Para os malucos(as) que como eu tem prazer em destrinchar as histórias que permeiam a trilha sonora que escolhemos para nossas vidas. E quantas histórias interessantes se escondem em cada esquina desse vasto mundo do rock! Vocês encontrarão por aqui resenhas de shows, discos, livros, dvds (blu-rays) e notícias comentadas sobre o mundo do rock. Espero que vocês gostem e visitem sempre ou eventualmente. Eu, certamente, me divertirei muito escrevendo aqui.
O 16º trabalho de
estúdio dos prolíficos dinamarqueses chegou às prateleiras com fortes ares de
drama. Pouco antes do lançamento, o fundador e vocalista RonnieAtkins (nome
real, PaulChristensen) fora diagnosticado com um terrível câncer nos pulmões.
Com Ronnie lutando pela vida, UndressYourMadness vem cercado
de uma expectativa ainda maior, pois talvez seja este o canto de cisne da
banda.
(Not So) Pretty
Contando com a produção sempre impecável de JacobHansen (Kamelot,
Destruction, Anvil, Volbeat, Primal Fear, Onslaught...), após breve
introdução, a bolachinha nos joga na cara a excelente e pesada Serpentine. A despeito da doença, Ronnie soa bom como sempre, uma das
vozes mais marcantes e poderosas de seu tempo. O estilo? Aquela mistura deliciosa
de PowerMetal e HardRock que a banda sempre soube fazer,
modernizada a cada era.
O PrettyMaids vinha de dois lançamentos menos empolgantes (o sem foco Louder Than Ever e o mediano Kingmaker), e a xaropesca FiresoulFly, pesando demais para a veia Glam que vez ou outra contaminou o som dos caras, me fez temer por
mais um disco para lá de irregular. Mas a chegada da pesadíssima faixa título (como
as guitarras de KenHammer soam bem!) deixou explicita a
intenção aqui: equilibrar o pacote entre números mais pesados e Dark e outros leves em sonoridade e
intenção. Uma espécie de JekyllandHyde sonoro evidenciada pela chegada de números como Will You Still Kiss Me (If I See You In
Heaven) e RunawayWorld. Aliás, chega a ser
impressionante como uma banda que está chegando aos 40 anos de estrada ainda
consiga gerar tanto refrão grudento.
A segunda metade do disco mantém a mesma toada, recheada de faixas sombrias
entremeadas com farofadas descaradas, com destaque para a deliciosa BlackThunder, que resume a estranha mistura que banda sempre soube fazer
em uma só canção. Enfim, se este for mesmo o último disco do PrettyMaids, será lembrado como um lançamento para lá de digno dentro de
uma extensa discografia. Resta apreciar e torcer pela recuperação de Mr. Atkins. Que a saúde prevaleça e venham
mais discos como esse. (NOTA: 8,18)
O que fazer quando o
amor da sua vida tragicamente deixa esse plano em tenra idade por conta de uma
doença cruel? Se você é um artista, parece inevitável se valer de sua própria
arte para expurgar o sentimento de impotência e o luto. E quando sua arte já é
naturalmente sombria, a tristeza pode ser canalizada como um possante combustível.
E é com esse sinistro combustível que JuhaRaivio, líder e guitarrista do combo
finlandês de DoomMetal, abastece o oitavo trabalho de
estúdio do SwallowTheSun. Juha perdeu sua
esposa e musa inspiradora, a cantora sul-africana AleahStanbridge, pouco
depois do lançamento do magistral e ambicioso SongsFromTheNorth (cuja capa traz justamente uma foto de Aleah).
Aleah e Juha
Catarticamente, se concentrou então em terminar o disco póstumo do TreesOfEternity (seu duo com
a esposa). Chafurdando no luto, entendeu que parar de trabalhar seria uma
escolha ruim. E assim nasceu When A
Shadow Is Forced Into The Light, produzido por ele mesmo em dobradinha com
o tecladista JaaniPeuhu, e mixado pelo mago JensBögren.
Sexteto Sorumbático
A faixa título abre a jornada,
um épico que transita com maestria entre luz e sombra, ora extremamente
melodioso, ora pesado e desesperado. Uma macabra e cadavérica valsa das trevas.
A impressão de que o SwallowTheSun dessa vez mergulharia mais sem eu lado atmosférico e melódico
fica ainda mais latente nos quase 8 minutos da belíssima The Crimson Crown, delicada e extremamente melancólica. É como se Juha tivesse tentado fazer com que
sentíssemos cada átimo de sua saudade e dor, com sucesso.
Firelights e UponTheWater mantém um
impressionantemente alto padrão de qualidade. Por vezes a banda soa como uma
versão mais delicada do My Dying Bride,
em outras, evoca o lado mais gótico do ParadiseLost. Sempre com sucesso. A produção
é excelente, e os cuidadosos arranjos privilegiam o poder das canções, em
detrimento de destaques individuais. Ainda assim, impossível não aplaudir a
performance de MikkoKotamäki. Mikko está perfeito, tanto nas vozes limpas quanto nos urros,
ficando claro o quanto ele cresceu, ainda que possam ser ouvidas claras
influências do mestre AaronStainthorpe (My Dying Bride).
As oito canções aqui presentes são recheadas de uma melancolia quase
palpável de tão densa. Mas os elementos de DeathMetal ainda se fazem presentes aqui
e acolá (como em Here On Black Earth), ainda que sirvam majoritariamente
como mero tempero de um todo bem menos histriônico. O que não tira em absoluto a
força do disco, uma pérola sombria que nos transporta diretamente para o centro
do luto de um homem desesperado. Ao ponto de quando Mikko finaliza a poderosa NeverLeft com os versos “Empty arms,But you never left. Empty rooms,
But you never left. Empty heart, But you never left” quase podermos sentir
a presença do fantasma da bela e talentosa Aleah.
Um dos mais belos discos de 2019. (NOTA:
9,56)
O oitavo trabalho dos
finlandeses traz a banda de volta a um formato mais tradicional de composição,
tendo em vista que o ambicioso (e excelente) Winter’sGate foi um
disco conceitual constituído de apenas uma longa canção, dividida em várias
partes. Mas essa não é a única novidade aqui. Heart Like A Grave marca também a estreia em estúdio de JaniLiimatainen (um dos fundadores do SonataArctica, que Odin o perdoe), guitarrista que já
vinha acompanhando a banda ao vivo. Na produção, os finlandeses repetem pela
terceira vez a dobradinha com TeemuAaalto, que também assina os BackingVocals. O disco ganhou uma caprichada versão nacional, pela MutilationRecords, que conseguiu reproduzir a belíssima arte do encarte com perfeição.
Vamos ao conteúdo musical...
Olhem para o nada, rapazes, olhem para o nada...
Logo descobrimos que não é por que decidiu abraçar um formato normal de
disco que o Insomnium não trouxe
surpresas para os fãs: WailOftheNorth começa com piano, evolui para
um Riff calcado em sintetizadores
para então cair num curto ataque Black/Death. E tão rápido a música atinge seu
ápice, logo desaparece em uma torrente de belos temas de guitarras, preparando
terreno para Valediction. Novamente
temos novidades, com as vozes limpas de ViIlleFriman e Jani fazendo um ótimo contraponto com os urros de NiiloSevänen. Some-se esse trio vocal, um senso melódico absurdo nas
guitarras e timbres, os teclados de AleksiMunter (que assina como músico
convidado) e temos uma curiosa mistura que parece um híbrido entre o Amorphis atual e o AmonAmarth. E soa bom
demais!
Neverlast é um petardo MeloDeath irrepreensível, o tipo de som
para fazer feliz o fã que não curtiu o formato do trabalho anterior. A escolha
de uma formação com 3 guitarras fez com que cada parte instrumental do disco
seja um deleite, com camadas e camadas de melodias inspiradas entre os riffs
furiosos. PaleMorningStar, um
espetacular número épico de quase 9 minutos, é um claro exemplo do sucesso da
nova formação.
And Bells They Toll novamente
surpreende, com fortes toques de GothicMetal funcionando perfeitamente junto
ao MeloDeath típico do Insomnium. A partir daí o disco perde
um pouco, mas só um pouco, a força: TheOffering, MuteIsMySorrow
e Twilight Trails soam mais diretas,
carregando nas guitarras à lá Maiden.
Boas músicas, apenas não tão impressionantes quanto resto do material, como nos
provam a já clássica faixa título e a belíssima instrumental Karelia, que encerram com beleza e extrema
melancolia um dos melhores discos de 2019. (NOTA:
9,40)
Sabe AQUELES dias em que você
só quer ter amigos, cerveja e um (ou mais) show(s) para se distrair das
situações ruins? Então... Comigo foi assim. 16/01/2020 começou com situações
ruins. Seguiu com amigos + cervejas. Terminou com shows + cervejas.
Ainda que não fosse novidade
(o show estava confirmado desde dezembro último), esta passagem do Blaze Bayley
por terras tupiniquins caiu como uma luva. Cantando só as músicas de sua/dele
fase “Donzélica” (mesmo que o dono do blog tenha torcido a cara para o fato –
Hahahahahahaha!), era mesmo tudo de que eu precisava.
Muito (TUDO!) já se
falou sobre sua passagem pelo Iron Maiden. Há que se respeitar o cara. Não vou
aqui chover no molhado. Mentira, vou sim... De obscuro vocalista de uma ainda
mais obscura banda, passando pelo mega estrelato para ser chutado sem muitas
cerimônias, caindo numa carreira solo que é um caso à parte: até hoje não ouvi
NENHUM disco dele (solo) que não fosse, minimamente, BOM! (minha opinião,
folks!), o que não quer dizer que tenha sido perfeito ao longo dos anos. Aquela
turnê “acústica” foi de sofrível pra baixo... Somado a isso houve dramas
pessoais (uma falência, um divórcio e mais a morte de sua segunda esposa) que
deveriam botar o cara no chão, certo? NADA!!! Ele põe a cara a tapa e, hoje é,
sem sombra de dúvidas, o maior artista de expressão no meio do heavy metal a
ser totalmente INDEPENDENTE. De gravadoras, mídia e tudo o mais... Lembro do
Circo Voador (2009), em que se sentou na beira do palco depois do show e ficou
autografando o que passassem às suas mãos (ali se incluiu meu ingresso), com
muita paciência e bom humor.
Nosso enVIADO especial e Fester Adams...ou seria Blaze?
Mas voltemos a 16/01/2020. A abertura ficou a cargo do Absolva, de que
falaremos daqui a pouco. Chegando ao Espaço Kubrick (ex-Teatro Odisseia, para
quem não souber ainda), entrei rápido e fácil, com a casa vazia. Dois passos
e... Blaze Bayley no merch recebendo as pessoas, algo que sempre faz em suas apresentações.
Muito educado, polido mas não comunicativo (afinal, se conversar com todos que
forem falar com ele, vira um Velho Testamento comentado, com pitadas d’Os
Lusíadas – porque o que não falta é gente mala para pentelhar!). Falei
rapidamente (foi só MEIO VT!) e uma foto para registro inicial.
Absolva
Após pouco mais de 40 minutos
de espera, veio o Absolva para o palco. Formado em Manchester (Inglaterra) em
2012, fazem Heavy Metal tradicional e possuem quatro álbuns: Flames Of Justice
(2012), Anthems To The Dead (2014), Never A Good Day To Die (2015) e Defiance
(2017), além do ao vivo Beyond Live (2013).
A formação traz Chris Appleton
(V/G), Luke Appleton (G/BV), Karl Schramm (B/BV) e Martin McNee (D). Como todo
bom show de abertura, foi rápido, seco e direto, embora os quatro se mostrassem
felizes da oportunidade de se apresentar no Brasil, o que Chris Appleton
deixava claro a cada intervalo. O set foi calcado no seu mais recente CD, tendo
mostrado uma nova música (“Legion”) que constará de seu próximo álbum (Side By
Side) a ser lançado em 17/04/2020. Para mim, porém, o momento de maior destaque
de sua apresentação foi o cover de “Watching Over Me” do Iced Earth (Luke é seu
baixista desde 2012 e cantou esta música). Em função do dia que tive, foi a
melhor maneira de superar duras perdas. Leia a letra desta música (quem não a
conhecer) e saberá o que estou dizendo...
Bye bye, peguei o
set, ganhei a palheta do Luke e fomos pro aguardo do Blaze...
Menos de 40 minutos de espera e vieram todos eles para o palco. Sem
maiores delongas, começaram com “Lord of the Flies” e, logo no início, pareceu
que havia problemas no som, pois Blaze parou antes mesmo de entrar com seus
vocais, apenas para atiçar a galera (“Rio de Janeiro”??? “Not Petrópolis?
Brasília? Curitiba? São Paulo” – aqui as vaias foram estrepitosas – como sempre
[minhas, INCLUSIVE!]).
Mas o show continuou, para um Kubrick com plateia muito
boa! (vi shows lá abarrotados: UFO & Gangrena Gasosa – e outros vazios de
dar dó: Krisiun & Grave Digger) então a presença era verdadeiramente boa e
magnetizada pelo baixinho agora MUITO pançudo que, apesar disso, desfilou
clássicos de seus álbuns com o Iron Maiden: “Sign of the Cross”, “Judgement of
Heaven”, “Fortunes of War”, “When Two Worlds Collide”, “Virus”, “Lightning
Strikes Twice”, “The Clansman”, “The Angel and the Gambler”, “Man on the Edge”,
“Futureal” e uma improvável “Como Estais, Amigos?” fizeram o set (Faltas?
CLARO!, para um Maidenmaníaco empedernido como eu: “The Aftermath”, “Blood on
the World’s Hands”, “The Edge of Darkness” e, porque não, “Don’t Look to the
Eyes of a Stranger?”)…, fechado com o cover de “Doctor Doctor” (UFO), B-Side do
single “Lord of the Flies” (1995). Antes, porém, Blaze deixou claro que “assim
que o show terminasse, não iria para seu hotel chique, mas ficaria no merch
atendendo a todos porque, com ele, o “meet and greet” era GRÁTIS”... Um tapa na
cara de muitas bandas, não necessariamente grandes (e, por vezes, gigantes!), que
cobram para receber seus fãs... Pacientemente atendeu a todos, autografou
material, tirou fotos. Só não respondeu a nada que se falou com ele, mais uma
vez, porque o cabra não é doido...
E assim terminou um dia MUITO
DURO para mim. Duro, mas feliz, tranquilo e em Paz. Comigo mesmo e com minhas
amigas queridas, que motivaram tudo quanto fiz neste memorável 16/01/2020...
Os australianos do Airbourne surgiram como postulantes ao
posto de melhor clone do AC/DC da
história. Após uma eletrizante estreia, moldaram razoavelmente seu som,
inserindo pitadas de um HardRock algo radiofônico que por vezes
lembra os melhores dias do DefLeppard, além de alguma modernidade na
produção. Essa “diversificação” rendeu bons frutos e confesso que fosse ouvir
em Boneshaker a banda se
distanciando ainda mais da proposta original. Cara, como eu estava errado.
Não existe um segundo sequer nas dez canções do novo trabalho que não
soem exatamente como AC/DC. Ao ponto
de ser bastante plausível que até um ouvinte mais escolado possa inadvertidamente
acreditar ter esbarrado com algum disco perdido da fase BonScott caso escute
essas músicas em algum canto. E é claramente essa a intenção, já que a produção
de DaveCobb cuidadosamente deixou todos os timbres absolutamente iguais
aos dos veteranos em seu passado. E JoelO’Keeffe nunca soou tanto como Bon quanto aqui. E convenhamos, até o
nome de músicas como Boneshaker, BackseatBoogie e SwitchbladeAngel parecem saídas de belezuras passadas
de Angus e companhia. Se a falta de
criatividade pode render merecidos comentários rabugentos aqui e acolá, uma
coisa é inegável: o Airbourne
conseguiu fazer uma cópia das boas de um bom disco do AC/DC! Ótimos riffs, músicas curtas e grudentas e muita, muita
diversão. (NOTA: 8,00)
Poucas bandas são
mais prolíficas em lançamentos ao vivo do que esses veteranos da NWOBHM. Reconhecidamente uma das bandas
mais legais da cena metálica em cima de um palco, o quinteto tem como trunfo
saber pinçar bem lados B em seus repertórios. Ou seja, de uma turnê para outra,
sempre teremos mudanças substanciais no setlist, com faixas raras entremeadas
por clássicos obrigatórios. Ainda com todos os predicados citados, o lançamento
dessa quarta parte da série TheEagleHasLanded, em um pacote
triplo de CDs, poderia muito bem parecer um tremendo exagero.
Mas basta colocar a bolachinha para rodar e qualquer crítica vai por
terra. Como habitual na série, o repertório é montado numa colagem de
apresentações de turnês diferentes. Essa estratégia poderia significar
diferenças perceptíveis na qualidade sonora entre os shows, mas a pós-produção
tratou de minimizar esse problema. O som é sempre bom, o vigor da banda mantido
intacto, com pequenas falhas presentes aqui e acolá (o que mostra que
provavelmente não foram realizados overdubs).
Outro possível problema do formato escolhido seria a falta de continuidade no
repertório do disco. E ela realmente acontece, apesar da “colagem” do público
não nos deixar no meio da maldição de FadeIns e fadeOuts entre as
apresentações, fica a clara sensação de que estamos diante de uma coletânea, e
não de um show inteiro com princípio meio e fim. Mas é pouco a se reclamar
quando temos a possibilidade de conferir enfim belezuras pouco usuais como Red Star Falling, AttilaTheHun, BattalionsOfSteel e HammerOfTheGods em ótimas rendições. Ah, e a banda ainda nos reservou algumas
surpresas, com participações especiais de PhilCampbell, AndySneap e FastEddieClarke. Enfim,
mais um belo ao vivo de uma banda que envelheceu melhor que suas
contemporâneas. (NOTA: 9,00)
Quando WarriorOfTime, faixa de
abertura de BurnTheNight, primeiro fulllength do combo canadense da NWOTHM toma de assalto nossos ouvidos,
parece a princípio ser impossível não estarmos diante de uma pérola. Riffs certeiros que fazem uma ponte
entre JudasPriest e Accept, bateria
e baixo cavalares. Jogo ganho, claro. Ehr, não. CaleSavy (que também
divide as ótimas guitarras com RoldanReimer) abre o bico e a merda está
feita. Não, o cara não tem um timbre ruim não, até tem algo próprio com toques bem-vindos
de Halford e SteveGrimmett. A
desgraça é que o maluco termina praticamente toda e qualquer frase com um
gritinho capaz de estourar as bolas de um orangotango budista.
O que é uma pena. BurnTheNight tem produção certeira e oito faixas que bem poderiam fazer a
felicidade de qualquer humano tarado pelo Metal
da primeira metade dos anos 1980. Mas por mais que eu tenha vibrado com cada
parte instrumental dos 37 parcos (e geralmente velozes) minutos desse disco,
sobreviver aos incessantes ataques de macaca Chita de CaleSavy exauriu
sobremaneira qualquer chance deu ter vontade de passar pela experiência de
escutar BurntheNight novamente. Quando
trocarem de vocalista ou mudarem a medicação do Savy, tento de novo. A “boa” nota é justificada única e
exclusivamente pelo esforço na parte instrumental. Vade-retro! (NOTA: 5,04)
BeastOverEurope é apenas o segundo disco ao
vivo dos 25 anos de carreira do combo teutônico de PowerMetal. Contendo 14
faixas registradas ao longo da perna europeia da turnê do bom BeastReborn, o trabalho é um testamento do quão eficiente os veteranos
soam nos palcos. E é também um ótimo lembrete de que talvez o sexteto merecesse
mais crédito do que tem na cena. Raramente lembrados aqui no Brasil, e geralmente
estigmatizados como uma banda de segundo escalão, surgida no infame boom do Metal
Melódico da década de 1990, o MobRules mostra aqui ter um repertório
para lá de cativante. Seja em números recentes (a deliciosa GhostOfAChance, Dykemaster’sTale e MyKingdomCome), seja nas velharias mais
conhecidas como BlackRain e HollowedBeThyName.
As execuções são todas muito boas, em especial nas canções mais antigas,
que soam com mais pegada e peso que nos discos originais. A qualidade sonora é
bacana, embora a participação do público fique quase restrita ao intervalo
entre as músicas na mixagem. De ponto negativo, apenas aquela falha de
continuidade entre faixas gravadas em shows diferentes. Ao contrário do que
escolheu o Saxon ali em cima, eles
optaram por não realizar emendas no som da plateia, deixando um ou outro vazio
desnecessário. Um disco ao vivo honesto e para lá de divertido, que pode bem
servir de uma bela coletânea àqueles interessados pela banda, mas não o
suficiente para buscar a discografia completa. (NOTA: 8,50)
Em 2016 o combo
ucraniano de Metal Moderno já havia chamado a atenção da mídia especializada
europeia, rendendo algumas curtas turnês mundo afora e um contrato com a NapalmRecords. Mas foi o lançamento do vídeo para Pisces que mudou de vez o jogo a favor da banda. A alternância
entre a voz delicada e guturais assustadores por parte de TatianaShmailyuk fez
com que vídeo e música viralizassem na internet. Como resultado, King Of Everything, o segundo Full Length da banda, vendeu bem e foi
incluído em inúmeras listas de melhores do ano pela mídia especializada. E o
mundo não seria mais o mesmo para o quarteto: seguiu-se uma interminável turnê,
passando até mesmo pelo Brasil, e nenhum festival de verão na Europa quis ficar
sem a banda da moda. Mesmo estafados, os ucranianos sabiam que tinham que
aproveitar o Hype, soltando no
início de 2019 o Ep Micro. Micro dividiu opiniões. Alguns fãs
passaram a duvidar se a qualidade de King
Of Everything não fora um ponto fora da curva.
Tati e os Quebrabarracos
On The Top abre a bolachinha
com os dois pés na porta, uma trauletada virulenta que fica em algum estranho
lugar entre o Djent e o GrooveMetal, mas sem deixar de lado o refrão grudento, um som capaz de
arrancar sorrisos tanto de fãs de Meshuggah,
Gojira e Sepultura.
PitOfConsciousness me faz
pensar que os ucranianos devem ter passado boa parte da adolescência curtindo
discos como AngelDust e KingForADay,
FoolForALifetime, do FaithNoMore. TatianaShmailyuk é um
fenômeno nos guturais, mas sua bela voz limpa brilha ainda mais nas melodias
complexas, porém algo radiofônicas, que por vezes acompanham (e outras tantas vezes
equilibram) os riffs e ritmos quebrados de seus talentosos colegas.
A versatilidade da banda beira a esquizofrenia, que o diga a transição
de um Reggae para um Metal Extremo
(com direito à BlastBeats) e então para algo que beira o
Pop, isso tudo na mesma canção, a fantástica Judgement (& Punishment). A produção de MaxMorton consegue
casar o som ultramoderno do quarteto com alguma crueza, o que faz com que, a
despeito do frescor das ideias e da técnica quase robótica (típica do Djent), tenhamos uma alma mais orgânica
na gravação. Cada batida da caixa do ótimo VladislavUlasevich pode ser sentida no peito.
RomanIbramkhalilov faz o que se espera de um guitarrista de Djent, o que não é pouco, e EugeneAbdukhanov parece brincar com seu baixo inventivo em meio ao caos. Tudo
isso com peso acachapante e sem tirar o foco das canções. E as canções aqui são
ótimas: Retrospection, por exemplo,
brinca com a língua e sonoridade nativos dos músicos, numa mistura contagiante.
Nem só de brutalidade e técnica vivem os ucranianos, as letras são
surpreendentemente interessantes e, por vezes, reflexivas, como nas caóticas PausingDeath e HomeBack ou na “Gojiresca” Noah. A reclamar, apenas o fim
anticlimático com a instrumental lainnereP,
uma desconstrução não tão bacana de Perennial,
do Ep anterior. Um dos melhores e
mais inventivos discos de 2019, que nos prova com sobras que o Jinjer não é mais uma promessa da cena,
e sim uma retumbante realidade. (NOTA: 9,52)
Difícil acreditar,
mas os italianos do LacunaCoil já estão comemorando 20 anos desde
o lançamento de InAReverie.
Outra das bandas a explorar um território bem mais moderno após figurar entre
as trocentas promessas do GothicMetal no fim dos anos 1990, transição
que operou com surpreendente sucesso, mas não sem dividir opiniões entre os
fãs, chegam enfim ao seu 9º trabalho de estúdio em um recente espiral crescente
de peso. O disco, novamente conceitual, traz o trio principal de fundadores AndreaFerro (voz), CristinaScabbia (voz) e MarcoCoti-Zelati (baixo e teclados) agora
amparados por DiegoCavalotti (guitarra) e RichardMeiz (bateria). A produção ficou ao encargo de Marco, e a temática parece lidar com a dualidade luz/sombra que
permeia nossa existência. Na verdade, não muito diferente do mergulho na
loucura contido em Delirium, apenas
um pouco mais abstrato.
Cris e suas assombrações de estimação
AnimaNera é uma introdução climática, onde Scabbia soa como uma versão sombria da LadyGaga, preparando o
terreno para a pesadíssima SwordOfAnger.
Chama a atenção a versatilidade nas vozes da banda: Scabbia cada vez migrando para uma pegada entre o Pop e o Rock e Andrea crescendo consideravelmente de
produção, o cara está melhor que nunca, em especial nos guturais. Esse casamento
funciona às mil maravilhas aqui, como podemos comprovar na acachapante faixa de
trabalho, Reckless.
Primeira das músicas do novo trabalho a ser apresentada, e postulante a
clássico imediato, LayersOfTime
é das coisas mais pesadas que o LacunaCoil já fez. Possivelmente o ouvinte
casual só vai conseguir identificar a banda no refrão, quando Cristina deposita pitadas de doçura
numa trauletada de fazer inveja a muita banda Troozona por aí. Apocalypse baixa um pouco a poeira, mas
sem baixar a qualidade.
NowOrNever sobe o tom
novamente, pesada e com um riff
cortante. Nunca os italianos soaram tão raivosos, em alguns momentos temos a
impressão de estar ouvindo os discos mais recentes do ParadiseLost, uma das
maiores influências da banda, diga-se. UnderTheSurface parece querer resgatar um pouco o espírito do LacunaCoil dos primeiros discos, mas com a nova roupagem, e funciona bem.
Outra novidade é o resgate dos solos de guitarra, sempre curtos, mas bonitos, e
presentes em maior número que o usual. Veneficium
é um espetáculo à parte, unindo o peso atual a um então inédito viés sinfônico.
A melhor faixa do disco e uma das mais impressionantes da carreira do quinteto.
Chegamos à reta final do disco e fica claro que o mesmo perde um pouco
de fôlego, as três últimas canções soando bem mais calmas que o restante do
material. Mas até nisso o Lacuna Coil acerta dessa vez, o trabalho não se estende por tempo demais
(como em alguns CDs deles no passado) e quando a faixa título termina, ficamos
com a certeza de estar diante do disco mais forte da carreira dos italianos.
Surpreendente. (NOTA: 9,27)
Três anos atrás os
veteranos da NWOBHM resolveram
soltar um disco homônimo. Como se sabe, no meio do Rock, quando uma banda faz
isso, geralmente é o equivalente a botar o pau na mesa. Dito e feito, Tygers Of Pan Tang nos brindou com o
material mais forte dos britânicos desde sua era de ouro, na longínqua primeira
metade dos anos 1980. O barulho causado pela bolachinha foi tamanho que
conseguiu até mesmo o milagre de estabilizar uma formação por dois discos
seguidos, algo raríssimo na história dos caras. Novamente apostando na autoprodução,
o quinteto se apressou em aproveitar o bom momento, e cá temos Ritual, em lançamento nacional pelas
mãos da HellionRecords.
Uma tigela de trigo para três tigres tristes: Tygers 2019
WoldsApart de cara já põe as garras da banda de fora: um Hard&Heavy viciante com
ótimas guitarras e linhas melódicas que grudam de imediato. Ainda assim com
espaço para alguma modernidade, vide o riff do início da avalanche de solos do
ótimo MickyMcCrystal.
Falei em refrão grudento? Te desafio a não sair cantando o de Destiny já pela metade da canção. Outra
belezura oitentista com pitadas de AOR
que só não soa “velha” devido ao ótimo trabalho da produção (com auxílio da
mixagem de SorenAndersen, braço direito do GlennHughes), que capricha no punch,
captando aquela energia cativante que o quinteto tem ao vivo. Os solos de Micky novamente impressionam: que
achado para a banda!
Aliás, todos estão em ótima forma aqui, mas além de Micky, outra importante peça merece pontos extras: o italiano JacopoMeille já vinha controlando melhor seu invejável (e por vezes
exagerado) alcance vocal. E tem em Ritual
sua melhor performance junto à banda. Duvida? O poder de interpretação e
versatilidade do cara tornam músicas bacanas como RescueMe (com algo mais
‘sensual”) e a paulada RaiseSomeHell (mais diretona e esganiçada, lembrando muito o estilo do início
da carreira da banda) ainda melhores. SpoilsOfWar chega épica, cadenciada e bem pesada, algo que o Saxon atual bem poderia ter assinado. A
primeira metade do disco se encerra com a faixa de trabalho WhiteLines, tão forte quanto OnlyTheBrave havia sido no disco anterior.
WordsCutLikeKnives é uma bela PowerBallad daquelas
que parecem receita exclusiva de bandas dos anos 1980. Eu disse anos 1980? É exatamente
dessa era que saiu DamnYou! Não fosse a produção e a voz de Meille, juraria se tratar de alguma
faixa perdida do Spellbound. Já LoveWillFindAWay
traz novamente a pegada Hard/Heavy, com um teclado singelo bem ao
fundo dando um toque AOR a mais uma
bela canção. ArtOfNoise
é a faixa mais moderna e pesada de todo o pacote, mas não soa deslocada e é
muito bem-vinda. Como chato que sou, poderia muito bem implicar que o disco é
longo demais, 53 minutos para um disco de Heavy Metal tradicional é um exagero
e tal, blébléblé-mimimi. Mas aí chega o Tygers
e enfia na minha fuça os quase 8 minutos da poderosa SailOn e eu tenho então
que me resignar e reconhecer, os caras venceram: Ritual é um puta disco, simples, empolgante e viciante! Forte
candidato a melhor de toda a carreira dos caras. Absolutamente imperdível. (NOTA: 9,56)