sábado, 28 de novembro de 2020

Firewind – Firewind (CD-2020)


Fogo Renovado
Por Trevas

O 9º trabalho de estúdio da banda do guitarrista grego Gus G (Ozzy, Dream Evil) chega após duas importantes mudanças de formação: saem o tecladista Bob Katsionis, parceiro de Gus há nada menos que 16 anos, e o vocalista Henning Basse. Gus assumiu os teclados no disco (assim como a produção, com ajuda de Dennis Ward), e chamou o alemão Herbie Langhans (Sinbreed, Avantasia) para ser o oitavo (caceta!!!!) vocalista a empunhar o microfone do Firewind.

Em chamas

E se a ideia de lançar um disco homônimo é a de marcar um novo recomeço, o petardo Welcome To The Empire se mostra o cartão de visitas perfeito. Um cruzamento moderno e pesado do Helloween da era Deris (vide a voz encardida de Herbie) com o trabalho do Malmsteen.


O peso adicional no som da banda é confirmado em Devour e Rising Fire, as duas com refrães de grudar no cérebro. Break Away tem uma cara de material clássico do Malmsteen, e Bob Katsionis aparece como convidado nos teclados climáticos de Orbital Sunrise, que destaca também o poderio do novo vocalista.


Longing to Know You quebra um pouco a pancadaria, uma balada que tinha tudo para ser memorável, mas peca por um refrão pouco convincente. Overdrive e All My Life reativam o modo Malmsteen, enquanto Space Cowboy tem um que de Scorpions, um Hard/Heavy que me fez triste por Gus não ter tido a chance de compor para um disco do Ozzy. Se Firewind, o disco, representa um novo caminho para Gus G e sua trupe, este é pesado e promissor. Um dos melhores trabalhos da banda, e a melhor “coisa com cara de Malmsteen” desde Magnum Opus. (NOTA: 8,72)

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Gravadora: Shinigami Records (nacional)

Prós: é o disco mais pesado da banda

Contras: tem aquela aura de Malmsteen, o que dará náuseas a alguns

Classifique como: Heavy Metal, Power Metal

Para Fãs de: Malmsteen, Helloween

Alestorm – Curse Of The Crystal Coconut: Deluxe Edition (2CDs-2020)


 

Monty Python x Piratas do Caribe, Parte 6

Por Trevas

Bandas-piada não são novidade no mundo do rock, de Spinal Tap a Steel Panther, passando por Massacration, os absurdos e exageros do som pesado (e seus maneirismos) rendem ótimas sátiras. Mas uma Pirate Metal Band escocesa com toques de folk e guiada por um feioso de papetes que empunha uma hedionda keytar? Isso não se ouve todo dia! Graças a Odin! Mas, o pior é que é indiscutível: os malucos do Alestorm entendem de diversão. Mas como uma piada repetida exaustivamente tende a perder a graça, fui conferir o 6º trabalho de estúdio dos ébrios camaradas, lançado aqui em bela edição dupla pela Urubuz Records, sem muita convicção.

Chiclete com Banana?

Bom, Treasure Chest Party Quest fez toda minha baboseira sisuda cair por terra logo de cara. Logo no segundo refrão eu já cantava junto “we’re only here to have fun, get drunk, and make loads of Money!”. Duvido bastante que os escoceses estejam fazendo realmente dinheiro com essa mistura de Power Metal, Folk e Metal Moderno (tem até gutural), mas que eles continuam prestando um grande serviço à parte da diversão, isso fica claro.


Cara e o que dizer do hino Fannybaws? Somente um escroque como Christopher Bowes conseguiria cantar com tanta propriedade sobre o “flagelo dos mares” escocês. Por sorte não podemos ver as papetes que ele usa no clipe. O líder do bando tem uma voz tão tosca que faz o Chris Boltendahl parecer o Pavarotti. E isso faz tudo soar mais crível e divertido. Aliás, a produção de Lasse Lammert ajuda bastante a tornar palatável o surubandê musical dos caras, como podemos ver no Folk Metal Chomp Chomp, que fala sobre um crocodilo assassino tão sinistro que devorou uma tripulação inteira, e que não pode ser vencido nem por “Russell Crowe with a giant crossbow”: uma aula de como salvar uma rima...


E se é curioso como os caras ainda consigam achar letras divertidas dentro de um tema tão limitado, musicalmente também temos algumas novidades: Tortuga aposta numa escrotamente deliciosa mescla de Hip Hop com Pop Metal que fará a galera da Amaranthe chorar de inveja. Já Zombies Ate My Pirate Ship traz a bela voz da alemã Patty Gurdy cantando à lá Nightwish a seguinte tosqueira: “far across the sea, zombies wait for me, craving brains and treasure, it’s their destiny...”.


Por falar na pouco recomendável dieta dos zumbis, se sua ideia de música é algo meramente cerebral, nem perca seu tempo com um minuto sequer desse disco...aliás, nem sei por que você ainda está lendo isso! Justamente quando a banda tenta soar mais normal, como em Call Of The Waves, a coisa fica também um pouco menos legal. Pirate’s Scorn e Pirate Metal Drinking Crew soam como outras faixas do passado, sem tanto brilho. A vinheta desbocada Shit Boat garante um sorriso e a épica Wooden Leg Part 2 tem até Blast Beats. O disco se encerra com a folk Henry Martin, mostrando que ainda não foi dessa vez que os escoceses perderam a mão. Mas quando pensei que as piadas haviam acabado, fui escutar o disco 2 da versão nacional, intitulado “16th Century Version” – e não é que temos o disco inteiro em Midi típico dos games de 16...bits? Ri bastante, mas claro que não passei da segunda faixa...sou idiota, mas tenho limites...(NOTA: 8,62)

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Gravadora: Urubuz Records (nacional)

Prós: divertido demais

Contras: definitivamente não recomendado para quem se leva a sério demais

Classifique como: Pirate Metal

Para Fãs de: Blind Guardian, Skyclad


terça-feira, 24 de novembro de 2020

Jinjer – Alive In Melbourne (CD-2020)


 

Traumatismo Ucraniano Garantido

Por Trevas

O quarteto de metal moderno ucraniano viralizou com uma arrebatadora performance “ao vivo em estúdio” da sensível Pisces, muito por conta da tresloucada transformação vocal de Tatiana Shmailyuk, que facilmente muda de um doce e melodioso trinado para a própria encarnação do cramulhão. Mas a despeito das 44 milhões de visualizações no Youtube, a banda galgou fortemente seu espaço na cena por sua reputação de ferocidade e competência nos shows, com sua sonoridade única e pesada. E Alive In Melbourne vem para coroar a boa fase.

Tati quebra pescoço


Na verdade, o CD é a contraparte em áudio do show transmitido ao vivo via streaming. Então, primeiro ponto positivo: é tudo REALMENTE ao vivo aqui. E cara, como a banda é clínica em execução. Se as proezas vocais de Tatiana já são de amplo conhecimento, cabe ressaltar aqui que os companheiros não ficam nadica de nada a dever à moça! Roman Ibramkhalilov consegue segurar sozinho o peso dos intrincados riffs de guitarra, e o poderio sonoro da cozinha monstruosa formada por Eugene Abdukhanov (baixo) e Vladislav Ulasevich (bateria) chega a ser surreal. E todos agitam bastante, conforme podemos conferir no vídeo do show, hoje disponível em sua integridade.


O que resta analisar é o quanto o repertório dos ucranianos funciona nos palcos. Mas para isso, resta observar a reação dos animadíssimos australianos, que cantam efusivamente tanto as faixas dos dois primeiros discos, quanto as mais sofisticadas (mas não menos ferozes) canções de Macro e Micro, durante os quase 80 minutos da bolachinha. E se considerarmos que Jinjer era uma banda de abertura na noite em questão, a devoção do público impressiona ainda mais. Enfim, um ao vivo poderoso, em que a proficiência técnica da banda em momento algum eclipsa a energia e espontaneidade da apresentação. Como todo bom ao vivo deve ser. (NOTA:9,00)


Gravadora: Napalm Records (importado)

Prós: performance poderosa e bem “na cara”

Contras: mixagem “na cara” pode incomodar os audiófilos mais exigentes

Classifique como: Prog Metal, Modern Metal

Para Fãs de: Tesseract, Gojira    

Demons & Wizards – III (CD-2020)


Fogo Fátuo

Por Trevas

Difícil acreditar nisso hoje em dia, mas existiu um tempo em que a união de músicos do Iced Earth e Blind Guardian fez com que muito headbanger chorasse de alegria. Sim, antes de caírem em carreiras erráticas e discos pouco expressivos, essas duas bandas já foram promessas de grandes expoentes da cena. A união entre Jon Schaffer e Hansi Kürsh rendeu uma estreia que se mostrou um dos grandes discos de seu tempo. O poderio do hoje clássico Demons & Wizards foi tamanho que até eclipsou a boa sequência, com o mais variado Touched By The Crimson King. Problemas de agenda e logística, somados ao pouco caso do público com o segundo disco, acabaram por colocar o projeto na geladeira. Até que, em 2019, a dupla resolveu enfim estrear o filhote nos palcos dos festivais de verão europeu. E a chama foi renovada, hora de um terceiro rebento. Produzido por Jim Morris, Jon e Hansi, trazendo uma penca de convidados, lá vamos ouvir o que o terceiro capítulo tem a oferecer.

Caras de chatos? Pode apostar...


Diabolic abre a bolachinha, um longo épico de desenvolvimento lento, que efetivamente une o que há de melhor nos mundos do Guardião Cego e da Terra Gelada, mas que cria uma expectativa alta demais para o resto do disco. Não que a igualmente efetiva Invincible dê pistas disso.


O caldo começa a azedar quando Wolves On Winter, Final Warning eTimeless Spirit se sucedem sem que nossos ouvidos consigam dar a menor atenção ao que está acontecendo. Você sabe que há algo errado quando um disco supostamente grandioso tem como um dos destaques uma faixa “feijão com arroz” feita para emular o AC/DC, a homenagem a Malcolm Young chamada Midas Touch. A culpa aqui parece muito mais nas mãos de Schaffer do que de Hansi. O vocalista está cantando como nos melhores momentos do Blind Guardian, aquelas melodias intrincadas e únicas, que a despeito de não deixarem a música respirar, são sua marca registrada. Infelizmente, as músicas em si seguem numa morosidade de ideias de guitarra, baixo e bateria de dar sono. Um mal que, já tem muito tempo, diminuiu gradativamente o poder de fogo do Iced Earth.


Nem tudo aqui merece o ostracismo. Universal Truth e New Dawn são até boas músicas, muito mais graças aos refrães de Hansi do que pelos riffs e estrutura engessados das músicas. Mas é muito pouco. Na tentativa de repetir o sucesso do disco de estreia, o duo definitivamente conseguiu apenas nos mostrar que Touched By the Crimson King é muito melhor do que nos lembramos. (NOTA: 6,82)

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Gravadora: Hellion Records (nacional)

Prós: é bacana ouvir Hansi resgatando seus bons momentos do passado

Contras: excetuando algumas melodias, e refrães, o disco é um marasmo só

Classifique como: Power Metal

Para Fãs de: Blind Guardian, Iced Earth


segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Pain Of Salvation – Panther (CD-2020)


 

Danielzito e Os Panteras

Por Trevas

O Pain Of Salvation (ou POS) sempre foi uma banda difícil de definir. Lembro que o primeiro lançamento deles por aqui vinha com uma propaganda bizarra que citava que os suecos soavam como o inominável cruzamento do Dream Theater com o Faith No More. O fato é que o incansável (e por vezes pretensioso) Daniel Gildenlöw, vocalista, multi-instrumentista e dono da bola, gosta de expandir as fronteiras musicais do POS. Mesmo assim, muitos dos fãs de carteirinha imaginaram que In The Passing Light Of Day esgotaria a jornada de Daniel e sua trupe: para onde iriam depois de um trabalho tão completo e que encerrava claramente um ciclo, com seus ensaios sobre a mortalidade? Pois bem, dessa vez o patrão, recentemente diagnosticado com Distúrbio de Déficit de Atenção (DDA), resolveu tornar isso um novo tema: a dicotomia em um mundo em que as pessoas se dividem em gente pragmática, pé no chão e comodista (Dogs), em contraponto a espíritos inquietos, sonhadores, aventureiros e intensos (Panthers). Ah...ok...

Danielzito e Os Panteras


E a temática, não muito complicada, praticamente se esgotaria logo de cara, com a ótima Accelerator, primeira faixa do disco e também primeira a ser trabalhada como videoclipe. Mas mesmo não sendo exatamente o mais desafiador dos conceitos, ainda rendeu algumas boas letras em um disco bem mais esquizofrênico que o incensado trabalho anterior.


A sonoridade aqui tem muito de eletrônica, como na já citada abertura, e nas subsequentes Unfuture (ótima), Restless Boy (esquisita, mas ok) e Keen To A Fault (outro destaque). E ainda que seja pouco provável que algum fã de carteirinha ainda possa se assustar com a banda, as toneladas de Hip Hop na irritante faixa título dificilmente conquistarão novos fãs para os suecos. Confesso que demorei algumas audições para me acostumar à produção, nas mãos de Gildenlöw e Daniel Bergstrand. Tudo soou a princípio meio árido, com cara de uma Demo ou material não finalizado, os elementos eletrônicos por vezes soterrando os instrumentos. Com o tempo acabei por me acostumar, mas não escolheria esse disco como um exemplo de sonoridade interessante a ser replicada. Em termos de composição, tudo aqui ficou nas mãos de Daniel, que perdeu um parceiro criativo na tão comemorada troca de Ragnar pelo retorno de Johan Hallgren.


Curiosamente, um dos melhores momentos da bolachinha vem justamente com Wait, uma bela e épica balada, bem menos experimental do que suas companhias de repertório. Já o tradicionalmente épico encerramento com uma faixa longa, o que é um padrão interessante para uma banda que tenta não soar formulaica, dessa vez vem sobre a figura da algo sensível Icon, que não consegue cativar tanto quanto seus 13 minutos prometem. Entre momentos belos e outros incômodos, Panther acaba por ser mais um ótimo trabalho do Pain Of Salvation, seu sucesso residindo justamente na capacidade de desafiar o ouvinte. Um grande disco, algo pretensioso, mas somente indicado àqueles que estão abertos a algo que fuja um pouco dos padrões mais tradicionais do Rock. (NOTA: 8,66)

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Gravadora: Urubuz Records (nacional)

Prós: musicalmente desafiador, como esperado

Contras: produção esquisita

Classifique como: Prog Metal

Para Fãs de: Fates Warning, Devin Townsend


domingo, 22 de novembro de 2020

Iron Maiden – Nights Of The Dead – Legacy Of The Beast: Live In Mexico City (2CDs-2020)



Scream For Me...Again...

Por Trevas

A maior banda de Heavy Metal da história achou uma fórmula mágica tem bastante tempo: lança um CD de estúdio, faz uma turnê para promover a bolachinha. Volta para casa. Depois sai em turnê de novo com um repertório baseado nos clássicos do passado. Cada uma dessas turnês rendendo um ao vivo. Que venderá que nem água, claro. E é exatamente o registro da última Legacy Of The Beast que temos em mãos.  

Logo aos primeiros segundos de Churchill’s Speech, faz-se claro que a escolha de um show no México é tremendamente acertada. Público alucinado logo de cara. E daí para diante, somos confrontados com um repertório que mescla algumas “raridades”, como Where Eagles Dare, Flight Of Icarus, For The Greater Good Of God e Revelations, com as faixas “exploradas ad nauseam” habituais, como 2 Minutes To Midnight, Fear Of the Dark, Iron Maiden e Hallowed Be Thy Name. Ah, e temos até tempo para o resgate de algumas peças da era Blaze, como Sign Of The Cross e Clansman.


A produção de Kevin Shirley conseguiu deixar tudo bem na cara, mas com qualidade. E o quinteto estava particularmente inspirado, até mesmo a combalida voz de Bruce viveu uma noite acima da média atual. Nenhuma das versões aqui suplanta as de estúdio ou até mesmo gravações ao vivo do passado áureo da banda. Mas também passam longe de soarem ruins.   

Pode-se até criticar a Donzela por supostamente diluir seu legado com uma penca de lançamentos ao vivo, alguns pouco inspirados, ao menos se comparados aos hoje clássicos Live After Death e Maiden Japan. Mas convenhamos, em tempos passados, quando a banda não lançava um ao vivo para cada turnê, os fãs se debatiam atrás de toscos (e caros) bootlegs. Então, o material oficial está aí. E dessa vez até que ficou legal. Compra quem quiser. (NOTA: 7,50)   


Gravadora: EMI (importado)

Prós: uma noite inspirada da Donzela

Contras: mesmo em uma boa noite, Bruce está soando cada vez gasto

Classifique como: Heavy Metal

Para Fãs de: Judas Priest, Saxon


My Dying Bride - Macabre Cabaret (EP-2020)


Extended Plague

Por Trevas

Um órgão funesto de igreja e um baixo soturno abrem o longo épico que dá nome ao novo EP do My Dying Bride. Que já nasce com cara de clássico. Com produção menos seca e teor mais gótico que no ótimo Ghost Of Orion, estilisticamente fica fácil entender o porquê do material aqui contido não ter entrado naquele CD. Aaron continua recitando suas lamúrias com voz limpa, alternando aqui e acolá com a raiva primitiva de seus urros. O grandalhão pode não ser o mais técnico dos vocalistas, mas inegavelmente tem uma marca inconfundível.


A Secret Kiss, primeira faixa a ser divulgada para o EP, segue a toada de marcha fúnebre gótica. Na verdade, bem podendo ser confundida com algum hino sacro, advindo da própria igreja do capiroto.


A Purse Of Gold And Stars começa com um belo e delicado piano, logo se desenvolvendo para uma declamação de Aaron sob uma cama etérea. Um final diferente e experimental, para um EP que até então ameaçava flertar com a perfeição. (NOTA: 8,98)

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Gravadora: Nuclear Blast Records (importado)

Prós: três pequenas pérolas da miséria humana musicada

Contras: pouco mais de 20 minutos que já podem ser suficientes para um pulso cortado

Classifique como: Doom Metal

Para Fãs de: Ahab, Paradise Lost 


quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Paradise Lost – Obsidian (CD-2020)


O Equilíbrio Na Sombria Beleza Da Obsidiana

Por Trevas

O 16º trabalho de estúdio do Paradise Lost chega em uma das fases mais confortáveis da carreira do quinteto. Após uma extensa e algo polarizadora era de experimentalismos, com o excelente The Plague Within (disco de 2015) os britânicos selaram de forma definitiva as pazes com suas origens Doom/Death. O novo (velho?) direcionamento trouxe de volta uma leva de fãs antigos, num raro momento em que um lançamento da banda não gerou debates acalorados, mas o equilíbrio entre as várias facetas de sua carreira ainda estava por ser encontrado. Medusa (de 2018), tentou com afinco, trazendo um bocado de elementos de Gothic Metal à mistura, e talvez justamente por isso a banda tenha optado por repetir a parceria com o produtor Jaime Gomez Arellano (Purson, Cathedral, Primordial) em Obsidian.

Trevosos? Nós?

E são precisos poucos segundos da bela e soturna Darker Thoughts para perceber que o Paradise Lost investiu pesado numa tentativa de equilibrar sua faceta gótica com o peso cru de outrora. Violinos e pianos convivem em rara harmonia com os latidos cada vez mais precisos do famigerado Hetfield de Yorkshire, o senhor Nick Holmes. A produção, muito mais polida e cheia de camadas do que em Medusa, ajuda bastante para balancear os riffs monolíticos de Greg Mackintosh (novamente autor de 100% do material) e Aaron Aedy, com as harmonias do primeiro cantando em nossos ouvidos melodiosas lamúrias, vide a excelente Fall From Grace.


O ataque inicial é dos mais fortes de toda a discografia dos veteranos, como podemos ouvir em Ghosts e The Devil Embraced, com cada um de seus cadavéricos pés fincados em territórios lúgubres de diferentes, podendo agradar tanto ao fã de um Gothic Rock oitentista quanto ao fã de Doom Metal mais puro. Após a impressionante sequência citada, temos as boas Forsaken, Ending Days e Hopes Die Young praticamente revivendo o período de transição dos lançamentos posteriores ao fracasso de Believe In Nothing, mas beneficiados por uma produção mais encorpada. O padrão se eleva novamente no encerramento, com a densa, pesada e solene Ravenghast soando quase como uma profana homilia musicada. Algumas edições do disco (como felizmente é o caso da nacional) contam ainda com duas faixas-bônus: Hear The Night e Defiler, ambas mantendo o padrão de qualidade e intenção estética, deixadas de fora provavelmente em prol de uma audição mais curta e concisa.


Definitivamente Obsidian não foi forjado como uma mera continuação dos bem-sucedidos discos anteriores. Muito mais sutil e variado, talvez demande um pouco mais do fã que prima o lado mais cru da banda. Mas vale o investimento, pois trata-se de um dos melhores discos de toda a carreira dos baluartes do Doom/Gothic Metal britânico. Excelente. (NOTA: 9,22)

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Gravadora: Shinigami Records (nacional)

Prós: um quase perfeito equilíbrio entre as diversas facetas da banda

Contras: perde ligeiramente a força após a primeira metade

Classifique como: Doom/Gothic metal

Para Fãs de: My Dying Bride


domingo, 15 de novembro de 2020

King Witch – Body Of Light (CD-2020)


 

Conjurando Os Deuses Antigos da Escócia

Por Trevas

Quando voltei de minha viagem para a Escócia, em 2018, vim com a mala abarrotada de guloseimas musicais. Na busca por novidades da cena local, fui menos bem-sucedido do que esperava. Excetuando pela “descoberta” de uma banda de Doom Metal vinda de Edimburgo. Que, para minha sorte, lançara seu disco de estreia exatamente no mês em que lá estive. Voltei com Under The Mountains, um debut encardido, que logo se tornou um dos meus favoritos daquele ano. Qual não foi minha surpresa ao descobrir que, dois anos depois, a banda teria seu segundo disco lançado aqui no Brasil, em bela edição da Hellion Records? Obviamente corri atrás de minha cópia assim que saiu.

Isso é true, até a foto é Doom

Após uma intro climática, a faixa título assombra nossos ouvidos com um dos Riffs mais encardidos desse 2020. De cara, a voz de Laura Donnelly, despida das toneladas de efeitos do primeiro disco, toma a frente, numa performance hercúlea que se repetiria por todo o disco. Ao final da faixa fica impossível também não se impressionar com a destreza da cozinha formada pelo estreante Rory Lee (baixo) e pelo polvo grotesco Lyle Brown.


A produção, dessa vez dividida entre o guitarrista Jamie Gilchrist e Kevin Hare, acerta no tom, com um punch absurdo e modernidade sem descaracterizar as origens do tipo de som que a banda faz, um Doom Metal com veia épica e bem dark. As letras, estas são calcadas no folclore celta, em especial nas lendas da bela Escócia, como na monstruosa Of Rock And Stone, que narra as desventuras de Beira, a deusa do inverno e mãe de todos os deuses, na mitologia local.



Quando eu chamo o som dos escoceses de Doom Metal, talvez esteja simplificando um bocado a coisa. Embora Call Of the Hunter soe tão Candlemass clássico que Laura até pareça aqui e acolá com um Messiah Marcolin de saias, o rolo compressor Witches Mark, por exemplo, já tem bem mais de um híbrido entre Motörhead e Mastodon



Elementos setentistas permeiam timbres, a pegada da cozinha e a voz de Laura (ver Order From Chaos), e a modernidade aparece nos arroubos que remetem (ainda que levemente) ao Sludge de bandas como Mastodon e Baroness. Independente disso, o que torna Body of Light absurdo é que não há, exceto pelo curto interlúdio acústico Solstice II, um minuto de descanso para os ouvidos. Decibéis inspirados permeiam pérolas Doom Metal como Solstice I/She Burns e o encerramento apoteótico com os mais de 10 minutos de Beyond The Black Gate. Colossal e obrigatório! (NOTA: 10)

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Gravadora: Hellion Records (nacional)

Prós: um verdadeiro massacre Doom

Contras: uma hora de disco pode ser demais...

Classifique como: Doom Metal

Para Fãs de: Candlemass, Avatarium, Death Penalty


quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Magnum – The Serpent Rings (CD-2020)


 

O Veneno da Velha Serpente

Por Trevas

Longa estrada já percorreu esse combo britânico, The Serpent Rings é simplesmente o 21º trabalho de estúdio em uma carreira que remete ao longínquo ano de 1972. O mais impressionante é imaginar que quase metade desses trabalhos foi lançada em anos recentes, mais precisamente após o retorno da banda, após alguns anos de hiato, em 2002. Se essa alma prolifica algo tardia já é incomum, mais incomum ainda é o fato de que, afora os curtos anos de flerte com o Mainstream, entre a segunda metade dos anos 1980 e início dos 1990, a banda nunca foi tão popular. Aproveitando a liberdade artística dos dias atuais e surfando nessa nova onda de popularidade, o mentor, guitarrista e principal compositor do MagnumTony Clarkin - optou por manter essa hercúlea rotina de trabalho e, enquanto falamos desse disco, já foi anunciado que a banda está preparando o próximo, programado para início de 2022.


UOUOUIEIEI...Ovelha e sua trupe, 2020

The Serpent Rings marca a estreia de Dennis Ward (Pink Cream 69, Unisonic, Place Vendome), substituindo o baixista Al Barrow. Mas, para minha surpresa, não é o estadunidense quem assume a produção aqui, e sim o patrão Clarkin. Que escreveu todas as músicas e letras, claro. A bolachinha abre com Where Are You Eden?, um belo exemplar da sonoridade atual da banda. Talvez com a guitarra mais na cara do que no mediano disco anterior. Ah, para quem não conhece o trabalho do Magnum, explicar o estilo dos britânicos não é lá uma tarefa muito fácil. Aura mística, canções baseadas num vocalista que prima muito mais pelas belas melodias e timbres do que pelos gritos e agressividade (o clone do Ovelha, Bob Catley) e uma impressionante capacidade de misturar Hard, Heavy, AOR e Progressivo sem soar forçado – essa é a melhor definição do som do Magnum. E isso tudo está presente aqui.


Seguimos com You Can’t Run faster Than Bullets, e a impressão de um álbum mais guitarrístico se confirma, com sua letra sombria ganhando vida na bela voz de Bob Catley, que se já mostra sinais de esgotamento ao vivo (pudera, são 73 anos bem vividos), ainda cumpre seu papel com maestria em estúdio. Bob, aliás, dá um show na ótima Madman Or Messiah, que tem algo do Uriah Heep atual. Um dos trunfos de Clarkin é sua capacidade de construir pequenos épicos, repletos de luz e sombra, como The Archway Of Tears. A princípio menos impressionante, a faixa de trabalho, Not Forgiven, dá uma guinada em seu refrão. Vale ressaltar que tio Clarkin anda meio cabreiro, as letras são boas e bem encardidas por uma certa descrença e raiva.


A épica e progressiva faixa título é bonita e algo climática, com as orquestrações dando a ela uma aura de filme à lá Senhor dos Anéis. Sabiamente, ela vem seguida pela rocker House Of Kings, que mesmo aparentando maior simplicidade, abre caminho para um interlúdio de piano, um sax encardido e belo solo de guitarra. Uma daquelas coisas que somente a maturidade traz aos grandes compositores. Seja lá que bicho mordeu a banda, o marasmo do disco anterior pouco se faz presente aqui, e até nas faixas que despertam um certo Deja Vu, como Man e The Great Unknow, há momentos interessantes. Um disco inspirado e cheio de nuances só poderia encerrar com uma faixa como Crimson On The White Sand, com Bob tirando um coelho vocalístico da cartola e mostrando que nunca é tarde para aprender novos truques. Mais um belo trabalho do Magnum, que tirou a má impressão deixada pelo disco anterior. Vale uma conferida! (NOTA: 8,90)

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Gravadora: Shinigami Records (Nacional)

Prós: clima soturno, músicas bonitas e repletas de dinâmica

Contras: sempre reclamo de discos longos, então...

Classifique como: AOR, Prog Rock

Para Fãs de: Demon, Ten, Avantasia

domingo, 8 de novembro de 2020

Kamelot - I Am The Empire: Live From The O13 (Box Set: Blu-ray + DVD + 2Cds – 2020)


 

Recheado e Caprichado

Por Trevas

Quase 14 anos após o lançamento do apoteótico One Cold Winter’s Night, um dos home vídeos mais bacanas já lançados, o combo multinacional de Power Metal Kamelot volta ao formato com um show especial, gravado em Tilburg, na Holanda, em 2018. A versão aqui analisada é a do Box Set, contendo Blu-ray, Cds e DVD, mas como habitual, existem diversos outros formatos (com lançamento nacional, inclusive).

Apresentação

O Box Set segue o formato tradicional para lançamentos do gênero: um Digipack enclausurado em Slipcase. Cada banda do Digipack com miolos de plástico sobrepostos para encaixe dos disquinhos. O encarte é bonito, mas tudo segue um padrão repetido inúmeras vezes. Os Menus são bonitos, mas tive alguma dificuldade de navegação pelo joystick do PS4. Uma apresentação bacana, mas não há nada diferente aqui.

Feuer Frei! 

Áudio e Vídeo

Quem já assistiu a banda ao vivo sabe do esmero técnico que envolve suas apresentações. Em se tratando de um show especialmente feito para a gravação de seu novo ao vivo, era de se esperar algo ainda mais grandioso. E é isso que encontramos aqui: uma qualidade absurda de vídeo, com inúmeras câmeras, nenhuma imagem granulada que seja, edição perfeita e momentos visuais de cair o queixo. A produção do show ainda garante um palco belo, pirotecnias bem colocadas e um ou outro arroubo de teatralidade (embora em menor grau que em One Cold Winter’s Night).



O áudio é ótimo, e os Cds merecem sim a aquisição, mas confesso que na primeira audição demorei a entrar no clima da mixagem. Embora hoje nem saiba mais explicar o porquê.

Performances e Repertório

O show do Kamelot é absurdamente redondo, e tecnicamente absurdo. Alex Landenburg, o mais novo membro, é um baterista para lá de competente para o estilo. Oliver Palotai toma tanto os holofotes com seus teclados quanto o eficiente patrão Thomas Youngblood. Sean Tibbets brinca bastante no palco, ainda que suas linhas de baixo raramente apareçam tanto. E Tommy Karevik é o clone perfeito de Roy Khan. A semelhança nos timbres chega a assustar. Mas, apesar de tecnicamente ser possivelmente até melhor que seu antecessor, sinto a falta de um pouco mais de feeling em suas interpretações. Da mesma maneira, apesar de, como Roy, não ter pinta de cantor de Metal, ele segura bem como frontman, mas fica um pouco a sensação de algo meio robotizado em sua performance.



E, por falar em robôs, vamos entrar num ponto sensível aqui; é impressionante o quanto temos material pré-gravado no show do Kamelot. Das compreensíveis partes orquestradas até quase todos os backing vocals, essas camadas extras deixam tudo com cara de que estamos ouvindo o próprio CD ao vivo. Das bandas que conheço, somente o Nightwish exagera mais do que eles nas backing tracks. O quanto esse uso é interessante ou beira a trapaça, deixo para cada um analisar.



Temos também um punhado de participações especiais nesse show: Lauren Hart (Once Human); Alissa White-Gluz (Arch Enemy); Elize Ryd (Amaranthe); Charlotte Wessels (Delain), Sascha Paeth (ex-Heavens Gate, Avantasia) e o quarteto feminino de cordas Eklipse. Todos os convidados têm seu espaço e fazem bonito, engrandecendo o show, como esperado.

Sobre o repertório, aqui jaz o suposto único ponto fraco do pacote. A intenção, exposta nas entrevistas bônus, era a de focar no material posterior ao último Home Vídeo. Com ao menos uma música dos cinco trabalhos de estúdio lançados a partir de então. Uma ideia válida, mas que demonstra o quanto a banda decaiu criativamente com o passar do tempo. Não que os discos com Karevik não tenham lá seus bons momentos, em especial as músicas de Haven (de longe o melhor dos discos atuais), mas até esses números empalidecem quando confrontados com os poucos clássicos espalhados pelo set (March Of Mephisto, When The Lights Are Down e Forever). Na verdade, apanham até dos momentos de discos menores da era Khan, como Rule The World e The Great Pandemonium. Mas a plateia presente não composta de fãs eventuais, e acaba por cantar de tudo, feliz e participativa.


Extras

O pacote é caprichado aqui: temos um extenso documentário (cerca de 30 minutos) sobre o show, com muito espaço para os fãs e convidados especiais. Tudo muito bem feito e interessante. Outro item é um apanhado de imagens de bastidores da turnê norte americana, com cerca de 15 minutos. Menos interessante, é daqueles que você dificilmente assistirá mais de uma vez. Para fechar, temos todos os videoclipes da fase Karevik (10 no total), todos contando com produção de ponta.

Veredito Final

Completo e feito com imenso esmero, I Am The Empire é um pacote que há de ganhar alta rodagem nos aparelhos dos fãs da fase atual do Kamelot. Poderia reclamar da falta de material antigo, mas como essa é exatamente a proposta desse ao vivo, seria julgar o trabalho justamente pelo que ele não intenciona ser. Um Home Vídeo tecnicamente perfeito. (NOTA: 10).

 

Gravadora: Napalm Records (importado)

Prós: um pacote recheado e tecnicamente absurdo

Contras: repertório baseado na fase atual, backing tracks em profusão

Classifique como: Heavy Metal, Power Metal

Para Fãs de: Angra, Conception