que o single recém lançado Low Life volta os holofotes novamente para os maconheiros, agora oficialmente um trio, comandado criativamente pelo tresloucado vocalista Brandon Yeagley e pelo riffeiro Chris Bishop. Com produção de Corey Lowery (Seether, Stuck Mojo) e surpreendente lançamento nacional (pela Hellion), vamos à Motherbrain!

Brandon: "tens seda?"
Burn de cara mostra que o som dos malucos mudou um bocado, o Stoner/Southern Metal ganhou um upgrade no Groove e uma pegada mais metalizada do que psicodélica. Mas longe de ficar exatamente previsível, vide o solo de harmônica em meio à paulada. Algumas resenhas para a banda chegam a citar referências ao Funk Metal, muito popular na década de 1990, e definitivamente não estão viajando não, só escutar a faixa de trabalho Keep Me Down, engrandecida, como se faz repete por todo o disco por um refrão grudento, baixo pulsante (em estúdio nas mãos do guitarrista e do produtor) e guitarra com efeitos bacanas.


A versatilidade comanda aqui, e Drown pode agradar tanto aos fãs do rock Alternativo da era grunge quanto os adeptos de um Hard Rock como nos momentos mais encorpados de um Skid Row. E as tantas influências e referências não ficam perdidas não, graças a uma maior maturidade da banda e das mãos certeiras do produtor. Tudo aqui é muito bem tocado, mas o destaque dos destaques fica com o gogó privilegiado de Brandon Yeagley, que além de cantar demais tem fama de excelente frontman.  É chegada a hora da música que reativou o interesse do grande público no som do Crobot: Low Life é uma delícia funkeada com refrão viciante.



A banda pode ter quase extinguido seu lado mais Occult Rock/Psicodélico, mas o senso de humor permanece intacto, como pode ser visto na letra da matadora Alpha Dawg. Stoning The Devil tem um que de Soundgarden (e dos bons momentos) e arriscaria a colocar a mesma como um dos pontos altos de um disco bem homogêneo.


E o disco não dá descanso nem em sua reta final: Gasoline, Destroyer (reativando as letras de filme de ficção Z), Blackout, Afterlife e The Hive estão todas infestadas de grandes momentos e refrães viciantes até a medula. Em suma, coloque Motherbrain para rodar e corra o risco de não conseguir tirar a bolachinha de seu som por um bom tempo. (NOTA: 9,08)

Visite o The Metal Club
Gravadora: Hellion Records (nacional)
Prós: uma miscelânea de referências sonoras que toma uma bela cara própria
Contras: absolutamente nada a declarar
Classifique como: Southern Metal, Hard Rock, Stoner
Para Fãs de: Clutch, Skid Row

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Eclipse – Paradigm (CD-2019)



Total Eclipse Of Farofa
Por Trevas

O sétimo trabalho de estúdio dos suecos do Eclipse vem envolto em algumas dúvidas quanto ao futuro do projeto. Outrora principal válvula de escape criativa do multi-homem Erik Martensson (vocalista, produtor, baixista, compositor), atualmente a banda disputa a atenção com outros trocentos projetos do músico, um dos xodós da Frontiers Records, que coloca o rapaz para compor músicas para um monte daqueles combos repletos de artistas decadentes que o selo italiano adora abraçar. O próprio Erik andou dizendo em entrevistas que era hora do Eclipse evoluir, já que ele sentia a fonte aos poucos secando para o estilo antigo da banda. Mas se a preocupação é com a qualidade das composições, o início desse Paradigm se mostra para lá de promissor. Impossível não sair cantarolando Viva La Victoria logo após a primeira audição. Não por acaso, foi escolhida como faixa de abertura e primeira a ser trabalhada na divulgação do novo disco. Mary Leigh pode ser de uma xaropagem lírica assustadora, mas é igualmente grudenta e viciante.

Erik e sua trupe de vikings farofentos
Blood Wants Blood nos faz perceber um cuidado constante com a inserção de violões e temas celtas ao longo do disco, o que dá ao trabalho uma cara de Gary Moore de sua fase Hard. Particularmente acho uma inclinação para lá de agradável. Shelter Me é uma balada bonita pacas, Jon Bon Jovi mataria por uma dessas nesses tempos de vacas magras. 


Por falar em Bon Jovi, United definitivamente não ficaria nem um pouco desencontrada naquele disco da trilha sonora de Young Guns II. A produção de Martensson é impecável e dá espaço para os arranjos mais trabalhados da carreira dos suecos, sem descaracterizar a acessibilidade necessária a um estilo imediatista como o Arena Rock/Hard Rock/AOR praticado. Individualmente, todos cumprem suas funções com maestria, mas quem já conhece a banda nunca duvidou disso. Delirious enfim baixa um pouco (só um pouco) o nível, lembrando demais trabalhos anteriores da banda. When The Winter Ends é a Power Ballad que todo farofeiro sonha em compor enquanto passa laquê no cabelo de poodle.




Em termos de letras, Erik costuma até tentar se afastar vez ou outra do padrão dor de corno comum ao estilo. Em .38 or .44 por exemplo, faz seu protesto à cultura armamentista estadunidense, mais uma música bacana, com belos solos e temas de guitarra. Em um disco que já beirava a perfeição, ainda somos confrontados com duas das melhores composições do pacote já na reta final: Never Gonna Be Like You e a metálica e celta The Masquerade (a despeito das acusações de plágio do nada confiável larápio Timo Tolkki) disputam palmo a palmo com qualquer coisa que a banda já tenha feito anteriormente. E arrisco dizer, Paradigm pode não ter exatamente quebrado nenhum paradigma do Hard/AOR, mas é facilmente um dos melhores trabalhos do estilo que escuto em anos, e provavelmente o melhor disco da carreira dos suecos (NOTA: 9,48)



Visite o The Metal Club
Gravadora: Hellion Records (nacional)
Prós: um pacote irresistivelmente grudento de canções
Contras: não, não quebra nenhum paradigma
Classifique como: Hard Rock, AOR
Para Fãs de: Whitesnake, Blue Murder, Gary Moore (fase Hard)


sábado, 16 de novembro de 2019

Pristine – Road Back To Ruin (CD-2019)




Estrada Retrô
Por Trevas

O combo Norueguês liderado pela voz marcante de Heidi Solheim chega a seu quinto trabalho de estúdio. Até então totalmente desconhecido por aqui, ganhou alguma fama planeta afora ao ter destaque no concurso estadunidense Internacional Blues Challenge. Apesar de estar galgando território na onda Retro Rocker que toma conta da cena, a história da Pristine remonta à 2006, tendo muito mais estrada do que algumas bandas com às quais vem sendo comparada, como a Blues Pills. Já havia escutado uma ou outra música via YouTube, mas Road Back To Ruin será minha primeira experiência com um disco completo da Pristine. Vamos lá...

Tia Heidi levou um pouco à sério demais esse lance de fazer um som "pés-no-chão" 
Sinnerman abre os trabalhos com um rockão setentista direto e bacanudo. Aqui a comparação que a banda vem recebendo com o combo multinacional Blues Pills fica ainda mais fácil de entender: Heidi parece saída da mesma forma que a magistral Elin Larsson. A diferença aqui reside no fato de Pristine ser um veículo para a criatividade da ruiva, que compões todas as músicas (alguma em parcerias), tendo a seu lado uma dezena de bons músicos, mas funcionando mais como um projeto solo do que uma banda, a despeito das fotos de divulgação estarem sempre centradas em um suposto quarteto principal.


Na faixa título percebemos que a sonoridade tem sim nuances que destacam a banda de outras que trilham a onda Retro-rocker, um épico quase Doom que não esconde elementos de Rock Alternativo (e pitadas de Björk nas linhas melódicas, se não estou ficando pirado) aqui e acolá. Bluebird nos devolve ao Blues Rock mais puro, que se repete na igualmente boa Landslide.


A etérea Aurora Skies é uma das mais belas baladas que escutei nesse 2019, com destaque para a interpretação cheia de sutilezas de Heidi. Como a banda se sai bem nas faixas menos diretas! O que não quer dizer que também não funcione nos rockões, que o diga a curta e brilhante Pioneer, possivelmente a melhor das faixas mais cruas do disco. Há de se louvar aqui o trabalho de produção de Oyvind Rosrud, que equilibra a proposta retrô com uma bem-vinda modernidade sonora, além de colaborar com pianos e guitarras.


O lado mais viajandão volta com maestria na longa e misteriosa Blind Spot, e aqui Heidi confirma minhas suspeitas anteriores em relação às influências da também escandinava Björk. Que som bonito, que hammond bacana...e que voz! A alternância entre sons mais calmos e introspectivos foi certamente uma escolha pensada, e bem-vinda. The Sober é outro Blues Rock divertido, com trechos que bem remetem aos bons tempos de Uriah Heep e Deep Purple.



Novamente o ritmo cai, mas dessa vez em definitivo, com a R&B Cause And Effect parecendo saída da trilha sonora de um filme nunca lançado do 007 e a sensível Your Song fechando o repertório oficial de maneira quase MPB. A edição nacional, pelas mãos novamente da Shinigami Records, traz ainda duas faixas bônus: a curta e rockeira Dead End e uma versão ao vivo para a bluesy Ghost Chase. Confesso a princípio que peguei esse disco mais pela minha tara pela onda Retro-rocker, mas Road Back To Ruin não é um disco para ficar limitado somente a esse nicho, é sim um baita trabalho que merece ser ouvido por fãs de Rock em geral! (NOTA: 9,00)

Visite o The Metal Club
Gravadora: Shinigami Records (nacional)
Prós: retrô sem ser manjado, belas voz de Heidi
Contras: nada em especial a ser reclamado
Classifique como: retro-Rock, Blues Rock, Classic Rock
Para Fãs de: Blues Pills, Beth Hart, Purson, Lucifer


terça-feira, 12 de novembro de 2019

Death Angel – Humanicide (CD-2019)



Menudos Em Fúria
Por Trevas

Os outrora Menudos da Bay Area não descansam! Desde o retorno da banda, contam-se 18 anos, com uma avalanche de shows, discos de estúdio e trabalhos ao vivo. E sem nunca errar o alvo. Humanicide, o nono trabalho a contar da primeira encarnação do quinteto, repete a parceria com o produtor Jason Suecof, trazendo de volta o “lobo-em-pele-de-cordeiro” na bela arte gráfica. A repetição não se faz presente somente na arte e produção, não. Pela primeira vez o Death Angel consegue manter sua formação intacta por três discos seguidos. Vejamos se o entrosamento da equipe se reflete no campo de jogo.

E os Menudos envelheceram, muito bem, obrigado
De duas coisas os estadunidenses não podem ser acuados. A primeira é de  amansar seu som - a faixa título é um petardo de descomunal ferocidade. A segunda é de se deitar nos louros do saudosismo exagerado que costuma contaminar a cena Thrasher: como sempre o Death Angel mantém um pé fincado nas raízes e outro na modernidade. A agressividade quase Death da excelente Divine Agressor tem em seu instrumental passagens que podem tanto fazer a felicidade dos Zé-Coletinhos quanto de fãs de titãs da atualidade como Mastodon e Gojira.


E se o dedilhado de Agressor te fez pensar que o som enfim acalmaria, és um tolo. Outra pedrada vem, dessa vez com maiores arroubos melódicos, mas ainda assim ornada em violência e velocidade. Sempre considerei Mark Osegueda um frontman raro na cena Thrasher. Com voz que vai além da costumeira onda gritada comum ao gênero, bem poderia se enquadrar em algo mais calcado no Sleaze. E assim prova a grudenta I Came For Blood, com seu baixo destacado, e que não ficaria nem um pouco estranha se convertida para um Hard sujismundo.


Falando sobre o restante da matilha, é realmente impressionante a capacidade de Rob Cavestany e Ted Aguilar de verter riffs viciantes e virulentos, mas a cozinha rolo compressor formada por Damien Sisson (baixo) e Will Carroll consegue ainda assim ser o grande destaque no disco. Chega a dar taquicardia a pancadaria! Por sorte, Immortal Behated diminui um pouquinho a octanagem, uma faixa que bem poderia estar em um hipotético elo perdido musical situado entre o Rust In Peace e Youthanasia do Megadeth. Alive And Screaming mantém a toada, enquanto The Pack reflete sua letra e vigor tipicamente Punks em Gang Vocals que tem tudo para funcionar muito bem ao vivo, obrigado.


The Ghost Of Me talvez seja uma das faixas mais Slayer que a banda já fez, e é seguida da melódica e moderna Revelation Song, mais “leve” e que representa um certo alívio sonoro que bem poderia estar posicionado mais para o meio da bolachinha. O encerramento do repertório oficial se dá com a ácida Of Rats And Men, mas a edição nacional traz ainda a boa (e diferente) bônus The Day I Walked Away. Humanicide é definitivamente um dos discos mais poderosos dos californianos, audição obrigatória para qualquer fã de Thrash, de qualquer era. (NOTA: 9,02)

Visite o The Metal Club
Gravadora: Shinigami Records (nacional)
Prós: ferocidade ao máximo, não dá descanso aos ouvidos
Contras: os ouvidos podem sangrar
Classifique como: Thrash Metal
Para Fãs de: Overkill, Megadeth

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Last In Line – II (CD-2019)



Segundo Na Linha
Por Trevas

O combo multinacional Last In Line nasceu em 2012, pouco após a morte de Ronnie James Dio, como uma mera reunião da formação clássica da banda solo do gnomo para uma jam descompromissada. Para o posto vocal, Andrew Freeman foi convocado, um músico até então mais conhecido por ter excursionado como guitarrista do Offspring. As jams se tornaram shows, os shows se tornaram frequentes, as composições vieram e em 2015 o Last In Line soltou seu primeiro disco de inéditas. O trabalho, Heavy Crown, se mostrou um surpreendente petardo Hard/Heavy que sobrevivia com louvor ao mero revivalismo saudosista. O câncer de Vivian Campbell e a morte repentina de Jimmy Bain podem ter atrasado as ações da banda, mas após muita luta um segundo disco viu a luz do dia. Intitulado simplesmente II, o novo trabalho apresenta Phil Soussan (Ozzy) no lugar do falecido Bain e conta novamente com a produção de Jeff Pilson. Nome simples, capa simples, vamos ao conteúdo.

Últimos na fila?
Uma breve (e definitivamente desnecessária) introdução e logo somos arremessados à pesada e cadenciada Black Out The Sun. A banda continua exatamente de onde parou no disco anterior, uma versão moderna do Hard/Heavy que fazia a cabeça dos headbangers nos anos 1980. No geral acerta a mão, como em Landslide, primeira faixa de trabalho.


O disco segue majoritariamente com números cadenciados, quase sempre ornados com bons refrães e instrumental competente (ver Gods And Tyrants, Give Up the Ghost e Sword from the Stone). Talvez só falte mesmo um Hit, como Devil On Me fora no trabalho anterior. E a despeito do nome de gente como Vivian Campbell e Vinny Appice, o grande destaque individual fica novamente com a voz encardida e precisa de Andrew, em mais um grande trabalho. Um bom disco de uma banda que tem tudo para sobreviver às comparações com o Dio, como também o fez o Black Star Riders em condições semelhantes. (NOTA: 7,82)

Gravadora: Frontiers Records (importado)
Prós: grandes músicos, boas canções
Contras: falta um "algo a mais"
Classifique como: Hard Rock, Heavy Metal
Para Fãs de: Dio, Lynch Mob



terça-feira, 5 de novembro de 2019

Black Star Riders - Another State Of Grace (CD-2019)



Black Lizzy Riders
Por Trevas

Quatro discos de estúdio em menos de 7 anos é uma marca e tanto nos dias de hoje. O que nasceu como um Spin Off do lendário Thin Lizzy virou um projeto viável e incensado pelos próprios méritos. Hoje trazendo apenas Scott Gorham do Lizzy, o Black Star Riders vive muito mais dos arroubos criativos do irlandês Ricky Warwick, que incorpora seu ídolo Phil Lynnot de maneira fidedigna e respeitosa. O novo trabalho faz dele o único não estadunidense da banda, o que possivelmente aumenta ainda mais a dissociação da nova marca com o velho combo irlandês. Os novos recrutas? Chad Szeliga, baterista que tocou por anos no Black Label Society; Christian Martucci, fera das guitarras do Stone Sour. Com dez novas canções em punho e uma bela capa, vamos ver o que o novo BSR nos traz.

Black Star Riders no viaduto do gasômetro?

Chega a ser curioso que uma banda que ambicione escapar da sombra do Thin Lizzy comece o novo trabalho justamente com uma faixa que traga ao mesmo tempo a palavra Moonlight e um solo de saxofone. Mas Tonight The Moonlight Let Me Down é um rock dançante e bem gostoso. A produção de Jay Ruston é límpida e cheia de punch. Em contrapartida, deixa a sonoridade um pouco perto demais do Arena Rock estadunidense coretinho de bandas como Alter Bridge e Foo Fighters. Os novos recrutas aparecem muito bem, apesar de não trazer nada tão diferente assim em termos estilísticos.



A faixa título é a típica paulada celta que se faz sempre presente nos discos do BSR. Talvez funcionasse melhor como a abertura do disco.



Ain’t The End Of The World é um rock dançante com pitadas de anos 1950 e daquelas coisinhas bonitinhas que tio Lynnot sempre fazia. Curiosamente, apesar do selo Thin Lizzy em tese vir pela presença de Scott Gorham, o veterano californiano praticamente não assina nada na bolachinha, e quando assina, vem sob a forma de uma das poucas coisas que em nada remetem ao combo irlandês: a ótima Underneath The Afterglow. Por sinal, que traz uma letra que é uma porrada na cara dos saudosistas: “Do You Remember? Back In The Day When Everything Was Better? Cause I Recall And It Wasn’t Nothing Special!”



Soldier In The Ghetto mantém o padrão alto e diversão, que é quebrado pela pouco inspirada balada Why Do You Love Your Guns?, com sua mensagem certeira contra a cultura armamentista estadunidense minada por um refrão modorrento. A mesma modorrência contamina a segunda balada da bolachinha, What Will It Take?, que traz a boa voz de Pearl Aday à tiracolo (filha de Meat Loaf e esposa de Scott Ian). Para nosso deleite, a partir dali o disco não sofre outro revés de qualidade, soando absurdamente divertido (ainda que sem grandes arroubos de criatividade), até o último instante de Poison Heart. A edição nacional, pela Shinigami Records, ainda traz uma faixa bônus que não faz feio nesse disco de Rock despretensioso e bem bacana. (NOTA: 8,28)


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Gravadora: Shinigami Records (nacional)
Prós: disco conciso e certeiro
Contras: ainda sinto falta de algo “wow” nos discos dos caras
Classifique como: Hard Rock, Classic Rock
Para Fãs de: Thin Lizzy, Alter Bridge