Pallbearer - Heartless |
O
Som Progressivo da Desesperança
Por Trevas
A estadunidense Pallbearer, banda fundada em 2008, vem
sendo saudada como a linha de frente da nova geração do Doom Metal. Desde seu
primeiro Ep, a cada lançamento o
quarteto vem marcando presença nas listas de melhores discos do ano, em meios
de comunicação tão dispares quanto a Decibel,
Spin ou até mesmo no New York Times. Tudo isso
fazendo discos com músicas longas repletas de melodias depressivas e riffs monolíticos. Em meio a tanto
alarde, e com a banda escalada para fazer a abertura da tour europeia do Paradise
Lost, fui conferir o terceiro Full Length dos caras, Heartless,
que traz a bela e desoladora pintura
a óleo do californiano Michael Lierly como capa (ver vídeo).
Desoladora e bela é a abertura
com I Saw The End (ver vídeo), uma quimera musical
que deve tanto ao Katatonia atual e Kyuss, quanto à Black Sabbath clássico e
My Dying Bride.
Ao contrário do que se faz costumeiro na cena Doom de qualquer era, o quarteto, que produz a própria bolachinha
em meio estritamente analógico (ou ao menos é o que dizem) aposta em um som
limpo e claro. O peso reside apenas nos riffs
e temas das harmonias das guitarras de Devin
Holt e Brett Campbell, como em Thorns (ver vídeo), que traz um clima
funesto e grudento. Da mesma maneira é tratada a voz de Brett, limpa, algo despojada e lamurienta, naquela linha que faz os
amantes de Ozzy delirar. A cozinha composta
pelo baterista Mark Lierly (irmão do pintor da arte de capa)
e pelo baixista Joseph Rowland também aposta em linhas menos
monolíticas e algo setentistas, mas não menos pesadas.
E se as duas primeiras faixas trouxeram um som relativamente mais direto
que o usual para o bestiário da banda, a belíssima A Lie Of Survival trata de inaugurar a ala mais épica e viajante da
bolachinha, com belos solos despejados sobre uma base etérea ornada pelas camas
de sintetizadores do baixista e compositor, Joseph Rowland.
Uma levada de bateria nada metálica abre a aparentemente progressiva Dancing In Madness, mais uma a trazer
cascatas de belos solos em clima viajante até que um riff algo fúnebre e vocais psicodélicos tomem nossos ouvidos. E
então a música se transforma, seus dentes agudos e retorcidos momentaneamente expostos
em meio a vozes que lembram Mastodon
e a guitarras sujas e agressivas. Somos arremessados logo em seguida de volta
ao som etéreo, que só prepara terreno para um final apoteótico e emocionante. Tudo
isso em 11 minutos que nem se fazem sentir. Talvez aí resida a mágica da banda,
enfim.
Pallbearer |
Elementos mais tradicionalmente Heavy
Metal nas guitarras aparecem aqui e
acolá em Cruel Road, primeira das sete faixas a trazer um refrão explícito. E aqui
somos apresentados novamente a uma pegada mais agressiva (mas não tão eficaz) em
alguns vocais. Ainda assim, uma música de respeito e que se encaixa
perfeitamente na fluidez do disco. Quase que de imediato a faixa título
aparece, numa linha similar à abertura, com belas melodias que devem muito mais
ao Rock Progressivo que ao Metal.
A Plea For
Understanding, do alto de seus 13 minutos, é o épico maior do disco. Uma espécie de
improvável elo perdido entre Doom Metal e Pink Floyd, e bem menos
desesperançosa em sua letra que suas colegas, essa música por si só já valeria
a audição de toda a bolachinha. Uma verdadeira obra de arte.
Veredito
da Cripta
Chamar o novo direcionamento
de uma aposta desonesta em um caminho mais comercial parece imensa sandice. O material
aqui presente é de uma melancolia densa feito piche. E se as melodias parecem
agradáveis demais aos ouvidos, em muito isso se deve à qualidade das mesmas, e
não na aposta em clichês de fácil assimilação. Um disco excepcional, que
transpõe a alma do Doom Metal para uma atmosfera por vezes
etérea, por vezes lúgubre, mas sempre bela – para então criar uma identidade
capaz de transcender gêneros musicais.
NOTA:
9,58
Gravadora:
Nuclear Blast (importado).
Pontos
positivos: temas longos, melancólicos e pesados que assim se fazem sem que nos
demos conta
Pontos
negativos: os Troozões podem achar limpo demais
Para
fãs de: My Dying Bride, Katatonia, Opeth
Classifique como: Doom Metal, Prog Rock
Nenhum comentário:
Postar um comentário