Iron Maiden - Run To The Hills - A Biografia Autorizada - Mick Wall |
Mick Desnuda A Besta
Por
Trevas
Mick Wall
é meu autor favorito no que se refere a biografias do mundo do rock. Sua vasta
experiência junto a revistas como Metal Hammer
Uk e Classic Rock Magazine, dentre outras, desde a década
de 1970, faz com que ele traga a reboque um sem número de entrevistas
realizadas com toda a nata do Rock britânico. E o que diferencia ele da
maioria de seus compadres: Mick tem
uma capacidade ímpar de tornar uma miríade de informações técnicas em uma
narrativa interessante. E o que é melhor, sem nenhum clima de tapinha nas
costas, sua língua é ferina, não caindo no lugar comum da “pelação de saco” de
artistas consagrados. Então quando vi essa biografia, de uma banda geralmente
pouco afeita a abrir seus bastidores ao mundo, corri para as colinas...ooops...
O jovem Mick brincando nas catacumbas com Jimmy Page |
Logo
de início, Mick Wall avisa de bate pronto, com o Iron Maiden o que você
vê é o que tem para ser visto. Não há arroubos de estrelismo ou histórias que
fariam Calígula orgulhoso, apenas caras normais e talentosos que trabalham duro
e acreditam numa visão. E assim começa o livro, centrado na hercúlea missão de
tornar um bando de jovens em uma das maiores forças da natureza da história da
música: A obstinação de Steve Harris, a lealdade canina da banda para
com seu líder, a visão e honestidade de Rod
Smallwood. Tudo muito bem documentado em uma narrativa gostosa e interessante.
Existem episódios
surpreendentes, como a estúpida rusga com o Judas Priest por uma
declaração arrogante feita em tom de brincadeira pelo linguarudo Paul Dianno. O apoio surpreendente de outro linguarudo (Gene Simmons) a uma então emergente e jovem banda. Surpreendente também
se faz o fato do quanto os encontros mais importantes para a banda em seus
primórdios (Rod, Martin Birch) ocorreram de forma quase acidental.
Você está demitido!!! Steev Harris, o sargentão de bom coração e mola mestra do sucesso da Donzela |
Aprendemos
também que a tão incensada NWOBHM de
fato nunca existiu como movimento, não passava de um balaio de gato de bandas
de origens e intenções diferentes, bem semelhante ao Grunge nos anos 1990, e que nem as figuras clássicas envolvidas no
movimento acreditavam nele (nem o mítico Geoff
Barton), e que ele era encarado como
uma espécie de piada por todos (bandas, fãs e imprensa).
Impressiona
a honestidade de Paul Dianno em admitir que estragou por
completo uma chance que milhares de jovens sonhariam em ter. O quanto a loucura
obstinada de seu hiperativo substituto se tornou o elemento essencial para o
salto de qualidade e imprevisibilidade que a banda necessitava para saltar de
uma realidade na Grã-Bretanha para uma das maiores bandas de rock do planeta.
E é justamente no capítulo em que Bruce entra na equação que a já interessante narrativa também ganha um imenso salto de qualidade. A mente criativa e sarcástica do baixinho eleva o pacote repleto de informações históricas importantes, mas até então certinho demais, para algo mais próximo do clássico Eu Sou Ozzy. A diferença é que as estripulias do jovem e arrogante Bruce eram bem menos voltadas para o uso de entorpecentes, ainda que em alguns momentos, até mais perigosas, como quando ele arquitetou uma vingança contra os bullies de seu internato com uma armadilha feita de minas reais.
Iron Maiden, pós retorno |
Talvez
o grande problema com o livro seja o fato de que Bruce e Nicko só
aparecem da metade para o final da narrativa. A época de ouro do Iron Maiden tem muito menos espaço do que os primórdios. Talvez por
representar um período já muito bem explorado em outras obras, não sei. E a
partir daí Run To The Hills decai. Da chegada de Bruce (e o excelente capítulo a ele dedicado) em diante, a narrativa fica bem
menos elaborada, tudo acontece em saltos temporais, sem a profundidade da primeira
metade do livro. E os capítulos finais, já relacionados aos bastidores do
retorno de Bruce e Adrian, além das gravações de Brave New World e Dance of Death, trazem um tom
de adulação incomum às obras de Mick
Wall.
Mas
o que diferencia mesmo a história do Iron
Maiden de outras 789 bandas que
atingiram o estrelato é a postura: todos que um dia já se envolveram com os
caras são unânimes em dizer o quanto eles não tinham as frescuras típicas de
astros do rock, o quanto sempre foram extremamente críticos e profissionais, e
o quanto lutaram contra tudo e todos por acreditar em uma visão. Nenhum
deslumbramento, nenhuma concessão, pode-se gostar ou não do que os caras fazem
até hoje, mas tenha certeza, eles fazem exatamente o que querem.
Sobre
a edição analisada, a tradução é bastante precisa, e salvo alguns erros bem
esparsos de revisão, temos um texto bastante bem trabalhado. Uma pena que a
capa aproveite a péssima arte gráfica de Dance
Of Death, o então mais recente disco da banda.
Temos
em mãos simplesmente o mais completo (ainda que imperfeito) registro da
trajetória da maior banda de Heavy Metal que já existiu.
NOTA: 7,50
Iron Maiden – Run To The
Hills – A Biografia Autorizada
Autor: Mick Wall
Lançamento: Editora Generale
Páginas: 390
Gosto da biografias escritas pelo Mick Wall, mesmo q ele às vezes tenda a dar mais valor a casos nem tão interessantes em detrimento de outros q poderiam ser mais elaborados e explorados - na bio do Zepp, por exemplo, o tempo q ele passa falando de Aleister Crowley e do q parece ser uma picuinha com o falecido John Bonham poderia ter sido aproveitado para contar mais e menores casos, mas nem por isso menos interessantes. De qqr maneira, dos males, é o menor. Eu, como devorador de livros e biografias, já coloquei essa da Donzela na lista de compras.
ResponderExcluirValeu, mzifio!!
Abração!
ML
Fala, Marcellão
ExcluirAcho o melhor dos biógrafos do rock pesado, por saber tornar um punhado de informações que poderiam ser maçantes em narrativas divertidas. O Joel McIver, por exemplo, é uma enciclopédia ambulante, mas os livros deles carecem de fluidez narrativa.
Fato que por vezes Mick também se perca ao definir focos de interesse em situações menores. Mas não é a regra.
Abração
Trevas