segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Steve Perry – Traces (Cd-2018)

Steve Perry - Traces

Amargo Regresso
Por Trevas

1996. O vocalista Steve Perry via Trial By Fire, o disco de retorno do Journey, tomar as lojas de assalto. Sucesso comercial garantido, como havia sido a vida de Steve desde que assumira o microfone da banda, mais de uma década antes. Milhões e milhões de discos vendidos e uma fortuna que poderia garantir o futuro de pelo menos duas gerações por vir. Mas Steve estava infeliz. Cansado da indústria musical, o cantor que tinha o mundo a seus pés fez o impensável: abriu mão de tudo e se exilou dos holofotes. À época a ausência de uma turnê de promoção do disco foi atribuída a uma cirurgia no quadril do cantor, uma estratégia para se ganhar tempo e tentar demover Steve de sua decisão radical. Em vão. Não havia mais amor ali, pela música e pela vida na estrada e nos estúdios.

O "quase-tuga" Estevão Pereira, em 2018 

E foi a perda de um outro amor que reascendeu a carreira do californiano (filho de portugueses). Quase um eremita, Steve conheceu a psicóloga Kellie Nash através de amigos em comum. Os dois se apaixonaram, e a moça começou a tirar Steve da reclusão. Mas nem tudo eram flores, Kellie enfrentava um agressivo câncer. Sabedora do pouco tempo de vida que lhe restava, Kellie fez com que Steve prometesse a ela jamais se isolar do mundo novamente após sua partida. Em 2012 a psicóloga faleceu, e Steve se empenhou em cumprir sua promessa. Surpreendentemente, descobriu que a paixão por compor havia retornado. Ali em meio ao luto, começava a nascer Traces.

Kellie e Steve
Produzido aos poucos pelo próprio vocalista, com as primeiras sessões de gravação datando de 2015, o disco tem um som perfeito e cristalino. Como banda de apoio, uma miríade de músicos que ocuparia uma página inteira desse blog para listar. Nenhum nome bombástico da cena. Hype zero. Lembro quando ouvi a primeira faixa de trabalho (e abertura do disco) No Erasing. As sensações, conflitantes. A euforia por ouvir de novo uma das vozes mais impressionantes da história da música, ainda bela a despeito dos 69 anos de idade, contrastando com a palidez criativa de uma canção pop para lá de genérica.



Infelizmente, os parcos 40 minutos de Traces são ornados com exatamente o mesmo espectro sonoro: baladas genéricas e levemente melancólicas que servem apenas para o vocalista expiar seu luto e as boas lembranças de sua falecida esposa. A mixagem, típica de discos de Pop, com vozes à frente de tudo e arranjos bem trabalhados mas que raramente fazem mais que tapar buracos entre uma linha melódica e outra. Tentar listar um destaque aqui é complicado, nada soa ultrajante, como sempre acontece com a típica seleção musical de consultório de dentista. Mas nada também se sobressai, como se observássemos a maré de uma imensa lagoa. Uma beleza que logo se torna absolutamente monótona com o passar dos minutos.




Veredito da Cripta

Traces é um disco muito bem produzido e imensamente genérico, que em muito lembra os trabalhos pop insossos dos anos 1980. Mas tem a voz de Steve Perry, ainda bela. E esse deve ser o único motivo para sobreviver aos 40 sonolentos e esquecíveis minutos desse Cd. Se nem a saudade de escutar a voz de Mr. Perry é capaz de te motivar, mantenha distância, pois não há absolutamente nada mais aqui.


NOTA: 6,42



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Gravadora: Hellion Records (nacional)
Prós: Boa produção e a bela voz de Steve
Contras: Quarenta minutos de baladas oitentistas genéricas
Classifique como: Pop
Para Fãs de: Journey


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