Para os malucos(as) que como eu tem prazer em destrinchar as histórias que permeiam a trilha sonora que escolhemos para nossas vidas. E quantas histórias interessantes se escondem em cada esquina desse vasto mundo do rock! Vocês encontrarão por aqui resenhas de shows, discos, livros, dvds (blu-rays) e notícias comentadas sobre o mundo do rock. Espero que vocês gostem e visitem sempre ou eventualmente. Eu, certamente, me divertirei muito escrevendo aqui.
O 9º trabalho de
estúdio da banda do guitarrista grego GusG (Ozzy, DreamEvil) chega após duas importantes
mudanças de formação: saem o tecladista BobKatsionis, parceiro de Gus há nada menos que 16 anos, e o
vocalista HenningBasse. Gus assumiu os teclados no disco (assim como a produção, com ajuda
de DennisWard), e chamou o alemão HerbieLanghans (Sinbreed, Avantasia)
para ser o oitavo (caceta!!!!) vocalista a empunhar o microfone do Firewind.
Em chamas
E se a ideia de lançar um disco homônimo é a de marcar um novo recomeço,
o petardo WelcomeToTheEmpire se mostra o cartão de visitas
perfeito. Um cruzamento moderno e pesado do Helloween da era Deris (vide
a voz encardida de Herbie) com o
trabalho do Malmsteen.
O peso adicional no som da banda é confirmado em Devour e RisingFire, as duas com refrães de grudar no
cérebro. BreakAway tem uma cara de material clássico do Malmsteen, e BobKatsionis aparece como convidado nos
teclados climáticos de OrbitalSunrise, que destaca também o poderio
do novo vocalista.
Longing to Know You quebra um pouco a pancadaria,
uma balada que tinha tudo para ser memorável, mas peca por um refrão pouco
convincente. Overdrive e All My Life reativam o modo Malmsteen, enquanto SpaceCowboy tem um que de Scorpions,
um Hard/Heavy que me fez triste por Gus
não ter tido a chance de compor para um disco do Ozzy. Se Firewind, o
disco, representa um novo caminho para GusG e sua trupe, este é pesado e
promissor. Um dos melhores trabalhos da banda, e a melhor “coisa com cara de Malmsteen” desde MagnumOpus. (NOTA: 8,72)
Bandas-piada não são
novidade no mundo do rock, de SpinalTap a SteelPanther, passando
por Massacration, os absurdos e
exageros do som pesado (e seus maneirismos) rendem ótimas sátiras. Mas uma PirateMetalBand escocesa com toques
de folk e guiada por um feioso de
papetes que empunha uma hedionda keytar? Isso não se ouve todo dia! Graças a
Odin! Mas, o pior é que é indiscutível: os malucos do Alestorm entendem de
diversão. Mas como uma piada repetida exaustivamente tende a perder a graça, fui
conferir o 6º trabalho de estúdio dos ébrios camaradas, lançado aqui em bela edição
dupla pela Urubuz Records, sem muita convicção.
Chiclete com Banana?
Bom, Treasure Chest Party Quest fez toda minha baboseira sisuda cair por
terra logo de cara. Logo no segundo refrão eu já cantava junto “we’re only here to have fun, get drunk, and
make loads of Money!”. Duvido bastante que os escoceses estejam fazendo
realmente dinheiro com essa mistura de PowerMetal, Folk e MetalModerno (tem até gutural), mas que eles
continuam prestando um grande serviço à parte da diversão, isso fica claro.
Cara e o que dizer do hino Fannybaws?
Somente um escroque como ChristopherBowes conseguiria cantar com tanta
propriedade sobre o “flagelo dos mares” escocês. Por sorte não podemos ver as
papetes que ele usa no clipe. O líder do bando tem uma voz tão tosca que faz o ChrisBoltendahl parecer o Pavarotti.
E isso faz tudo soar mais crível e divertido. Aliás, a produção de LasseLammert ajuda bastante a tornar palatável o surubandê musical dos
caras, como podemos ver no FolkMetalChompChomp, que fala sobre
um crocodilo assassino tão sinistro que devorou uma tripulação inteira, e que
não pode ser vencido nem por “Russell
Crowe with a giant crossbow”: uma aula de como salvar uma rima...
E se é curioso como os caras ainda consigam achar letras divertidas
dentro de um tema tão limitado, musicalmente também temos algumas novidades: Tortuga aposta numa escrotamente
deliciosa mescla de HipHop com PopMetal que fará a
galera da Amaranthe chorar de inveja.
Já Zombies Ate My Pirate Ship traz a
bela voz da alemã PattyGurdy cantando à lá Nightwish a seguinte tosqueira: “far across the sea, zombies wait for me,
craving brains and treasure, it’s their destiny...”.
Por falar na pouco recomendável dieta dos zumbis, se sua ideia de música
é algo meramente cerebral, nem perca seu tempo com um minuto sequer desse
disco...aliás, nem sei por que você ainda está lendo isso! Justamente quando a
banda tenta soar mais normal, como em CallOfTheWaves, a coisa fica
também um pouco menos legal. Pirate’s
Scorn e Pirate Metal Drinking Crew
soam como outras faixas do passado, sem tanto brilho. A vinheta desbocada ShitBoat garante um sorriso e a épica Wooden Leg Part 2 tem até BlastBeats. O disco se encerra com a folk
HenryMartin, mostrando que ainda não foi dessa vez que os escoceses
perderam a mão. Mas quando pensei que as piadas haviam acabado, fui escutar o
disco 2 da versão nacional, intitulado “16th
Century Version” – e não é que temos o disco inteiro em Midi típico dos games de 16...bits? Ri
bastante, mas claro que não passei da segunda faixa...sou idiota, mas tenho
limites...(NOTA: 8,62)
O quarteto de metal
moderno ucraniano viralizou com uma arrebatadora performance “ao vivo em
estúdio” da sensível Pisces, muito
por conta da tresloucada transformação vocal de TatianaShmailyuk, que
facilmente muda de um doce e melodioso trinado para a própria encarnação do
cramulhão. Mas a despeito das 44 milhões de visualizações no Youtube, a banda galgou fortemente seu
espaço na cena por sua reputação de ferocidade e competência nos shows, com sua
sonoridade única e pesada. E Alive In
Melbourne vem para coroar a boa fase.
Tati quebra pescoço
Na verdade, o CD é a
contraparte em áudio do show transmitido ao vivo via streaming. Então, primeiro ponto positivo: é tudo REALMENTE ao vivo
aqui. E cara, como a banda é clínica em execução. Se as proezas vocais de Tatiana já são de amplo conhecimento,
cabe ressaltar aqui que os companheiros não ficam nadica de nada a dever à
moça! RomanIbramkhalilov consegue segurar sozinho o peso dos intrincados riffs de guitarra, e o poderio sonoro da
cozinha monstruosa formada por EugeneAbdukhanov (baixo) e VladislavUlasevich (bateria) chega a ser surreal. E todos agitam bastante,
conforme podemos conferir no vídeo do show, hoje disponível em sua integridade.
O que resta analisar é o quanto o repertório dos ucranianos funciona nos
palcos. Mas para isso, resta observar a reação dos animadíssimos australianos,
que cantam efusivamente tanto as faixas dos dois primeiros discos, quanto as
mais sofisticadas (mas não menos ferozes) canções de Macro e Micro, durante
os quase 80 minutos da bolachinha. E se considerarmos que Jinjer era uma banda de abertura na noite em questão, a devoção do
público impressiona ainda mais. Enfim, um ao vivo poderoso, em que a proficiência
técnica da banda em momento algum eclipsa a energia e espontaneidade da
apresentação. Como todo bom ao vivo deve ser. (NOTA:9,00)
Gravadora: Napalm Records (importado)
Prós: performance poderosa e bem “na cara”
Contras: mixagem “na cara” pode incomodar
os audiófilos mais exigentes
Difícil acreditar
nisso hoje em dia, mas existiu um tempo em que a união de músicos do Iced Earth e BlindGuardian fez com
que muito headbanger chorasse de
alegria. Sim, antes de caírem em carreiras erráticas e discos pouco
expressivos, essas duas bandas já foram promessas de grandes expoentes da cena.
A união entre JonSchaffer e HansiKürsh rendeu uma
estreia que se mostrou um dos grandes discos de seu tempo. O poderio do hoje
clássico Demons&Wizards foi
tamanho que até eclipsou a boa sequência, com o mais variado TouchedByTheCrimsonKing. Problemas de agenda e logística, somados ao pouco caso do
público com o segundo disco, acabaram por colocar o projeto na geladeira. Até que,
em 2019, a dupla resolveu enfim estrear o filhote nos palcos dos festivais de
verão europeu. E a chama foi renovada, hora de um terceiro rebento. Produzido por
JimMorris, Jon e Hansi, trazendo uma penca de
convidados, lá vamos ouvir o que o terceiro capítulo tem a oferecer.
Caras de chatos? Pode apostar...
Diabolic abre a bolachinha, um
longo épico de desenvolvimento lento, que efetivamente une o que há de melhor
nos mundos do Guardião Cego e da Terra Gelada, mas que cria uma expectativa
alta demais para o resto do disco. Não que a igualmente efetiva Invincible dê pistas disso.
O caldo começa a azedar quando WolvesOnWinter, FinalWarning eTimelessSpirit se
sucedem sem que nossos ouvidos consigam dar a menor atenção ao que está
acontecendo. Você sabe que há algo errado quando um disco supostamente
grandioso tem como um dos destaques uma faixa “feijão com arroz” feita para
emular o AC/DC, a homenagem a MalcolmYoung chamada MidasTouch. A culpa aqui parece muito mais
nas mãos de Schaffer do que de Hansi. O vocalista está cantando como
nos melhores momentos do BlindGuardian, aquelas melodias intrincadas
e únicas, que a despeito de não deixarem a música respirar, são sua marca
registrada. Infelizmente, as músicas em si seguem numa morosidade de ideias de
guitarra, baixo e bateria de dar sono. Um mal que, já tem muito tempo, diminuiu
gradativamente o poder de fogo do IcedEarth.
Nem tudo aqui merece o ostracismo. UniversalTruth e New Dawn são até boas músicas, muito mais
graças aos refrães de Hansi do que
pelos riffs e estrutura engessados
das músicas. Mas é muito pouco. Na tentativa de repetir o sucesso do disco de
estreia, o duo definitivamente conseguiu apenas nos mostrar que TouchedBytheCrimsonKing é muito melhor do que nos lembramos. (NOTA: 6,82)
O Pain Of Salvation (ou POS) sempre foi uma banda difícil de
definir. Lembro que o primeiro lançamento deles por aqui vinha com uma
propaganda bizarra que citava que os suecos soavam como o inominável cruzamento
do DreamTheater com o FaithNoMore.
O fato é que o incansável (e por vezes pretensioso) DanielGildenlöw,
vocalista, multi-instrumentista e dono da bola, gosta de expandir as fronteiras
musicais do POS. Mesmo assim, muitos
dos fãs de carteirinha imaginaram que In
The Passing Light Of Day esgotaria a jornada de Daniel e sua trupe: para onde iriam depois de um trabalho tão
completo e que encerrava claramente um ciclo, com seus ensaios sobre a
mortalidade? Pois bem, dessa vez o patrão, recentemente diagnosticado com Distúrbio
de Déficit de Atenção (DDA),
resolveu tornar isso um novo tema: a dicotomia em um mundo em que as pessoas se
dividem em gente pragmática, pé no chão e comodista (Dogs), em contraponto a espíritos inquietos, sonhadores, aventureiros
e intensos (Panthers). Ah...ok...
Danielzito e Os Panteras
E a temática, não muito complicada, praticamente se esgotaria logo de
cara, com a ótima Accelerator,
primeira faixa do disco e também primeira a ser trabalhada como videoclipe. Mas
mesmo não sendo exatamente o mais desafiador dos conceitos, ainda rendeu
algumas boas letras em um disco bem mais esquizofrênico que o incensado
trabalho anterior.
A sonoridade aqui tem muito de eletrônica, como na já citada abertura, e
nas subsequentes Unfuture (ótima), RestlessBoy (esquisita, mas ok) e KeenToAFault (outro
destaque). E ainda que seja pouco provável que algum fã de carteirinha ainda
possa se assustar com a banda, as toneladas de HipHop na irritante
faixa título dificilmente conquistarão novos fãs para os suecos. Confesso que
demorei algumas audições para me acostumar à produção, nas mãos de Gildenlöw e DanielBergstrand. Tudo soou
a princípio meio árido, com cara de uma Demo ou material não finalizado, os
elementos eletrônicos por vezes soterrando os instrumentos. Com o tempo acabei
por me acostumar, mas não escolheria esse disco como um exemplo de sonoridade interessante
a ser replicada. Em termos de composição, tudo aqui ficou nas mãos de Daniel, que perdeu um parceiro criativo
na tão comemorada troca de Ragnar pelo
retorno de JohanHallgren.
Curiosamente, um dos melhores momentos da bolachinha vem justamente com Wait, uma bela e épica balada, bem
menos experimental do que suas companhias de repertório. Já o tradicionalmente épico
encerramento com uma faixa longa, o que é um padrão interessante para uma banda
que tenta não soar formulaica, dessa vez vem sobre a figura da algo sensível Icon, que não consegue cativar tanto
quanto seus 13 minutos prometem. Entre momentos belos e outros incômodos, Panther acaba por ser mais um ótimo
trabalho do PainOfSalvation,
seu sucesso residindo justamente na capacidade de desafiar o ouvinte. Um grande
disco, algo pretensioso, mas somente indicado àqueles que estão abertos a algo
que fuja um pouco dos padrões mais tradicionais do Rock. (NOTA:8,66)
A maior banda de HeavyMetal da história achou uma fórmula mágica tem bastante tempo:
lança um CD de estúdio, faz uma turnê para promover a bolachinha. Volta para
casa. Depois sai em turnê de novo com um repertório baseado nos clássicos do
passado. Cada uma dessas turnês rendendo um ao vivo. Que venderá que nem água,
claro. E é exatamente o registro da última Legacy
Of The Beast que temos em mãos.
Logo aos primeiros
segundos de Churchill’s Speech,
faz-se claro que a escolha de um show no México é tremendamente acertada. Público
alucinado logo de cara. E daí para diante, somos confrontados com um repertório
que mescla algumas “raridades”, como Where
Eagles Dare, Flight Of Icarus, For The Greater Good Of God e Revelations, com as faixas “exploradas ad nauseam” habituais, como 2 Minutes To Midnight, Fear Of the Dark, IronMaiden e HallowedBeThyName. Ah, e temos até tempo para o
resgate de algumas peças da era Blaze,
como SignOfTheCross e Clansman.
A produção de KevinShirley conseguiu deixar tudo bem na cara, mas com qualidade. E o
quinteto estava particularmente inspirado, até mesmo a combalida voz de Bruce viveu uma noite acima da média
atual. Nenhuma das versões aqui suplanta as de estúdio ou até mesmo gravações
ao vivo do passado áureo da banda. Mas também passam longe de soarem ruins.
Pode-se até criticar a Donzela
por supostamente diluir seu legado com uma penca de lançamentos ao vivo, alguns
pouco inspirados, ao menos se comparados aos hoje clássicos LiveAfterDeath e MaidenJapan. Mas convenhamos, em tempos passados, quando a banda não
lançava um ao vivo para cada turnê, os fãs se debatiam atrás de toscos (e
caros) bootlegs. Então, o material
oficial está aí. E dessa vez até que ficou legal. Compra quem quiser. (NOTA: 7,50)
Gravadora: EMI (importado)
Prós: uma noite inspirada da Donzela
Contras: mesmo em uma boa noite, Bruce
está soando cada vez gasto
Um órgão funesto de
igreja e um baixo soturno abrem o longo épico que dá nome ao novo EP do MyDyingBride. Que já nasce com cara de
clássico. Com produção menos seca e teor mais gótico que no ótimo GhostOfOrion, estilisticamente
fica fácil entender o porquê do material aqui contido não ter entrado naquele CD. Aaron continua recitando suas lamúrias com voz limpa, alternando
aqui e acolá com a raiva primitiva de seus urros. O grandalhão pode não ser o
mais técnico dos vocalistas, mas inegavelmente tem uma marca inconfundível.
ASecretKiss, primeira
faixa a ser divulgada para o EP, segue
a toada de marcha fúnebre gótica. Na verdade, bem podendo ser confundida com
algum hino sacro, advindo da própria igreja do capiroto.
A Purse Of Gold And
Stars começa
com um belo e delicado piano, logo se desenvolvendo para uma declamação de Aaron sob uma cama etérea. Um final
diferente e experimental, para um EP que até então ameaçava
flertar com a perfeição. (NOTA: 8,98)
O 16º trabalho de
estúdio do ParadiseLost chega em uma das fases mais
confortáveis da carreira do quinteto. Após uma extensa e algo polarizadora era
de experimentalismos, com o excelente ThePlagueWithin (disco de 2015) os britânicos selaram de forma definitiva as
pazes com suas origens Doom/Death. O
novo (velho?) direcionamento trouxe de volta uma leva de fãs antigos, num raro
momento em que um lançamento da banda não gerou debates acalorados, mas o
equilíbrio entre as várias facetas de sua carreira ainda estava por ser
encontrado. Medusa (de 2018), tentou
com afinco, trazendo um bocado de elementos de GothicMetal à mistura, e
talvez justamente por isso a banda tenha optado por repetir a parceria com o
produtor JaimeGomezArellano (Purson, Cathedral, Primordial) em
Obsidian.
Trevosos? Nós?
E são precisos poucos segundos da bela e soturna DarkerThoughts para
perceber que o ParadiseLost investiu pesado numa tentativa de
equilibrar sua faceta gótica com o peso cru de outrora. Violinos e pianos
convivem em rara harmonia com os latidos cada vez mais precisos do famigerado Hetfield de Yorkshire, o senhor NickHolmes. A produção, muito mais
polida e cheia de camadas do que em Medusa,
ajuda bastante para balancear os riffs monolíticos de GregMackintosh (novamente
autor de 100% do material) e AaronAedy, com as harmonias do primeiro
cantando em nossos ouvidos melodiosas lamúrias, vide a excelente FallFromGrace.
O ataque inicial é dos mais fortes de toda a discografia dos veteranos,
como podemos ouvir em Ghosts e TheDevilEmbraced, com cada
um de seus cadavéricos pés fincados em territórios lúgubres de diferentes,
podendo agradar tanto ao fã de um GothicRock oitentista quanto ao fã de DoomMetal mais puro. Após a impressionante sequência citada, temos as
boas Forsaken, EndingDays e HopesDieYoung praticamente
revivendo o período de transição dos lançamentos posteriores ao fracasso de BelieveInNothing, mas
beneficiados por uma produção mais encorpada. O padrão se eleva novamente no
encerramento, com a densa, pesada e solene Ravenghast
soando quase como uma profana homilia musicada. Algumas edições do disco (como felizmente
é o caso da nacional) contam ainda com duas faixas-bônus: HearTheNight e Defiler, ambas mantendo o padrão de qualidade e intenção estética,
deixadas de fora provavelmente em prol de uma audição mais curta e concisa.
Definitivamente Obsidian não foi
forjado como uma mera continuação dos bem-sucedidos discos anteriores. Muito
mais sutil e variado, talvez demande um pouco mais do fã que prima o lado mais
cru da banda. Mas vale o investimento, pois trata-se de um dos melhores discos
de toda a carreira dos baluartes do Doom/GothicMetal britânico. Excelente. (NOTA:
9,22)
Quando voltei de minha
viagem para a Escócia, em 2018, vim com a mala abarrotada de guloseimas
musicais. Na busca por novidades da cena local, fui menos bem-sucedido do que esperava.
Excetuando pela “descoberta” de uma banda de DoomMetal vinda de Edimburgo. Que, para minha sorte,
lançara seu disco de estreia exatamente no mês em que lá estive. Voltei com Under The Mountains, um debut encardido, que logo se tornou um
dos meus favoritos daquele ano. Qual não foi minha surpresa ao descobrir que,
dois anos depois, a banda teria seu segundo disco lançado aqui no Brasil, em
bela edição da HellionRecords? Obviamente corri atrás de
minha cópia assim que saiu.
Isso é true, até a foto é Doom
Após uma intro climática, a faixa título assombra nossos ouvidos com um
dos Riffs mais encardidos desse
2020. De cara, a voz de LauraDonnelly, despida das toneladas de
efeitos do primeiro disco, toma a frente, numa performance hercúlea que se
repetiria por todo o disco. Ao final da faixa fica impossível também não se
impressionar com a destreza da cozinha formada pelo estreante RoryLee (baixo) e pelo polvo grotesco LyleBrown.
A produção, dessa vez dividida entre o guitarrista JamieGilchrist e KevinHare, acerta no tom, com um punch
absurdo e modernidade sem descaracterizar as origens do tipo de som que a banda
faz, um DoomMetal com veia épica e bem dark.
As letras, estas são calcadas no folclore celta, em especial nas lendas da bela Escócia,
como na monstruosa Of Rock And Stone,
que narra as desventuras de Beira, a deusa do inverno e mãe de todos os deuses,
na mitologia local.
Quando eu chamo o som dos escoceses de DoomMetal, talvez
esteja simplificando um bocado a coisa. Embora Call Of the Hunter soe tão Candlemass
clássico que Laura até pareça aqui e
acolá com um MessiahMarcolin de saias, o rolo compressor WitchesMark, por exemplo, já tem bem mais de um híbrido entre Motörhead e Mastodon.
Elementos setentistas permeiam timbres, a pegada da
cozinha e a voz de Laura (ver OrderFromChaos), e a
modernidade aparece nos arroubos que remetem (ainda que levemente) ao Sludge de bandas como Mastodon e Baroness. Independente disso, o que torna BodyofLight absurdo é que não há, exceto pelo
curto interlúdio acústico Solstice II,
um minuto de descanso para os ouvidos. Decibéis inspirados permeiam pérolas DoomMetal como Solstice I/She
Burns e o encerramento apoteótico com os mais de 10 minutos de BeyondTheBlackGate. Colossal e obrigatório! (NOTA: 10)
Longa estrada já
percorreu esse combo britânico, TheSerpentRings é simplesmente o 21º trabalho de estúdio em uma carreira que
remete ao longínquo ano de 1972. O mais impressionante é imaginar que quase metade
desses trabalhos foi lançada em anos recentes, mais precisamente após o
retorno da banda, após alguns anos de hiato, em 2002. Se essa alma prolifica
algo tardia já é incomum, mais incomum ainda é o fato de que, afora os curtos
anos de flerte com o Mainstream,
entre a segunda metade dos anos 1980 e início dos 1990, a banda nunca foi tão
popular. Aproveitando a liberdade artística dos dias atuais e surfando nessa
nova onda de popularidade, o mentor, guitarrista e principal compositor do Magnum –TonyClarkin - optou por
manter essa hercúlea rotina de trabalho e, enquanto falamos desse disco, já foi
anunciado que a banda está preparando o próximo, programado para início de
2022.
UOUOUIEIEI...Ovelha e sua trupe, 2020
TheSerpentRings marca a
estreia de DennisWard (PinkCream69, Unisonic, PlaceVendome), substituindo o baixista AlBarrow.
Mas, para minha surpresa, não é o estadunidense quem assume a produção aqui, e
sim o patrão Clarkin. Que escreveu
todas as músicas e letras, claro. A bolachinha abre com WhereAreYouEden?, um belo exemplar da sonoridade atual da banda. Talvez com a
guitarra mais na cara do que no mediano disco anterior. Ah, para quem não
conhece o trabalho do Magnum,
explicar o estilo dos britânicos não é lá uma tarefa muito fácil. Aura mística,
canções baseadas num vocalista que prima muito mais pelas belas melodias e
timbres do que pelos gritos e agressividade (o clone do Ovelha, BobCatley) e uma impressionante capacidade de misturar Hard, Heavy, AOR e Progressivo
sem soar forçado – essa é a melhor definição do som do Magnum. E isso tudo está presente aqui.
Seguimos com You Can’t Run faster
Than Bullets, e a impressão de um álbum mais guitarrístico se confirma, com
sua letra sombria ganhando vida na bela voz de BobCatley, que se já
mostra sinais de esgotamento ao vivo (pudera, são 73 anos bem vividos), ainda cumpre
seu papel com maestria em estúdio. Bob, aliás, dá um show na ótima MadmanOrMessiah, que tem algo
do UriahHeep atual. Um dos trunfos de Clarkin
é sua capacidade de construir pequenos épicos, repletos de luz e sombra, como The Archway Of Tears. A princípio menos
impressionante, a faixa de trabalho, NotForgiven, dá uma guinada em seu
refrão. Vale ressaltar que tio Clarkin
anda meio cabreiro, as letras são boas e bem encardidas por uma certa descrença
e raiva.
A épica e progressiva faixa título é bonita e algo climática, com as
orquestrações dando a ela uma aura de filme à lá Senhor dos Anéis. Sabiamente,
ela vem seguida pela rocker HouseOfKings,
que mesmo aparentando maior simplicidade, abre caminho para um interlúdio de piano,
um sax encardido e belo solo de guitarra. Uma daquelas coisas que somente a
maturidade traz aos grandes compositores. Seja lá que bicho mordeu a banda, o
marasmo do disco anterior pouco se faz presente aqui, e até nas faixas que
despertam um certo DejaVu, como Man e TheGreatUnknow, há momentos interessantes. Um disco inspirado e cheio de nuances
só poderia encerrar com uma faixa como CrimsonOnTheWhiteSand, com Bob tirando um coelho vocalístico da cartola e mostrando que nunca
é tarde para aprender novos truques. Mais um belo trabalho do Magnum, que tirou
a má impressão deixada pelo disco anterior. Vale uma conferida! (NOTA: 8,90)
Quase 14 anos após o
lançamento do apoteótico One Cold Winter’s
Night, um dos home vídeos mais bacanas já lançados, o combo multinacional
de Power MetalKamelot volta ao formato com um show especial, gravado em Tilburg, na Holanda, em 2018. A versão
aqui analisada é a do Box Set, contendo
Blu-ray, Cds e DVD, mas como
habitual, existem diversos outros formatos (com lançamento nacional, inclusive).
Apresentação
O Box Set segue o formato tradicional
para lançamentos do gênero: um Digipack
enclausurado em Slipcase. Cada banda
do Digipack com miolos de plástico sobrepostos
para encaixe dos disquinhos. O encarte é bonito, mas tudo segue um padrão
repetido inúmeras vezes. Os Menus são bonitos, mas tive alguma dificuldade de
navegação pelo joystick do PS4. Uma apresentação bacana, mas não
há nada diferente aqui.
Feuer Frei!
Áudio
e Vídeo
Quem já assistiu a
banda ao vivo sabe do esmero técnico que envolve suas apresentações. Em se
tratando de um show especialmente feito para a gravação de seu novo ao vivo,
era de se esperar algo ainda mais grandioso. E é isso que encontramos aqui: uma
qualidade absurda de vídeo, com inúmeras câmeras, nenhuma imagem granulada que
seja, edição perfeita e momentos visuais de cair o queixo. A produção do show
ainda garante um palco belo, pirotecnias bem colocadas e um ou outro arroubo de
teatralidade (embora em menor grau que em One
Cold Winter’s Night).
O áudio é ótimo, e os Cds
merecem sim a aquisição, mas confesso que na primeira audição demorei a entrar
no clima da mixagem. Embora hoje nem saiba mais explicar o porquê.
Performances
e Repertório
O show do Kamelot é absurdamente redondo, e tecnicamente
absurdo. Alex Landenburg, o mais
novo membro, é um baterista para lá de competente para o estilo. OliverPalotai toma tanto os holofotes com seus teclados quanto o eficiente
patrão ThomasYoungblood. SeanTibbets brinca bastante no palco, ainda
que suas linhas de baixo raramente apareçam tanto. E TommyKarevik é o clone
perfeito de RoyKhan. A semelhança nos timbres chega a assustar. Mas, apesar de
tecnicamente ser possivelmente até melhor que seu antecessor, sinto a falta de
um pouco mais de feeling em suas interpretações. Da mesma maneira, apesar de,
como Roy, não ter pinta de cantor de
Metal, ele segura bem como frontman,
mas fica um pouco a sensação de algo meio robotizado em sua performance.
E, por falar em robôs, vamos entrar num ponto sensível aqui; é impressionante
o quanto temos material pré-gravado no show do Kamelot. Das compreensíveis partes orquestradas até quase todos os backingvocals, essas camadas extras deixam tudo com cara de que estamos
ouvindo o próprio CD ao vivo. Das bandas que conheço, somente o Nightwish exagera mais do que eles nas backingtracks. O quanto esse uso é interessante ou beira a trapaça, deixo
para cada um analisar.
Temos também um punhado de
participações especiais nesse show: LaurenHart (OnceHuman); AlissaWhite-Gluz (ArchEnemy); ElizeRyd (Amaranthe); CharlotteWessels (Delain), SaschaPaeth (ex-HeavensGate, Avantasia) e o quarteto feminino de
cordas Eklipse. Todos os convidados têm
seu espaço e fazem bonito, engrandecendo o show, como esperado.
Sobre o repertório,
aqui jaz o suposto único ponto fraco do pacote. A intenção, exposta nas
entrevistas bônus, era a de focar no material posterior ao último HomeVídeo. Com ao menos uma música dos cinco trabalhos de estúdio
lançados a partir de então. Uma ideia válida, mas que demonstra o quanto a
banda decaiu criativamente com o passar do tempo. Não que os discos com Karevik não tenham lá seus bons
momentos, em especial as músicas de Haven
(de longe o melhor dos discos atuais), mas até esses números empalidecem quando
confrontados com os poucos clássicos espalhados pelo set (MarchOfMephisto, When The Lights Are Down e Forever). Na verdade, apanham até dos
momentos de discos menores da era Khan,
como RuleTheWorld e TheGreatPandemonium. Mas a
plateia presente não composta de fãs eventuais, e acaba por cantar de tudo,
feliz e participativa.
Extras
O pacote é caprichado aqui:
temos um extenso documentário (cerca de 30 minutos) sobre o show, com muito
espaço para os fãs e convidados especiais. Tudo muito bem feito e interessante.
Outro item é um apanhado de imagens de bastidores da turnê norte americana, com
cerca de 15 minutos. Menos interessante, é daqueles que você dificilmente assistirá
mais de uma vez. Para fechar, temos todos os videoclipes da fase Karevik (10 no total), todos contando
com produção de ponta.
Veredito
Final
Completo e feito com imenso
esmero, I Am The Empire é um pacote
que há de ganhar alta rodagem nos aparelhos dos fãs da fase atual do Kamelot. Poderia reclamar da falta de
material antigo, mas como essa é exatamente a proposta desse ao vivo, seria
julgar o trabalho justamente pelo que ele não intenciona ser. Um HomeVídeo tecnicamente perfeito. (NOTA:
10).
Gravadora: Napalm Records (importado)
Prós: um pacote recheado e tecnicamente
absurdo
Contras: repertório baseado na fase atual,
backing tracks em profusão