domingo, 26 de janeiro de 2020

Pretty Maids – Undress Your Madness (CD-2019)



Jekyll & Hyde Dinamarquês Ataca De Novo
Por Trevas

O 16º trabalho de estúdio dos prolíficos dinamarqueses chegou às prateleiras com fortes ares de drama. Pouco antes do lançamento, o fundador e vocalista Ronnie Atkins (nome real, Paul Christensen) fora diagnosticado com um terrível câncer nos pulmões. Com Ronnie lutando pela vida, Undress Your Madness vem cercado de uma expectativa ainda maior, pois talvez seja este o canto de cisne da banda.

(Not So) Pretty
Contando com a produção sempre impecável de Jacob Hansen (Kamelot, Destruction, Anvil, Volbeat, Primal Fear, Onslaught...), após breve introdução, a bolachinha nos joga na cara a excelente e pesada Serpentine. A despeito da doença, Ronnie soa bom como sempre, uma das vozes mais marcantes e poderosas de seu tempo. O estilo? Aquela mistura deliciosa de Power Metal e Hard Rock que a banda sempre soube fazer, modernizada a cada era.



O Pretty Maids vinha de dois lançamentos menos empolgantes (o sem foco Louder Than Ever e o mediano Kingmaker), e a xaropesca Firesoul Fly, pesando demais para a veia Glam que vez ou outra contaminou o som dos caras, me fez temer por mais um disco para lá de irregular. Mas a chegada da pesadíssima faixa título (como as guitarras de Ken Hammer soam bem!) deixou explicita a intenção aqui: equilibrar o pacote entre números mais pesados e Dark e outros leves em sonoridade e intenção. Uma espécie de Jekyll and Hyde sonoro evidenciada pela chegada de números como Will You Still Kiss Me (If I See You In Heaven) e Runaway World. Aliás, chega a ser impressionante como uma banda que está chegando aos 40 anos de estrada ainda consiga gerar tanto refrão grudento.


A segunda metade do disco mantém a mesma toada, recheada de faixas sombrias entremeadas com farofadas descaradas, com destaque para a deliciosa Black Thunder, que resume a estranha mistura que banda sempre soube fazer em uma só canção. Enfim, se este for mesmo o último disco do Pretty Maids, será lembrado como um lançamento para lá de digno dentro de uma extensa discografia. Resta apreciar e torcer pela recuperação de Mr. Atkins. Que a saúde prevaleça e venham mais discos como esse. (NOTA: 8,18)

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Gravadora: Frontiers Records (importado)
Prós: as faixas pesadas são excelentes
Contras: algumas coisinhas adocicadas demais no meio das faixas sombrias
Classifique como: Hard/Heavy
Para Fãs de: Bonfire, Eclipse

sábado, 25 de janeiro de 2020

Swallow The Sun – When A Shadow Is Forced Into The Light (CD-2019)



Jornada Ao Centro Do Luto
Por Trevas

O que fazer quando o amor da sua vida tragicamente deixa esse plano em tenra idade por conta de uma doença cruel? Se você é um artista, parece inevitável se valer de sua própria arte para expurgar o sentimento de impotência e o luto. E quando sua arte já é naturalmente sombria, a tristeza pode ser canalizada como um possante combustível. E é com esse sinistro combustível que Juha Raivio, líder e guitarrista do combo finlandês de Doom Metal, abastece o oitavo trabalho de estúdio do Swallow The Sun. Juha perdeu sua esposa e musa inspiradora, a cantora sul-africana Aleah Stanbridge, pouco depois do lançamento do magistral e ambicioso Songs From The North (cuja capa traz justamente uma foto de Aleah).

Aleah e Juha
Catarticamente, se concentrou então em terminar o disco póstumo do Trees Of Eternity (seu duo com a esposa). Chafurdando no luto, entendeu que parar de trabalhar seria uma escolha ruim. E assim nasceu When A Shadow Is Forced Into The Light, produzido por ele mesmo em dobradinha com o tecladista Jaani Peuhu, e mixado pelo mago Jens Bögren.

Sexteto Sorumbático
A faixa título abre a jornada, um épico que transita com maestria entre luz e sombra, ora extremamente melodioso, ora pesado e desesperado. Uma macabra e cadavérica valsa das trevas.



A impressão de que o Swallow The Sun dessa vez mergulharia mais sem eu lado atmosférico e melódico fica ainda mais latente nos quase 8 minutos da belíssima The Crimson Crown, delicada e extremamente melancólica. É como se Juha tivesse tentado fazer com que sentíssemos cada átimo de sua saudade e dor, com sucesso.


Firelights e Upon The Water mantém um impressionantemente alto padrão de qualidade. Por vezes a banda soa como uma versão mais delicada do My Dying Bride, em outras, evoca o lado mais gótico do Paradise Lost. Sempre com sucesso. A produção é excelente, e os cuidadosos arranjos privilegiam o poder das canções, em detrimento de destaques individuais. Ainda assim, impossível não aplaudir a performance de Mikko Kotamäki. Mikko está perfeito, tanto nas vozes limpas quanto nos urros, ficando claro o quanto ele cresceu, ainda que possam ser ouvidas claras influências do mestre Aaron Stainthorpe (My Dying Bride).


As oito canções aqui presentes são recheadas de uma melancolia quase palpável de tão densa. Mas os elementos de Death Metal ainda se fazem presentes aqui e acolá (como em Here On Black Earth), ainda que sirvam majoritariamente como mero tempero de um todo bem menos histriônico. O que não tira em absoluto a força do disco, uma pérola sombria que nos transporta diretamente para o centro do luto de um homem desesperado. Ao ponto de quando Mikko finaliza a poderosa Never Left com os versos “Empty arms,But you never left. Empty rooms, But you never left. Empty heart, But you never left” quase podermos sentir a presença do fantasma da bela e talentosa Aleah. Um dos mais belos discos de 2019. (NOTA: 9,56)

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Gravadora: Urubuz Records (nacional)
Prós: delicado, sombrio e triste
Contras: não é exatamente brutal
Classifique como: Doom Metal, Gothic Metal
Para Fãs de: My Dying Bride, Paradise Lost, Katatonia


segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Insomnium – Heart Like A Grave (CD-2019)



No Coração das Trevas
Por Trevas

O oitavo trabalho dos finlandeses traz a banda de volta a um formato mais tradicional de composição, tendo em vista que o ambicioso (e excelente) Winter’s Gate foi um disco conceitual constituído de apenas uma longa canção, dividida em várias partes. Mas essa não é a única novidade aqui. Heart Like A Grave marca também a estreia em estúdio de Jani Liimatainen (um dos fundadores do Sonata Arctica, que Odin o perdoe), guitarrista que já vinha acompanhando a banda ao vivo. Na produção, os finlandeses repetem pela terceira vez a dobradinha com Teemu Aaalto, que também assina os Backing Vocals. O disco ganhou uma caprichada versão nacional, pela Mutilation Records, que conseguiu reproduzir a belíssima arte do encarte com perfeição. Vamos ao conteúdo musical...

Olhem para o nada, rapazes, olhem para o nada...
Logo descobrimos que não é por que decidiu abraçar um formato normal de disco que o Insomnium não trouxe surpresas para os fãs: Wail Of the North começa com piano, evolui para um Riff calcado em sintetizadores para então cair num curto ataque Black/Death. E tão rápido a música atinge seu ápice, logo desaparece em uma torrente de belos temas de guitarras, preparando terreno para Valediction. Novamente temos novidades, com as vozes limpas de ViIlle Friman e Jani fazendo um ótimo contraponto com os urros de Niilo Sevänen. Some-se esse trio vocal, um senso melódico absurdo nas guitarras e timbres, os teclados de Aleksi Munter (que assina como músico convidado) e temos uma curiosa mistura que parece um híbrido entre o Amorphis atual e o Amon Amarth. E soa bom demais!


Neverlast é um petardo MeloDeath irrepreensível, o tipo de som para fazer feliz o fã que não curtiu o formato do trabalho anterior. A escolha de uma formação com 3 guitarras fez com que cada parte instrumental do disco seja um deleite, com camadas e camadas de melodias inspiradas entre os riffs furiosos. Pale Morning Star, um espetacular número épico de quase 9 minutos, é um claro exemplo do sucesso da nova formação.


And Bells They Toll novamente surpreende, com fortes toques de Gothic Metal funcionando perfeitamente junto ao MeloDeath típico do Insomnium. A partir daí o disco perde um pouco, mas só um pouco, a força: The Offering, Mute Is My Sorrow e Twilight Trails soam mais diretas, carregando nas guitarras à lá Maiden. Boas músicas, apenas não tão impressionantes quanto resto do material, como nos provam a já clássica faixa título e a belíssima instrumental Karelia, que encerram com beleza e extrema melancolia um dos melhores discos de 2019. (NOTA: 9,40)


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Gravadora: Mutilation Records (nacional)
Prós: pesado e diverso
Contras: um pouco longo demais
Classifique como: Melodic Death Metal
Para Fãs de: Amon Amarth, At The Gates, Amorphis


domingo, 19 de janeiro de 2020

Blaze Bayley + Absolva - Iron Maiden XXV Celebration Tour (Kubrick, Rio de janeiro/RJ – 16/01/20)



Blaze, Kubrick e a Donzela
Texto, fotos, vídeos e groupie: Freddy Krill

Sabe AQUELES dias em que você só quer ter amigos, cerveja e um (ou mais) show(s) para se distrair das situações ruins? Então... Comigo foi assim. 16/01/2020 começou com situações ruins. Seguiu com amigos + cervejas. Terminou com shows + cervejas.
Ainda que não fosse novidade (o show estava confirmado desde dezembro último), esta passagem do Blaze Bayley por terras tupiniquins caiu como uma luva. Cantando só as músicas de sua/dele fase “Donzélica” (mesmo que o dono do blog tenha torcido a cara para o fato – Hahahahahahaha!), era mesmo tudo de que eu precisava.

Muito (TUDO!) já se falou sobre sua passagem pelo Iron Maiden. Há que se respeitar o cara. Não vou aqui chover no molhado. Mentira, vou sim... De obscuro vocalista de uma ainda mais obscura banda, passando pelo mega estrelato para ser chutado sem muitas cerimônias, caindo numa carreira solo que é um caso à parte: até hoje não ouvi NENHUM disco dele (solo) que não fosse, minimamente, BOM! (minha opinião, folks!), o que não quer dizer que tenha sido perfeito ao longo dos anos. Aquela turnê “acústica” foi de sofrível pra baixo... Somado a isso houve dramas pessoais (uma falência, um divórcio e mais a morte de sua segunda esposa) que deveriam botar o cara no chão, certo? NADA!!! Ele põe a cara a tapa e, hoje é, sem sombra de dúvidas, o maior artista de expressão no meio do heavy metal a ser totalmente INDEPENDENTE. De gravadoras, mídia e tudo o mais... Lembro do Circo Voador (2009), em que se sentou na beira do palco depois do show e ficou autografando o que passassem às suas mãos (ali se incluiu meu ingresso), com muita paciência e bom humor.

Nosso enVIADO especial e Fester Adams...ou seria Blaze?
Mas voltemos a 16/01/2020. A abertura ficou a cargo do Absolva, de que falaremos daqui a pouco. Chegando ao Espaço Kubrick (ex-Teatro Odisseia, para quem não souber ainda), entrei rápido e fácil, com a casa vazia. Dois passos e... Blaze Bayley no merch recebendo as pessoas, algo que sempre faz em suas apresentações. Muito educado, polido mas não comunicativo (afinal, se conversar com todos que forem falar com ele, vira um Velho Testamento comentado, com pitadas d’Os Lusíadas – porque o que não falta é gente mala para pentelhar!). Falei rapidamente (foi só MEIO VT!) e uma foto para registro inicial.

Absolva

Após pouco mais de 40 minutos de espera, veio o Absolva para o palco. Formado em Manchester (Inglaterra) em 2012, fazem Heavy Metal tradicional e possuem quatro álbuns: Flames Of Justice (2012), Anthems To The Dead (2014), Never A Good Day To Die (2015) e Defiance (2017), além do ao vivo Beyond Live (2013).
A formação traz Chris Appleton (V/G), Luke Appleton (G/BV), Karl Schramm (B/BV) e Martin McNee (D). Como todo bom show de abertura, foi rápido, seco e direto, embora os quatro se mostrassem felizes da oportunidade de se apresentar no Brasil, o que Chris Appleton deixava claro a cada intervalo. O set foi calcado no seu mais recente CD, tendo mostrado uma nova música (“Legion”) que constará de seu próximo álbum (Side By Side) a ser lançado em 17/04/2020. Para mim, porém, o momento de maior destaque de sua apresentação foi o cover de “Watching Over Me” do Iced Earth (Luke é seu baixista desde 2012 e cantou esta música). Em função do dia que tive, foi a melhor maneira de superar duras perdas. Leia a letra desta música (quem não a conhecer) e saberá o que estou dizendo...
Bye bye, peguei o set, ganhei a palheta do Luke e fomos pro aguardo do Blaze...


Blaze Bayley

Menos de 40 minutos de espera e vieram todos eles para o palco. Sem maiores delongas, começaram com “Lord of the Flies” e, logo no início, pareceu que havia problemas no som, pois Blaze parou antes mesmo de entrar com seus vocais, apenas para atiçar a galera (“Rio de Janeiro”??? “Not Petrópolis? Brasília? Curitiba? São Paulo” – aqui as vaias foram estrepitosas – como sempre [minhas, INCLUSIVE!]). 



Mas o show continuou, para um Kubrick com plateia muito boa! (vi shows lá abarrotados: UFO & Gangrena Gasosa – e outros vazios de dar dó: Krisiun & Grave Digger) então a presença era verdadeiramente boa e magnetizada pelo baixinho agora MUITO pançudo que, apesar disso, desfilou clássicos de seus álbuns com o Iron Maiden: “Sign of the Cross”, “Judgement of Heaven”, “Fortunes of War”, “When Two Worlds Collide”, “Virus”, “Lightning Strikes Twice”, “The Clansman”, “The Angel and the Gambler”, “Man on the Edge”, “Futureal” e uma improvável “Como Estais, Amigos?” fizeram o set (Faltas? CLARO!, para um Maidenmaníaco empedernido como eu: “The Aftermath”, “Blood on the World’s Hands”, “The Edge of Darkness” e, porque não, “Don’t Look to the Eyes of a Stranger?”)…, fechado com o cover de “Doctor Doctor” (UFO), B-Side do single “Lord of the Flies” (1995). Antes, porém, Blaze deixou claro que “assim que o show terminasse, não iria para seu hotel chique, mas ficaria no merch atendendo a todos porque, com ele, o “meet and greet” era GRÁTIS”... Um tapa na cara de muitas bandas, não necessariamente grandes (e, por vezes, gigantes!), que cobram para receber seus fãs... Pacientemente atendeu a todos, autografou material, tirou fotos. Só não respondeu a nada que se falou com ele, mais uma vez, porque o cabra não é doido...


E assim terminou um dia MUITO DURO para mim. Duro, mas feliz, tranquilo e em Paz. Comigo mesmo e com minhas amigas queridas, que motivaram tudo quanto fiz neste memorável 16/01/2020...
Cheers!
Freddy Krill.


Krill, claramente uma groupie feliz


quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Curtas: Airbourne, Saxon, Riot City & Mob Rules






Airbourne – Boneshaker (CD-2019)

Guerra Dos Clones
Por Trevas

Os australianos do Airbourne surgiram como postulantes ao posto de melhor clone do AC/DC da história. Após uma eletrizante estreia, moldaram razoavelmente seu som, inserindo pitadas de um Hard Rock algo radiofônico que por vezes lembra os melhores dias do Def Leppard, além de alguma modernidade na produção. Essa “diversificação” rendeu bons frutos e confesso que fosse ouvir em Boneshaker a banda se distanciando ainda mais da proposta original. Cara, como eu estava errado.


Não existe um segundo sequer nas dez canções do novo trabalho que não soem exatamente como AC/DC. Ao ponto de ser bastante plausível que até um ouvinte mais escolado possa inadvertidamente acreditar ter esbarrado com algum disco perdido da fase Bon Scott caso escute essas músicas em algum canto. E é claramente essa a intenção, já que a produção de Dave Cobb cuidadosamente deixou todos os timbres absolutamente iguais aos dos veteranos em seu passado. E Joel O’Keeffe nunca soou tanto como Bon quanto aqui. E convenhamos, até o nome de músicas como Boneshaker, Backseat Boogie e Switchblade Angel parecem saídas de belezuras passadas de Angus e companhia. Se a falta de criatividade pode render merecidos comentários rabugentos aqui e acolá, uma coisa é inegável: o Airbourne conseguiu fazer uma cópia das boas de um bom disco do AC/DC! Ótimos riffs, músicas curtas e grudentas e muita, muita diversão. (NOTA: 8,00)

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Saxon – The Eagle Has Landed:40 (3 CDs-2019)

Overdose Saxônica
Por Trevas

Poucas bandas são mais prolíficas em lançamentos ao vivo do que esses veteranos da NWOBHM. Reconhecidamente uma das bandas mais legais da cena metálica em cima de um palco, o quinteto tem como trunfo saber pinçar bem lados B em seus repertórios. Ou seja, de uma turnê para outra, sempre teremos mudanças substanciais no set list, com faixas raras entremeadas por clássicos obrigatórios. Ainda com todos os predicados citados, o lançamento dessa quarta parte da série The Eagle Has Landed, em um pacote triplo de CDs, poderia muito bem parecer um tremendo exagero.



Mas basta colocar a bolachinha para rodar e qualquer crítica vai por terra. Como habitual na série, o repertório é montado numa colagem de apresentações de turnês diferentes. Essa estratégia poderia significar diferenças perceptíveis na qualidade sonora entre os shows, mas a pós-produção tratou de minimizar esse problema. O som é sempre bom, o vigor da banda mantido intacto, com pequenas falhas presentes aqui e acolá (o que mostra que provavelmente não foram realizados overdubs). Outro possível problema do formato escolhido seria a falta de continuidade no repertório do disco. E ela realmente acontece, apesar da “colagem” do público não nos deixar no meio da maldição de Fade Ins e fade Outs entre as apresentações, fica a clara sensação de que estamos diante de uma coletânea, e não de um show inteiro com princípio meio e fim. Mas é pouco a se reclamar quando temos a possibilidade de conferir enfim belezuras pouco usuais como Red Star Falling, Attila The Hun, Battalions Of Steel e Hammer Of The Gods em ótimas rendições. Ah, e a banda ainda nos reservou algumas surpresas, com participações especiais de Phil Campbell, Andy Sneap e Fast Eddie Clarke. Enfim, mais um belo ao vivo de uma banda que envelheceu melhor que suas contemporâneas. (NOTA: 9,00)

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Riot City – Burn The Night (CD-2019)

Macaca Chita Metal
Por Trevas

Quando Warrior Of Time, faixa de abertura de Burn The Night, primeiro full length do combo canadense da NWOTHM toma de assalto nossos ouvidos, parece a princípio ser impossível não estarmos diante de uma pérola. Riffs certeiros que fazem uma ponte entre Judas Priest e Accept, bateria e baixo cavalares. Jogo ganho, claro. Ehr, não. Cale Savy (que também divide as ótimas guitarras com Roldan Reimer) abre o bico e a merda está feita. Não, o cara não tem um timbre ruim não, até tem algo próprio com toques bem-vindos de Halford e Steve Grimmett. A desgraça é que o maluco termina praticamente toda e qualquer frase com um gritinho capaz de estourar as bolas de um orangotango budista.


O que é uma pena. Burn The Night tem produção certeira e oito faixas que bem poderiam fazer a felicidade de qualquer humano tarado pelo Metal da primeira metade dos anos 1980. Mas por mais que eu tenha vibrado com cada parte instrumental dos 37 parcos (e geralmente velozes) minutos desse disco, sobreviver aos incessantes ataques de macaca Chita de Cale Savy exauriu sobremaneira qualquer chance deu ter vontade de passar pela experiência de escutar Burn the Night novamente. Quando trocarem de vocalista ou mudarem a medicação do Savy, tento de novo. A “boa” nota é justificada única e exclusivamente pelo esforço na parte instrumental. Vade-retro! (NOTA: 5,04)

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Mob Rules – Beast Over Europe (CD-2019)

Golaço Na Segundona Alemã
Por Trevas

Beast Over Europe é apenas o segundo disco ao vivo dos 25 anos de carreira do combo teutônico de Power Metal. Contendo 14 faixas registradas ao longo da perna europeia da turnê do bom Beast Reborn, o trabalho é um testamento do quão eficiente os veteranos soam nos palcos. E é também um ótimo lembrete de que talvez o sexteto merecesse mais crédito do que tem na cena. Raramente lembrados aqui no Brasil, e geralmente estigmatizados como uma banda de segundo escalão, surgida no infame boom do Metal Melódico da década de 1990, o Mob Rules mostra aqui ter um repertório para lá de cativante. Seja em números recentes (a deliciosa Ghost Of A Chance, Dykemaster’s Tale e My Kingdom Come), seja nas velharias mais conhecidas como Black Rain e Hollowed Be Thy Name.


As execuções são todas muito boas, em especial nas canções mais antigas, que soam com mais pegada e peso que nos discos originais. A qualidade sonora é bacana, embora a participação do público fique quase restrita ao intervalo entre as músicas na mixagem. De ponto negativo, apenas aquela falha de continuidade entre faixas gravadas em shows diferentes. Ao contrário do que escolheu o Saxon ali em cima, eles optaram por não realizar emendas no som da plateia, deixando um ou outro vazio desnecessário. Um disco ao vivo honesto e para lá de divertido, que pode bem servir de uma bela coletânea àqueles interessados pela banda, mas não o suficiente para buscar a discografia completa. (NOTA: 8,50)



quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Jinjer – Macro (CD-2019)



Traumatismo Ucraniano
Por Trevas

Em 2016 o combo ucraniano de Metal Moderno já havia chamado a atenção da mídia especializada europeia, rendendo algumas curtas turnês mundo afora e um contrato com a Napalm Records. Mas foi o lançamento do vídeo para Pisces que mudou de vez o jogo a favor da banda. A alternância entre a voz delicada e guturais assustadores por parte de Tatiana Shmailyuk fez com que vídeo e música viralizassem na internet. Como resultado, King Of Everything, o segundo Full Length da banda, vendeu bem e foi incluído em inúmeras listas de melhores do ano pela mídia especializada. E o mundo não seria mais o mesmo para o quarteto: seguiu-se uma interminável turnê, passando até mesmo pelo Brasil, e nenhum festival de verão na Europa quis ficar sem a banda da moda. Mesmo estafados, os ucranianos sabiam que tinham que aproveitar o Hype, soltando no início de 2019 o Ep Micro. Micro dividiu opiniões. Alguns fãs passaram a duvidar se a qualidade de King Of Everything não fora um ponto fora da curva.

Tati e os Quebrabarracos
On The Top abre a bolachinha com os dois pés na porta, uma trauletada virulenta que fica em algum estranho lugar entre o Djent e o Groove Metal, mas sem deixar de lado o refrão grudento, um som capaz de arrancar sorrisos tanto de fãs de Meshuggah, Gojira e Sepultura.


Pit Of Consciousness me faz pensar que os ucranianos devem ter passado boa parte da adolescência curtindo discos como Angel Dust e King For A Day, Fool For A Lifetime, do Faith No More. Tatiana Shmailyuk é um fenômeno nos guturais, mas sua bela voz limpa brilha ainda mais nas melodias complexas, porém algo radiofônicas, que por vezes acompanham (e outras tantas vezes equilibram) os riffs e ritmos quebrados de seus talentosos colegas.


A versatilidade da banda beira a esquizofrenia, que o diga a transição de um Reggae para um Metal Extremo (com direito à Blast Beats) e então para algo que beira o Pop, isso tudo na mesma canção, a fantástica Judgement (& Punishment). A produção de Max Morton consegue casar o som ultramoderno do quarteto com alguma crueza, o que faz com que, a despeito do frescor das ideias e da técnica quase robótica (típica do Djent), tenhamos uma alma mais orgânica na gravação. Cada batida da caixa do ótimo Vladislav Ulasevich pode ser sentida no peito. Roman Ibramkhalilov faz o que se espera de um guitarrista de Djent, o que não é pouco, e Eugene Abdukhanov parece brincar com seu baixo inventivo em meio ao caos. Tudo isso com peso acachapante e sem tirar o foco das canções. E as canções aqui são ótimas: Retrospection, por exemplo, brinca com a língua e sonoridade nativos dos músicos, numa mistura contagiante.


Nem só de brutalidade e técnica vivem os ucranianos, as letras são surpreendentemente interessantes e, por vezes, reflexivas, como nas caóticas Pausing Death e Home Back ou na “Gojiresca” Noah. A reclamar, apenas o fim anticlimático com a instrumental lainnereP, uma desconstrução não tão bacana de Perennial, do Ep anterior. Um dos melhores e mais inventivos discos de 2019, que nos prova com sobras que o Jinjer não é mais uma promessa da cena, e sim uma retumbante realidade. (NOTA: 9,52)

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Gravadora: Heavy Metal Rock Records, Encore Music, Rock Add Records (nacional)
Prós: técnico, pesado, grudento e inventivo
Contras: pode soar um pouco caótico demais aos ouvidos não acostumados
Classifique como: Modern Metal, Prog Metal, Djent
Para Fãs de: Meshugah, Gojira, Textures


sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Lacuna Coil – Black Anima (CD-2019)



De Alma Negra Lavada
Por Trevas

Difícil acreditar, mas os italianos do Lacuna Coil já estão comemorando 20 anos desde o lançamento de In A Reverie. Outra das bandas a explorar um território bem mais moderno após figurar entre as trocentas promessas do Gothic Metal no fim dos anos 1990, transição que operou com surpreendente sucesso, mas não sem dividir opiniões entre os fãs, chegam enfim ao seu 9º trabalho de estúdio em um recente espiral crescente de peso. O disco, novamente conceitual, traz o trio principal de fundadores Andrea Ferro (voz), Cristina Scabbia (voz) e Marco Coti-Zelati (baixo e teclados) agora amparados por Diego Cavalotti (guitarra) e Richard Meiz (bateria). A produção ficou ao encargo de Marco, e a temática parece lidar com a dualidade luz/sombra que permeia nossa existência. Na verdade, não muito diferente do mergulho na loucura contido em Delirium, apenas um pouco mais abstrato.

Cris e suas assombrações de estimação
Anima Nera é uma introdução climática, onde Scabbia soa como uma versão sombria da Lady Gaga, preparando o terreno para a pesadíssima Sword Of Anger. Chama a atenção a versatilidade nas vozes da banda: Scabbia cada vez migrando para uma pegada entre o Pop e o Rock e Andrea crescendo consideravelmente de produção, o cara está melhor que nunca, em especial nos guturais. Esse casamento funciona às mil maravilhas aqui, como podemos comprovar na acachapante faixa de trabalho, Reckless.


Primeira das músicas do novo trabalho a ser apresentada, e postulante a clássico imediato, Layers Of Time é das coisas mais pesadas que o Lacuna Coil já fez. Possivelmente o ouvinte casual só vai conseguir identificar a banda no refrão, quando Cristina deposita pitadas de doçura numa trauletada de fazer inveja a muita banda Troozona por aí. Apocalypse baixa um pouco a poeira, mas sem baixar a qualidade.



Now Or Never sobe o tom novamente, pesada e com um riff cortante. Nunca os italianos soaram tão raivosos, em alguns momentos temos a impressão de estar ouvindo os discos mais recentes do Paradise Lost, uma das maiores influências da banda, diga-se. Under The Surface parece querer resgatar um pouco o espírito do Lacuna Coil dos primeiros discos, mas com a nova roupagem, e funciona bem. Outra novidade é o resgate dos solos de guitarra, sempre curtos, mas bonitos, e presentes em maior número que o usual. Veneficium é um espetáculo à parte, unindo o peso atual a um então inédito viés sinfônico. A melhor faixa do disco e uma das mais impressionantes da carreira do quinteto.


Chegamos à reta final do disco e fica claro que o mesmo perde um pouco de fôlego, as três últimas canções soando bem mais calmas que o restante do material. Mas até nisso o Lacuna Coil acerta dessa vez, o trabalho não se estende por tempo demais (como em alguns CDs deles no passado) e quando a faixa título termina, ficamos com a certeza de estar diante do disco mais forte da carreira dos italianos. Surpreendente. (NOTA:  9,27)

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Gravadora: Shinigami Records (nacional)
Prós: ainda mais pesado que Delirium, possivelmente o disco mais inspirado da carreira
Contras: apenas continua não recomendável a quem não curte metal moderno
Classifique como: Modern Metal, Gothic Metal, Metal Industrial
Para Fãs de: Paradise Lost, Disturbed 


terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Tygers Of Pan Tang – Ritual (CD-2019)



Tigres Em Alta
Por Trevas

Três anos atrás os veteranos da NWOBHM resolveram soltar um disco homônimo. Como se sabe, no meio do Rock, quando uma banda faz isso, geralmente é o equivalente a botar o pau na mesa. Dito e feito, Tygers Of Pan Tang nos brindou com o material mais forte dos britânicos desde sua era de ouro, na longínqua primeira metade dos anos 1980. O barulho causado pela bolachinha foi tamanho que conseguiu até mesmo o milagre de estabilizar uma formação por dois discos seguidos, algo raríssimo na história dos caras. Novamente apostando na autoprodução, o quinteto se apressou em aproveitar o bom momento, e cá temos Ritual, em lançamento nacional pelas mãos da Hellion Records.

Uma tigela de trigo para três tigres tristes: Tygers 2019
Wolds Apart de cara já põe as garras da banda de fora: um Hard & Heavy viciante com ótimas guitarras e linhas melódicas que grudam de imediato. Ainda assim com espaço para alguma modernidade, vide o riff do início da avalanche de solos do ótimo Micky McCrystal.


Falei em refrão grudento? Te desafio a não sair cantando o de Destiny já pela metade da canção. Outra belezura oitentista com pitadas de AOR que só não soa “velha” devido ao ótimo trabalho da produção (com auxílio da mixagem de Soren Andersen, braço direito do Glenn Hughes), que capricha no punch, captando aquela energia cativante que o quinteto tem ao vivo. Os solos de Micky novamente impressionam: que achado para a banda! 



Aliás, todos estão em ótima forma aqui, mas além de Micky, outra importante peça merece pontos extras: o italiano Jacopo Meille já vinha controlando melhor seu invejável (e por vezes exagerado) alcance vocal. E tem em Ritual sua melhor performance junto à banda. Duvida? O poder de interpretação e versatilidade do cara tornam músicas bacanas como Rescue Me (com algo mais ‘sensual”) e a paulada Raise Some Hell (mais diretona e esganiçada, lembrando muito o estilo do início da carreira da banda) ainda melhores. Spoils Of War chega épica, cadenciada e bem pesada, algo que o Saxon atual bem poderia ter assinado. A primeira metade do disco se encerra com a faixa de trabalho White Lines, tão forte quanto Only The Brave havia sido no disco anterior.


Words Cut Like Knives é uma bela Power Ballad daquelas que parecem receita exclusiva de bandas dos anos 1980. Eu disse anos 1980? É exatamente dessa era que saiu Damn You! Não fosse a produção e a voz de Meille, juraria se tratar de alguma faixa perdida do Spellbound. Já Love Will Find A Way traz novamente a pegada Hard/Heavy, com um teclado singelo bem ao fundo dando um toque AOR a mais uma bela canção. Art Of Noise é a faixa mais moderna e pesada de todo o pacote, mas não soa deslocada e é muito bem-vinda. Como chato que sou, poderia muito bem implicar que o disco é longo demais, 53 minutos para um disco de Heavy Metal tradicional é um exagero e tal, blébléblé-mimimi. Mas aí chega o Tygers e enfia na minha fuça os quase 8 minutos da poderosa Sail On e eu tenho então que me resignar e reconhecer, os caras venceram: Ritual é um puta disco, simples, empolgante e viciante! Forte candidato a melhor de toda a carreira dos caras. Absolutamente imperdível. (NOTA: 9,56)

Visite o The Metal Club

Gravadora: Hellion Records (nacional)
Prós: voz, riffs, cozinha e solos, todos em perfeita sintonia em ótimas canções
Contras: para ser chato: tem 53 minutos, podiam ser menos hehehehe
Classifique como: Heavy Metal
Para Fãs de: Saxon, Diamond Head, Iron Maiden