quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Raven – Metal City (CD-2020)


 

Cidade do Corvo Veloz

Por Trevas

Não vou ser hipócrita: até bem pouco tempo, defecava solenemente para esses veteranos da NWOBHM. Quando estava na fase de descobertas das bandas seminais do estilo, obviamente esbarrei com o Raven, mas minha incorrigível aversão à falsetes e gritinhos estratosféricos me fez colocar aquelas faixas de cena de crime cercando a discografia da banda. Ou seja, entrei na sempre idiotesca seara (infelizmente muito comum nos fãs de Metal) do “pouco ouvi e já não gostei”. Como hoje sou bem menos idiota, mudei minha opinião. Mas isso veio pelo acaso do destino: o Azul Limão foi orgulhosamente escalado para fazer um show com figuras do naipe Mutilator, Leather Leone e Raven, em Belo Horizonte. Após a sensação de dever cumprido, modéstia à parte o show foi um sucesso (ganhei elogios da Leather, como podia não me sentir assim?), fui curtir o som dos Headliners, sentado na beira do palco. Os irmãos Gallagher, outrora os criadores do pateticamente intitulado “Athletic Rock”, hoje parecem Live Actions do Groo, o Errante. Mas cara, os grandalhões gorduchos voam pelo palco (que tremia a cada pisada) e entregaram uma apresentação destruidora, hoje amparados pela bateria cavalar de Mike Heller (Fear Factory). Sim, os falsetes estavam ali, mas os riffs e solos cavalares e refrães irresistíveis também. Pronto, agora eu estava fisgado! Mais uma discografia inteira a ser explorada, para desespero do meu combalido bolso.

Heller, cercado pelos irmãos Groo...ehr, Gallagher

Metal City, 14º trabalho de estúdio dos cabruncos de Birmingham (o que será que tem na água de lá? Perguntarei aos Peaky Blinders!) é, portanto, o primeiro que adquiro à época do lançamento, aqui pelas mãos da Shinigami. E acho que dei sorte, The Power já abre o disco com o pé na porta. Uma rifferama Speed Metal de fazer tremer o chão. A produção, por parte da banda (gravação por Michael Wagener e mixagem por Zeuss) é vigorosa e cristalina, trazendo o som clássico dos caras para um padrão de qualidade condizente com os tempos atuais. E a banda está pegando fogo, com os duelos baixo/guitarra aparecendo logo de cara e Top Of The Mountain entregando um daqueles refrães que grudam até no cérebro mais carcomido logo de primeira. E Heller, esse trabalha com absurda pegada, adicionando até blast beats incidentais aqui e acolá, como em Human Race, Metal Tradicional devidamente modernizado sem perder sua identidade.



O pé sai do acelerador na grudenta faixa título, uma pequena peça autobiográfica com um riff que remete aos anos 1970. Battlescarred aparentemente dá continuidade à saga da carreira dos caras, e é ótima. Ótimo também é o trabalho gráfico, em forma de revista em quadrinhos, criativo e divertido, e que faz mais sentido ainda quando chegamos à Cybertron. Uma homenagem aos robozinhos oitentistas feitos por senhores sexagenários? Bom, os caras não se levam à sério, e isso é bacana quando se trata de um Heavy Metal mais direto. Nada da síndrome de Manowar, felizmente.


Bom, e os caras acertaram em cheio ao concentrar esforços em um disco curto (38 minutos), que mal dá tempo para respirar: o ritmo frenético de coisas como Motörheadin’ (nem preciso dizer para quem é a homenagem, certo?), Not So Easy e Break faz o pescoço sofrer. E ao final, foi reservado espaço para a épica When Worlds Collide, encerrando com maestria um trampo irresistível e viciante, uma espécie de versão musical de uma overdose de Red Bull, nada indicada (ou talvez exatamente por isso indicada) para rolar no som do carro em uma estrada vazia. Muito bom! (NOTA: 9,18)

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Gravadora: Shinigami Records (nacional)

Prós: velocidade máxima

Contras: pode te acarretar multas por excesso de velocidade

Classifique como: Heavy Metal, Speed Metal

Para Fãs de: Motörhead, Judas Priest


quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Armored Saint – Punching The Sky (CD-2020)


 

Socando O Céu (e Seus Tímpanos)

Por Trevas

E o novo rebento dos veteranos do Armored Saint não poderia começar de forma mais impactante, gaitas irlandesas anunciam Standing In The Shoulder Of Giants, o épico cuja letra dá nome ao disco. E que mantém a tradição dos Saints, de abrir cada disco com um postulante a clássico.


E o arregaço vem em dose dupla nesse início: a “desomenagem” à era dos Smartphones chamada End Of The Attention Span é uma porrada quase thrasher agigantada por mais uma das letras espertas e únicas de Bush, que mantém o nível altíssimo de sua performance no disco anterior. A produção, nas mãos de Joey Vera, é perfeita, atualizando o som do Metal Tradicional da banda com punch e dinâmica perfeitos. Facilita o fato dele formar com Gonzo Sandoval uma cozinha que é uma verdadeira parede sonora.


Jeff Duncan e Phil Sandoval descascam Riffs e solos empolgantes na tríade Bubble, My Jurisdiction e Do Wrong To None, subindo o nível na algo setentista Lone Wolf e, em especial, no hino anti-bélico Missile To Gun, facilmente um dos melhores sons desse 2020.


E a power balada Fly In The Ointment (caceta, de onde Bush tira essas letras?) é outro dos destaques, em uma reta final que ainda traz a ótima (e bem setentista) Bark, No Bite, a algo viajante Unfair (que não ficaria estranha caso Vera usasse no Fates Warning) e a feroz Never Your Fret.


Os Saints conseguiram um feito difícil, Punching The Sky é o segundo álbum em sequência capaz de competir em pé de igualdade com os pontos altos da discografia da banda nos anos 1980. Obrigatório. (NOTA: 9,27)

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Gravadora: Urubuz Records (nacional)

Prós: ótima produção, ótimas músicas

Contras: poderia reclamar que é longo demais, mas “focófi” desce redondo

Classifique como: Heavy Metal

Para Fãs de: Riot, Jag Panzer, Judas Priest

sábado, 19 de dezembro de 2020

AC/DC – Power Up (CD-2020)


Reafirmando O Legado de Malcolm

Por Trevas

Os anos que seguiram o lançamento do morno Rock Or Bust (2014) foram especialmente cruéis com nossos australianos favoritos: Phill Rudd se viu envolto em uma rocambolesca trama policial com direito à drogas e ameaças de morte, Brian Johnson teve que abandonar a turnê na reta final por conta de problemas auditivos (uma condição então tida como irreversível) e Cliff Williams simplesmente jogou a toalha e pendurou seu baixo, alegando não ter mais condições físicas de seguir em frente. O drama ganhou tons de tragédia quando, em meados de 2017, Malcolm Young, o cérebro por trás da banda, perdeu enfim sua batalha contra os sérios problemas neurológicos que haviam causado seu afastamento das atividades do AC/DC. O fim parecia inevitável, e sombrio demais para uma trupe que frequentemente personificou tão bem a diversão sacana associada ao Rock And Roll.

Os velhinhos mais perigosos da Austrália estão de volta!

Coube a Angus, em respeito ao legado do irmão, juntar os cacos e tentar escrever mais um capítulo na longa história do AC/DC. Ao saber que Brian conseguiu apoio de uma nova tecnologia para sanar seus problemas de audição, Angus convenceu Cliff a calçar as chuteiras novamente (embora o baixista diga que não tem intenção de embarcar em uma turnê de verdade), aguardou Phill resolver seus problemas com a lei e rumou com seu bando para o estúdio do amigo Bryan Adams, gravando o novo disco inteiramente em 2018, num dos segredos mais bem guardados da história recente da indústria da música. Dois anos depois, eis que chega a nossas mãos Power Up, novamente sob a batuta de Brendan O’Brien (produtor dos dois discos anteriores), contendo 12 canções escritas pela dupla Angus/Malcom. As expectativas aqui não estavam altas, em especial após ouvir a não muito inspirada Shot In The Dark, primeira faixa de trabalho. Com esse espírito fui encarar esse que pode bem ser o último capítulo de uma longa jornada.

A bela e proibitiva edição deluxe de Power Up

A produção é perfeita, bem na cara e muito mais focada na timbragem caprichada do que em encher os ouvidos de informação. E o som é aquele que esperamos ouvir do AC/DC, um rock encardido calcado em blues, geralmente alvo de críticas que me soam tão estúpidas quanto cornetar a carreira de um vitorioso pugilista por este nunca ter sido visto dançando balé clássico. O AC/DC nunca almejou ser uma banda de progressivo ou Jazz, e em seu mundo puramente rocker, criou uma identidade sonora tão marcante e imitada que tendemos a menosprezar a mágica enganosamente simplista do quinteto. Dito isso, confesso que as três primeiras faixas não ajudaram em nada a combater meu ceticismo inicial. Se Realize e Rejection não tem nada que incomode, tampouco prendem a atenção. E Shot In The Dark soa tão “nada de especial” na septuagésima audição quanto da primeira vez.


Curiosamente, a coisa melhora consideravelmente a partir da quase fofa Through The Mists Of Time. Kick You When You’re Down é crua e certeira como nos tempos mágicos de Bon Scott e a dupla Witch’s Spell e Demon Fire conjura os melhores momentos da era Brian Johnson.


A essa altura já me sentia mais animado com o disco, perdoando até mesmo as pouco inspiradas Wild Reputation e No Man’s Land e batendo efusivamente o pé ao ritmo da encardida Systems Down, seguida pelo empolgante encerramento com Money Shot e Code Red. Power Up definitivamente passa longe de ser um novo clássico da banda, mas se esse disco está fadado a ser o canto do cisne do AC/DC, o faz com muito mais propriedade do que o murcho Rock Or Bust. E nos proporciona pouco mais de 40 minutos de diversão incontestável, o tipo de alívio que a humanidade precisa em um ano triste como esse 2020. RIP, Malcolm! (NOTA: 8,16)

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Gravadora: Sony Music (Importado)

Prós: energia pura e ótima produção

Contras: tem algumas faixas menos inspiradas também

Classifique como: Hard Rock, Rock

Para Fãs de: Airbourne e Rock em geral


domingo, 13 de dezembro de 2020

Thundermother – Heat Wave (CD-2020)


 

Onda de Calor Sueco

Por Trevas

O quarteto sueco de Rock and Roll Thundermother é, na verdade, sinônimo da guitarrista Felippa Nässil, que lidera a trupe desde sua fundação, em 2010. Em 2017, a moça resolveu repaginar o line up, para seu terceiro trabalho, um disco homônimo que colocou as meninas nos holofotes. Para o quarto CD, Soren Andersen (guitarrista e produtor do Glenn Hughes) assume a produção, no que foi alardeado como o primeiro disco do Thundermother em que toda a banda efetivamente contribuiu com as composições, tirando um pouco o peso das costas de Felippa. Acompanho o som delas à distância desde o disco anterior, mas como Heat Wave ganhou lançamento nacional, pelas mãos da Shinigami, não tive como não correr atrás de uma cópia. Vamos às músicas!

Sim, as meninas sabem se divertir

De cara duas coisas saltam aos ouvidos: que produção caprichada e quanta energia! Felippa gosta de caracterizar a banda como uma leitura moderna do som de AC/DC e Motörhead e é exatamente isso que encontramos aqui. Loud And Alive é algo que poderia bem estar num Razors Edge se os irmãos Young vestissem saias. E se você duvida disso, escute o refrão da faixa seguinte, Dog From Hell e volte aqui para assumir sua derrota.


Felippa capricha no timbrão e em riffs e solos que, se não são a reinvenção da roda, soam certeiros e deliciosos. Guernica Mancini tem uma voz bonita e bem encorpada, suficientemente rocker, mas com um quê de radiofônica. A cozinha, composta por Emlee Johansson (bateria) e Majsan Lindgerg (baixo), mostra gordura suficiente para entupir suas artérias musicais. E resumir o som das moças em um AC/DC feminino sueco, ainda que esteja longe de soar pejorativo, não é totalmente justo. Há uma cara própria aqui, ainda que definitivamente essa fuça esteja firmemente fincada no Rock mais puro. Back In ’76 é excelente, sexy e cheia de referências à clássicos do estilo na letra.


E a ferocidade e velocidade da trupe de Lemmy aparecem em Into the Mud, outro dos destaques da bolachinha, com direito a solo de baixo gorduroso. A faixa título é outra que mostra bem a cara própria da banda, mais um som bem legal. Mas nem tudo são flores, a baladinha Sleep soa bem xaroposa, mesmo que mostre que a voz de Guernica tem toques fortes de Soul e Blues quando quer. Por sorte, Driving In Style retoma a força do material, que segue encardido até o encerramento, com Purple Sky. A versão nacional ainda conta com mais três faixas, todas dignas do repertório original.



As meninas suecas podem não ter reinventado a roda em seu quarto trabalho, mas é inegável que produziram um dos discos mais divertidos e cheios de energia do ano! (NOTA: 8,55)

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Gravadora: Shinigami Records (nacional)

Prós: energia pura e ótima produção

Contras: é apenas rock and roll

Classifique como: Hard Rock, Rock

Para Fãs de: AC/Dc, Airbourne


quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Soilwork – A Whisp Of The Atlantic (EP-2020)


 

Experimentando e Acertando
Por Trevas

Que caralhas colocaram na cerveja de Björn Strid e David Andersson? Os caras, responsáveis por praticamente tudo do Night Flight Orchestra e da era recente do Soilwork, simplesmente não sossegam! Desde 2017, esse é 5º trabalho de estúdio que a dupla lança, três com o surpreendentemente bem-sucedido combo AOR e dois com a banda principal. A Whisp Of The Atlantic é composto por cinco canções que o Soilwork criou desde que o excepcional Verkligheten assombrou nossos ouvidos, em 2019. Excetuando a faixa que dá nome ao disco, todas foram lançadas como singles anteriormente. Mas se o número de músicas indica um EP, a duração da bolachinha já é de disco completo: 36 minutos.

Soilworkaholics

Muito disso por conta da faixa título, que abre o trabalho com seus majestosos 16 minutos de duração. Em uma estrutura digna de bandas clássicas de Rock Progressivo, essa música vagueia por momentos extremamente melódicos e calmos, com direito à pianos e saxofones, até trechos do mais típico metal extremo. Sim, a coisa ameaça por vezes desandar, e se isso não acontece, em muito se deve à capacidade colossal de Strid para criar melodias agradáveis. Ah, e sua versatilidade cresce a cada trabalho. Não diria se tratar de uma faixa que nasce clássica, mas com certeza é bem inventiva e única dentro da carreira dos caras. O que não é pouco, já que são muitos anos de estrada.


E as surpresas não param por aí. A deliciosa The Nothingness And The Devil adiciona ao catálogo do Soilwork um petardo que poderia muito bem servir à bandas de Metal Tradicional. Seria algo tipo Dio goes Melodeath! Exceto que os caras acham espaço para um solo à lá Pink Floyd.


Feverish desperta em seu início um tema de teclado que bem poderia servir ao Night Flight, mas aí somos jogados a um Blast Beat e aos vocais urrados de Strid, até culminar em uma ponte e refrão que definitivamente tem um pé no AOR, só que após doses cavalares de esteroides. Outra pérola!


Desperado joga na mistura um tema que remete a Westerns em meio a uma estrutura que já se aproxima mais à do Soilwork habitual. Muito boa. Por último, temos Death Diviner, uma belezura midtempo e com slide guitars, quase sem nenhum vocal sujo, uma espécie de elo perdido entre o Night Flight Orchestra e o Soilwork.


Muito mais que um simples catadão de singles, A Whisp Of The Atlantic continua a saga recente do Soilwork, de criar discos inesquecíveis e variados em série. Matador!  (NOTA: 8,78)

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Gravadora: Nuclear Blast Records (importado)

Prós: a banda experimenta bastante, mas mantém sua identidade

Contras: a faixa título pode soar exagerada demais a alguns

Classifique como: Melodic Death Metal, Prog Metal

Para Fãs de: In Flames, Opeth


terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Axel Rudi Pell – Sign Of The Times (CD-2020)


 

O Habitual Feijão Com Arroz & Chucrute
Por Trevas


A banda homônima do guitarrista teutônico chega aos 31 anos de estrada com a impressionante marca de 18 álbuns de estúdio (mais um de covers e uma penca de compilações e trabalhos ao vivo). Com uma formação estável (Bobby Rondinelli é o “novato” aqui e já está em seu terceiro disco com os caras), e novamente com o capitão do time assumindo a produção, vamos ao que o novo disco tem a oferecer.

A tradicional foto tosca dos encartes da banda

Após a obrigatória (dentro da fórmula para lá de testada do quinteto) introdução, Gunfire aparece: diretona e interessante, como costumam ser as primeiras faixas dos discos da banda. Johnny Gioeli é um dos grandes vocalistas do Hard/Heavy e claramente não desaprendeu o ofício.

Bad Reputation transita por aquele Hard/Heavy oitentista, que tantos amam. Nada brilhante, mas dá para bater o pezinho junto, sem nenhuma vergonha. A faixa título é mais um daqueles números épicos e algo misteriosos que sempre aparecem nos discos do guitarrista. Boa, mas não essencial. Aliás, esse é o problema aqui.


Quem conhece a carreira do Axel Rudi Pell sabe bem que ele nunca tentou ser um músico inovador, a fórmula de seus discos é batida e para lá de testada. E aqui não é diferente, temos os épicos midtempo, as faixas diretas e empolgantes e as baladas. De diferente, uma pegada mais classic rock (que vem sendo privilegiada após a adição de Bobby) e um menor exagero no tamanho das faixas. Ah e um pouquinho de Reggae na introdução de Living In A Dream. Sim, é pouca coisa para chamar efetivamente de novidade. Mas para quem aceita esse fato e curte a proposta, sem se importar com a repetição, a trupe raramente desaponta.

O que desaponta é o trabalho de bateria de Rondinelli ao longo do disco, de uma retidão e preguiça que por vezes lembra aqueles trabalhos dos anos 1990 em que as bandas usavam toscamente a bateria eletrônica (Running Wild me veio à mente aqui). A produção também está abaixo do patamar usual dos alemães. Ao optar por um som mais voltado para o classic rock, com a cozinha em destaque, Axel perdeu a mão e deixou a mixagem algo embaralhada e cansativa. Afora esses detalhes, é apenas mais um trabalho dentro de uma discografia bem homogênea, sem nada que o destaque dos irmãos mais velhos. Mas sem nada que desabone também. Axel Rudi Pell, enfim...(NOTA: 7,08)

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Gravadora: Shinigami Records (nacional)

Prós: mais um disco usual do quinteto alemão, sem novidades

Contras: mais um disco usual do quinteto alemão, sem novidades

Classifique como: Heavy Metal

Para Fãs de: Rainbow, Heaven & Earth


quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Katatonia – City Burials (CD-2020)


 

Soturnamente Belo

Por Trevas

Após um hiato de 2 anos, em que os suecos pesaram bastante os prós e contras da continuidade da carreira da banda, o Katatonia anuncia seu retorno, com seu 11º rebento de estúdio, produzido pelos capitães do barco: Jonas Renkse e Anders Nyström. Aqui no Brasil, City Burials ganhou uma caprichadíssima versão pelas mãos de Mindscrape Music e Voice Music, favorecendo a bela e sombria arte gráfica original.

Roupas coloridas são para os posers

Heart Set To Divide nos coloca no colo da melancolia de Renkse, numa abertura que se desenvolve sombria e quase etérea para então explodir no que chamaria de Dark Prog Metal. Um início que reitera o esperado: a banda segue sua toada mais progressiva e atmosférica dos últimos lançamentos, não que eu acredite que alguém ainda espere por um retorno às origens Death Metal.


Mas isso não quer dizer que o Katatonia virou o Anathema parte 2. Se não temos Death Metal, faixas como Behind The Blood trazem elementos de Heavy Metal clássico misturados ao caminho soturno e sensível atual. E os dois anos de espera foram bem utilizados por Jonas, que tem nesse disco uma de suas performances mais ricas, vide a bela faixa de trabalho Lacquer. Tudo emoldurado por uma produção caprichada, que deixa o disco fluir de maneira para lá de agradável.


Meu problema com os trabalhos do Katatonia costuma ser que suas viagens, por mais que formem trabalhos bonitos, também sofrem de uma espécie de uma aparente monotonia. Aqui não é diferente, somente um ouvido que dê total atenção ao disco conseguirá perceber com o devido valor nuances como um slide guitar algo western em Rein ou as referências ao Gótico oitentista de uma The Winter Of Our Passing. Vanishers, com adição da delicada voz de Anni Bernhard, é outro dos destaques, uma bela e soturna balada. City Glaciers aumenta o volume e o restante do disco agrada, em especial a ótima Flickers. O encerramento da edição nacional é um baita bônus, com o ótimo cover para Fighters, música originalmente do Enter the Hunt.


Definitivamente City Burials não é o tipo de trabalho que você vai pegar para escutar numa estrada ou que irá fazer parte de sua playlist para a academia, mas é daqueles discos bacanas para botar para rolar numa sala escura e apreciar esparramado no chão, de olhos fechados. Um belo CD. (NOTA:  8,73)

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Gravadora: Voice Music/ Mindscrape Music (nacional)

Prós: soturno e cheio de nuances

Contras: pode parecer uma única longa música a ouvidos desatentos

Classifique como: Gothic Metal, Dark Prog Metal

Para Fãs de: Tiamat, Anathema


Rage – Wings Of Rage (CD-2020)


 

Nas Asas da Graúna

Por Trevas

O combo teutônico liderado por PeterPeavyWagner é indiscutivelmente uma das bandas mais prolíficas de sua geração, e Wings Of Rage faz a contagem atingir a impressionante marca de 25 discos de estúdio. Não sem seus sobressaltos. O Rage alterna momentos de estabilidade em sua formação com outros de “limpa geral”, também ocasionando uma certa montanha russa na qualidade de seus trabalhos. O novo disco, autoproduzido, marca a terceira aventura com a formação que aliou Marcos Rodriguez (guitarra) e Vassilios "Lucky" Maniatopoulos (bateria), ao patrão Peavy. Ah, tão logo foi lançado, a banda mudou de novo, retornando ao formato com duas guitarras, mas essa é outra história. Vamos checar então se Wings Of Rage conseguiu elevar o patamar dos trabalhos anteriores, um bocado mornos...

Mais uma formação para a vala...

Uma introdução com gritos que parecem saídos de um filme Z de terror não é lá muito animadora. Mas logo um riff cortante toma conta e somos catapultados para uma sonoridade bem crua, que remete aos primórdios da banda, ou à excelente fase do Black In Mind e End Of All Days. Peavy está com a voz gasta, mas continua alternando com louvor momentos agressivos com refrães grudentos. Sempre passando a impressão de que irá desafinar a qualquer momento, em especial na bela Shine A Light, mas isso faz parte do charme e identidade sonora dos alemães.



A empolgação aumenta com (Let Them) Rest In Peace e Chasing The Twilight Zone, ambas ferozes e fazendo justiça ao tão alardeado retorno à forma que o novo disco traria. Aqui já pude notar que infelizmente a produção não ajuda em muito o resultado final, algo embaralhada e com os vocais por vezes altos demais na mixagem. Apesar dos defeitos citados, o peso é avassalador, tornando faixas como Tomorrow ou Wings Of Rage verdadeiros convites a um torcicolo.


Um dos eternos problemas dos discos do tio Peavy é que ele tem a mania de xuxar trocentas músicas em cada bolachinha, diluindo o resultado final. E aqui não é diferente, então em meio às pérolas, temos coisinhas sem graça como Don’t Let Me Down e Blame It On The Truth. E também não sei por que diachos enfiaram uma versão thrashuda para a clássica Higher Than The Sky (aqui como HTTS 2.0) em um repertório já saturado. Não ficou ruim, mas nem de longe faz cócegas na original.


Uma das coisas mais bacanas dessa banda é que ela sempre conseguiu brincar com sua sonoridade ao longo dos anos, mas sem deixar de ter uma cara própria. Por outro lado, o caminho seguido aqui pode não atrair tanto aos fãs da fase mais técnica dos tempos de Unity/Soundchaser. Já quem curte o lado mais agressivo de Peavy e sua turma, terá pela frente quase uma hora de um material que, se dificilmente ganhará status de clássico, também está longe de ser dispensável. Um disco bem legal! (NOTA: 8,15)

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Gravadora: Shinigami Records (nacional)

Prós: o disco mais forte dos alemães em tempos

Contras: produção errática e poderia ter umas duas ou três faixas a menos

Classifique como: Power Metal, Heavy Metal

Para Fãs de: Grave Digger, Accept

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Haken – Virus (CD-2020)


Bendito Contágio

Por Trevas

Considerada uma das bandas mais fortes da cena Prog Metal atual, a britânica Haken lança seu sexto disco, novamente autoproduzido, contando com uma (in)feliz coincidência: o título Virus pode parecer uma tentativa de capitalizar em cima da pandemia, mas na verdade é a continuação do conceito iniciado em Vektor, disco de 2018. Para nossa sorte, a bolachinha conta com bela edição nacional em slipcase pela Urubuz Records. Vamos ao som...

Britânicos virulentos


Prosthetic é pesadíssima e sintetiza um bocado a intenção do sexteto: um Prog Metal moderno e complexo, mas ao mesmo tempo acessível, pouco afeito a devaneios onanísticos que não sirvam à música. Segundo a banda, uma faixa que poderia ter a participação tanto de Jeff Hanneman quanto Robert Fripp. Uma afirmação aparentemente estranha, mas que faz até sentido ao escutar o som.


Invasion segue, claramente um dos destaques, mostrando que os britânicos devem mais a contemporâneas como Periphery e Tesseract e veteranas (e patrícias) como Sikth e Threshold (e até mesmo Tool) do que os Dream Theaters da vida. Um pé no Djent e musicalidade absurda. Aliás, se não falo sobre as performances individuais aqui, é por que todos os seis músicos jogam perfeitamente para o time no disco, cada qual com seu espaço ao sol.


Carousel é o primeiro épico do disco, mas inicia com a melodia grudenta e suave do refrão. A opção por um material mais conciso e orientado para canções foi uma escolha para lá de acertada, ainda que não seja novidade. Na verdade, sonoramente, fica claro que Virus também continua o conceito do disco anterior. A bela Canary Yellow talvez seja o melhor exemplo do grau de expertise que os britânicos atingiram, uma música sutilmente complexa, mas que não soa nada hermética aos ouvidos daqueles pouco afeitos ao progressivo.


Infelizmente, o sexteto não escapa por completo das armadilhas do estilo: sintomaticamente chamado Messiah Complex, o segundo épico do disco na verdade se trata de um apanhado de cinco faixas que falham em manter a pegada do disco. A introdução Ivory Tower e o fim com Ectobius Rex até trazem boas ideias, mas as três partes intermediárias se perdem em muito exibicionismo e pouca inspiração. Felizmente nada que chegue a prejudicar esse belo (e majoritariamente maduro) disco, de uma banda que merece todo o destaque que vem conseguindo na cena. (NOTA: 8,74)

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Gravadora: Urubuz Records (nacional)

Prós: maturidade e ótimas canções, sem esquecer a complexidade e peso

Contras: Messiah Complex destoa

Classifique como: Prog Metal, Djent

Para Fãs de: Tesseract, Sikth, Periphery     

sábado, 28 de novembro de 2020

Firewind – Firewind (CD-2020)


Fogo Renovado
Por Trevas

O 9º trabalho de estúdio da banda do guitarrista grego Gus G (Ozzy, Dream Evil) chega após duas importantes mudanças de formação: saem o tecladista Bob Katsionis, parceiro de Gus há nada menos que 16 anos, e o vocalista Henning Basse. Gus assumiu os teclados no disco (assim como a produção, com ajuda de Dennis Ward), e chamou o alemão Herbie Langhans (Sinbreed, Avantasia) para ser o oitavo (caceta!!!!) vocalista a empunhar o microfone do Firewind.

Em chamas

E se a ideia de lançar um disco homônimo é a de marcar um novo recomeço, o petardo Welcome To The Empire se mostra o cartão de visitas perfeito. Um cruzamento moderno e pesado do Helloween da era Deris (vide a voz encardida de Herbie) com o trabalho do Malmsteen.


O peso adicional no som da banda é confirmado em Devour e Rising Fire, as duas com refrães de grudar no cérebro. Break Away tem uma cara de material clássico do Malmsteen, e Bob Katsionis aparece como convidado nos teclados climáticos de Orbital Sunrise, que destaca também o poderio do novo vocalista.


Longing to Know You quebra um pouco a pancadaria, uma balada que tinha tudo para ser memorável, mas peca por um refrão pouco convincente. Overdrive e All My Life reativam o modo Malmsteen, enquanto Space Cowboy tem um que de Scorpions, um Hard/Heavy que me fez triste por Gus não ter tido a chance de compor para um disco do Ozzy. Se Firewind, o disco, representa um novo caminho para Gus G e sua trupe, este é pesado e promissor. Um dos melhores trabalhos da banda, e a melhor “coisa com cara de Malmsteen” desde Magnum Opus. (NOTA: 8,72)

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Gravadora: Shinigami Records (nacional)

Prós: é o disco mais pesado da banda

Contras: tem aquela aura de Malmsteen, o que dará náuseas a alguns

Classifique como: Heavy Metal, Power Metal

Para Fãs de: Malmsteen, Helloween

Alestorm – Curse Of The Crystal Coconut: Deluxe Edition (2CDs-2020)


 

Monty Python x Piratas do Caribe, Parte 6

Por Trevas

Bandas-piada não são novidade no mundo do rock, de Spinal Tap a Steel Panther, passando por Massacration, os absurdos e exageros do som pesado (e seus maneirismos) rendem ótimas sátiras. Mas uma Pirate Metal Band escocesa com toques de folk e guiada por um feioso de papetes que empunha uma hedionda keytar? Isso não se ouve todo dia! Graças a Odin! Mas, o pior é que é indiscutível: os malucos do Alestorm entendem de diversão. Mas como uma piada repetida exaustivamente tende a perder a graça, fui conferir o 6º trabalho de estúdio dos ébrios camaradas, lançado aqui em bela edição dupla pela Urubuz Records, sem muita convicção.

Chiclete com Banana?

Bom, Treasure Chest Party Quest fez toda minha baboseira sisuda cair por terra logo de cara. Logo no segundo refrão eu já cantava junto “we’re only here to have fun, get drunk, and make loads of Money!”. Duvido bastante que os escoceses estejam fazendo realmente dinheiro com essa mistura de Power Metal, Folk e Metal Moderno (tem até gutural), mas que eles continuam prestando um grande serviço à parte da diversão, isso fica claro.


Cara e o que dizer do hino Fannybaws? Somente um escroque como Christopher Bowes conseguiria cantar com tanta propriedade sobre o “flagelo dos mares” escocês. Por sorte não podemos ver as papetes que ele usa no clipe. O líder do bando tem uma voz tão tosca que faz o Chris Boltendahl parecer o Pavarotti. E isso faz tudo soar mais crível e divertido. Aliás, a produção de Lasse Lammert ajuda bastante a tornar palatável o surubandê musical dos caras, como podemos ver no Folk Metal Chomp Chomp, que fala sobre um crocodilo assassino tão sinistro que devorou uma tripulação inteira, e que não pode ser vencido nem por “Russell Crowe with a giant crossbow”: uma aula de como salvar uma rima...


E se é curioso como os caras ainda consigam achar letras divertidas dentro de um tema tão limitado, musicalmente também temos algumas novidades: Tortuga aposta numa escrotamente deliciosa mescla de Hip Hop com Pop Metal que fará a galera da Amaranthe chorar de inveja. Já Zombies Ate My Pirate Ship traz a bela voz da alemã Patty Gurdy cantando à lá Nightwish a seguinte tosqueira: “far across the sea, zombies wait for me, craving brains and treasure, it’s their destiny...”.


Por falar na pouco recomendável dieta dos zumbis, se sua ideia de música é algo meramente cerebral, nem perca seu tempo com um minuto sequer desse disco...aliás, nem sei por que você ainda está lendo isso! Justamente quando a banda tenta soar mais normal, como em Call Of The Waves, a coisa fica também um pouco menos legal. Pirate’s Scorn e Pirate Metal Drinking Crew soam como outras faixas do passado, sem tanto brilho. A vinheta desbocada Shit Boat garante um sorriso e a épica Wooden Leg Part 2 tem até Blast Beats. O disco se encerra com a folk Henry Martin, mostrando que ainda não foi dessa vez que os escoceses perderam a mão. Mas quando pensei que as piadas haviam acabado, fui escutar o disco 2 da versão nacional, intitulado “16th Century Version” – e não é que temos o disco inteiro em Midi típico dos games de 16...bits? Ri bastante, mas claro que não passei da segunda faixa...sou idiota, mas tenho limites...(NOTA: 8,62)

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Gravadora: Urubuz Records (nacional)

Prós: divertido demais

Contras: definitivamente não recomendado para quem se leva a sério demais

Classifique como: Pirate Metal

Para Fãs de: Blind Guardian, Skyclad


terça-feira, 24 de novembro de 2020

Jinjer – Alive In Melbourne (CD-2020)


 

Traumatismo Ucraniano Garantido

Por Trevas

O quarteto de metal moderno ucraniano viralizou com uma arrebatadora performance “ao vivo em estúdio” da sensível Pisces, muito por conta da tresloucada transformação vocal de Tatiana Shmailyuk, que facilmente muda de um doce e melodioso trinado para a própria encarnação do cramulhão. Mas a despeito das 44 milhões de visualizações no Youtube, a banda galgou fortemente seu espaço na cena por sua reputação de ferocidade e competência nos shows, com sua sonoridade única e pesada. E Alive In Melbourne vem para coroar a boa fase.

Tati quebra pescoço


Na verdade, o CD é a contraparte em áudio do show transmitido ao vivo via streaming. Então, primeiro ponto positivo: é tudo REALMENTE ao vivo aqui. E cara, como a banda é clínica em execução. Se as proezas vocais de Tatiana já são de amplo conhecimento, cabe ressaltar aqui que os companheiros não ficam nadica de nada a dever à moça! Roman Ibramkhalilov consegue segurar sozinho o peso dos intrincados riffs de guitarra, e o poderio sonoro da cozinha monstruosa formada por Eugene Abdukhanov (baixo) e Vladislav Ulasevich (bateria) chega a ser surreal. E todos agitam bastante, conforme podemos conferir no vídeo do show, hoje disponível em sua integridade.


O que resta analisar é o quanto o repertório dos ucranianos funciona nos palcos. Mas para isso, resta observar a reação dos animadíssimos australianos, que cantam efusivamente tanto as faixas dos dois primeiros discos, quanto as mais sofisticadas (mas não menos ferozes) canções de Macro e Micro, durante os quase 80 minutos da bolachinha. E se considerarmos que Jinjer era uma banda de abertura na noite em questão, a devoção do público impressiona ainda mais. Enfim, um ao vivo poderoso, em que a proficiência técnica da banda em momento algum eclipsa a energia e espontaneidade da apresentação. Como todo bom ao vivo deve ser. (NOTA:9,00)


Gravadora: Napalm Records (importado)

Prós: performance poderosa e bem “na cara”

Contras: mixagem “na cara” pode incomodar os audiófilos mais exigentes

Classifique como: Prog Metal, Modern Metal

Para Fãs de: Tesseract, Gojira