Um Belo e Melancólico Feitiço
Por Trevas
Quando Anna Murphy, Ivo Henzi e Merlin Sutter decidiram
deixar o combo suíço de Folk Metal Eluveitie de uma só vez, em 2016, o mundo do Heavy Metal foi pego de
surpresa. Afinal, os três eram peças importantes e criativamente ativas de uma
das bandas emergentes na cena europeia. Surpresa ainda maior foi quando
anunciaram a junção de forças num projeto novo, chamado Cellar Darling. O
primeiro trabalho, This Is The
Sound, saiu no ano seguinte e, a
despeito de contar com momentos bem interessantes, soou um pouco disperso. Era
o som de um novo grupo buscando uma identidade própria, misturando Folk, Metal Moderno, aura gótica e sons
progressivos. O grande mérito do disco? Definitivamente não soava como a banda
de origem dos músicos, ainda que faltasse foco, havia muita criatividade ali.
Quando The Spell, que narra uma saga conceitual contando a história de uma
menina que se apaixona pela morte, foi anunciado, ficou a pergunta: será que
enfim o Cellar Darling encontraria sua cara?
A bela e as feras, Cellar Darling 2019 |
Pain abre nossa jornada,
com Riffs modernos e pesados e o
indefectível Hurdy-gurdy de Anna
preparando terreno para uma canção que é bonita e até mesmo para cima, exceto
pelo final, que já nos prepara para a avalanche de melancolia que virá.
E ela vem com tudo na longa,
cheia de nuances e pesada Death. Uma
peça belíssima que nos remete aos melhores momentos do The Gathering. Fato
amplificado pela similaridade por vezes assustadora do timbre de Anna com o da musa holandesa Anneke e pela inserção de momentos que
beiram o Doom. Anna aqui usa seus dotes com a flauta para tornar a canção ainda
mais enigmática e imponente. Cabe ressaltar que os elementos Folk aparecem ao longo do disco apenas
para engrandecer as canções, nunca sendo exatamente o foco das atenções. Não
estamos diante de uma banda de Folk Metal, ao menos não do jeito que se
entende o estilo de forma mais ampla.
Ao divulgar o disco, o press release falou que The Spell se trata de um conto de fadas moderno e sombrio, e Love parece exatamente entregar isso,
uma quase valsa delicada e progressiva que poderia bem ter saído da trilha
sonora de um filme hipotético do Tim
Burton. E a arte gráfica que ilustra
o disco e encarte, é igualmente bela e sombria.
A faixa título chega, com toneladas de melancolia e uma bem-vinda aura
celta. A performance vocal de Anna aqui tem nuances de Björk, o que causa um contraste bacana com o peso das guitarras e
da bateria por vezes tribal.
O aspecto conceitual não prejudica o andamento da bolachinha, talvez
excetuando pela longa duração (quase 70 minutos de música). E temos entre os
temas mais longos faixas mais curtas, mas não com menos dinâmicas, como Burn, Hang e Sleep, que transmitem
seus recados e podem muito bem funcionar separadamente para um ouvinte
ocasional. Em termos de performances, Ivo
(guitarras e baixo) e Merlin
(bateria), jogam para o time, agraciados por uma produção certeira. Mas o
centro das atenções é mesmo Anna Murphy. Não só pela bela e versátil voz,
mas especialmente pelo domínio de diversos instrumentos exóticos que
engrandecem até mesmo as músicas mais simples.
Mas é nos longos números, como Drown
e Insomnia (a mais pesada do disco) que
a magia desse novo trabalho se desenvolve com força total. The Spell pode se
mostrar uma jornada demasiadamente longa e melancólica ao ouvinte de um Metal mais
convencional, mas é uma jornada na qual vale a pena embarcar para aqueles
afeitos a músicas que permeiam várias vertentes do estilo. Cellar Darling encontrou
enfim sua cara, e ela é bela e triste.
(NOTA: 9,38)
Visite o The Metal Club |
Gravadora: Shinigami Records (nacional)
Prós: ótimas composições e clima belo e
melancólico
Contras: pode ser longo e melancólico
demais para alguns
Classifique como: Dark Prog Metal?
Para Fãs de: The Gathering, Katatonia, Anathema
Nenhum comentário:
Postar um comentário