quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Arch/Matheos – Winter Ethereal (CD-2019)



Complexa Melancolia
Por Trevas

O ano, 2010. Jim Matheos, guitarrista e praticamente dono da banda pioneira do Prog Metal Fates Warning, tem mais um disco nas mangas. Por problemas com a agenda do vocalista Ray Alder, envolto em outros projetos, resolve chamar o amigo de longa data John Arch para colocar a voz no novo trabalho, a ser lançado sob o epíteto Arch/Matheos. Nascia Sympathetic Resonance, lançado em 2011, e que causou um burburinho na cena prog. Primeiro por se tratar de um belo disco, segundo por trazer de volta a idiossincrática voz de Arch, que raramente deu as caras em qualquer lugar após sua saída do Fates Warning, ao final da década de 1980. E, terceiro, por embaralhar a cabeça dos próprios fãs do FW, já que o disco trazia uma formação que nada mais era que o FW com seu velho vocalista. Bom, o Fates Warning enfim seguiu seu rumo (não sem algum azedume por parte de Alder), chegando a lançar um de seus melhores trabalhos após o imbróglio. Mas uma pausa nas atividades da banda deu espaço para que Matheos enfim revivesse a parceria, dessa vez contando com um naipe de músicos convidados (sim, alguns deles membros ou ex-membros de sua banda principal) para deixar o novo disco, Winter Ethereal, fora de um burburinho desnecessário. Produzido por Matheos, o trabalho conta com mixagem do onipresente mago sueco Jens Bögren e lançamento internacional pela Metal Blade Records. Vamos ao que interessa.

Matheos e o caminhoneiro de voz fina
Vermillion Moons começa e, logo de cara, fica latente a qualidade sonora da bolachinha. E temos a voz de John Arch, consideravelmente bem preservada para quem só lembra dela nos idos de Awaken The Guardian, destilando suas complexas melodias. E aqui cabe uma ressalva. Tive problemas por muitos e muitos anos com o timbre extremamente agudo de John. E não sou o único. Então, se você quer saber se existe a menor chance de embarcar nessa viagem sem medo, devemos perguntar: estás disposto a encarar 70 minutos de John Arch? Se a resposta for positiva, siga em frente. Pois seu timbre de eunuco não é capaz de minar a incrível capacidade de declamar melodias intrincadas e complexas, que se sucedem como que em cascatas, mas não de maneira hermética. Vermillion Moons, por exemplo, gruda de cara, apesar de seus 9 minutos de duração, e é simplesmente espetacular.


A sonoridade do projeto é curiosa. Exala Jim Matheos, com aquele ar sofisticado e melancólico que sempre diferenciou o Fates Warning de seus congêneres, mas ao mesmo tempo consegue se distanciar do que a banda faz atualmente. As atuações são todas brilhantes, mas mesmo a colcha de retalhos de músicos convidados (gente do naipe de Thomas Lang, Steve Di Giorgio, Joe Dibiase, Joey Vera, Mark Zonder, Matt Lynch, Bobby Jarzombek) não tira o senso de unidade do pacote. Wanderlust segue direta e com mensagem e intenção mais positiva que o restante do material. E como tudo aqui, soa progressiva em seus detalhes, dinâmica e belos arranjos, sem configurar uma peça gratuita de música insípida de conservatório.


Assim como a faixa anterior, Solitary Man consegue soar quase radiofônica, e talvez esse seja o grande mérito desse Winter Ethereal quando comparado ao trabalho de estreia da dupla: Matheos conseguiu enfim canalizar o melhor do talento de Arch. E mesmo quando somos confrontados com 8 minutos de cascatas melódicas do vocalista, como na espetacular Wrath Of the Universe (possivelmente a que mais faz lembrar o Fates Warning do passado), tudo soa confortável e natural.


E, como que para tornar a viagem o mais confortável possível, esses momentos mais complexos são seguidos por faixas mais “diretas” como Thetered (a sensível balada cuja letra inspirou o nome do disco) e Straight And Narrow (primeira a ser trabalhada comercialmente), essa última a mais metal da bolachinha. Pitch Black Prism, com sua letra fantasmagórica sobre Chernobyl, já remete a algo mais próximo dos sons atuais do Fates Warning, e acabou por se tornar uma de minhas favoritas.



O disco cai um pouco de qualidade nas duas longas faixas que encerram a jornada, mas ainda assim se faz único e obrigatório na coleção de qualquer um que curta minimamente Prog Metal e Fates Warning (NOTA: 8,95)

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Gravadora: Metal Blade Records (importado)
Prós: uma avalanche de belas melodias
Contras: overdose de John Arch e sua voz de eunuco
Classifique como: Prog Metal
Para Fãs de: Fates Warning, Devin Townsend


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