Complexa
Melancolia
Por Trevas
O ano, 2010. Jim Matheos, guitarrista e praticamente dono da banda pioneira do Prog Metal Fates Warning, tem mais um disco nas mangas. Por
problemas com a agenda do vocalista Ray
Alder, envolto em outros projetos,
resolve chamar o amigo de longa data John
Arch para colocar a voz no novo
trabalho, a ser lançado sob o epíteto Arch/Matheos.
Nascia Sympathetic Resonance, lançado em 2011, e que
causou um burburinho na cena prog.
Primeiro por se tratar de um belo disco, segundo por trazer de volta a
idiossincrática voz de Arch, que
raramente deu as caras em qualquer lugar após sua saída do Fates Warning, ao final
da década de 1980. E, terceiro, por embaralhar a cabeça dos próprios fãs do FW, já que o disco trazia uma formação
que nada mais era que o FW com seu
velho vocalista. Bom, o Fates Warning enfim seguiu seu rumo (não sem
algum azedume por parte de Alder),
chegando a lançar um de seus melhores trabalhos após o imbróglio. Mas uma pausa
nas atividades da banda deu espaço para que Matheos enfim revivesse a parceria, dessa vez contando com um naipe
de músicos convidados (sim, alguns deles membros ou ex-membros de sua banda
principal) para deixar o novo disco, Winter
Ethereal, fora de um burburinho
desnecessário. Produzido por Matheos,
o trabalho conta com mixagem do onipresente mago sueco Jens Bögren e lançamento
internacional pela Metal Blade Records.
Vamos ao que interessa.
Matheos e o caminhoneiro de voz fina |
Vermillion Moons começa e, logo de cara, fica latente a qualidade sonora da
bolachinha. E temos a voz de John Arch, consideravelmente bem preservada
para quem só lembra dela nos idos de Awaken
The Guardian, destilando suas complexas melodias. E aqui cabe uma
ressalva. Tive problemas por muitos e muitos anos com o timbre extremamente
agudo de John. E não sou o único. Então,
se você quer saber se existe a menor chance de embarcar nessa viagem sem medo,
devemos perguntar: estás disposto a encarar 70 minutos de John Arch? Se a resposta
for positiva, siga em frente. Pois seu timbre de eunuco não é capaz de minar a
incrível capacidade de declamar melodias intrincadas e complexas, que se
sucedem como que em cascatas, mas não de maneira hermética. Vermillion Moons, por exemplo, gruda de cara, apesar de seus 9 minutos de duração, e é
simplesmente espetacular.
A sonoridade do projeto é curiosa. Exala Jim Matheos, com aquele
ar sofisticado e melancólico que sempre diferenciou o Fates Warning de seus
congêneres, mas ao mesmo tempo consegue se distanciar do que a banda faz
atualmente. As atuações são todas brilhantes, mas mesmo a colcha de retalhos de
músicos convidados (gente do naipe de Thomas
Lang, Steve Di Giorgio, Joe Dibiase, Joey Vera, Mark Zonder, Matt Lynch, Bobby Jarzombek) não tira o senso de unidade do pacote. Wanderlust segue direta e com mensagem e
intenção mais positiva que o restante do material. E como tudo aqui, soa
progressiva em seus detalhes, dinâmica e belos arranjos, sem configurar uma
peça gratuita de música insípida de conservatório.
Assim como a faixa anterior, Solitary
Man consegue soar quase radiofônica,
e talvez esse seja o grande mérito desse Winter
Ethereal quando comparado ao
trabalho de estreia da dupla: Matheos
conseguiu enfim canalizar o melhor do talento de Arch. E mesmo quando somos confrontados com 8 minutos de cascatas
melódicas do vocalista, como na espetacular Wrath Of the Universe (possivelmente a que mais faz lembrar o Fates Warning do passado), tudo soa confortável e natural.
E, como que para tornar a viagem o mais confortável possível, esses
momentos mais complexos são seguidos por faixas mais “diretas” como Thetered (a sensível balada cuja letra
inspirou o nome do disco) e Straight
And Narrow (primeira a ser trabalhada comercialmente), essa última a
mais metal da bolachinha. Pitch Black
Prism, com sua letra fantasmagórica sobre Chernobyl, já remete a algo mais
próximo dos sons atuais do Fates Warning, e acabou por se tornar uma de minhas
favoritas.
O disco cai um pouco de qualidade nas duas longas faixas que encerram a
jornada, mas ainda assim se faz único e obrigatório na coleção de qualquer um
que curta minimamente Prog Metal e Fates Warning (NOTA: 8,95)
Visite o The Metal Club |
Gravadora: Metal Blade Records (importado)
Prós: uma avalanche de belas melodias
Contras: overdose de John Arch e sua voz
de eunuco
Classifique como: Prog Metal
Para Fãs de: Fates Warning, Devin Townsend
Nenhum comentário:
Postar um comentário