sábado, 6 de agosto de 2016

Purson – Desire’s Magic Theatre (Cd-2016)

Purson - Desire's Magic Theatre (Cd-2016)

Navegando Pelos Mares de Ácido
Por Trevas

Prólogo – Carcaça Jovem, Alma Antiga
Poucos anos atrás estava eu fazendo meu trabalho de casa, pesquisando bandas da nova onda de Occult Rock que assolava o velho continente. Como em qualquer subgênero musical que repentinamente vira febre, esbarrei em muita coisa bacana enfurnada no meio de uma penca de bandas genéricas ansiando em copiar sem muita personalidade coisas de outrora, como a cultuada Coven.

Mas dentre as “coisas bacanas”, fiquei absolutamente viciado em The Circle And The Blue Door, dos britânicos que atendem pelo singelo nome Purson. Se na demonologia Purson é o autoproclamado Rei do Inferno, comandante de 22 legiões de chifrudinhos cheirando a enxofre e encrenca, no mundo real assume uma silhueta bem mais agradável, sob a forma da bela e extremamente jovem (e para lá de exótica) Rosalie Cunningham.

Rosalie - fase "bruxa má"
Rosalie, a garota-banda, tinha apenas 23 anos quando compôs na integridade e tocou boa parte dos instrumentos em The Circle... O disco vendeu surpreendentemente bem e foi bastante laureado pela mídia especializada, figurando ora na lista de melhores daquele ano (2013), ora na lista de revelações. Um belo Ep (In The Meantime), de tiragem estrategicamente ultralimitada manteve a expectativa alta, e o final de 2015 presenciou o anúncio de um novo single (a hendrixiana Electric Landlady) e de que o novo disco, Desire’s Magic Theatre, viria a luz do dia no primeiro semestre de 2016. Obviamente corri atrás de minha cópia assim que chegou às lojas, e coloquei a bolachinha para rodar...

Atrás da Porta Azul tinha Uma...Cornucopia?

E, de início, tomei um belo susto. Se The Circle And The Blue Door seguia o figurino do subgênero supostamente escolhido pela banda, repleto de referências ao ocultismo e uma aura misteriosa e fantasmagórica, bem a cara de Purson, o capetão, o capetinha de Desire’s já é bem menos....ehr...capirotesco. Capa ultracolorida, livreto rosa bebê...bom, vamos lá...

A faixa título abre o disco com o equivalente musical para essa profusão de cores: arranjo com sopros, aura festiva e lisérgica e melodia nada sombria. Como em todo o restante do trabalho, Rosalie fica responsável por quase tudo que se ouve (exceto sopros e a bateria). Sua voz está em forma, e a criatividade idem. Um Rock lisérgico nada linear e com inserções de folk, que em alguns momentos me fez lembrar bizarramente os primeiros trabalhos de Alice Cooper (quando ainda era uma banda). Não era o que eu esperava, mas é muito bom.


Para quem gostou do primeiro disco, o segredo para aproveitar o restante da jornada é simples: não tente comparar os dois discos. São mundos tão diferentes quanto o dia e a noite. Demorei uma três escutadas para decidir que efetivamente queria embarcar na nova viagem, e a faixa que fez o link entre esses dois mundos foi a ótima Electric Landlady (ver vídeo). Como citado anteriormente, o vídeo para a mesma foi lançado em dezembro do ano passado, e mostra uma banda flertando bastante com Hendrix e Jefferson Airplane.



Dead Dodo Down é um nome insólito para uma música que soa como se Purson, o capeta, tivesse esbarrado com Hunter S. Thompson, tomado uma bela dose de pílulas coloridas e rumado para algum cabaré decadente em Las Vegas. Pedigree Chums e seu baixo marcante dá a clara impressão que reciclaria Spiderwood’s Farm, mas rapidamente trata de dissolver essa ideia num arranjo meio louco com direito a solo de saxofone com frases que transitam entre temas orientais e o que se esperaria de uma big band normal.

Purson 20016 - com Rosalie encarnando sua fase "fada do cogumelo"
Ainda que mantenha o clima lisérgico (especialmente na letra), The Sky Parade é mais fácil de assimilar que boa parte do material aqui, ou seja, um bom início para os fãs incondicionais do debut. The Window Cleaner (segunda faixa de trabalho, ver vídeo) já é mais um filhote do LSD, repleta de ”Good Vibes” e cheirando a velha Hippie. Bacaninha, mas nada especial, me dá a impressão que bem podia adornar alguma daquelas cenas musicais do Scooby Doo com a Mistery Machine.


The Way It Is é um rock anos 1960 direto e correto. O interlúdio instrumental da deliciosa Mr. Howard vem no encarte citado como “Space Jam”, uma definição razoavelmente honesta. I Know, com seu início meio luau de praia no Havaí, é de longe o som menos inspirado do disco, que tem seu encerramento na edição normal com o blues psicodélico The Bitter Suite e suas três partes igualmente boas.

A edição limitada inclui três sons, a ótima Unsure Overture e versões acústicas para I Know e The Sky Parade.

Saldo Final

Confesso que Desire’s Magic Theatre me soou como uma grande decepção à primeira audição. A sombra do primeiro disco e sua aura soturna impediram que eu me permitisse embarcar nessa viagem, diametralmente oposta, mas igualmente rica. Um conselho, tome umas pílulas coloridas, abrace seu amigo Barney, o Dinossauro Roxo, escolha O Grande Lebowski na Netflix (com som mutado, claro), aperte o play do seu aparelho de som e navegue tranquilamente pelos mares de ácido lisérgico.


NOTA: 8,94


Para fãs de: Jefferson Airplane, Mutantes, Jimi Hendrix, Pink Floyd com Syd Barret e substâncias alucinógenas
Fuja se: esteja atrás única e exclusivamente de um disco sombrio de Occult Rock
Classifique como: Rock Psicodélico, Retro Rock.

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