quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Blaze Bayley - Endure And Survive (Cd-2017)

Blaze Bayley - Endure And Survive

Resistindo e Sobrevivendo
Por Trevas

Continuação da saga conceitual iniciada ano passado com o bom Infinite Entanglement, Endure And Survive é um título bastante apto para uma eventual biografia do desafortunado artista britânico conhecido como Blaze Bayley.

Após um breve interlúdio de vozes e sons espaciais, a faixa título nos entrega o que se espera do rotundo vocalista, um Heavy Metal direto ornado com um ótimo refrão amplificado pela poderosa voz do patrão. Os exageros da primeira parte da saga estão presentes, sobre as vezes de corais e orquestrações, mas menos evidentes na mixagem.



O senso de urgência se segue nas ótimas Escape Velocity e Blood, que põe o ouvinte a se perguntar: se Blaze tivesse escrito coisas assim no Iron, teria ele sido expurgado da banda? Difícil.


Por falar na Donzela, a boa Eating Lies é a cara da banda, e Blaze a canta com o coração na garganta. Destaque também para os riffs e harmonias da guitarra de Chris Appleton, que assina junto ao patrão quase todo o material da bolachinha, parceria responsável também pela cristalina produção.




As boas e poderosas Destroyer e Dawn The Dead Son mantém a pegada mais forte e direta dessa continuação...mas aí aparece Remember para me fazer lembrar (oops) o resultado patético que os números acústicos trouxeram ao disco anterior. Para nossa sorte, até que não ficou tão ruim dessa vez, graças a um arranjo mais cheio e trabalhado. Ainda assim, não apostaria nesse caminho numa nova oportunidade, ok, Mr. Bayley?


Blaze provavelmente escolhe seus colegas pelos atributos físicos...


Ufa, a ótima Fight Back traz o disco de volta aos trilhos metálicos de onde jamais deveria ter saído. The World Is Turning The Wrong Way é até legal, mas vai embora sem chamar tanto a atenção. A saga se encerra momentaneamente com os oito minutos da épica e bonitinha Together We Can Move The Sun.


Veredito da Cripta

Mais direto e melhor acabado que seu antecessor, Endure And Survive é daqueles discos de Heavy Metal que mostram o quanto Blaze poderia ter rendido mais nos microfones da Donzela se a ele fosse dado espaço e tempo. Eu disse espaço e tempo? Pois então, falta o capítulo final dessa trilogia de ficção científica, e se ela seguir o salto de qualidade que vimos da primeira parte para a segunda, poderemos estar de frente a um dos melhores discos da carreira do gorducho. Pois esse Endure And Survive já é muito bom!


NOTA: 8,31


Gravadora: Dynamo Records (importado).
Pontos positivos: direto e cheio de enrgia
Pontos negativos: alguém avisa ao Blaze que esse formato com cordas não funciona, por favor...
Para fãs de: Iron Maiden
Classifique como: Heavy Metal





domingo, 26 de novembro de 2017

Black Country Communion – BCCIV (Cd-2017)

Black Country Communion - BCCIV
O Retorno do Quarteto Fantástico
Por Trevas

“Eu sou fã dessa banda. Tão fã que se eu não fizesse parte dela, iria querer fazer”. Com essa frase (tradução livre por este que vos fala) Glenn Hughes, 65 anos muito bem vividos, muitos deles de serviços prestados ao Rock, define bem à Classic Rock Magazine seu comprometimento com o Black Country Communion. O supergrupo, que conta com o maior expoente do Blues Rock da atualidade, o workaholic Joe Bonamassa, o pistoleiro de aluguel Derek Sherinian (Dream Theater, Kiss, Alice Cooper, dentre outros zilhões) e o “filho do homem” Jason Bonham (UFO, Foreigner, Led Zeppelin), quase implodiu diante do choque de prioridades entre as duas estrelas maiores dessa impressionante constelação. 
Em 2012, Hughes pressionava por mais um disco e turnê da banda. Bonamassa, excursionando e gravando incessantemente desde os 20 anos de idade, começara a pagar o preço de seu inexplicável e estrondoso sucesso: “Pensei em largar tudo e virar jardineiro, simplesmente não aguentava mais”. O embate ganhou as redes sociais e imprensa. Palavras amargas foram ditas, o terceiro disco foi finalizado (Afterglow, muito mais próximo a um esforço solo de Hughes), a turnê subsequente, cancelada. E parecia o fim definitivo de um dos melhores supergrupos que o mundo já viu. 
Parecia.

O quarteto, na capa da Classic Rock Magazine

A despeito de Hughes e Bonamassa aos poucos terem retomado a amizade e trocarem elogios e conversas nas mídias sociais, foi com imensa surpresa que recebi a informação de que o quarteto, novamente produzido por seu mentor, o sul-africano Kevin Shirley, estava unido e gravando um novo disco. BCCIV veio à tona, com sua capa dessa vez ornada por um outro tipo de ave, uma fênix. Nada mais propício. Confesso que ao escutar a faixa de abertura, Collide, a primeira música de trabalho do disco, não fiquei lá muito empolgado. Excelentemente bem produzida e muito bem tocada, a faixa apenas parecia um pouco...preguiçosa.



Over My Head, claramente feita para se tentar replicar o sucesso de One Last Soul, já funciona melhor, com um refrão irresistível. Mas o negócio fica realmente fenomenal com a épica e bela The Last Song For My resting Place, graças à performance vocal e guitarrística estelar de Joe e a presença de um bem colocado violino.



Só que a empolgação logo cai por terra com a apenas razoável Sway, algo repetitiva e com um refrão fraco que parece com 789 coisas que mr. Hughes fez e continua fazendo em sua por vezes errática carreira solo. Para nossa sorte um pequeno deslize, compensado com sobras pelo blues sorumbático The Cove, com Hughes ressuscitando uma performance vocal mais grave, daquelas que ele infelizmente vem abandonando em seu período pós From Now On para cantar a desafortunada história da matança de golfinhos. Uma saga de horror que se repete a cada ano, deixando os mares vermelhos de sangue e ganância. E aí resta aos mortais se curvarem a um dos grandes mestres da voz. E a cozinha, repleta de dinâmica e bons arranjos, e os solos carregados de timbres gordos e fúria, só coroam a bela performance do sessentão. Que música linda e cheia de alma.



The Crow é outra faixa mais direta, uma filha bastarda de Black Country, do primeiro disco. Mas uma filha muito bem-feita e raivosa. Feita para homenagear o corvo que se tornou símbolo da banda, possui um forte refrão, com a voz de Hughes novamente centro o centro das atenções. Por que diabos ele não canta sempre assim? E há espaço para a sua destreza no baixo brilhar, tal qual para um duelo bacana entre Joe e Derek. Excelente!

Quatro almas em comunhão musical - BCC 2017


Wanderlust traz um punhado de melodias palatáveis e arranjos mais próximos aos anos 1980 do que o usual para a banda. Love Remais é um balaio de eras e influências diversas que funciona muito bem e se faz diferente de tudo que a banda já fez. Awake parece bastante inspirada em Yes, e aí temos o Glenn atual de volta, num refrão sem muita inspiração. Mas a música vale pelo devaneio instrumental, com todos os músicos brincando loucamente. A bolachinha tem seu fim na belíssima e épica When the Morning Comes, que aproveita, ainda que de forma algo tímida, o pouco explorado contraste entre as grandes vozes de Glenn e Joe.  


Veredito Final

O BCC retornou com seu trabalho mais diversificado e bem produzido, repleto de alma e muito punch. Mas de nada isso valeria se as canções não estivessem à altura. E, graças aos deuses do rock, elas estão. Um Cd para rivalizar com o BCC 2 como o melhor disco desse supergrupo que faz valer a soma de suas partes! Um dos grandes trabalhos desse bem provido 2017!


NOTA: 9,20


Gravadora: J & R Adventures (importado).
Pontos positivos: produção perfeita e ótimas músicas
Pontos negativos: Sway e Awake destoam. Podiam explorar melhor os dois vocais diferentes.
Para fãs de: Deep Purple, Led Zeppelin
Classifique como: Retro Rock, Classic Rock, Hard Rock



quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Kadavar – Rough Times (Cd-2017)

Kadavar - Rough Times

Power Trio Alemão Na Pressão
Por Trevas

A história da música popular conta com uma miríade de depoimentos de artistas que colocam a culpa do insucesso ou da baixa qualidade de alguns de seus trabalhos na conta da pressão sofrida por gravadoras e/ou empresários, que ávidos por aproveitar uma janela de oportunidades, apressam seus pupilos a soltar uma música ou até mesmo um disco em tempo recorde. Ok, se tem algo na atual nova ordem do mercado musical que mudou foi a quase inexistência desse cenário. Afinal, discos já não vendem nada, mesmo. Mas eis que vem um Power Trio de Retro Rock alemão, com absoluto controle criativo que resultou em três incensados discos, e que resolve emular essa atmosfera de pressão para apostar em um resultado mais espontâneo e mais distante de sua zona de conforto. Loucura? Parece, mas é o caminho que o Kadavar escolheu para seu quarto disco, sintomaticamente nomeado Rough Times.

Kadavar em technicolor
Composto e gravado do zero no recém-inaugurado estúdio próprio da banda, tendo que obedecer um cronograma apertado, Rough Times foi concebido em meio ao caos para se tornar um contraponto ao relativamente acessível e muito bem-sucedido Berlin. A crueza da faixa título, com seu tema viciante guiado por uma cozinha boçal (culpa do baterista Tiger Baltelt e do baixista Simon Bouteloup) nos soca no meio do estômago sem nem percebermos. Em seguida temos a absurdamente excelente Into the Wormhole (vídeo), tão grudenta quanto suja e lisérgica.


Skeleton Blues é Black Sabbath do Vol 4 mergulhado em um tonel de ácido, enquanto Die Baby Die (ver vídeo) se faz um híbrido horrendo e eficaz entre Prog Rock e Stoner Rock. A bateria marcada e calma do início de Vampires nos pega de surpresa, a música dando uma retorcida violenta em seu ótimo refrão e que acaba por nos arremessar diretamente em um vendaval psicotrópico chamado Tribulation Nation. Tribulation foi composta em casa pelo tresloucado guitarrista/vocalista Lupus, que queria deliberadamente criar um Space Rock com elementos de Gong e com sintetizadores à lá Hawkwind. Conseguiu, e o bicho é bom demais.



Words of Evil é diretona e bem Proto Metal, e talvez por isso mesmo seja a primeira coisa abaixo do nível absurdo do material até agora mostrado. A reta final do trabalho é intencionalmente mais calma e experimental, guiada pela bela e viajandona The Lost Child e pelas chatinhas You Found The Best In Me (que lembra algo do Led) e A L’Ombre Du Temps. A edição nacional ainda conta com uma suja e bacana versão para Helter Skelter, vocês sabem de quem, claro.



Veredito da Cripta

E não é que a pressão funcionou? O Kadavar criou em Rough Times seu trabalho mais forte até o momento, ainda que sua reta final soe um pouco anticlimática. Uma pista de que os alemães talvez ainda tenham sua obra prima escondida em algum lugar daquelas cacholas desmioladas.



NOTA: 8,69


Gravadora: Shinigami Records (nacional).
Pontos positivos: a primeira metade é absurda
Pontos negativos: as duas últimas músicas quebram e muito o clima
Para fãs de: Graveyard, Vintage Caravan, Radio Moscow
Classifique como: Retro Rock, Stoner Rock




terça-feira, 21 de novembro de 2017

Shows de Novembro: Vimic + Megadeth + Accept + Zakk Sabbath

Vimic + Megadeth +Accept + Zakk Sabbath

Olá, Criptomaníacos!
Bom, infelizmente devido à crise que assola o Estado do Rio de Janeiro, e sendo eu um dos muitos servidores que vivem um ano complicado repleto de salários atrasados, definitivamente tive que me alijar de assistir uma penca de grandes shows que por aqui pintaram. Mas não seja por isso, o grande Freddy Krill, nosso enviado especial da Cripta, esteve em todos eles e vem aqui contar tudo para vocês. Divirtam-se!!   
Abraço
Trevas


Convidado da Cripta: Freddy Krill


Biólogo e Maidenmaníaco, Krill testemunhou mais shows nessa existência do que você comeu meleca na sua infância, e isso merece respeito. 

Nas horas vagas, Mr. Krill é um renomado e dedicado professor cujo humor e peso da mão na correção de provas variam consideravelmente de acordo com o que está rolando no aparelho de som.




SOBRE NOVEMBRO E SHOWS NO RIO

Não é novidade que o Rio há muito se tornou escala alternativa para MUITAS produtoras de shows de Rock/Metal (valeu e “OBRIGADO”, povo rockêro-redbênzi!...). Mas estes últimos meses têm sido (estão sendo) atípicos! Ainda que tenhamos ficado de fora do circuito de algumas bandas (King Diamond, Helloween, Hammerfall e Anthrax, sobretudo), tivemos ótimos shows aqui! Cito CINCO, na sequência de apresentação: Vimic / Megadeth, Metalmorphose, Accept & Zakk Sabbath! Esta resenha versará apenas sobre os gringos...

1.          VIMIC / MEGADETH (VIVO RIO, 01/11/2017)

a)         VIMIC: NUNCA fui (ou serei) fã do Slipknot. As a matter of fact, quando se apresentaram no RiR 2011, fui me deitar na grama (sintética) da Cidade do Rock... Também, depois de Matanza, Korzus, Angra, Sepultura, Coheed & Cambria e MOTÖRHEAD (meu último deles, snif snif...), como é que eu estava??? Então optei por ficar apenas ouvindo aquela “muralha” (oops!) polissônica que não me emociona (Sorry lovers / Hello haters)! Mas por que falar deles? Porque a saída/demissão/expulsão de Joey Jordison da banda será sempre algo mal e/ou não devidamente explicado. Assim sendo, saber da inclusão do Vimic como banda de abertura do Megadeth não me disse nada. Não sabia o que esperar...
A convite da @eventimbrasil (produtora do evento), adentramos o Vivo Rio com a expectativa nas alturas! Eram 20h (EM PONTO) quando Jordison (D) e seus asseclas (Jed Simon / Steve Marshall [G], Kyle Konkiel [B], Matt Tarach [KB] e o super-albino Kalen Chase [V]) tomaram o palco. Sua música tem (e não poderia ser diferente!) toques da ex-banda de Joey (que é um excepcional baterista!), mas, honestamente??? NÃO CONSEGUI CURTIR!!! As músicas têm andamentos esquisitos, com diversas “quebradas” de tempo... Na hora em que você acha que “vai”... NÃO VAI!!! O público (ainda reduzido) tratou o batera com reverência e (a banda com) respeito, mas o fato de ainda não terem lançado seu álbum de estreia e um show apenas morno (apesar de uma hora de duração), com músicas desconhecidas, contribuiu para certa indiferença... (este escriba incluso!).


Vimic (foto por Krill)
b)         MEGADETH: Desde que aterrissaram no RiR 1991, com a formação do Rust in Peace (Mustaine / Ellefson / Friedman / Menza – aclamada como a melhor da história da banda), que de forma mais ou menos contínua ela vem ao Brasil. Sua última passagem aqui foi em 2013, como banda de abertura do Black Sabbath (Apoteose), ainda com Shawn Drover (D) e Chris Broderick (G), que saíram logo após. A escalação de Kiko Loureiro (G, ex-Angra) e Dirk Verbeuren (D, ex-Soilwork) como membros efetivos trouxe certo entusiasmo em ver como seria sua “enésima” encarnação!
Eram 21:30h (sim, EM PONTO!) quando o telão passou sua tradicional abertura e, logo após, ladeados por algumas dezenas de fãs do Meet and Greet, Dave Mustaine e trupe adentraram o recinto, descascando logo de cara Hangar 18 que, na minha opinião, não fosse Holy Wars, ganharia o título de “melhor-música-best-of-de-todos-os-‘times’-do-RiP”! Calcando seu set no novo CD, levaram The Threat is Real, Conquer or Die!, Lying in State e a faixa título Dystopia, além daquelas “çuper-crássicas-crasse-A” que não podem faltar: Wake Up Dead, In My Darkest Hour, A Tout Le Monde, Symphony of Destruction e Peace Sells, ladeadas pelas excepcionais Take No Prisoners, Sweating Bullets (é muito comédia ver Mustaine conversando com ele mesmo!), Tornado of Souls e a apenas esforçada Trust (dava pra colocar outra melhor no lugar...). De MUITO espantoso veio Mechanix (provando que Mustaine deixou no passado suas diferenças com o Metallica – ou será que não e nunca???)...
Os novatos Dirk e Kiko provaram ter sido ótimas escolhas, ainda que o Brasileiro esteja contido, com pouca participação junto à galera, que o ovacionava de forma enlouquecida! Num show direto, mas curto (1:30h de duração), a volta teve como único bis a óbvia Holy Wars... The Punishment Due, que levou o público ao êxtase! De forma simpática, mas sem muitas firulas, bye bye Rio!

Dave Megamorte e sua trupe (foto por Krill)
2.          ACCEPT (TEATRO RIVAL, 11/11/2017)

Sabe aquelas bandas que você acha que NUNCA conseguirá ver aqui? Pois é. Para mim, o Accept SEMPRE teve essa aura! Nas suas idas e vindas, ao longo de seus 40 anos (!) de carreira, com intermináveis e inesgotáveis “brigas e pazes” com o baixinho Udo Dirkschneider, já tinha me conformado com o inevitável. Mas eis que... Udo’s OUT, Mark Tornillo’s IN e... ACCEPT NO BRASIL (abrindo para o Judas Priest, num abarrotado Vivo Rio [23/04/2015] e Imperator [09/04/2016])!! Shows irrepreensíveis, com uma banda afiada, que resiste ao tempo no “núcleo duro” composto por Wolf Hoffman (G/V, o melhor clone de Bruce Willis que você verá na sua Vida!) e Peter Baltes (B/V), aliados ao já citado Tornillo (V, ex-TT Quick), Uwe Lullis (G/V, ex-Grave Digger / Rebellion) e Christopher Williams (D/V, ex-Kid Rock, Blackfoot & War Within). E foi assim que vieram para sua terceira apresentação no RJ, divulgando seu novo CD (o primeiro com a nova formação). Na fila (pequenina), algumas questões: o quanto de público compareceria? (O Rival comporta apenas metade de público do Imperator, onde o show já fora um tanto esvaziado) e, pior... Haveria? O de Fortaleza fora cancelado (por problemas no avião/aeroporto)... Mas daí encostou uma van e saltaram os cabruncos!

Bruce Willis teutônico, Baltes, Lullis e tio Parafuso

Lá dentro, a espera durou mais que deveria... Mas às 21:30h o pano que cobria a bateria foi retirado, e Christopher recebeu os aplausos dos cerca de 300 (!) abnegados presentes. Logo em seguida, vieram os demais (num palco diminuto, dada a cenografia da banda) e largaram, de cara, Die by the Sword, emendando com Stalingrad (poderosa, ao vivo!) e as clássicas Restless and Wild, London Leatherboys e Livin’ for Tonite. Do novo álbum, e seguindo sua sequência vieram a faixa título The Rise of Chaos, Koolaid, No Regrets e Analog Man. A partir daí, Final Journey e Shadow Soldiers se apresentaram como novas clássicas (JÁ VIRARAM!), mas é claro que o povo quer as “Udonianas”: Neon Nights, Princess of the Dawn, Midnight Mover, Up to the Limit e Objection Overruled provaram que Tornillo não é “apenas mais um baixinho com voz de pato rouco”, mas que calçou os sapatos do Udo e os remoldou em seus próprios pés, sem deixar dúvidas sobre sua competência nem saudades do Urtigão Ranzinza (pleonasmo vicioso, eu sei!). Pandemic veio destruindo, mas... O ano foi 1982. O termo Heavy Metal, supostamente cunhado vinte anos antes por William S. Burroughs abrangia toda uma gama de sons altos, distorcidos e aparentemente relacionados ao que o Black Sabbath fazia desde 1968... Mas ao se colocar o LP “Restless and Wild” para tocar fomos (e somos) brindados com a curiosa abertura de uma música folclórica alemã, seguida pelo inconfundível som da agulha raspando no vinil e um berro de assustar (lembra do ano?), seguido da música que reputo como a primeira canção de thrash metal da história!: Fast as a Shark, que ao vivo assume contornos assustadores, de tanta força, energia e violência que libera!!! Pausa para um breve descanso, e a volta vem com Metal Heart, Teutonic Terror e a infalível Balls to the Wall!! Na saída, os sorrisos da banda, aliados àquele calorzinho “gostoso” do Rio pré-verão diziam como eles se sentiam... O bom do Accept é que se você não conhece as letras fazer um ÔÔÔÔ já ajuda, e bastante! O carisma, presença de palco, talento e coreografia da melhor banda teuto-americana do mundo faz o resto! Que voltem logo, porque ficamos otimamente bem acostumados!

Teutonic Terror

3.          ZAKK SABBATH (CIRCO VOADOR, 17/11/2017)
Com o “The End” dos mais longevos dinossauros do Heavy Metal, abriu-se uma lacuna que jamais será fechada. Não há banda nesta Terra plana (Planeta – ironic feelings!) que possa fazer o que o Black Sabbath fez. E PONTO! Então, só nos restará, doravante, ver/ouvir seus CDs / DVDs e pior: “aturar” os clones/repetidores/imitadores do BS (EU MESMO participo, como vocalista (se o Ozzy pôde, por que não este escriba?), de uma bagaça dessas)!
Assim, foi sem espanto que no início deste ano soube que Zakk Wylde (G/V, Ozzy Osbourne / Black Label Society), Rob “Blasko” Nicholson (B, ex-Rob Zombie / Ozzy Osbourne) e Joey Castillo (D, ex-Danzig / QOTSA) montaram um projeto, singelamente nomeado Zakk Sabbath. Convenhamos: QUEM TEM MAIS MANHA que Zakk de colocar algo assim pra funcionar? Guitarrista de longa data do Quiropterófago Dislálico e tour-partner dos pais do Heavy Metal... O vídeo de War Pigs me convenceu que havia ali algo espontâneo e forte, ainda que apenas um projeto, já que o BLS está plenamente ativo, e ele voltou a tocar/gravar/excursionar com o Madman. Blasko é um monstro nas quatro cordas, e Joey (que vi com o Danzig no Imperator, num distante 22/06/1995 [lembrem-se de que o Trevas afirmou que já vi mais shows do que melecas foram comidas por muita gente ao longo da Vida!...]) é um baterista fenomenal!
Ao saber que o ZS viria ao Brasil, e melhor, ao Rio e, muito mais melhor de bom ainda, ao Circo Voador, comprei meu ingresso sem pestanejar! Sabia que não há como dar errado juntar músicos como os três com a música inspiradora e atemporal do Black Sabbath!

Trio Urtigão (foto por Krill)

Adentrei o solo sagrado da música carioca/brasileira e de imediato colei logo o quanto pude junto ao palco. Em apenas 30min de casa aberta já havia cinco filas de camisas pretas à minha frente! Mas isso seria temporário, como todos que vamos a shows de metal sabemos... Às 21:35h aquela indefectível introdução de chuva, raios e sinos dizia que... O MONSTRO estava ali! Empunhando de imediato uma belíssima Gibson Les Paul Custom Signature roxa (que ao longo do show trocou por outras iguais), Zakk e seus comparsas assomaram ao palco, iniciando a debulhação de imediato com a trinca Supernaut / Snowblind / A National Acrobat! Na voz, Zakk emula muito bem o “Patrão”, além de ter cartazes plastificados com as letras abaixo dele, que eram trocados por seu roadie particular a cada música! Nos solos, ele abusa de sua técnica e “fritação”, tocando com a guitarra por trás da cabeça (diversas vezes ao longo do show!) alongando-os de maneiras que Tony Iommi, soberbo e preciso em sua economia, jamais pensou fazer! Mas e daí? Era Sabbath, PORRA! À essa altura, a galera sedenta queria algo mais visceral, que veio na forma de Children of the Grave e aí o Inferno abriu suas portas! Aquele “calorzinho bom” se transformou numa sauna fedegosa, com a abertura de uma roda carniceira! A pista, que estava muito cheia se tornou local para bravos e/ou insanos, por que a porradaria estancou, e dicumforça! PRA PIORAR, Zakk desceu ao fosso, onde ficou tocando por infindáveis minutos (com a guitarra por trás da cabeça!), e jogando sua palheta para a pista, fazendo metade dela espremer os próximos à grade (eu incluído, obviamente!)... Sem pausa, vieram Lord of This World, Under the Sun / Everyday Comes and Goes e uma improvável (e inesperada) Wicked World! O entrosamento entre os três fazia com que bastasse um rápido olhar para trocarem de música! Fairies Wear Boots foi emendada direto com Into the Void!! Soberbo!! Espetacular!! Hand of Doom trouxe a apresentação dos músicos, seguida por Behind the Wall of SleepBassicallyN.I.B. Mais descidas de Zakk ao fosso, mais debulhação por trás da cabeça, mais espremeção... TUDO NORMAL!!!

Blasko (foto por Krill)

Sem ser exatamente um bis, pois a banda não se retirou, as luzes se apagaram para começar aquela sirene de ataque aéreo, que prenuncia War Pigs, executada de forma crua (Zakk solou com os dentes!), e o coro do Circo Voador estremeceu a velha lona (veja nos links dos vídeos). Ao final do espetáculo, uma faixa homenageando Dimebag Darrel foi lançada ao palco e exibida pela banda, sob estrondosos aplausos! Aquela gorilice de praxe do Zakk e lá se foram eles...


Zacarias "Ursão" Selvagem (foto por Krill)


É lógico que jamais imaginaria Mr. “Goes Wylde” tentando cantar algo das outras fases do BS, mas ficou um gostinho azedo de “quero mais”, já que nos USA tocaram Never Say Die (a melhor faixa desprezada do igualmente desprezado álbum!) e não fizeram clássicos icônicos como Sympton of the Universe, Black Sabbath, Iron Man e o hino dos hinos Paranoid...

Set: https://www.setlist.fm/setlist/zakk-sabbath/2017/circo-voador-rio-de-janeiro-brazil-73e0e231.html










P.S.: Digno de nota é o fato de que no mesmo dia e hora, a poucos metros do Circo, o Obituary se apresentou no Teatro Odisseia (uma banda que AINDA não tive chance de ver, mas Sabbath supera tudo)!
É isso, espero que tenham gostado de ler, assim como gostei de escrever! E, mais uma vez, obrigado ao Trevas pela oportunidade!
Freddy Krill.

domingo, 19 de novembro de 2017

Pallbearer – Heartless (Cd-2017)

Pallbearer - Heartless

O Som Progressivo da Desesperança
Por Trevas

A estadunidense Pallbearer, banda fundada em 2008, vem sendo saudada como a linha de frente da nova geração do Doom Metal. Desde seu primeiro Ep, a cada lançamento o quarteto vem marcando presença nas listas de melhores discos do ano, em meios de comunicação tão dispares quanto a Decibel, Spin ou até mesmo no New York Times. Tudo isso fazendo discos com músicas longas repletas de melodias depressivas e riffs monolíticos. Em meio a tanto alarde, e com a banda escalada para fazer a abertura da tour europeia do Paradise Lost, fui conferir o terceiro Full Length dos caras, Heartless, que traz a bela e desoladora pintura a óleo do californiano Michael Lierly como capa (ver vídeo).




Desoladora e bela é a abertura com I Saw The End (ver vídeo), uma quimera musical que deve tanto ao Katatonia atual e Kyuss, quanto à Black Sabbath clássico e My Dying Bride.


Ao contrário do que se faz costumeiro na cena Doom de qualquer era, o quarteto, que produz a própria bolachinha em meio estritamente analógico (ou ao menos é o que dizem) aposta em um som limpo e claro. O peso reside apenas nos riffs e temas das harmonias das guitarras de Devin Holt e Brett Campbell, como em Thorns (ver vídeo), que traz um clima funesto e grudento. Da mesma maneira é tratada a voz de Brett, limpa, algo despojada e lamurienta, naquela linha que faz os amantes de Ozzy delirar. A cozinha composta pelo baterista Mark Lierly (irmão do pintor da arte de capa) e pelo baixista Joseph Rowland também aposta em linhas menos monolíticas e algo setentistas, mas não menos pesadas.


E se as duas primeiras faixas trouxeram um som relativamente mais direto que o usual para o bestiário da banda, a belíssima A Lie Of Survival trata de inaugurar a ala mais épica e viajante da bolachinha, com belos solos despejados sobre uma base etérea ornada pelas camas de sintetizadores do baixista e compositor, Joseph Rowland.


Uma levada de bateria nada metálica abre a aparentemente progressiva Dancing In Madness, mais uma a trazer cascatas de belos solos em clima viajante até que um riff algo fúnebre e vocais psicodélicos tomem nossos ouvidos. E então a música se transforma, seus dentes agudos e retorcidos momentaneamente expostos em meio a vozes que lembram Mastodon e a guitarras sujas e agressivas. Somos arremessados logo em seguida de volta ao som etéreo, que só prepara terreno para um final apoteótico e emocionante. Tudo isso em 11 minutos que nem se fazem sentir. Talvez aí resida a mágica da banda, enfim.

Pallbearer

Elementos mais tradicionalmente Heavy Metal nas guitarras aparecem aqui e acolá em Cruel Road, primeira das sete faixas a trazer um refrão explícito. E aqui somos apresentados novamente a uma pegada mais agressiva (mas não tão eficaz) em alguns vocais. Ainda assim, uma música de respeito e que se encaixa perfeitamente na fluidez do disco. Quase que de imediato a faixa título aparece, numa linha similar à abertura, com belas melodias que devem muito mais ao Rock Progressivo que ao Metal.


A Plea For Understanding, do alto de seus 13 minutos, é o épico maior do disco. Uma espécie de improvável elo perdido entre Doom Metal e Pink Floyd, e bem menos desesperançosa em sua letra que suas colegas, essa música por si só já valeria a audição de toda a bolachinha. Uma verdadeira obra de arte.



Veredito da Cripta

Chamar o novo direcionamento de uma aposta desonesta em um caminho mais comercial parece imensa sandice. O material aqui presente é de uma melancolia densa feito piche. E se as melodias parecem agradáveis demais aos ouvidos, em muito isso se deve à qualidade das mesmas, e não na aposta em clichês de fácil assimilação. Um disco excepcional, que transpõe a alma do Doom Metal para uma atmosfera por vezes etérea, por vezes lúgubre, mas sempre bela – para então criar uma identidade capaz de transcender gêneros musicais.


NOTA: 9,58


Gravadora: Nuclear Blast (importado).
Pontos positivos: temas longos, melancólicos e pesados que assim se fazem sem que nos demos conta
Pontos negativos: os Troozões podem achar limpo demais
Para fãs de: My Dying Bride, Katatonia, Opeth
Classifique como: Doom Metal, Prog Rock