POS - Cartaz do Show |
In The Passing Light
Of...Night...
Fotos
e Texto Por Trevas
É
sempre interessante notar a diferença entre os públicos dos vários subgêneros
dentro do rock. No curto espaço de tempo passado na fila do teatro Rival,
fiquei todo ouvidos só captando os diálogos alheios. Se no show do Slash, com seu público “roqueiro de
rádio cidade” que vai ao show por duas ou três músicas batidas sem se importar
com a qualidade do espetáculo em si, isso me rendeu uma imensa sensação de que
o rock realmente estava fadado à morte lenta e dolorosa, no caso do público do POS, foi o contrário. A garotada, que
em sua maioria tem aquela pinta de quem fazia a festa nas lanhouses da vida,
conversava avidamente sobre a carreira de sua banda favorita, parecendo
conhecer cada nuance dos discos e até mesmo de assuntos não tão obrigatórios.
Isso sem perder o humor. Em determinado momento ouço a seguinte tirada: “O
único Ragnar bom era viking e já
está morto”. Gargalhadas se seguiram e só então eu, longe de ser fanboy dos
suecos, me toquei que corria no ar a apreensão de como seria o show (adiado de
fevereiro por problemas de saúde com o dono da bola, Daniel Gildenlöw) com a
“nova” formação, ainda não testada, com Johan
Hallgren retomando seu lugar na
guitarra (e voz), justamente em substituição ao tão mal falado
multi-instrumentista Islandês Ragnar
Zolberg. Dentro da casa, tomei meu
lugar para o show da sempre competente banda carioca Reckoning Hour.
Reckoning Hour
O quinteto, cujo som
fica muito distante do praticado pela banda principal da noite, bem poderia
correr o risco de uma recepção desfavorável. Mas a Reckoning Hour tem
toneladas de peso e talento, e vem se mostrando uma máquina para lá de azeitada
em cima dos palcos cariocas.
JP, o gogó feroz dos excelentes cariocas |
Destilando um Metal Moderno que não fica a dever em nada
à muitos expoentes gringos do gênero, logo os rapazes conquistam o público, com
as boas músicas de seus dois trabalhos amplificadas por um primor técnico e muito
carisma. Quando me perguntam sobre renovação na cena brasuca, nem penso muito,
um dos primeiros nomes que me vem à mente é o da Reckoning Hour: uma bandaça
que merece alçar voos cada vez maiores. (NOTA:8)
Lucas Brum, um dos guitarristas da Reckoning Hour |
Pain Of Salvation
Quando se fala em Prog Metal, muita gente (esse escriba inclusive) logo relaciona o rótulo
à músicas frias e sem alma executadas por robozinhos assexuados travestidos de
músicos. Tudo o que o Rock não
precisa. Mas esse estereótipo passa longe da obra e dos shows do POS. Aqui emoção e feeling ficam em
primeiro plano, a despeito do cuidado com detalhes técnicos. Full Throttle Tribe abre
magistralmente o set, e chega a impressionar a desenvoltura da banda em eu
primeiro show desde janeiro desse ano.
Daniel e Flea |
Daniel, o dono da bola,
descalço e vestindo uma roupa que você não usaria nem para ajudar seu avô a pintar
a sala, arranca suspiros da mulherada a cada intervalo de música, e sua
felicidade por estar de volta à ativa é contagiante. E a confiança no novo
disco é tamanha que o set seguiu com Reasons
(que acho péssima, mas o público cantou palavra por palavra) e a belíssima Meaningless. A recepção? Cada vírgula
das novas músicas era bebida pela plateia, que se não lotou o Teatro Rival, fez compensar os lugares vazios com invejável devoção. E essa
energia circulava, com a banda, em chamas, catapultando em nossas faces o
momento mais rocker da noite, com a
setentista (e excelente) Linoleum.
Daniel Mendigato Gildenlöw |
Daniel, o mendigato, pode
não ser o fenômeno vocal que alguns dos discos da banda apregoam, mas está tão
bem assessorado vocalmente por todos os membros do POS
que pouco isso afeta o resultado final - quase tudo o que se ouve das complexas linhas melódicas em estúdio é reproduzido ao vivo. Hallgren,
recentemente reintegrado ao bando, é quase tão ovacionado quanto o patrão.
Pudera, o irmão gêmeo do Flea toca e
agita muito, além de ser um dos destaques vocais. Aliás, todos os membros dessa
formação tocam eximiamente bem, mas com muita pegada e clara vontade expressa
nos rostos. E até os erros eram recebidos com sorrisos por todos, seja no
palco, seja na plateia. Fica fácil se divertir quando a banda mostra tamanho
carinho pelo que faz.
Johan compenetrado |
O
repertório buscou representar quase toda a carreira dos suecos, mesmo com a
preferência pelo novo disco. Ashes e
Rope Ends arrancaram lágrimas de muitos e o set inicial terminou com a
Excelente On A Tuesday, com
impressionante contribuição vocal do exímio baterista Leo Margarit. Se eu não
tivesse visto com meus próprios olhos, juraria que a voz do cara sai de dentro
de uma estonteante loura escandinava. Um falsete e tanto! O bis se deu com a
faixa título do novo trabalho, aparentemente já elevada a clássico pelos fãs. Doze
músicas e 100 minutos depois, com muitos sorrisos e uma energia palpável no ar,
a banda se despede. E pela reação do público, podem retornar ano após ano sem
medo. Um grande show. (NOTA:9)
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