Steve Perry - Traces |
Amargo
Regresso
Por Trevas
1996. O vocalista Steve Perry via Trial By Fire,
o disco de retorno do Journey, tomar
as lojas de assalto. Sucesso comercial garantido, como havia sido a vida de Steve desde que assumira o microfone da
banda, mais de uma década antes. Milhões e milhões de discos vendidos e uma
fortuna que poderia garantir o futuro de pelo menos duas gerações por vir. Mas Steve estava infeliz. Cansado da
indústria musical, o cantor que tinha o mundo a seus pés fez o impensável:
abriu mão de tudo e se exilou dos holofotes. À época a ausência de uma turnê de
promoção do disco foi atribuída a uma cirurgia no quadril do cantor, uma
estratégia para se ganhar tempo e tentar demover Steve de sua decisão radical. Em vão. Não havia mais amor ali, pela
música e pela vida na estrada e nos estúdios.
O "quase-tuga" Estevão Pereira, em 2018 |
E foi a perda de um outro amor que reascendeu a carreira do californiano
(filho de portugueses). Quase um eremita, Steve
conheceu a psicóloga Kellie Nash através de amigos em comum. Os
dois se apaixonaram, e a moça começou a tirar Steve da reclusão. Mas nem tudo eram flores, Kellie enfrentava um agressivo câncer. Sabedora do pouco tempo de
vida que lhe restava, Kellie fez com que Steve
prometesse a ela jamais se isolar do mundo novamente após sua partida. Em 2012
a psicóloga faleceu, e Steve se
empenhou em cumprir sua promessa. Surpreendentemente, descobriu que a paixão
por compor havia retornado. Ali em meio ao luto, começava a nascer Traces.
Kellie e Steve |
Produzido aos poucos pelo próprio vocalista, com as primeiras sessões de
gravação datando de 2015, o disco tem um som perfeito e cristalino. Como banda
de apoio, uma miríade de músicos que ocuparia uma página inteira desse blog para
listar. Nenhum nome bombástico da cena. Hype
zero. Lembro quando ouvi a primeira faixa de trabalho (e abertura do disco) No Erasing.
As sensações, conflitantes. A euforia por ouvir de novo uma das vozes mais impressionantes
da história da música, ainda bela a despeito dos 69 anos de idade, contrastando
com a palidez criativa de uma canção pop para lá de genérica.
Infelizmente, os parcos 40 minutos de Traces são ornados com exatamente o mesmo espectro sonoro: baladas genéricas
e levemente melancólicas que servem apenas para o vocalista expiar seu luto e
as boas lembranças de sua falecida esposa. A mixagem, típica de discos de Pop,
com vozes à frente de tudo e arranjos bem trabalhados mas que raramente fazem
mais que tapar buracos entre uma linha melódica e outra. Tentar listar um
destaque aqui é complicado, nada soa ultrajante, como sempre acontece com a
típica seleção musical de consultório de dentista. Mas nada também se sobressai,
como se observássemos a maré de uma imensa lagoa. Uma beleza que logo se torna absolutamente
monótona com o passar dos minutos.
Veredito
da Cripta
Traces é um
disco muito bem produzido e imensamente genérico, que em muito lembra os
trabalhos pop insossos dos anos 1980. Mas tem a voz de Steve Perry, ainda bela.
E esse deve ser o único motivo para sobreviver aos 40 sonolentos e esquecíveis
minutos desse Cd. Se nem a saudade de escutar a voz de Mr. Perry é capaz de te motivar, mantenha distância, pois não há absolutamente
nada mais aqui.
NOTA: 6,42
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Gravadora: Hellion Records (nacional)
Prós: Boa produção e a bela voz de Steve
Contras: Quarenta minutos de baladas
oitentistas genéricas
Classifique como: Pop
Para Fãs de: Journey
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