sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Iron Maiden: Run to the Hills - A Biografia Autorizada - Mick Wall (Livro - 2014)

Iron Maiden - Run To The Hills - A Biografia Autorizada - Mick Wall

Mick Desnuda A Besta
Por Trevas

Mick Wall é meu autor favorito no que se refere a biografias do mundo do rock. Sua vasta experiência junto a revistas como Metal Hammer Uk e Classic Rock Magazine, dentre outras, desde a década de 1970, faz com que ele traga a reboque um sem número de entrevistas realizadas com toda a nata do Rock britânico. E o que diferencia ele da maioria de seus compadres: Mick tem uma capacidade ímpar de tornar uma miríade de informações técnicas em uma narrativa interessante. E o que é melhor, sem nenhum clima de tapinha nas costas, sua língua é ferina, não caindo no lugar comum da “pelação de saco” de artistas consagrados. Então quando vi essa biografia, de uma banda geralmente pouco afeita a abrir seus bastidores ao mundo, corri para as colinas...ooops...

O jovem Mick brincando nas catacumbas com Jimmy Page
Logo de início, Mick Wall avisa de bate pronto, com o Iron Maiden o que você vê é o que tem para ser visto. Não há arroubos de estrelismo ou histórias que fariam Calígula orgulhoso, apenas caras normais e talentosos que trabalham duro e acreditam numa visão. E assim começa o livro, centrado na hercúlea missão de tornar um bando de jovens em uma das maiores forças da natureza da história da música: A obstinação de Steve Harris, a lealdade canina da banda para com seu líder, a visão e honestidade de Rod Smallwood. Tudo muito bem documentado em uma narrativa gostosa e interessante.

Existem episódios surpreendentes, como a estúpida rusga com o Judas Priest por uma declaração arrogante feita em tom de brincadeira pelo linguarudo Paul Dianno. O apoio surpreendente de outro linguarudo (Gene Simmons) a uma então emergente e jovem banda. Surpreendente também se faz o fato do quanto os encontros mais importantes para a banda em seus primórdios (Rod, Martin Birch) ocorreram de forma quase acidental. 


Você está demitido!!! Steev Harris, o sargentão de bom coração e mola mestra do sucesso da Donzela
Aprendemos também que a tão incensada NWOBHM de fato nunca existiu como movimento, não passava de um balaio de gato de bandas de origens e intenções diferentes, bem semelhante ao Grunge nos anos 1990, e que nem as figuras clássicas envolvidas no movimento acreditavam nele (nem o mítico Geoff Barton), e que ele era encarado como uma espécie de piada por todos (bandas, fãs e imprensa).

Impressiona a honestidade de Paul Dianno em admitir que estragou por completo uma chance que milhares de jovens sonhariam em ter. O quanto a loucura obstinada de seu hiperativo substituto se tornou o elemento essencial para o salto de qualidade e imprevisibilidade que a banda necessitava para saltar de uma realidade na Grã-Bretanha para uma das maiores bandas de rock do planeta.

E é justamente no capítulo em que Bruce entra na equação que a já interessante narrativa também ganha um imenso salto de qualidade. A mente criativa e sarcástica do baixinho eleva o pacote repleto de informações históricas importantes, mas até então certinho demais, para algo mais próximo do clássico Eu Sou Ozzy. A diferença é que as estripulias do jovem e arrogante Bruce eram bem menos voltadas para o uso de entorpecentes, ainda que em alguns momentos, até mais perigosas, como quando ele arquitetou uma vingança contra os bullies de seu internato com uma armadilha feita de minas reais.


Iron Maiden, pós retorno


Talvez o grande problema com o livro seja o fato de que Bruce e Nicko só aparecem da metade para o final da narrativa. A época de ouro do Iron Maiden tem muito menos espaço do que os primórdios. Talvez por representar um período já muito bem explorado em outras obras, não sei. E a partir daí Run To The Hills decai. Da chegada de Bruce (e o excelente capítulo a ele dedicado) em diante, a narrativa fica bem menos elaborada, tudo acontece em saltos temporais, sem a profundidade da primeira metade do livro. E os capítulos finais, já relacionados aos bastidores do retorno de Bruce e Adrian, além das gravações de Brave New World e Dance of Death, trazem um tom de adulação incomum às obras de Mick Wall.

Mas o que diferencia mesmo a história do Iron Maiden de outras 789 bandas que atingiram o estrelato é a postura: todos que um dia já se envolveram com os caras são unânimes em dizer o quanto eles não tinham as frescuras típicas de astros do rock, o quanto sempre foram extremamente críticos e profissionais, e o quanto lutaram contra tudo e todos por acreditar em uma visão. Nenhum deslumbramento, nenhuma concessão, pode-se gostar ou não do que os caras fazem até hoje, mas tenha certeza, eles fazem exatamente o que querem.

Sobre a edição analisada, a tradução é bastante precisa, e salvo alguns erros bem esparsos de revisão, temos um texto bastante bem trabalhado. Uma pena que a capa aproveite a péssima arte gráfica de Dance Of Death, o então mais recente disco da banda.
Temos em mãos simplesmente o mais completo (ainda que imperfeito) registro da trajetória da maior banda de Heavy Metal que já existiu.


NOTA: 7,50


Iron Maiden – Run To The Hills – A Biografia Autorizada
Autor: Mick Wall
Lançamento: Editora Generale
Páginas: 390











2 comentários:

  1. Gosto da biografias escritas pelo Mick Wall, mesmo q ele às vezes tenda a dar mais valor a casos nem tão interessantes em detrimento de outros q poderiam ser mais elaborados e explorados - na bio do Zepp, por exemplo, o tempo q ele passa falando de Aleister Crowley e do q parece ser uma picuinha com o falecido John Bonham poderia ter sido aproveitado para contar mais e menores casos, mas nem por isso menos interessantes. De qqr maneira, dos males, é o menor. Eu, como devorador de livros e biografias, já coloquei essa da Donzela na lista de compras.
    Valeu, mzifio!!
    Abração!
    ML

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Fala, Marcellão
      Acho o melhor dos biógrafos do rock pesado, por saber tornar um punhado de informações que poderiam ser maçantes em narrativas divertidas. O Joel McIver, por exemplo, é uma enciclopédia ambulante, mas os livros deles carecem de fluidez narrativa.
      Fato que por vezes Mick também se perca ao definir focos de interesse em situações menores. Mas não é a regra.
      Abração
      Trevas

      Excluir