Cheap Trick - We're All Allright! (Cd-2017) |
Um
Truque de Mestre!
Por Trevas
Na ativa desde o
final da década de 1960 (como Fuse),
o Cheap Trick é uma espécie de patinho feio do Rock estadunidense: mesmo com uma vasta discografia que angariou uma
penca de discos de ouro e platina e sua recente indução ao Rock And Roll Hall Of Fame, parece que a banda nunca conseguiu o
mesmo respeito fora de seu continente que outros artistas do mesmo quilate. Quer
dizer, excluindo no Japão, claro, só lembrar o mítico Live At Budokan, que registrou com maestria o
fanatismo dos Nipônicos com o quarteto de Illinois.
Cheap Trick em sua juventude... |
Talvez esse fato seja parcialmente explicado pela aura descompromissada
e galhofeira que envolve a banda, que usa toneladas de influências dos Beatles e as mistura num rock simples e
direto, sem muito espaço para devaneios intelectualoides e/ou contemplativos. Um
som que ficou conhecido pela infame alcunha Power Pop. Mas mesmo muitos
daqueles que compram a opção estilística dos caras parecem ter esquecido um
pouco o Cheap Trick em tempos recentes. O fato é que, após uma década de 1990
algo vazia, a banda voltou a ter uma produtividade bem razoável, mas seus
trabalhos raramente alcançaram o furor de outrora. O imbróglio judicial com o
ex-baterista Bun E. Carlos
(hoje resolvido, Bun é membro da
banda para fins burocráticos, ainda que sua saúde o afaste de outros compromissos
como gravações/shows) ajudou ainda mais a confundir e afastar os fãs de outrora.
Mas a indução ao Rock And Roll Hall Of
Fame, em 2016, com a formação clássica mostrando ter enfim aparado suas
arestas, voltou a trazer os olhos para a banda, e dessa vez pelos motivos
certos. Aproveitando o momento, o Cheap
Trick logo anunciou ter se juntado
ao premiado produtor Julian Raymond (que tem alguns Grammys na sua coleção, mas por trampos
com artistas de Country Music) para trabalhar em um álbum que
fizesse justiça aos anos de ouro de sua carreira. O título, divertido e
sintomático: We’re All Allright!
Em 2016, fazendo as pazes, no Rock And Roll Hall Of Fame |
Um
Disco, Dois Momentos
O disco começa
virulento, com duas pedradas rockers de primeira: You Got It Going On é irresistível com seu riff na cara e refrão
grudento. Música perfeita para a abertura de um show, diga-se. Mal temos tempo
de respirar e a pedrada à lá AC/DC
(banda irmã dos caras, bem que se lembre) Long
Time Comin’ nos convida a tirar o tapete da sala e dançar, aquela sensação
que todo bom rock and roll deveria transmitir.
A produção de Julian deu uma
cara bem ao vivo e algo punk ao trabalho, e essa veia punk aparece
destacadamente na terceira faixa, a divertidíssima Nowhere, definitivamente uma ode ao som clássico do Cheap Trick. As guitarras de Rick
Nielsen e Robin Zander estão
absurdamente na cara, e a cozinha de Tom
Petersson e Daxx Nielsen (filho de Rick), se não tem o charme da cozinha original
(em muito pela ausência da idiossincrasia baterística de Bun E.), não fica
devendo em nada em termos de pegada e técnica. E o espírito do mais puro rock and roll
prossegue com Radio Lover, e cá entre nós, me peguei
pensando o que diabos os velhinhos tomaram para gravar tantas faixas rápidas e
energéticas num disco só. O ouvinte desavisado dificilmente acreditaria não se
tratar de um disco feito nos tempos áureos dos caras, tamanha o tesão musicado.
E esse efeito é em muito amplificado pela voz de Robin Zander, que não
parece ter envelhecido nem um dia desde In
Color, de...1977!!?!?!?!
Em Lolita o lado Power Pop da banda lá nos anos 1980 aparece, e sinceramente me permiti
imaginar se o Muse não bebe do som
dos velhinhos tanto quanto bebe o som do Queen.
Brand New name On Na Old Tattoo é
outro rockão visceral de fazer muito moleque ter que tomar biotômico Fontoura para
chegar perto da ferocidade dos caras.
Cheap Trick 2017 = as rugas chegaram, mas a gaiatice continua |
Mas aí o truque barato do
produtor cai por terra, das quatro músicas restante do disco, três são daquelas
baladas ou semi-baladas repletas de infusão dos Beatles que também sempre fizeram parte do arsenal dos
estadunidenses. Não, nenhuma das quatro canções é excepcionalmente ruim, elas apenas
quebram o ritmo frenético que a bolachinha imprimia até então. Floating Down é viajante, já She’s Allright
é apenas passável e traz um pouco demais do Country Pop que fez a
fama de Julian Raymond. Listen To Me
volta ao rock direto e raçudo, com o baixo de Petersson ganhando destaque, e o disco tem fim em sua edição normal
com a algo épica Rest Of My
Life. A edição especial ainda traz 3
outras faixas, uma cover bacana para Blackberry
Way (do The Move), além da divertida
Like A Fly e a chatinha If You Still Want My Love.
Veredito
da Cripta
We’re
All Allright é em boa parte de suas dez faixas, uma pedrada
rocker irresistível, um disco tão divertido que fará o fã mais chato baixar a
guarda e agitar perante o som de casa. Uma pena que as três baladinhas
colocadas ao final da bolachinha diminuam em muito o impacto, não fossem elas estaríamos
diante de um dos grandes destaques do ano. Ainda assim, um ótimo disco.
Aconselho àqueles que estão desesperados para trocar seus ingressos do festival
Solid Rock após o cancelamento do Lynyrd
Skynyrd (e substituição da banda
pelo Cheap Trick) a dar uma checada nesse disco antes de efetuar a troca. Vocês
podem ter uma grata surpresa!
NOTA:
8,54
Gravadora:
Big Machine Records (importado).
Pontos
positivos: os números mais rockers são absurdamente bons, a voz de Zander está
em dia
Pontos
negativos: as baladinhas quase estragam o poderio do disco
Para
fãs de: AC/DC, Alice Cooper, Mott The Hoople
Classifique como: Hard Rock, Rock, Power Pop
Show, Trevas!
ResponderExcluirO que eu ouvi, aprovei com um sorriso no rosto (mesmo que não seja o ídAlo, Bun E. na batera).
Que venha o LACRIMEJANTE show!
Robin! Robiiiiiiiiiiiiiiiiiiiin! \o/
Valeu, Delacroix!
ExcluirPode escutar sem medo que o disco é quase todo fodão!
Abraço
Trevas
Fico me perguntando se não só a existência desse disco como tb o surpreendente peso não tem um dedo ou uma mão do Dave Grohl... O Nielsen andou participando de discos dos Foo Fighters e o Dave deve ter botado muita pilha (fã bagarái!!).
ResponderExcluirMas realmente o q mais surpreende é a voz do Zander! Qse 70 e rasgando até os zói da gente!!!! Muito bom!!
Só pra fechar, eu curti as mais lentinhas... hahahahaha
Abração!
ML
Fala, Marcellão!
ExcluirPode ser que tenha absolutamente tudo a ver. Não sabia disso, senão teria até citado na resenha hehehehe. Sério, surreal a qualidade e força da voz do Zander. Incomum!!!
Na verdade não achei as lentinhas ruins não, mas o disco estava tão diretaço que elas me deram uma ligeira broxada hehehehhe
Abraço
T