sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Rival Sons – Hollow Bones (Cd-2016)

Rival Sons - Hollow Bones
That 70’s Show
Por Trevas

Após o sucesso de Great Western Walkyrie, um dos melhores discos de 2014 (resenha da Cripta), os californianos do Rival Sons passaram a figurar em tudo o que é festival e premiação ao redor do globo. Em uma delas, mais especificamente no evento de melhores do ano da revista inglesa Classic Rock Magazine, sua curta apresentação gerou elogios efusivos da nata do rock britânico presente na premiação. Uma figura em especial fez questão e parabenizar a banda após o show, com a família à tiracolo. A figura? Um sorridente Ozzy Osbourne. Conversa vai, conversa vem, Ozzy se despede. A banda segue seu projeto ambicioso, o de em pleno 2015 com boa parte da população mundial não mais dando a mínima para Cds, lançar um disco novo por ano, como se fazia no passado cujo som emula à perfeição em seus trabalhos. Mas no meio do caminho havia um... Black Sabbath? Sim, poucas semanas depois da premiação da Classic Rock, os empresários do Black Sabbath fizeram contato, convidando os incrédulos estadunidenses para ser a banda de abertura da última turnê dos maiores baluartes do heavy Metal. E não, o convite não se restringia a uma pequena perna da The End Tour, se estendendo a todas as datas em todos os continentes. Extremamente honrados, os quatro músicos resolveram abandonar a meta do disco anual. Por uma boa causa, claro. Para nossa sorte, havia material suficiente para um novo rebento, Hollow Bones, adornado com a belíssima arte de capa de Martin Wittfooth e lançado aqui no Brasil pela Hellion Records em uma edição em digipack tão cuidadosa quanto à gringa.

Rival Sons 2016
Repetindo a dobradinha com o produtor Dave Cobb, o Rival Sons inaugura a bolachinha com a primeira parte da faixa título, uma pedrada que já pode adentrar os sets da banda sem medo. A sonoridade está mais direta e vigorosa que no versátil disco anterior, com a guitarra de Scott Holiday bem na nossa cara e a cozinha precisa de Michael Miley e David Beste soando extremamente orgânica.


Tied Up (ver vídeo) mantém a toada direta, engrandecida pelo hammond onipresente de Tedd E. Ogreen-Brooks. A sonoridade mais direta não quer dizer nenhuma drástica mudança de direcionamento não. O som dos caras continua sendo aquele retro rock encardido e cheio de detalhes que vem conquistando o mundo disco a disco.



Thundering Voices (ver vídeo) é já de cara uma das melhores faixas que os californianos já confeccionaram, um daqueles hinos que você jura terem sido compostos entre 1968 e 1971. Nela quem nunca ouviu os caras poderá conhecer um dos maiores trunfos da banda: um baita vocalista que atende pelo nome Jay Buchanan. Seja nos vocais mais gritados, seja num simples sussurro, Jay domina nossos ouvidos sobremaneira. Confesso que não lembro de ouvir algum vocalista das últimas duas décadas que capture tanto em timbre quanto em interpretação e estilo a alma dos anos de ouro do rock.



Baby Boy segue a sequência impecável de faixas diretas e grudentas, aparentemente tão simples, mas repletas de detalhes de arranjos que nunca soam over, um mérito de Dave Cobb. Pretty Face diminui ligeiramente a intensidade, aparentemente (não sei se foi intencional) preparando o terreno para a segunda metade do disco, antigamente o lado B do vinil. A partir daí as músicas abandonam o caráter de urgência e apostam mais nas sutilezas. Fade Out é belíssima, um excelente canal para mostrar uma das características que mais salta aos olhos nos shows dos caras, a dinâmica absurda. Jay brilha como nunca em uma de suas melhores performances em estúdio, nesse que pode ser considerado o ponto mais alto do novo trabalho, ornado por um ótimo solo de Scott.


Uma pena que a partir daí a coisa já não funcione tão bem. A rendição para Black Coffee, de Ike e Tina Turner, me soa desnecessária, com aquele tipo de arranjo que andou tornando a audição de alguns dos trabalhos mais recentes do Bonamassa algo enfadonho. A segunda parte de Hollow Bones tenta soar como uma jam Zeppeliana, mas acaba por diluir ótimas ideias vocais e instrumentais em um vai e volta um pouco cansativo, com Mr. Buchanan dando uma exagerada nos Ad Libs. As baladas soul do Rival Sons sempre trilham uma linha tênue entre extrema beleza e uma breguice assustadora, e All That I Want infelizmente acaba por pender mais para a última, encerrando os parcos 37 minutos da bolachinha de forma não tão empolgante.

Saldo Final
Aparentemente fabricado em duas partes bem distintas, Hollow Bones funciona muito melhor quando tenta soar mais direto do que quando tenta transpor as já costumeiras viagens da banda nos palcos para o ambiente de estúdio. Apesar dessa dualidade e de ser claramente inferior a Great Western Walkyrie, trata-se ainda assim de um grande trabalho, que vem coroar o Rival Sons como uma das melhores bandas da atualidade. Que venham os shows com o Black Sabbath!

NOTA: 8,45









Prós:

Composições inspiradas, vocais e instrumental repletos de feeling e referências a bandas do passado.

Contras:
Pode soar como purgante para aqueles que não curtem o rock mais clássico.

Classifique como: Retro-rock, Hard Rock, Blues Rock, Classic Rock


Para Fãs de: Free, Bad Company, The Doors, The Who, Led Zeppelin

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