O
Poder Por Trás Da Máscara
Por Trevas
Um dos muitos
rebentos de um ambicioso projeto multimídia já há 7 anos em desenvolvimento, Behind The Mask I é a parte inicial de uma trilogia de
discos que contarão a história de Nathanael
Frost, um suposto imortal que se
aventura por eras e lugares diferentes do planeta em uma jornada de
autoconhecimento. Fruto da imaginação do guitarrista/produtor Tiago Della Vega, a história
foi desenvolvida em um livro por Damien
Void, e foi adaptada aqui no disco em
letras majoritariamente construídas pela escritora Nina Barthman. Claro que
deixar de lado o aspecto conceitual em um projeto que certamente envolve muita
paixão e esmero em sua elaboração pode parecer injusto. Mas como habitual aqui
na Cripta, repito o discurso: álbuns conceituais são por vezes a própria
materialização do ditado “de boas intenções o inferno está cheio”. Então, vamos
ao que interessa: musicalmente, o que está por trás (oops) de Behind The Mask I?
Behind The Mask I, o livro |
A começar, o time envolvido no disco é de primeira. Della Vega tem seu nome
estampado no Guiness Book para o recorde de guitarrista mais
veloz do planeta e possui vasta experiência em produção e arranjos em cenas
musicais diferentes. Marcus Dotta é o homem-polvo que pilotou a
bateria do excelente Shadow Work, disco póstumo do mestre Warrel Dane, dentre outros trabalhos (o conheci destruindo ao vivo com a Leather Leone). O petropolitano Guilherme
de Siervi já nos presenteou com seus talentos vocais/guitarrísticos em trabalhos do Syren, Skyrion e em seu projeto solo: Omega Blast. O nome do
baixista G Morazza pode não ter registro na mente dos headbangers, mas tem
experiência produzindo, tocando e arranjando para diversos artistas e estilos
ao redor do globo, background semelhante ao do tecladista Tiago Zunino. Ok, time de
primeira. Mas, e as músicas?
The Ali Babá Band? O super time do Vikram |
Behind The Mask I abre com uma curta
introdução (Taar) que já nos mostra
o uso de instrumentos (e cantos) étnicos que propõe (e conseguem) nos situar
nos cenários onde a história se desenvolve. A primeira faixa de fato é The Mortal Dance Of Kali.
Pressão sonora, produção para lá de caprichada. A sonoridade? De maneira
simplista, um Prog/Power com toques de Folk muito bem elaborado, mas nada gratuito. Riffs e solos certeiros, bateria intrincada,
mas extremamente pesada, baixo caprichado e teclados que engrandecem o som sem
querer saltar a cada minuto em sua cara. E a voz dramática e forte de Guilherme destilando melodias
complexas, mas grudentas. Ótimo refrão, ótimo início.
A paulada come solta desde o início sacro (que me remeteu a uma versão
mais Prog de algo que o Powerwolf assinaria) da matadora Requiem For Salem. Já podemos
notar então que as referências musicais Folk
variarão pelo disco conforme a história se desenvolve e os cenários mudam. Burn In Hell é boa, e mantém
a força bruta em alta, mas sem soar tão memorável quanto as faixas anteriores. Nem
sempre a versatilidade funciona. Andaluzia,
a despeito do capricho nos arranjos flamencos (destaque para o baixo aqui) e
belos solos, acaba por soar exagerada, em especial na interpretação vocal. Podem me linchar, mas me soou como se o Gypsy Kings resolvesse gravar Prog Metal.
Mas os pontos negativos são também pontos fora da curva aqui, para nossa
sorte. Hassan Tower devolve o tempero oriental ao disco com maestria (com
destaque para os solos de Zunino e Della Vega) e a espetacular Forsaken
Death habitou minha cachola por dias
a fio mesmo após a primeira (e então solitária) audição da bolachinha. Minha possível
favorita em todo o disco.
Eyes Of Ra adiciona ao pacote
a bela voz da argentina Inês Vera Ortiz,
que faz um contraste para lá de enriquecedor com a rispidez de Guilherme, cujo estilo sempre me faz
lembrar o finlandês Marco Hietala (Tarot, Nightwish). Os cantos
e instrumentos étnicos onipresentes fazem com que comparações com bandas como Myrath e Orphaned Land venham à
mente aqui e acolá. Mas o Vikram faz
uso desses elementos de maneira bem própria, com um enfoque que me fez pensar mais
na sutileza de arranjos de um Ark.
Enfim, a despeito das comparações que usamos de referência, há bastante
personalidade aqui, o que impressiona se pensarmos que estamos diante de um
disco de estreia. A pesar contra, o disco é bem longo, ao que parece cada faixa
reflete um dos capítulos do livro. E quando a excelente Gypsy Tragedy termina de
tomar nossos ouvidos de assalto já começamos a transpor os 40 minutos de
música, ainda tendo 5 faixas pela frente. Seria mais um disco a sucumbir à maldição
do trabalho conceitual?
Não exatamente. A reta final do disco pode não apresentar o brilhantismo
de algumas das faixas já citadas, apostando numa pegada mais direta, com
faixas “curtas” a partir da épica The
Red Masquerade, como que rumando para o clímax de um bom filme. Mas ainda há espaço para novidades: The Burden conta com vocais guturais, enquanto Shokran bem poderia estar em um dos pesados (e inspirados) discos
recentes do Symphony X e
Prelude To the End tem um clima que me remeteu aos bons tempos do Everon. O encerramento com a faixa
título é um dos pontos altos de nossa jornada. Unindo a cara do Vikram com uma urgência e refrão que
fazem lembrar o Omega Blast. Aqui Guilherme mostra o quanto sua voz vem ganhando em versatilidade,
com bela intepretação. Um final apoteótico para um dos melhores discos de
estreia que escutei nos últimos anos. Figura certa na minha lista de melhores
de 2019 e uma clara demonstração do poder de renovação de nossa cena autoral.
Que este seja o início de uma longa e gratificante jornada. Excelente! (NOTA: 9,17)
Visite o The Metal Club |
Gravadora: Shinigami Records (nacional)
Prós: musicalidade absurda, ótimos
arranjos e canções
Contras: 72 minutos pode ser coisa demais
para a cachola
Classifique como: Prog/Power Metal
Para Fãs de: Ark, Symphony X, Blind Guardian
Nenhum comentário:
Postar um comentário