Boa noite, Criptonianos!
Esse 2016 está nos alimentando com uma miríade (a palavra de hoje é: miríade!) de shows e festivais, para todos os gostos...mas não para todos os bolsos. Infelizmente o alto preço dos ingressos fazem de nosso planejamento uma verdadeira Escolha de Sofia. Cada escolha, uma renúncia (Meo Deos, posso até escrever livro de auto ajuda depois dessa).
E esse foi o caso com o show do Sisters. Tive que deixar passar...
Mas para isso servem os amigos, ora bolas. Sim, teremos convidado na Cripta, e o de hoje é um cara que além de extremamente boa praça e inteligente, é uma verdadeira enciclopédia musical. E melhor, conhece muito de bandas que normalmente passam desapercebidas pelos radares dos Roqueiros mais tradicionais.
Ah sim, e o cabrunco escreve muito. Pois então, divirtam-se com uma daquelas resenhas que fazem quem esteve no show reviver cada momento...e que fará doer os cotovelos daqueles que não estiveram lá no Vivo Rio...ui
Com Vocês, o grande Claudio Borges!
Abraço
Trevas
p.s.: Fica aqui meu muito obrigado à Alessandra Tolc pelas fotos!!!
Convidado da Cripta - Claudio Borges:
Um jornalista fanático por música, colecionador de vinil, crítico de araque que odeia solos em shows.
The Sisters Of Mercy - Summer Tour 2016 (18/09/2016 - Vivo Rio - rio de Janeiro/RJ)
texto por Claudio Borges
Fotos pela sempre fantástica Alessandra Tolc
Andrew Eldritch sorri. Um esgar de satisfação pelo ótimo
show da sua banda em solo carioca. A terceira passagem do Sisters of Mercy pelo
Rio de Janeiro (quinta no país) animou e saciou quem se dispôs a encarar um
domingo chuvoso.
Clima londrino do lado de fora, dentro não foi diferente.
Imersos em densa fumaça, Eldritch (cantor e fundador), Ben Christo (guitarra e
backing vocals), Chris Catalyst (guitarra e vocais) e Ravey Davey (a
“enfermeira” do Doktor Avalanche – nome dado à bateria eletrônica) assumem seus
lugares e disparam “More”. Climática e pesada ela dá o tom do que seria a
apresentação.
O Sorriso do Lagarto (foto por Alessandra Tolc) |
Se o grupo formado em
1980, na cinzenta Leeds (Inglaterra), deu o pontapé inicial no subgênero Gothic
Rock, a versão atual alia, à perfeição, peso com climas sombrios. Sua
influência não se limita aos artistas mais góticos e se estende por grupos tão
distintos quanto Kreator, Paradise Lost, Type O Negative, In Extremo e Cradle
of Filth.
A primeira leva de músicas foi extraída do último
álbum do grupo, Vision Thing (1990).
Desde então, o Sisters se concentra em tocar novas composições nos shows.
“Crash and Burn” é uma dessas apenas registradas em bootlegs (gravações de
shows lançadas sem a autorização dos artistas). Ela encaixa com maestria junto
às mais antigas, como “Body Electric” e “Alice”, devido à dinâmica imposta no
palco.
Mr. Catalyst e suas costeletas (Foto por Alessandra Tolc) |
Sem falas entre as músicas, o público não consegue respirar
diante da sucessão de petardos. “No Time To Cry” e “Marian”, dois clássicos do
antológico álbum First and Last and
Always (1985), trazem de volta o clima discoteca de vampiros. Espremida
entre duas “novas” (“Arms” e “Summer”, que não fariam feio em Vision Thing), “Dominion/Mother Russia”
provoca uma explosão de vozes erguidas em uníssono. Eldritch
emite sua ainda poderosa voz em sussurros góticos
entremeados por gritos idiossincráticos.
Mesmo sem a aparência de outrora, seu carisma e magnetismo o colocam no
centro das atenções com seus gestuais robóticos e um quê de nosferatu moderno.
A
ótima iluminação cria ambientes de verde, amarelo, azul e vermelho para que
feixes de luz recortem silhuetas. O teatro fantástico criado para emoldurar o
enredo musical. Mesmo que seja com a pouco conhecida “Jihad”, retirada do
projeto Sisterhood (produzido e composto por Eldritch para evitar que Wayne
Hussey e Craig Adams usassem esse nome, o que os obrigou a mudar para The
Mission). Em versão menos eletrônica e sem voz, brilha a destreza técnica de
Ben Christo - também guitarrista da banda de hard rock Night By Night – e a
simpatia contagiante de Chris Catalyst. Guitarristas ovacionados, o cantor emerge das
profundezas do palco para soltar a soturna “Valentine”. Após uma hora de show,
“Flood II” encerra momentaneamente a apresentação.
Ben foi pego para Christo (ok, o trocadilho é horrível, mas a foto da Alessandra Tolc compensa) |
A cada novo show, fãs de ocasião e desavisados em
geral se concentram em questões nada relevantes. A fumaça, marca constante
desde a década de 1980, é tratada como se fosse algo estranho. Um disparate sem
noção. Alguns dizem que a voz não é mais a mesma e que os guitarristas cantam
para suprir essa deficiência, como na balada “Something Fast”, onde Chris
(cantor e guitarrista da banda power-pop
Eureka Machines) divide os vocais. Apenas desconhecem que em estúdio há
sobreposição de vozes. Outros preferem insistir que a banda faz playback. Mais
uma bobagem que demonstra apenas ignorância ao fato de usarem bateria
eletrônica e baixo sintetizado. A
ausência de um baixista pode deixar algumas músicas com menos impacto, porém a
força do show torna isso um mero detalhe. Exatamente o que ocorre em “Lucretia,
My Reflection”. Dominada por seu riff poderoso, “Vision Thing”
anuncia o apocalipse sonoro em versos como “twenty five whores in a room next
door” e “It's a small world and it smells bad”.
Eldritch, versão nosferatu crooner (foto por Alessandra Tolc) |
O hino “First and last and Always” coloca um fim na segunda
pausa planejada e a plateia se manifesta em estado de graça. Mesmo que o som
não seja o melhor, “Temple of Love” e a sua indefectível batida, colore de
verde as camisas pretas basicamente adornadas com o símbolo da estrela. À beira
do palco, o cantor rege o coral da bombástica “This Corrosion” e encerra sua
liturgia multi-colorida. Não há mais o que revindicar.
Que
o Rio não fique mais dez anos sem essa máquina de groove industrial.
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