quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Curtas: Airbourne, Saxon, Riot City & Mob Rules






Airbourne – Boneshaker (CD-2019)

Guerra Dos Clones
Por Trevas

Os australianos do Airbourne surgiram como postulantes ao posto de melhor clone do AC/DC da história. Após uma eletrizante estreia, moldaram razoavelmente seu som, inserindo pitadas de um Hard Rock algo radiofônico que por vezes lembra os melhores dias do Def Leppard, além de alguma modernidade na produção. Essa “diversificação” rendeu bons frutos e confesso que fosse ouvir em Boneshaker a banda se distanciando ainda mais da proposta original. Cara, como eu estava errado.


Não existe um segundo sequer nas dez canções do novo trabalho que não soem exatamente como AC/DC. Ao ponto de ser bastante plausível que até um ouvinte mais escolado possa inadvertidamente acreditar ter esbarrado com algum disco perdido da fase Bon Scott caso escute essas músicas em algum canto. E é claramente essa a intenção, já que a produção de Dave Cobb cuidadosamente deixou todos os timbres absolutamente iguais aos dos veteranos em seu passado. E Joel O’Keeffe nunca soou tanto como Bon quanto aqui. E convenhamos, até o nome de músicas como Boneshaker, Backseat Boogie e Switchblade Angel parecem saídas de belezuras passadas de Angus e companhia. Se a falta de criatividade pode render merecidos comentários rabugentos aqui e acolá, uma coisa é inegável: o Airbourne conseguiu fazer uma cópia das boas de um bom disco do AC/DC! Ótimos riffs, músicas curtas e grudentas e muita, muita diversão. (NOTA: 8,00)

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Saxon – The Eagle Has Landed:40 (3 CDs-2019)

Overdose Saxônica
Por Trevas

Poucas bandas são mais prolíficas em lançamentos ao vivo do que esses veteranos da NWOBHM. Reconhecidamente uma das bandas mais legais da cena metálica em cima de um palco, o quinteto tem como trunfo saber pinçar bem lados B em seus repertórios. Ou seja, de uma turnê para outra, sempre teremos mudanças substanciais no set list, com faixas raras entremeadas por clássicos obrigatórios. Ainda com todos os predicados citados, o lançamento dessa quarta parte da série The Eagle Has Landed, em um pacote triplo de CDs, poderia muito bem parecer um tremendo exagero.



Mas basta colocar a bolachinha para rodar e qualquer crítica vai por terra. Como habitual na série, o repertório é montado numa colagem de apresentações de turnês diferentes. Essa estratégia poderia significar diferenças perceptíveis na qualidade sonora entre os shows, mas a pós-produção tratou de minimizar esse problema. O som é sempre bom, o vigor da banda mantido intacto, com pequenas falhas presentes aqui e acolá (o que mostra que provavelmente não foram realizados overdubs). Outro possível problema do formato escolhido seria a falta de continuidade no repertório do disco. E ela realmente acontece, apesar da “colagem” do público não nos deixar no meio da maldição de Fade Ins e fade Outs entre as apresentações, fica a clara sensação de que estamos diante de uma coletânea, e não de um show inteiro com princípio meio e fim. Mas é pouco a se reclamar quando temos a possibilidade de conferir enfim belezuras pouco usuais como Red Star Falling, Attila The Hun, Battalions Of Steel e Hammer Of The Gods em ótimas rendições. Ah, e a banda ainda nos reservou algumas surpresas, com participações especiais de Phil Campbell, Andy Sneap e Fast Eddie Clarke. Enfim, mais um belo ao vivo de uma banda que envelheceu melhor que suas contemporâneas. (NOTA: 9,00)

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Riot City – Burn The Night (CD-2019)

Macaca Chita Metal
Por Trevas

Quando Warrior Of Time, faixa de abertura de Burn The Night, primeiro full length do combo canadense da NWOTHM toma de assalto nossos ouvidos, parece a princípio ser impossível não estarmos diante de uma pérola. Riffs certeiros que fazem uma ponte entre Judas Priest e Accept, bateria e baixo cavalares. Jogo ganho, claro. Ehr, não. Cale Savy (que também divide as ótimas guitarras com Roldan Reimer) abre o bico e a merda está feita. Não, o cara não tem um timbre ruim não, até tem algo próprio com toques bem-vindos de Halford e Steve Grimmett. A desgraça é que o maluco termina praticamente toda e qualquer frase com um gritinho capaz de estourar as bolas de um orangotango budista.


O que é uma pena. Burn The Night tem produção certeira e oito faixas que bem poderiam fazer a felicidade de qualquer humano tarado pelo Metal da primeira metade dos anos 1980. Mas por mais que eu tenha vibrado com cada parte instrumental dos 37 parcos (e geralmente velozes) minutos desse disco, sobreviver aos incessantes ataques de macaca Chita de Cale Savy exauriu sobremaneira qualquer chance deu ter vontade de passar pela experiência de escutar Burn the Night novamente. Quando trocarem de vocalista ou mudarem a medicação do Savy, tento de novo. A “boa” nota é justificada única e exclusivamente pelo esforço na parte instrumental. Vade-retro! (NOTA: 5,04)

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Mob Rules – Beast Over Europe (CD-2019)

Golaço Na Segundona Alemã
Por Trevas

Beast Over Europe é apenas o segundo disco ao vivo dos 25 anos de carreira do combo teutônico de Power Metal. Contendo 14 faixas registradas ao longo da perna europeia da turnê do bom Beast Reborn, o trabalho é um testamento do quão eficiente os veteranos soam nos palcos. E é também um ótimo lembrete de que talvez o sexteto merecesse mais crédito do que tem na cena. Raramente lembrados aqui no Brasil, e geralmente estigmatizados como uma banda de segundo escalão, surgida no infame boom do Metal Melódico da década de 1990, o Mob Rules mostra aqui ter um repertório para lá de cativante. Seja em números recentes (a deliciosa Ghost Of A Chance, Dykemaster’s Tale e My Kingdom Come), seja nas velharias mais conhecidas como Black Rain e Hollowed Be Thy Name.


As execuções são todas muito boas, em especial nas canções mais antigas, que soam com mais pegada e peso que nos discos originais. A qualidade sonora é bacana, embora a participação do público fique quase restrita ao intervalo entre as músicas na mixagem. De ponto negativo, apenas aquela falha de continuidade entre faixas gravadas em shows diferentes. Ao contrário do que escolheu o Saxon ali em cima, eles optaram por não realizar emendas no som da plateia, deixando um ou outro vazio desnecessário. Um disco ao vivo honesto e para lá de divertido, que pode bem servir de uma bela coletânea àqueles interessados pela banda, mas não o suficiente para buscar a discografia completa. (NOTA: 8,50)



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