quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Jinjer – Macro (CD-2019)



Traumatismo Ucraniano
Por Trevas

Em 2016 o combo ucraniano de Metal Moderno já havia chamado a atenção da mídia especializada europeia, rendendo algumas curtas turnês mundo afora e um contrato com a Napalm Records. Mas foi o lançamento do vídeo para Pisces que mudou de vez o jogo a favor da banda. A alternância entre a voz delicada e guturais assustadores por parte de Tatiana Shmailyuk fez com que vídeo e música viralizassem na internet. Como resultado, King Of Everything, o segundo Full Length da banda, vendeu bem e foi incluído em inúmeras listas de melhores do ano pela mídia especializada. E o mundo não seria mais o mesmo para o quarteto: seguiu-se uma interminável turnê, passando até mesmo pelo Brasil, e nenhum festival de verão na Europa quis ficar sem a banda da moda. Mesmo estafados, os ucranianos sabiam que tinham que aproveitar o Hype, soltando no início de 2019 o Ep Micro. Micro dividiu opiniões. Alguns fãs passaram a duvidar se a qualidade de King Of Everything não fora um ponto fora da curva.

Tati e os Quebrabarracos
On The Top abre a bolachinha com os dois pés na porta, uma trauletada virulenta que fica em algum estranho lugar entre o Djent e o Groove Metal, mas sem deixar de lado o refrão grudento, um som capaz de arrancar sorrisos tanto de fãs de Meshuggah, Gojira e Sepultura.


Pit Of Consciousness me faz pensar que os ucranianos devem ter passado boa parte da adolescência curtindo discos como Angel Dust e King For A Day, Fool For A Lifetime, do Faith No More. Tatiana Shmailyuk é um fenômeno nos guturais, mas sua bela voz limpa brilha ainda mais nas melodias complexas, porém algo radiofônicas, que por vezes acompanham (e outras tantas vezes equilibram) os riffs e ritmos quebrados de seus talentosos colegas.


A versatilidade da banda beira a esquizofrenia, que o diga a transição de um Reggae para um Metal Extremo (com direito à Blast Beats) e então para algo que beira o Pop, isso tudo na mesma canção, a fantástica Judgement (& Punishment). A produção de Max Morton consegue casar o som ultramoderno do quarteto com alguma crueza, o que faz com que, a despeito do frescor das ideias e da técnica quase robótica (típica do Djent), tenhamos uma alma mais orgânica na gravação. Cada batida da caixa do ótimo Vladislav Ulasevich pode ser sentida no peito. Roman Ibramkhalilov faz o que se espera de um guitarrista de Djent, o que não é pouco, e Eugene Abdukhanov parece brincar com seu baixo inventivo em meio ao caos. Tudo isso com peso acachapante e sem tirar o foco das canções. E as canções aqui são ótimas: Retrospection, por exemplo, brinca com a língua e sonoridade nativos dos músicos, numa mistura contagiante.


Nem só de brutalidade e técnica vivem os ucranianos, as letras são surpreendentemente interessantes e, por vezes, reflexivas, como nas caóticas Pausing Death e Home Back ou na “Gojiresca” Noah. A reclamar, apenas o fim anticlimático com a instrumental lainnereP, uma desconstrução não tão bacana de Perennial, do Ep anterior. Um dos melhores e mais inventivos discos de 2019, que nos prova com sobras que o Jinjer não é mais uma promessa da cena, e sim uma retumbante realidade. (NOTA: 9,52)

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Gravadora: Heavy Metal Rock Records, Encore Music, Rock Add Records (nacional)
Prós: técnico, pesado, grudento e inventivo
Contras: pode soar um pouco caótico demais aos ouvidos não acostumados
Classifique como: Modern Metal, Prog Metal, Djent
Para Fãs de: Meshugah, Gojira, Textures


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