Rival Sons - Hollow Bones |
That 70’s Show
Por
Trevas
Após o sucesso de Great Western Walkyrie, um dos melhores
discos de 2014 (resenha da Cripta), os californianos do Rival Sons passaram a
figurar em tudo o que é festival e premiação ao redor do globo. Em uma delas,
mais especificamente no evento de melhores do ano da revista inglesa Classic Rock Magazine, sua curta
apresentação gerou elogios efusivos da nata do rock britânico presente na
premiação. Uma figura em especial fez questão e parabenizar a banda após o show,
com a família à tiracolo. A figura? Um sorridente Ozzy Osbourne. Conversa
vai, conversa vem, Ozzy se despede. A
banda segue seu projeto ambicioso, o de em pleno 2015 com boa parte da população mundial não mais dando a mínima para Cds, lançar um disco novo por
ano, como se fazia no passado cujo som emula à perfeição em seus trabalhos. Mas
no meio do caminho havia um... Black
Sabbath? Sim, poucas semanas depois
da premiação da Classic Rock, os empresários
do Black Sabbath fizeram contato, convidando os incrédulos estadunidenses
para ser a banda de abertura da última turnê dos maiores baluartes do heavy
Metal. E não, o convite não se restringia a uma pequena perna da The End Tour, se estendendo a todas as
datas em todos os continentes. Extremamente honrados, os quatro músicos
resolveram abandonar a meta do disco anual. Por uma boa
causa, claro. Para nossa sorte, havia material suficiente para um novo rebento,
Hollow Bones, adornado com a belíssima arte de capa de Martin Wittfooth e lançado aqui no Brasil pela Hellion Records em uma
edição em digipack tão cuidadosa quanto à gringa.
Rival Sons 2016 |
Repetindo a dobradinha com o produtor Dave Cobb, o Rival Sons inaugura a bolachinha com a primeira
parte da faixa título, uma pedrada que já pode adentrar os sets da banda sem
medo. A sonoridade está mais direta e vigorosa que no versátil disco anterior,
com a guitarra de Scott Holiday bem na nossa cara e a cozinha
precisa de Michael Miley e David Beste soando
extremamente orgânica.
Tied Up (ver vídeo) mantém a toada direta, engrandecida pelo hammond
onipresente de Tedd E. Ogreen-Brooks.
A sonoridade mais direta não quer dizer nenhuma drástica mudança de
direcionamento não. O som dos caras continua sendo aquele retro rock encardido
e cheio de detalhes que vem conquistando o mundo disco a disco.
Thundering Voices (ver vídeo) é já de
cara uma das melhores faixas que os californianos já confeccionaram, um
daqueles hinos que você jura terem sido compostos entre 1968 e 1971. Nela quem
nunca ouviu os caras poderá conhecer um dos maiores trunfos da banda: um baita vocalista
que atende pelo nome Jay Buchanan. Seja nos vocais mais
gritados, seja num simples sussurro, Jay
domina nossos ouvidos sobremaneira. Confesso que não lembro de ouvir algum
vocalista das últimas duas décadas que capture tanto em timbre quanto em
interpretação e estilo a alma dos anos de ouro do rock.
Baby Boy segue a sequência
impecável de faixas diretas e grudentas, aparentemente tão simples, mas
repletas de detalhes de arranjos que nunca soam over, um mérito de Dave Cobb. Pretty Face diminui ligeiramente a intensidade, aparentemente (não sei
se foi intencional) preparando o terreno para a segunda metade do disco, antigamente o lado B do vinil. A partir daí as músicas abandonam o caráter de urgência e
apostam mais nas sutilezas. Fade Out é belíssima, um excelente canal para
mostrar uma das características que mais salta aos olhos nos shows dos caras, a
dinâmica absurda. Jay brilha como nunca em uma de suas melhores performances em
estúdio, nesse que pode ser considerado o ponto mais alto do novo trabalho,
ornado por um ótimo solo de Scott.
Uma
pena que a partir daí a coisa já não funcione tão bem. A rendição para Black Coffee, de Ike e Tina Turner, me soa desnecessária, com aquele tipo de arranjo que andou
tornando a audição de alguns dos trabalhos mais recentes do Bonamassa algo enfadonho. A segunda
parte de Hollow Bones tenta soar como uma jam Zeppeliana, mas acaba por diluir ótimas ideias vocais e
instrumentais em um vai e volta um pouco cansativo, com Mr. Buchanan dando uma exagerada nos Ad
Libs. As baladas soul do Rival Sons sempre trilham uma linha tênue
entre extrema beleza e uma breguice assustadora, e All That I Want infelizmente acaba por pender mais para a última,
encerrando os parcos 37 minutos da bolachinha de forma não tão empolgante.
Saldo Final
Aparentemente
fabricado em duas partes bem distintas, Hollow
Bones funciona muito melhor quando
tenta soar mais direto do que quando tenta transpor as já costumeiras viagens
da banda nos palcos para o ambiente de estúdio. Apesar dessa dualidade e de ser
claramente inferior a Great Western
Walkyrie, trata-se ainda assim de um grande trabalho, que vem coroar o Rival Sons como uma das melhores bandas
da atualidade. Que venham os shows com o Black
Sabbath!
NOTA: 8,45
Prós:
Composições inspiradas, vocais e instrumental repletos de feeling e referências a bandas do passado.
Contras:
Pode soar como purgante para aqueles que não curtem o rock mais clássico.
Classifique como: Retro-rock, Hard Rock, Blues Rock, Classic Rock
Para Fãs de: Free, Bad Company, The Doors, The Who, Led Zeppelin
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