domingo, 19 de novembro de 2017

Pallbearer – Heartless (Cd-2017)

Pallbearer - Heartless

O Som Progressivo da Desesperança
Por Trevas

A estadunidense Pallbearer, banda fundada em 2008, vem sendo saudada como a linha de frente da nova geração do Doom Metal. Desde seu primeiro Ep, a cada lançamento o quarteto vem marcando presença nas listas de melhores discos do ano, em meios de comunicação tão dispares quanto a Decibel, Spin ou até mesmo no New York Times. Tudo isso fazendo discos com músicas longas repletas de melodias depressivas e riffs monolíticos. Em meio a tanto alarde, e com a banda escalada para fazer a abertura da tour europeia do Paradise Lost, fui conferir o terceiro Full Length dos caras, Heartless, que traz a bela e desoladora pintura a óleo do californiano Michael Lierly como capa (ver vídeo).




Desoladora e bela é a abertura com I Saw The End (ver vídeo), uma quimera musical que deve tanto ao Katatonia atual e Kyuss, quanto à Black Sabbath clássico e My Dying Bride.


Ao contrário do que se faz costumeiro na cena Doom de qualquer era, o quarteto, que produz a própria bolachinha em meio estritamente analógico (ou ao menos é o que dizem) aposta em um som limpo e claro. O peso reside apenas nos riffs e temas das harmonias das guitarras de Devin Holt e Brett Campbell, como em Thorns (ver vídeo), que traz um clima funesto e grudento. Da mesma maneira é tratada a voz de Brett, limpa, algo despojada e lamurienta, naquela linha que faz os amantes de Ozzy delirar. A cozinha composta pelo baterista Mark Lierly (irmão do pintor da arte de capa) e pelo baixista Joseph Rowland também aposta em linhas menos monolíticas e algo setentistas, mas não menos pesadas.


E se as duas primeiras faixas trouxeram um som relativamente mais direto que o usual para o bestiário da banda, a belíssima A Lie Of Survival trata de inaugurar a ala mais épica e viajante da bolachinha, com belos solos despejados sobre uma base etérea ornada pelas camas de sintetizadores do baixista e compositor, Joseph Rowland.


Uma levada de bateria nada metálica abre a aparentemente progressiva Dancing In Madness, mais uma a trazer cascatas de belos solos em clima viajante até que um riff algo fúnebre e vocais psicodélicos tomem nossos ouvidos. E então a música se transforma, seus dentes agudos e retorcidos momentaneamente expostos em meio a vozes que lembram Mastodon e a guitarras sujas e agressivas. Somos arremessados logo em seguida de volta ao som etéreo, que só prepara terreno para um final apoteótico e emocionante. Tudo isso em 11 minutos que nem se fazem sentir. Talvez aí resida a mágica da banda, enfim.

Pallbearer

Elementos mais tradicionalmente Heavy Metal nas guitarras aparecem aqui e acolá em Cruel Road, primeira das sete faixas a trazer um refrão explícito. E aqui somos apresentados novamente a uma pegada mais agressiva (mas não tão eficaz) em alguns vocais. Ainda assim, uma música de respeito e que se encaixa perfeitamente na fluidez do disco. Quase que de imediato a faixa título aparece, numa linha similar à abertura, com belas melodias que devem muito mais ao Rock Progressivo que ao Metal.


A Plea For Understanding, do alto de seus 13 minutos, é o épico maior do disco. Uma espécie de improvável elo perdido entre Doom Metal e Pink Floyd, e bem menos desesperançosa em sua letra que suas colegas, essa música por si só já valeria a audição de toda a bolachinha. Uma verdadeira obra de arte.



Veredito da Cripta

Chamar o novo direcionamento de uma aposta desonesta em um caminho mais comercial parece imensa sandice. O material aqui presente é de uma melancolia densa feito piche. E se as melodias parecem agradáveis demais aos ouvidos, em muito isso se deve à qualidade das mesmas, e não na aposta em clichês de fácil assimilação. Um disco excepcional, que transpõe a alma do Doom Metal para uma atmosfera por vezes etérea, por vezes lúgubre, mas sempre bela – para então criar uma identidade capaz de transcender gêneros musicais.


NOTA: 9,58


Gravadora: Nuclear Blast (importado).
Pontos positivos: temas longos, melancólicos e pesados que assim se fazem sem que nos demos conta
Pontos negativos: os Troozões podem achar limpo demais
Para fãs de: My Dying Bride, Katatonia, Opeth
Classifique como: Doom Metal, Prog Rock



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