A Decade of Dio |
A importância de Ronnie James Dio para a história do rock pesado já seria imensa mesmo se o
pequeno estadunidense tivesse gravado apenas Rising (com o Rainbow) e
Heaven & Hell (com o Black Sabbath). Para nossa sorte, além e outros discos com as bandas
citadas, Ronnie gravou um punhado de
pérolas em sua banda solo. E se a força de Dio,
a banda, acabou diluída para a nova geração pela sequência de trabalhos pouco
inspirados lançados a partir de 1996, esse recém editado Box Set, contando os 6
discos que o gnomo gravou entre 1983-1993 (sob contrato com a Warner), vem para mostrar para a
garotada que o cara já teve uma carreira que rivalizava com a dos grandes nomes
da época. Afinal, foram 10 milhões de discos vendidos nem estilo pouco afeito
ao mainstream. Para os já iniciados, o Box
Set tem também sua serventia, já que
traz os respectivos trabalhos remasterizados pela primeira vez para Cd. Como de
praxe, a resenha irá avaliar a apresentação do Box Set e seu conteúdo
musical em separado.
O pequeno grande Dio |
Apresentação
O Box Set foi pensado como um pacote econômico contando com os seis discos
do Dio enquanto artista contratado
da Warner. Ou seja, não foi nem de
longe projetado com os requintes necessários para satisfazer os colecionadores
de edições especiais. Na prática temos um estojo de papelão, altamente
suscetível a danos, com arte gráfica inédita de Marc Sasso (artista de
longa parceria com Ronnie e sua
trupe). Dentro, os seis “Mini Lps”. Ao contrário de box sets como o do Bruce Springsteen e do Blue Öyster Cult, os “Mini Lps” não são nada luxuosos, resumidos às capinhas de
papelão bem tosquinhas e estreitas com encartes simulando os originais, o que
não ajuda em muito, já que os encartes dos vinis originais eram bem fraquinhos.
Não há a sacada do envelopinho plástico do vinil, o que ajudaria a proteger os
Cds. Ou seja, espere por arranhões no tira e bota da embalagem. Ah, e as
capinhas são tão estreitas que indicam também que seus “encartes” ficarão
danificados bem rapidamente. Fora isso, outra bola fora é a total ausência de
ficha técnica ou livreto no Box. Para
não dizer que a apresentação do pacote é um total desastre, há de ser justo em
verificar que a impressão das artes de capa estão em resolução muito melhor que
as edições em Cd originais. Além de que, os Cds em si são printados em réplicas
dos miolos das respectivas edições em vinil.
Apresentação da edição em Cd do Box |
Conteúdo Musical
Holy Diver |
Holy Diver
(1983) é um clássico impecável, e mesmo sua faixa mais “fraca” (Invisible), não faria feio frente à boa
parte do material de qualquer banda de Heavy
Metal do primeiro escalão da época.
Aqui temos Don’t talk to Strangers, Straight Through the Heart, Gypsy, Shame on the Night, Stand up And Shout, Caught in the Middle, a faixa título e
a famosíssima – e desfavorita do patrão – Rainbow
in the Dark. Parece até uma
coletânea de tanta coisa foda! Não à toa, é de longe o maior sucesso comercial
do gnomo em sua fase solo. A versão remasterizada deu um belo brilho a um material
que já era perfeito em sua prensagem original (NOTA:10).
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The Last In Line |
Holy Diver é um disco quase
impossível de ser superado, mas temos que admitir que seu sucessor, The Last In Line (1984) chegou bem
perto de iguala-lo. Seja na fúria de We
Rock e I Speed At Night, seja na
veia épica de Egypt e da faixa
título, o material aqui é todo da melhor qualidade. Mystery, com sua pegada mais Hard, já indicava o caminho que a
banda seguiria no disco seguinte. Novamente, mais um belo trabalho de
remasterização (NOTA: 9,43).
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Sacred Heart |
Sacred Heart (1985), o derradeiro
rebento da formação clássica do Dio,
já sofria com alguma inconstância. O “lado A” era quase perfeito, com a feroz King of Rock and Roll, seguida pela
épica faixa título, Another Lie (reminiscente do disco anterior em
sonoridade) e a pop e inspirada Rock n
Roll Children. Mas o “lado B” já não impressionava tanto assim, Hungry for Heaven parecia música de
filme de sessão da tarde, Like the Beat
of a Heart e Just Another Day também se salvavam
como coadjuvantes interessantes, mas Fallen
Angels e Shoot Shoot, apresentadas
em seguida, marcavam a primeira vez que os fãs esbarravam com composições bem
abaixo da média contando com a voz do mestre. Infelizmente o trabalho de
remasterização não se mostrou lá muito generoso com Sacred Heart, que soa apenas mais alto no mix do que na primeira
prensagem (NOTA: 8,55).
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Dream Evil |
A conturbada saída de Vivian
Campbell foi um baque para a banda e fãs. Para seu lugar foi chamado Craig Goldy, cujo trabalho Ronnie conhecia de quando produzira algumas
demos do Rough Cutt. Com sonoridade
mais sombria e produção mais caprichada que o disco anterior, Dream Evil (1987) pode ser pouco
lembrado fora do círculo de fãs do Dio,
mas é um puta disco de Hard/Heavy. Night
People, Sunset Superman, Naked in the Rain e Faces in
the Window são muito boas. E All the
Fools Sailed Away é um dos mais belos exemplares épicos do Dio. Confesso que I Could Have Been A Dreamer pode soar um bocado xarope para os não
tão afeitos ao hard Rock, mas mesmo assim considero Dream Evil um dos grandes trabalhos do gnomo. Ah, a prensagem
original em Cd já trazia um bom som, mas a remasterizada faz toda a diferença
aqui (NOTA: 9,00).
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Lock Up The Wolves |
O problema quando você lança de cara um trabalho bem-sucedido tanto
comercialmente como artisticamente, é que passam a medir tudo o que você faz utilizando
como comparativo essa obra. E a paulatina queda de vendas dos discos do Dio começou a gerar uma série de
problemas. A gravadora já não colocava a banda como prioridade e as discussões
sobre dinheiro foram se tornando cada vez mais complicadas. Em 1989, Ronnie viu-se abandonado pelos
companheiros de longa data, sendo obrigado a remontar sua banda. Para o posto
de baterista, Simon Wright foi
chamado. Para os teclados, Jens
Johansson. Para o baixo, Teddy Cook.
E nas guitarras, um então promissor jovem inglês de 18 anos, Rowan Robertson. Lock up the Wolves (1990) abre de maneira igualmente promissora com
a veloz Wild One, seguida da boa Born on the Sun. Uma pena que daí para
frente, tudo soe bastante medíocre, com exceção da clássica faixa título. De
longe o mais fraco dos discos contidos na caixinha, Lock up the Wolves ganhou bastante com o trabalho de remasterização
(NOTA: 6,88).
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Strange Highways |
Após
uma curta e traumática tentativa de retorno ao Black Sabbath (que renderia o excelente Dehumanizer), Ronnie
voltou suas atenções à banda solo com sangue nos olhos. Tentando seguir o
caminho iniciado em Dehumanizer, com
uma sonoridade mais moderna e temática calcada em problemas reais, Ronnie chamou para sua banda um
guitarrista que se encaixava nessa visão – o então novato Tracy Grijalva, ou simplesmente Tracy G.
Strange Highways
(1993) foi um tremendo choque para os fãs do estilo capa-e-espada do baixinho. Era
uma época de crise de identidade para o heavy metal, que via sua maldade
trevosa e aura perigosa repentinamente sendo taxada de caricata e infantiloide
por uma geração que estava sendo alimentada pela sombria e realista cena Grunge. Talvez os fãs tenham se sentido
traídos ao ver um de seus baluartes cedendo de alguma forma à estética do “inimigo”.
Mas escutado hoje em dia, fica até
difícil entender o drama. Jesus, Mary
& the Holy Ghost é uma das faixas mais inventivas e furiosas que Ronnie já cantou. Firehead, Hollywood Black e Blood From A Stone se distanciavam muito mais do
material clássico da banda pela forma do que propriamente pelo conteúdo em si.
E a faixa título, essa é um demônio Doom
de fazer Leif Edling ter uma ereção. E o criticado Tracy G. pode ser uma
péssima escolha para interpretar os solos de Vivian e Craig ao vivo,
mas mostrava-se um baita guitarrista para o material proposto. Enfim, um disco
muito bom, que sofreu muito preconceito devido ao timing de seu lançamento e que soa ainda melhor na edição remasterizada (NOTA: 8,39).
Saldo Final:
A Decade of Dio traz um legado
musical de alta qualidade encapsulado em uma apresentação totalmente Low Budget. Seu baixo custo lá fora faz do pacote um tremendo doce de
coco para aqueles que porventura queiram começar a sua coleção do zero. Para os
muitos fãs de carteirinha, que já tem os discos, já há um problema. A
remasterização certamente seria o chamariz, mas a falta de capricho na apresentação
do pacote vai fazer muita gente desistir de renovar sua coleção. Ao menos um
livreto que fosse deveria ter sido incluído. E não estou nem entrando no mérito
da absoluta ausência de material inédito. Enfim, um Box Set ruim como item
de colecionador, mas bom em seu conteúdo musical. Dio merecia mais.
Falae, Trevos!!!
ResponderExcluirO Baixinho Tinhoso sempre há de merecer muito mais! Nós, que adoramos sua voz ímpar, merecemos uma reencarnação dele PARA AMANHÃ, com os timbres Rainbowzísticos-Sabbathicos-Diozísticos embalados numa capa mais apresentável, porque o puto era feio de doer!!!!
Saudades de ver esse Capeta ao vivo! No palco, ele era o "Master of Insanity" absoluto! Tive a chance de estar frente a ele em oito oportunidades. E foi pouco demais!!!
Mas é legal ver o povo já começando a dizer que "ele não foi isso tudo", "parei de ouvir a partir de..." e blablabla... Daqui a pouco começam a falar que o Motörhead não tem metade da importância que dizem ter...
Aff... Badernistas criados a leite com pera e ovomaltino gelado...
Jundis.
K.
Fala, Krill!!!
ExcluirPois então, tive a felicidade de ver o gnominho em cena em 6 oportunidades e sempre foi absurdo.
Quanto à unanimidade ou não, pouco me importa, me sinto satisfeito por poder ter vivido a mesma época desse "cabrunco" (verbete do linguajar Krilliano devidamente adotado aqui na Cripta, hehehe).
Abracetas
T
Matéria a resenha destes álbuns citado tendo conhecimento apenas hoje (junho de 2020). Duas considerações: Não, Secred Heart não é nem de longe um trabalho ruim,estão malucos? O que tomaram ? Hahahahaha ... Nem lado A e muito menos lado B, alias o peso de Like the Beat of a Heart com a bateria de Vinnie Appice é descomunal, uma das faixas mais pesadas e tranpadas da carreira do baixinho, diga-se. Com aquele time teria como lançar um trabalho meia boca ? Impossível !. E digo o mesmo ao ótimo Lock Up The Wolves que, ainda que com outra formação e já mantendo um clima soturno e melancólico, na maior parte de suas faixas, a qualidade deste trabalho é uma constante, Ronnie demonstrando um nível de interpretação acima da média . E o que comentar a respeito dos belíssimos e inspirados solos do então novato Rowan Robertson? Absolutamente mágicos, acrescentando dinâmica as suas melodias muito a frente do que se previa para um jovem de 18 anos. "Hey angels", "My Eyes", "Between Two Hearts", "Night Music" ... Baaahhhh, com uma produção competentíssima. Não observar a qualidade destas faixas é ser surdo. Ainda que se comentasse a respeito de "Magica" (ano 2000) como sendo um trabalho mediano eu concordaria.
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