Sounds From the Heart of Gothenburg |
Gotemburgo em Chamas
Por
Trevas
Prólogo – Uma banda,
Dois Mundos
Um dos baluartes daquele
movimento que veio a se tornar conhecido como Gothenburg Sound (o Melodic Death Metal sueco), o In Flames
viveu duas fases bem distintas. A primeira, que compreende os lançamentos de Lunar Strain (1994) até Clayman
(2000), traz uma banda que alia o Metal Tradicional
ao Death Metal para produzir uma sequência de discos que trouxe uma parcela
dos bangers mais tradicionalistas a conhecer um pouco do universo extremo.
Nesse período, a banda era quase uma unanimidade na cena. Mesmo aqueles não
muito afeitos ao som, ao menos demonstravam respeito pelos caras.
A segunda fase pega tudo o que os suecos fizeram desde o polêmico Reroute to Remain, de 2002. A partir daquele
ponto, o In Flames desconstruiria sua imagem, adotando maciçamente elementos do
mundo alternativo e do Nu Metal. Os narizes torcidos dos bangers puristas
não impediram que a banda se tornasse uma potência comercial, conquistando uma
legião renovada de fãs. Alguns sortudos conseguem enxergar com carinho os dois
mundos do In Flames, e sou um destes. Consigo escutar tanto um Siren Charms quanto um Whoracle
com igual felicidade. E se você é um fã da afse atual, ou como eu, não tem
preferência por nenhum dos dois mundos, esse novo lançamento ao vivo vai te
agradar em cheio. Como de costume, irei separar a avaliação do pacotão pela
apresentação do material físico, qualidade de som e imagem e finalmente do show
em si.
Apresentação
Em tempos onde boa
parte do público está acostumado a piratear o material de suas bandas favoritas
e que só os colecionadores parecem dispostos a arcar com o custo de ter
fisicamente o produto oficial em mãos, se faz imperativo que os artistas
invistam para agradar esse exigente mercado. Já faz bastante tempo que os
suecos se preocupam com cada detalhe gráfico de seus lançamentos, e aqui não é
diferente. A edição que comprei é a que vem com um digipack belíssimo
encapsulado em um envelope muito bonito. O livreto traz fotos caprichadas
somadas às letras das músicas. Existe ainda uma versão em digibook que inclui
também a edição em DVD para o show.
Não fosse o preço proibitivo, teria apostado nessa, pois pelas fotos parece
ainda mais bonita. Enfim, quem pagou para ter o material físico em mãos, irá se
sentir satisfeito, com toda certeza.
Imagem da edição analisada |
Imagem
Cenograficamente o
show é um deleite, tendendo à escuridão completa para valorizar o incrivelmente
engenhoso set de luzes dos caras. Dependendo da música, os canhões transformam
o palco, adornado ao fundo com uma parede de galhos mortos, com uma profusão de
verde ou vermelho ou azul...esse efeito nas mãos experientes e para lá de
competentes de Patric Ullaeus, com suas tomadas únicas, faz
com que o Blu Ray seja visualmente perfeito.
Som
Os dois lançamentos
anteriores do In Flames sofriam do mesmo mal, uma péssima qualidade sonora. O
resultado era tão ruim que ouço até hoje muita gente dizendo que a banda só
funciona em estúdio. Bobagem, o In Flames é um dos shows mais concorridos
no mercado europeu e isso não é à toa. Dessa vez a produção caprichou,
escuta-se tudo com imensa perfeição e com muito punch, seja no Blu Ray, seja nos dois cds. Um fator bem legal que deveria ser
obrigação para qualquer lançamento ao vivo que se preze, foi o cuidado na
captação do áudio da plateia, a intensa reação do público faz-se presente de
maneira incrível na mixagem, transportando a gente lá para o meio da multidão.
O Show
Impossível não
começar essa parte da avaliação sem citar o set list. Se você é fã
exclusivamente da fase mais Melodeath
do In Flames, nem prossiga. O repertório traz apena duas faixas pré-Reroute, e uma delas já representava uma transição musical, a apoteótica Only
for The Weak (recebida com
um entusiasmo imenso, mostrando a plateia simplesmente quicando tal qual uma
onda de carne). De resto, todos os discos da fase moderna estão muito bem
representados, obrigado. E é impressionante perceber como cada música escolhida
soa como um Hit em potencial. Até mesmo o material do criticado Siren Charms brilha aqui, mostrando que a produção ruim tirou em muito o
potencial daquele disco. Vide a belíssima When
the World Explodes, que casa
a apresentação visual impecável com uma emocionante participação da cantora
lírica Emilia Feldt.
A
banda funciona perfeitamente ao vivo, com todos os músicos demonstrando imensa
empolgação e destreza técnica. Vocalmente limitado, Anders Fridén hoje em dia sabe
usar muito bem a ferramenta que tem em mãos, e sua simpatia é no mínimo
contagiante. Mas nem a banda e seu repertório fariam diferença se estivessem
diante de uma plateia indiferente. E o que torna esse lançamento ainda mais especial
é ver o quanto o público de Gotemburgo ama a banda. A reação em boa parte das
músicas se assemelha em absurdo ao que presenciei no Live At River Plate, do
AC/DC. A galera canta tudo palavra por palavra nas músicas mais calmas e quica
ensandecidamente no material mais agitado. Fantástico. E não se assuste com o
fato da interação da banda com o público ser feita na língua pátria – nesses momentos
temos a ajuda de legendas bem colocadas. Único ponto a se considerar negativo é
a absoluta ausência de extras.
In Flames 2016 |
Saldo Final
Parece
que finalmente o In Flames resolveu acertar a mão num
lançamento ao vivo oficial. Sounds From
the Heart Of Gothenburg tem tudo que um fã da banda poderia pedir de um
show da atual fase dos suecos. Um dos melhores materiais ao vivo de uma banda
de Metal que vejo em eras. Absolutamente perfeito.
NOTA: 10
Pontos positivos: Luzes,
som, banda e plateia encapsulados em vídeo de maneira perfeita.
Pontos negativos: Não há
extras e pode soar ofensivo aos fãs da primeira afse dos caras.
Para fãs de: Soilwork, Dark
Tranquility, Korn
Classifique como: Melodic Death
Metal, Modern Metal
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