terça-feira, 1 de maio de 2018

Pain Of Salvation + Reckoning Hour (26/04/2018 - Teatro Rival – Rio de Janeiro/RJ)

POS - Cartaz do Show

In The Passing Light Of...Night...
Fotos e Texto Por Trevas

É sempre interessante notar a diferença entre os públicos dos vários subgêneros dentro do rock. No curto espaço de tempo passado na fila do teatro Rival, fiquei todo ouvidos só captando os diálogos alheios. Se no show do Slash, com seu público “roqueiro de rádio cidade” que vai ao show por duas ou três músicas batidas sem se importar com a qualidade do espetáculo em si, isso me rendeu uma imensa sensação de que o rock realmente estava fadado à morte lenta e dolorosa, no caso do público do POS, foi o contrário. A garotada, que em sua maioria tem aquela pinta de quem fazia a festa nas lanhouses da vida, conversava avidamente sobre a carreira de sua banda favorita, parecendo conhecer cada nuance dos discos e até mesmo de assuntos não tão obrigatórios. Isso sem perder o humor. Em determinado momento ouço a seguinte tirada: “O único Ragnar bom era viking e já está morto”. Gargalhadas se seguiram e só então eu, longe de ser fanboy dos suecos, me toquei que corria no ar a apreensão de como seria o show (adiado de fevereiro por problemas de saúde com o dono da bola, Daniel Gildenlöw) com a “nova” formação, ainda não testada, com Johan Hallgren retomando seu lugar na guitarra (e voz), justamente em substituição ao tão mal falado multi-instrumentista Islandês Ragnar Zolberg. Dentro da casa, tomei meu lugar para o show da sempre competente banda carioca Reckoning Hour.


Reckoning Hour

O quinteto, cujo som fica muito distante do praticado pela banda principal da noite, bem poderia correr o risco de uma recepção desfavorável. Mas a Reckoning Hour tem toneladas de peso e talento, e vem se mostrando uma máquina para lá de azeitada em cima dos palcos cariocas.

JP, o gogó feroz dos excelentes cariocas


Destilando um Metal Moderno que não fica a dever em nada à muitos expoentes gringos do gênero, logo os rapazes conquistam o público, com as boas músicas de seus dois trabalhos amplificadas por um primor técnico e muito carisma. Quando me perguntam sobre renovação na cena brasuca, nem penso muito, um dos primeiros nomes que me vem à mente é o da Reckoning Hour: uma bandaça que merece alçar voos cada vez maiores. (NOTA:8)

Lucas Brum, um dos guitarristas da Reckoning Hour



Pain Of Salvation

Quando se fala em Prog Metal, muita gente (esse escriba inclusive) logo relaciona o rótulo à músicas frias e sem alma executadas por robozinhos assexuados travestidos de músicos. Tudo o que o Rock não precisa. Mas esse estereótipo passa longe da obra e dos shows do POS. Aqui emoção e feeling ficam em primeiro plano, a despeito do cuidado com detalhes técnicos. Full Throttle Tribe abre magistralmente o set, e chega a impressionar a desenvoltura da banda em eu primeiro show desde janeiro desse ano.

Daniel e Flea

Daniel, o dono da bola, descalço e vestindo uma roupa que você não usaria nem para ajudar seu avô a pintar a sala, arranca suspiros da mulherada a cada intervalo de música, e sua felicidade por estar de volta à ativa é contagiante. E a confiança no novo disco é tamanha que o set seguiu com Reasons (que acho péssima, mas o público cantou palavra por palavra) e a belíssima Meaningless. A recepção? Cada vírgula das novas músicas era bebida pela plateia, que se não lotou o Teatro Rival, fez compensar os lugares vazios com invejável devoção. E essa energia circulava, com a banda, em chamas, catapultando em nossas faces o momento mais rocker da noite, com a setentista (e excelente) Linoleum.

Daniel Mendigato Gildenlöw


Daniel, o mendigato, pode não ser o fenômeno vocal que alguns dos discos da banda apregoam, mas está tão bem assessorado vocalmente por todos os membros do POS que pouco isso afeta o resultado final - quase tudo o que se ouve das complexas linhas melódicas em estúdio é reproduzido ao vivo. Hallgren, recentemente reintegrado ao bando, é quase tão ovacionado quanto o patrão. Pudera, o irmão gêmeo do Flea toca e agita muito, além de ser um dos destaques vocais. Aliás, todos os membros dessa formação tocam eximiamente bem, mas com muita pegada e clara vontade expressa nos rostos. E até os erros eram recebidos com sorrisos por todos, seja no palco, seja na plateia. Fica fácil se divertir quando a banda mostra tamanho carinho pelo que faz.

Johan compenetrado

O repertório buscou representar quase toda a carreira dos suecos, mesmo com a preferência pelo novo disco. Ashes e Rope Ends arrancaram lágrimas de muitos e o set inicial terminou com a Excelente On A Tuesday, com impressionante contribuição vocal do exímio baterista Leo Margarit. Se eu não tivesse visto com meus próprios olhos, juraria que a voz do cara sai de dentro de uma estonteante loura escandinava. Um falsete e tanto! O bis se deu com a faixa título do novo trabalho, aparentemente já elevada a clássico pelos fãs. Doze músicas e 100 minutos depois, com muitos sorrisos e uma energia palpável no ar, a banda se despede. E pela reação do público, podem retornar ano após ano sem medo. Um grande show. (NOTA:9)        












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