sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Volbeat - Rewind, Replay, Rebound (CD-2019)



Fragmentado
Por Trevas

O sétimo trabalho de estúdio dos dinamarqueses do Volbeat chega à um mundo bem diferente daquele que encarou com certa indiferença a estreia da banda, em 2005: o combo liderado pelo obstinado Michael Poulsen agora é simplesmente o recordista de público em seu país natal, tendo colocado 48.000 pessoas no Telia Parken. E a cada lançamento estende tentáculos grudentos para dentro das rádios estadunidenses, geralmente pouco afeitas ao Hard/Metal do velho continente. E o que impressiona é que Poulsen e sua trupe tenham conseguido tamanho estardalhaço fazendo um som bastante idiossincrático: uma mistura de Heavy Metal com Rockabilly, Punk e até mesmo Country. E a moral dos caras é tamanha que seu discos sempre contam com participações especialíssimas de baluartes do panteão metálico – King Diamond, Mille Pretrozza, Barney Greenway... Repetindo aqui a parceria com o produtor Jacob Hansen, vamos ver o que os dinamarqueses tem a dizer.


Nobres fascínoras

Last Day Under The Sun tem riff simples, toneladas de reverb e um refrão grudento feito chiclete no asfalto de verão. Parece saída de algum filme oitentista daqueles que passavam ad nauseum na Sessão Da Tarde. E cara, funciona pacas.



Pelvis On Fire já lembra bem mais o material pelo qual a banda se destacou em seus primeiros discos, aquela mistura única de Metal com elementos de Rockabilly. Não é dos melhores exemplares que a banda já fez, mas tá valendo.



A faixa título chega com harmonias nas guitarras que evocam Thin Lizzy, para então cair em uma Power Ballad daquelas que também tem povoado cada vez mais os discos do quarteto. Para nossa sorte essa é das boas. Mas já fica evidente que há um certo tom esquizofrênico no desenrolar da bolachinha. O que fica mais evidente quando somos repentinamente arremessados em seguida para um rockão fodido como Die To Live, contando com a voz indefectível de Neil Fallon – do Clutch – só para seguir caminho com a melecosa When We Were Kids e então com a deliciosamente macabra Sorry Sack Of Bones.



E nessa montanha russa que dura quatorze faixas e quase uma hora de duração, ainda temos tempo para a participação de Gary Holt em Cheapside Sloggers, além de números que farão a alegria das rádios – como Cloud 9-  e também dos fãs antigos – como Leviathan e Parasite.



Definitivamente o ouvinte precisa ter bastante gosto por todas as facetas que o Volbeat já demonstrou anteriormente, pois aqui elas se digladiam a cada minuto por um minuto ao sol. Para grande mérito de Poulsen e sua trupe, não há um segundo sequer aqui que não soe exatamente como Volbeat, e se falta coesão ao disco, sobra diversidade e há garantia de um pouco de diversão para todos.(NOTA: 8,27)



segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Cellar Darling – The Spell (CD-2019)



Um Belo e Melancólico Feitiço
Por Trevas

Quando Anna Murphy, Ivo Henzi e Merlin Sutter decidiram deixar o combo suíço de Folk Metal Eluveitie de uma só vez, em 2016, o mundo do Heavy Metal foi pego de surpresa. Afinal, os três eram peças importantes e criativamente ativas de uma das bandas emergentes na cena europeia. Surpresa ainda maior foi quando anunciaram a junção de forças num projeto novo, chamado Cellar Darling. O primeiro trabalho, This Is The Sound, saiu no ano seguinte e, a despeito de contar com momentos bem interessantes, soou um pouco disperso. Era o som de um novo grupo buscando uma identidade própria, misturando Folk, Metal Moderno, aura gótica e sons progressivos. O grande mérito do disco? Definitivamente não soava como a banda de origem dos músicos, ainda que faltasse foco, havia muita criatividade ali. Quando The Spell, que narra uma saga conceitual contando a história de uma menina que se apaixona pela morte, foi anunciado, ficou a pergunta: será que enfim o Cellar Darling encontraria sua cara?

A bela e as feras, Cellar Darling 2019
Pain abre nossa jornada, com Riffs modernos e pesados e o indefectível Hurdy-gurdy de Anna preparando terreno para uma canção que é bonita e até mesmo para cima, exceto pelo final, que já nos prepara para a avalanche de melancolia que virá.


E ela vem com tudo na longa, cheia de nuances e pesada Death. Uma peça belíssima que nos remete aos melhores momentos do The Gathering. Fato amplificado pela similaridade por vezes assustadora do timbre de Anna com o da musa holandesa Anneke e pela inserção de momentos que beiram o Doom. Anna aqui usa seus dotes com a flauta para tornar a canção ainda mais enigmática e imponente. Cabe ressaltar que os elementos Folk aparecem ao longo do disco apenas para engrandecer as canções, nunca sendo exatamente o foco das atenções. Não estamos diante de uma banda de Folk Metal, ao menos não do jeito que se entende o estilo de forma mais ampla.


Ao divulgar o disco, o press release falou que The Spell se trata de um conto de fadas moderno e sombrio, e Love parece exatamente entregar isso, uma quase valsa delicada e progressiva que poderia bem ter saído da trilha sonora de um filme hipotético do Tim Burton. E a arte gráfica que ilustra o disco e encarte, é igualmente bela e sombria.


A faixa título chega, com toneladas de melancolia e uma bem-vinda aura celta. A performance vocal de Anna aqui tem nuances de Björk, o que causa um contraste bacana com o peso das guitarras e da bateria por vezes tribal.


O aspecto conceitual não prejudica o andamento da bolachinha, talvez excetuando pela longa duração (quase 70 minutos de música). E temos entre os temas mais longos faixas mais curtas, mas não com menos dinâmicas, como Burn, Hang e Sleep, que transmitem seus recados e podem muito bem funcionar separadamente para um ouvinte ocasional. Em termos de performances, Ivo (guitarras e baixo) e Merlin (bateria), jogam para o time, agraciados por uma produção certeira. Mas o centro das atenções é mesmo Anna Murphy. Não só pela bela e versátil voz, mas especialmente pelo domínio de diversos instrumentos exóticos que engrandecem até mesmo as músicas mais simples.


Mas é nos longos números, como Drown e Insomnia (a mais pesada do disco) que a magia desse novo trabalho se desenvolve com força total. The Spell pode se mostrar uma jornada demasiadamente longa e melancólica ao ouvinte de um Metal mais convencional, mas é uma jornada na qual vale a pena embarcar para aqueles afeitos a músicas que permeiam várias vertentes do estilo. Cellar Darling encontrou enfim sua cara, e ela é bela e triste. (NOTA: 9,38)

Visite o The Metal Club
Gravadora: Shinigami Records (nacional)
Prós: ótimas composições e clima belo e melancólico
Contras: pode ser longo e melancólico demais para alguns
Classifique como: Dark Prog Metal?
Para Fãs de: The Gathering, Katatonia, Anathema


domingo, 22 de dezembro de 2019

Vikram – Behind The Mask I (CD-2019)



O Poder Por Trás Da Máscara
Por Trevas

Um dos muitos rebentos de um ambicioso projeto multimídia já há 7 anos em desenvolvimento, Behind The Mask I é a parte inicial de uma trilogia de discos que contarão a história de Nathanael Frost, um suposto imortal que se aventura por eras e lugares diferentes do planeta em uma jornada de autoconhecimento. Fruto da imaginação do guitarrista/produtor Tiago Della Vega, a história foi desenvolvida em um livro por Damien Void, e foi adaptada aqui no disco em letras majoritariamente construídas pela escritora Nina Barthman. Claro que deixar de lado o aspecto conceitual em um projeto que certamente envolve muita paixão e esmero em sua elaboração pode parecer injusto. Mas como habitual aqui na Cripta, repito o discurso: álbuns conceituais são por vezes a própria materialização do ditado “de boas intenções o inferno está cheio”. Então, vamos ao que interessa: musicalmente, o que está por trás (oops) de Behind The Mask I?

Behind The Mask I, o livro

A começar, o time envolvido no disco é de primeira. Della Vega tem seu nome estampado no Guiness Book para o recorde de guitarrista mais veloz do planeta e possui vasta experiência em produção e arranjos em cenas musicais diferentes. Marcus Dotta é o homem-polvo que pilotou a bateria do excelente Shadow Work, disco póstumo do mestre Warrel Dane, dentre outros trabalhos (o conheci destruindo ao vivo com a Leather Leone). O petropolitano Guilherme de Siervi já nos presenteou com seus talentos vocais/guitarrísticos em trabalhos do Syren, Skyrion e em seu projeto solo: Omega Blast. O nome do baixista G Morazza pode não ter registro na mente dos headbangers, mas tem experiência produzindo, tocando e arranjando para diversos artistas e estilos ao redor do globo, background semelhante ao do tecladista Tiago Zunino. Ok, time de primeira. Mas, e as músicas?

The Ali Babá Band? O super time do Vikram
Behind The Mask I abre com uma curta introdução (Taar) que já nos mostra o uso de instrumentos (e cantos) étnicos que propõe (e conseguem) nos situar nos cenários onde a história se desenvolve. A primeira faixa de fato é The Mortal Dance Of Kali. Pressão sonora, produção para lá de caprichada. A sonoridade? De maneira simplista, um Prog/Power com toques de Folk muito bem elaborado, mas nada gratuito. Riffs e solos certeiros, bateria intrincada, mas extremamente pesada, baixo caprichado e teclados que engrandecem o som sem querer saltar a cada minuto em sua cara. E a voz dramática e forte de Guilherme destilando melodias complexas, mas grudentas. Ótimo refrão, ótimo início.


A paulada come solta desde o início sacro (que me remeteu a uma versão mais Prog de algo que o Powerwolf assinaria) da matadora Requiem For Salem. Já podemos notar então que as referências musicais Folk variarão pelo disco conforme a história se desenvolve e os cenários mudam. Burn In Hell é boa, e mantém a força bruta em alta, mas sem soar tão memorável quanto as faixas anteriores. Nem sempre a versatilidade funciona. Andaluzia, a despeito do capricho nos arranjos flamencos (destaque para o baixo aqui) e belos solos, acaba por soar exagerada, em especial na interpretação vocal. Podem me linchar, mas me soou como se o Gypsy Kings resolvesse gravar Prog Metal


Mas os pontos negativos são também pontos fora da curva aqui, para nossa sorte. Hassan Tower devolve o tempero oriental ao disco com maestria (com destaque para os solos de Zunino e Della Vega) e a espetacular Forsaken Death habitou minha cachola por dias a fio mesmo após a primeira (e então solitária) audição da bolachinha. Minha possível favorita em todo o disco.


Eyes Of Ra adiciona ao pacote a bela voz da argentina Inês Vera Ortiz, que faz um contraste para lá de enriquecedor com a rispidez de Guilherme, cujo estilo sempre me faz lembrar o finlandês Marco Hietala (Tarot, Nightwish). Os cantos e instrumentos étnicos onipresentes fazem com que comparações com bandas como Myrath e Orphaned Land venham à mente aqui e acolá. Mas o Vikram faz uso desses elementos de maneira bem própria, com um enfoque que me fez pensar mais na sutileza de arranjos de um Ark. Enfim, a despeito das comparações que usamos de referência, há bastante personalidade aqui, o que impressiona se pensarmos que estamos diante de um disco de estreia. A pesar contra, o disco é bem longo, ao que parece cada faixa reflete um dos capítulos do livro. E quando a excelente Gypsy Tragedy termina de tomar nossos ouvidos de assalto já começamos a transpor os 40 minutos de música, ainda tendo 5 faixas pela frente. Seria mais um disco a sucumbir à maldição do trabalho conceitual?


Não exatamente. A reta final do disco pode não apresentar o brilhantismo de algumas das faixas já citadas, apostando numa pegada mais direta, com faixas “curtas” a partir da épica The Red Masquerade, como que rumando para o clímax de um bom filme. Mas ainda há espaço para novidades: The Burden conta com vocais guturais, enquanto Shokran bem poderia estar em um dos pesados (e inspirados) discos recentes do Symphony X e Prelude To the End tem um clima que me remeteu aos bons tempos do Everon. O encerramento com a faixa título é um dos pontos altos de nossa jornada. Unindo a cara do Vikram com uma urgência e refrão que fazem lembrar o Omega Blast. Aqui Guilherme mostra o quanto sua voz vem ganhando em versatilidade, com bela intepretação. Um final apoteótico para um dos melhores discos de estreia que escutei nos últimos anos. Figura certa na minha lista de melhores de 2019 e uma clara demonstração do poder de renovação de nossa cena autoral. Que este seja o início de uma longa e gratificante jornada. Excelente! (NOTA: 9,17)

Visite o The Metal Club
Gravadora: Shinigami Records (nacional)
Prós: musicalidade absurda, ótimos arranjos e canções
Contras: 72 minutos pode ser coisa demais para a cachola
Classifique como: Prog/Power Metal
Para Fãs de: Ark, Symphony X, Blind Guardian


sábado, 21 de dezembro de 2019

Nightbound – Nightbound (EP-2019)



Uma Curta e Viciante Viagem Aos Anos 1980
Por Trevas

Tocar com o Azul Limão em Assunção no Metal Feria Fest foi uma delícia. Uma horda de headbangers se divertindo em harmonia, estrutura de show excelente, pessoas receptivas e conhecedoras da nossa cena. Vi muitos jovens que sabiam mais de nossas bandas antigas (e novas) do Underground do que a média dos nossos jovens bangers. Um fato curioso e bacana, mas que não deixa de entristecer um pouco quando notamos o quão pouco conhecemos da prolífica cena de nossos vizinhos. Tentei corrigir essa falha em meu currículo, adquiri alguns CDs (e ganhei outros) de um punhado de bandas paraguaias. Pude testemunhar algumas dessas ótimas bandas locais no próprio festival, e uma delas é essa aqui, a Nightbound. Formada em 2018, o núcleo da Nightbound é formado pelo veterano guitarrista Mike Martinez (The Force, Overlord) e pela vocalista/baixista Arianna Cuenca. No show que assisti fechava o trio a jovem (e talentosa) baterista Mel. O EP, autointitulado, é o primeiro trabalho em maior escala da banda, que em 2018 havia lançado uma Demo em cassete com tiragem para lá de limitada, só para casar com a ideia sonora: um resgate ao Hard/Heavy do final dos anos 1970, início dos anos 1980.

Nightbound 2019: Mel, Mike e Arianna
Nightbound, a banda, abre Nightbound, o disco, com...Nightbound...a música. Produção bem oitentista, Riff que conjura Scorpions, Judas Priest e Saxon. Os solos de Mike são matadores e a voz de Arianna (que aqui não toca o baixo, nas mãos de Katz Leiv) se encaixa perfeitamente na era que os paraguaios tentam (com sucesso) resgatar. Basta escutar a delícia que é o grudento refrão de Time Is On Your Side, que une Thin Lizzy à Warlock com maestria.


No Mercy é mais violenta, uma belezura NWOTHM, com rápidas palhetadas, bateria caprichada (por Miky Doldán) e letra daquelas de rebeldia rocker típicas de tempos mais ingênuos. A faixa seguinte, The Fighting Never Ends, foi gravada num ensaio em 2019 (o restante do disco foi gravado em estúdio no ano anterior), com a qualidade do som mais crua. Mais uma faixa legal que poderia bem ser alguma gravação perdida de alguma banda efêmera lá de 1983. 




Os curtos 18 minutos do EP se encerram com uma versão bonitinha para Soldier Of Fortune do Deep Purple. Um curto, belo e certeiro cartão de visitas de uma banda que deixou o brasuca aqui curioso com o primeiro Full Length, a sair em 2020. Uma viciante estreia! (NOTA: 9,02)

Visite O The Metal Club
Gravadora: Awakening Records (importado)
Prós: realmente nos transporta para o início dos anos 1980
Contras: são apenas 18 minutos
Classifique como: NWOTHM
Para Fãs de: Saxon, Rock Goddes, Warlock, Thin Lizzy


quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Picture – Wings (CD-2019)



Fênix Errática
Por Trevas

Wings é o disco de estúdio comemorativo dos 40 anos de existência do Picture, banda considerada uma das pioneiras do metal na Holanda. O Picture viveu um breve momento de sucesso no início dos anos 1980, excursionando com alguns grandes nomes da cena e causando um certo impacto em alguns mercados pela Europa até o encerramento de suas atividades, em 1987. Com o passar das décadas, o Picture acabou sendo catapultado aos status de banda Cult, tendo voltado em 2007, excursionando e gravando com alguma regularidade com uma formação que incluía a cozinha original e o vocalista britânico Pete Lovell (famoso pelo disco Eternal Dark). Em 2016, após dois discos de estúdio bacaninhas e inúmeras turnês, Lovell decidiu sair para montar o Lovell’s Blade, levando dois membros do Picture com ele. Os remanescentes Rinus (baixo) e Bakker (bateria) resolveram então remontar a formação original da banda, que gravara os dois primeiros discos. Na voz, Ronald Van Prooijen. Nas guitarras, o original Jan Bechtum soma forças a uma nova adição: Appie De Gelder. Com essa nova velha formação, fizeram uma turnê comemorativa antecipando os 40 anos (que rendeu um ao vivo ok). Como ninguém matou ninguém durante a turnê, o quinteto resolveu entrar em estúdio e cá estamos diante do rebento, o décimo trabalho de inéditas da carreira. Com a produção do desconhecido Jonathan Merrelaar e lançamento nacional em caprichado silpcase, vamos à Wings.

Senhores holandeses do barulho
Line Of Life abre o trabalho, com clara demonstração de que a sonoridade segue à risca a ideia da nostalgia – parece que estamos ouvindo um disco de 1978/1979. Boas guitarras se revezam e logo chega a voz de Ronald. O cara soa atualmente mais como o Dave Lee Roth do que o próprio Diamond Dave. E isso não é exatamente um elogio. Honestamente, a formação original do Picture nunca foi minha favorita, justamente por conta de Ronald, um vocalista muito menos interessante do que seus sucessores, Avigal e Lovell. Mas ele até faz um trabalho digno aqui, pena que Line Of Life, a algo irritante faixa título (que parece um Uriah Heep sem inspiração) e Little Annie introduzam o novo disco de maneira cansativa e nada empolgante.


Mas a coisa realmente emplaca nas ferozes, curtas e matadoras Is It Real e Blown Away (de longe a melhor do bando). Aqui realmente ouvimos o Picture cheio de energia que faz um dos shows mais legais que um fã de Metal Tradicional pode assistir. No Place To Hide e Empty Room diminuem o ritmo, mas essa última consegue extrair ótimas linhas melódicas aliadas a grandes solos e mudanças de andamento. Ótima música.



Mas infelizmente a empolgação dura muito pouco. Never Enough é quase um bizarro remake de We’re An American Band do Grand Funk Railroad. E a “paradinha para a galera cantar junto” no refrão surrupiado não melhora a vergonha alheia. Still Standing não consegue levantar muito a bola com sua letra comemorativa. Já a épica Stroke cita a empolgação da banda com o Brasil e encerra de maneira digna, mas não tão empolgante assim, um disco para lá de irregular. (NOTA: 6,75)

Visite o The Metal Club

Gravadora: Classic Metal Records (nacional)
Prós: o meio do disco tem ótimas músicas
Contras: Um início murcho e Never Enough
Classifique como: Heavy Metal
Para Fãs de: Ostrogoth, Saxon, The Rods


sábado, 14 de dezembro de 2019

Forkill – The Sound Of The Devil’s Bell (CD-2019)



O Poderoso Som Do Sino Do Cramulhão Carioca
Por Trevas

The Sound Of The Devil’s Bell é o segundo trabalho do combo carioca de Thrash Metal, formado em 2010. A praga das mudanças de formação, comum na cena, fez com que o CD chegasse às lojas, em uma bela edição contando com a arte inspirada de Rafael Tavares (Torture Squad), já com um desfalque importante: Matt Silva (voz e guitarra) deixaria o quarteto para ser substituído por Igor Rodrigues.

Forkill à época do disco - Matt, Gus, Tártaro e Ronnie

Dramas à parte, a bolachinha nos apresenta 45 minutos de um furioso Thrash Metal Old School. Afora os três curtos e climáticos interlúdios acústicos, temos uma sequência inclemente de faixas energéticas, com poderio amplificado pela produção crua e direta de Daniel Escobar (produtor do disco de retorno do Azul Limão). Impossível um fã do estilo não se empolgar com Emperor Of Pain, When Hell Rises e a emblemática Let There Be Thrash.


Individualmente, apesar do destaque para a rifferama implacável da dupla Ronnie Giehl e Matt Silva, temos performances para lá de poderosas também da cozinha, composta por Rodrigo Tártaro (bateria) e Gus Nascimento (baixo). Entre faixas mais longas e variadas, como a excelente Warlord, temos pedradas diretas e virulentas como Old Skullz, R.E.D. e Killed At Last. Todas pequenos convites musicados irrecusáveis a um torcicolo.


O disco ainda conta com uma versão revigorada para Vendetta, uma das melhores faixas do Debut, como um bônus bacana. A se reclamar, apenas as linhas vocais de Matt (agora se concentrando nas guitarras do ótimo Affront), que apesar de contar com uma rudez no timbre que combina com o estilo, carecem de maior variação (e de um maior cuidado no inglês). Em suma, um baita disco de Thrash Metal, que demonstra clara evolução ao trabalho de estreia e nos deixa com a certeza de que o Forkill ainda tem muito mais lenha para queimar, lá nos fogos do inferno! (NOTA: 8,36)

Visite o The Metal Club

Gravadora: Dark Sun Records/Dies Irae (nacional)
Prós: Thrash Old School visceral
Contras: os vocais estão aquém do poderio instrumental
Classifique como: Thash Metal
Para Fãs de: Exodus, Slayer


sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Motörhead – Live At Brixton Academy (CD Duplo – 2019)



Boneshaker Redivivo
Por Trevas

Lemmy sempre lutou contra os abusos das gravadoras no lançamento de caça-níqueis que exploram os fãs da banda. Com ele adornando o mármore do inferno, qualquer amarra que segurasse esses lançamentos se afrouxou. Então cabe aqui um aviso importante aos colecionadores desavisados: Live At Brixton Academy nada tem a ver com o clássico show de 1987. Trata-se na verdade do relançamento de uma edição dupla da contraparte sonora de Boneshaker, o DVD,  gravado em 2000 na turnê comemorativa de 25 anos do trio. Originalmente o DVD de Boneshaker (lançado em 2001 com o subtítulo: 25 & Alive) vinha com um CD encartado, contendo apenas 17 das 23 faixas que compunham o show. Em 2003 a edição completa do show apareceu pela primeira vez em CD duplo, mas em uma edição que saiu em poucos países, sem o nome original (e criminosamente sem a arte de Joe Petagno) de Boneshaker, um item relativamente difícil de encontrar.

Boneshaker, o DVD com o CD bônus

O que temos em mãos é uma nova prensagem, agora de ampla distribuição, dessa edição, com a capa em slipcase trazendo apenas o nome da banda e uma foto da mítica casa de shows. Ao todo são as 23 faixas de um dos shows mais legais já registrados oficialmente pela banda. O repertório traz muita coisa dos anos 1990 e da então nova era da banda (Sacrifice, We Are Motörhead, Snake Bite Love, Overnight Sensation...) mescladas aos clássicos imortais e algumas faixas antigas não tão óbvias. Como se tratava de um show comemorativo, alguns improváveis personagens foram convidados ao palco, com destaques para Whitfield Crane, Doro, Fast Eddie Clarke e Brian May. Isso sem contar a participação dos filhos de Phil Campbell e do próprio Lemmy.


A festa bem poderia ter resultado numa zona completa, mas não, o que ouvimos aqui é um deleite sonoro para fã nenhum do Motörhead botar defeito. E o fato do excelente resultado final ter sido obtido com um repertório que não se baseava somente nos clássicos da fase mais incensada da banda serve para nos lembrar do quão subestimada era a formação Lemmy + Phil + Dee. Um caça-níquel da melhor qualidade, feito para ser ouvido no talo! (NOTA:10)

Gravadora: BMG (importado)
Prós: é Motörhead
Contras: se você é um Ned Flanders e gosta de AOR, passe longe!
Classifique como: Motörhead
Para Fãs de: Motörhead!!!!


quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Arch/Matheos – Winter Ethereal (CD-2019)



Complexa Melancolia
Por Trevas

O ano, 2010. Jim Matheos, guitarrista e praticamente dono da banda pioneira do Prog Metal Fates Warning, tem mais um disco nas mangas. Por problemas com a agenda do vocalista Ray Alder, envolto em outros projetos, resolve chamar o amigo de longa data John Arch para colocar a voz no novo trabalho, a ser lançado sob o epíteto Arch/Matheos. Nascia Sympathetic Resonance, lançado em 2011, e que causou um burburinho na cena prog. Primeiro por se tratar de um belo disco, segundo por trazer de volta a idiossincrática voz de Arch, que raramente deu as caras em qualquer lugar após sua saída do Fates Warning, ao final da década de 1980. E, terceiro, por embaralhar a cabeça dos próprios fãs do FW, já que o disco trazia uma formação que nada mais era que o FW com seu velho vocalista. Bom, o Fates Warning enfim seguiu seu rumo (não sem algum azedume por parte de Alder), chegando a lançar um de seus melhores trabalhos após o imbróglio. Mas uma pausa nas atividades da banda deu espaço para que Matheos enfim revivesse a parceria, dessa vez contando com um naipe de músicos convidados (sim, alguns deles membros ou ex-membros de sua banda principal) para deixar o novo disco, Winter Ethereal, fora de um burburinho desnecessário. Produzido por Matheos, o trabalho conta com mixagem do onipresente mago sueco Jens Bögren e lançamento internacional pela Metal Blade Records. Vamos ao que interessa.

Matheos e o caminhoneiro de voz fina
Vermillion Moons começa e, logo de cara, fica latente a qualidade sonora da bolachinha. E temos a voz de John Arch, consideravelmente bem preservada para quem só lembra dela nos idos de Awaken The Guardian, destilando suas complexas melodias. E aqui cabe uma ressalva. Tive problemas por muitos e muitos anos com o timbre extremamente agudo de John. E não sou o único. Então, se você quer saber se existe a menor chance de embarcar nessa viagem sem medo, devemos perguntar: estás disposto a encarar 70 minutos de John Arch? Se a resposta for positiva, siga em frente. Pois seu timbre de eunuco não é capaz de minar a incrível capacidade de declamar melodias intrincadas e complexas, que se sucedem como que em cascatas, mas não de maneira hermética. Vermillion Moons, por exemplo, gruda de cara, apesar de seus 9 minutos de duração, e é simplesmente espetacular.


A sonoridade do projeto é curiosa. Exala Jim Matheos, com aquele ar sofisticado e melancólico que sempre diferenciou o Fates Warning de seus congêneres, mas ao mesmo tempo consegue se distanciar do que a banda faz atualmente. As atuações são todas brilhantes, mas mesmo a colcha de retalhos de músicos convidados (gente do naipe de Thomas Lang, Steve Di Giorgio, Joe Dibiase, Joey Vera, Mark Zonder, Matt Lynch, Bobby Jarzombek) não tira o senso de unidade do pacote. Wanderlust segue direta e com mensagem e intenção mais positiva que o restante do material. E como tudo aqui, soa progressiva em seus detalhes, dinâmica e belos arranjos, sem configurar uma peça gratuita de música insípida de conservatório.


Assim como a faixa anterior, Solitary Man consegue soar quase radiofônica, e talvez esse seja o grande mérito desse Winter Ethereal quando comparado ao trabalho de estreia da dupla: Matheos conseguiu enfim canalizar o melhor do talento de Arch. E mesmo quando somos confrontados com 8 minutos de cascatas melódicas do vocalista, como na espetacular Wrath Of the Universe (possivelmente a que mais faz lembrar o Fates Warning do passado), tudo soa confortável e natural.


E, como que para tornar a viagem o mais confortável possível, esses momentos mais complexos são seguidos por faixas mais “diretas” como Thetered (a sensível balada cuja letra inspirou o nome do disco) e Straight And Narrow (primeira a ser trabalhada comercialmente), essa última a mais metal da bolachinha. Pitch Black Prism, com sua letra fantasmagórica sobre Chernobyl, já remete a algo mais próximo dos sons atuais do Fates Warning, e acabou por se tornar uma de minhas favoritas.



O disco cai um pouco de qualidade nas duas longas faixas que encerram a jornada, mas ainda assim se faz único e obrigatório na coleção de qualquer um que curta minimamente Prog Metal e Fates Warning (NOTA: 8,95)

Visite o The Metal Club
Gravadora: Metal Blade Records (importado)
Prós: uma avalanche de belas melodias
Contras: overdose de John Arch e sua voz de eunuco
Classifique como: Prog Metal
Para Fãs de: Fates Warning, Devin Townsend


quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

RAM – The Throne Within (CD-2019)



The TROO Within
Por Trevas

O RAM surgiu na Suécia, em 1999, com o intuito de reviver o Heavy Metal em seu estado mais puro, justamente em um país com cena prolífica em misturas e modernidade. Só que o lançamento do primeiro EP, Forced Entry, coincidiu com o nascimento de uma onda de revivalismo mundial do Metal Tradicional, e o que era para ser um projeto sem grandes ambições virou uma das bandas mais cultuadas do tal movimento, com vendagens expressivas (para os padrões do Underground, claro) e boas críticas. The Throne Within é o sexto rebento da trupe, novamente seguindo o padrão Do-it-Yourself, com o vocalista Oscar assinando a produção e mixagem, além da arte gráfica. Vejamos o que os troozões escandinavos nos apresentam nesse trabalho, que possui surpreendente lançamento nacional pela Urubuz Records!



Troozões Suecos à serviço do chifrudo

The Shadowwork pode ter a ferocidade que se espera de uma faixa de abertura de um bom disco de Metal, mas falta algo aqui para que ela se torne efetivamente memorável. E é exatamente esse algo a mais que Blades Of Betrayal tem de sobra! Que os macacos alados de Odin (se ele tiver algum) me mordam se essa não for um dos hinos do Metal desse ano!



O RAM mantém a mesma formação dos últimos dois trabalhos e temos aqui uma banda afiada. Uma dupla de guitarristas capaz de produzir bons riffs e solos empolgantes (Harry Granroth e Martin Jonsson), um baterista Old School até a medula (Morgan Petterson) e um baixista que consegue achar seu espaço de forma interessante em um mundo recheado de temas de guitarras (Tobias Petterson). Já Oscar Carlqvist parece ter sido forjado exatamente nos anos 1980, um vocalista com voz esquisita, mas marcante. Me faz lembrar de longe os melhores dias do David Wayne. A troozice contamina até o sotaque, propositadamente macarrônico, coisa comum nas produções de bandas de países que não falam inglês em tempos passados, mas que costuma sofrer correções sistemáticas nos lançamentos atuais. A produção, tem aquela cara vintage, mas com uma bem-vinda sujeira extra e um peso que costuma faltar em outros produtos da NWOTHM.



Além da formação, a fórmula da banda continua inalterada, as glórias ou insucessos de seus discos geralmente estando intimamente atreladas à inspiração na hora de escrever canções talhadas a serem favoritas no set de um show que se preze. Quando conseguem, o resultado é brilhante e simples, como na irresistivelmente idiota Fang And Fur ou em The Trap, duas belezuras que conjuram o espírito do Accept de seus melhores momentos.


No Refuge trilha o caminho entre o épico e a velocidade, com muito de Judas Priest, e certamente será uma das mais comemoradas pelos fãs. Já para quem gosta de vociferar pela imprensa um furioso antagonismo à cena metálica atual, Spirit Reaper soa um bocado próxima demais ao que o Ghost vem fazendo. Para não ficar feio, os caras provavelmente dirão que se inspiraram no Blue Öyster Cult. Tudo bem, a faixa é uma delícia e não acredito que muitos venham a reclamar à sério. 



O final do disco tem duas canções épicas que batem na trave na hora de impressionar. You All Leave me lembrou em intenção Gods Of Wrath do Metal Church, mas sem conseguir ser tão memorável, enquanto Ravnfell desperdiça grandes momentos e a presença do inconfundível Allan Averill (o irlandês Neamthanga do Primordial) em uma sucessão de linhas vocais parecidas demais. Mas nada que torne a audição desse The Throne Within menos empolgante. Certamente um dos melhores discos de Metal Tradicional de 2019! (NOTA: 9,07)

Visite o The Metal Club
Gravadora: Urubuz Records (nacional)
Prós: Troo Bagarai
Contras: Melhor deixar as letras de lado...
Classifique como: Heavy Metal, NWOTHM
Para Fãs de: Judas Priest, Accept