Fates Warning - Theories of Flight |
Voando Alto
Por
Trevas
Prólogo: Um Pioneiro Cult
Pioneiros do infame Progressive Heavy Metal, os
estadunidenses do Fates Warning nunca conseguiram o sucesso
comercial de seus colegas mais famosos (Queensrÿche
e Dream Theater). Tendo iniciado sua trajetória com uma sonoridade derivada
da NWOBHM e da vertente americana do
Power Metal, logo evoluíram (evolução=mudança, ok?) para uma seara bem
mais complexa, gerando um dos mais incensados rebentos dos primórdios do Prog Metal, Awaken the Guardian. A saída do vocalista John
Arch veio em conjunto com uma mudança
de estilo, cada vez mais progressivo e sofisticado. Embora a crítica trate
todos os trabalhos da banda com carinho, os temas introspectivos e soturnos, associados
à uma ética de trabalho algo errática e com pouco tino comercial talvez sejam
os culpados pela banda ter ficado eternamente relegada à árida “Terra das
Bandas Cult”.
Awaken the Guardian, uma espécie de Meca do início do prog metal |
Particularmente, não sou um grande entusiasta do Metal Progressivo, em
especial após a popularidade do Dream
Theater ter tornado o mesmo sinônimo
de mero exibicionismo e elitismo musical. Mas o Fates Warning figura desde
sempre entre minhas bandas favoritas. A explicação? A preocupação em valorizar
sempre conteúdo ao invés da forma. A técnica apurada para o FW serve, salvo raras exceções, apenas para
realçar canções inteligentemente construídas. Aliás, é o que fazia a diferença
entre o Rock Progressivo de qualidade e as bandas derivativas que fizeram o estilo
virar uma caricatura esquecida ao final da década de 1970 (renascendo sob nova
forma e inspiração no Neo Prog oitentista).
Fates Warning circa Parallels (1992) |
Mas
a despeito de gostar de todos os trabalhos dos caras, desde o longínquo Inside Out (de 1994) que o Fates
Warning vem lançando discos bacanas,
mas que por um motivo ou outro falham em se tornar memoráveis o suficiente para
rivalizar com os clássicos. Sinceramente eu já não esperava que isso fosse
acontecer. Até que esbarrei com Theories
Of Flight (aqui analisado em sua edição Deluxe, contendo um disco bônus encartado em belo digipack)...
Analisando As teorias
de Vôo
O disco começa de uma
maneira diferente, com From the Rooftops
(ver vídeo) e seu início calmo ornados pela voz bonita de Alder e belos solos de Matheos.
Lá pelos 2:00 a faixa se transforma numa pancadaria marcada pela bateria
agressiva do monstro Jarzombek (Halford, Riot) e
grandes melodias vocais. O guitarrista Frank
Aresti, colaborador de longa data
(na verdade, ex-membro), faz uma participação no ótimo solo final. Uma grande
música que já mostra que o disco vem com uma pegada diferente.
Seven Stars confirma aquilo que o bom ouvinte já sabe, o Fates Warning em muito se diferencia de seus pares no árido terreno do Prog Metal por valorizar climas e melodias tanto ou mais do que a mera
complexidade instrumental. O refrão aqui é daqueles que bem poderia fazer
história numa rádio se de posse de uma banda de AOR.
A produção, nas mãos de Jim com mixagem do onipresente Jens Bogren, é um show à parte, talvez nenhum disco da banda tenha soado
com tanto punch quanto esse. Ao que parece, a experiência recente de Jim Matheos com John Arch (vocalista da fase mais heavy
metal da banda) reacendeu uma chama há muito esquecida. O “patrão” está pegando
bastante pesado nos riffs e trazendo solos bem mais agressivos do que vinha
fazendo. Ajuda também o enfoque de Jarzombek
nas linhas de bateria, bem mais metálico e moderno do que o usual da banda. Duvida?
Escute então a trauletada que é SOS,
uma faixa vigorosa, mas que não dispensa um belo refrão na conta do para lá de
inspirado Ray Alder. Um de meus vocalistas favoritos, o “chicano” faz nessa
bolachinha uma de suas melhores performances da carreira.
Fates Warning 2016 (Joey Vera com seu eterno cabelo Cascão) |
The Light And Shade Of
Things é o primeiro dos
dois épicos om mais de 10 minutos do disco. De início calmo e repleto de fraseados
climáticos algo Gilmourianos, a música transmuta em um mamute enfurecido após
os 3 minutos, num dos melhores momentos de toda a carreira dos estadunidenses.
Ficarei extremamente surpreso se não vier a se tornar um clássico de presença obrigatória
nos futuros shows.
White Flag
é tão direta e pesada que talvez engane um incauto ouvinte. Já é uma faixa
excelente por si só, mas ainda tem o requinte de crueldade de trazer um duelo
de solos entre o monstro Mike Abdow (que faz as guitarras solo nos
shows atuais da banda) e o membro honorário Frank Aresti. The Stars Our Eyes Have Seen parece
misturar as melodias bonitas e radiofônicas de Parallels e Inside Out com um arranjo para lá de
agressivo, em outro petardo impressionante.
Como
nem tudo é perfeito, o disco ameaça dar uma escorregada, ainda que de leve, justamente
quando o Fates Warning tenta soar como uma banda de Prog Metal qualquer.
Isso acontece no segundo épico do disco, The
Ghosts of Home, que dilui boas
ideias (inclusive do baixo do sempre bacana Joey Vera) naqueles típicos
“piruliruli-pirulirulu-pim-pom-pum” que fazem os onanistas musicais adularem o Dream Theater e suas cópias. Mas ainda assim a faixa acaba se salvando
com sua linha melódica bastante diferente e até mesmo alegre para os padrões usualmente melancólicos da
banda.
O
disco encerra seus 52 minutos na faixa título, uma daquelas peças instrumentais
misteriosas e climáticas que se tornaram marca registrada de Jim Matheos.
Saldo Final
Theories of
Flight é o melhor disco do Fates Warning no mínimo desde Inside
Out. Pesado e inspirado, o disco deveria
ser usado como exemplo de como o Prog
Metal ainda pode sim soar relevante e
nada caricato (viu Dream Theater???). É também um fortíssimo
candidato a melhor disco de 2016. Obrigatório!
NOTA: 9,85
Pontos positivos: grandes músicas, ótimas performances e produção perfeita
Pontos negativos: Nada a destacar
Para fãs de: Prog Metal sem profusão de convenções
Classifique como: Prog Metal
Pontos negativos: Nada a destacar
Para fãs de: Prog Metal sem profusão de convenções
Classifique como: Prog Metal
Disco Bônus:
O segundo disco traz
seis faixas em formato acústico. Os arranjos são simples, mas cuidadosos e o
formato só vem a corroborar a qualidade das melodias vocais das músicas da
banda. São três faixas próprias e três covers. As belas Firefly, Seven Stars e uma surpreendente versão para Another Perfect Day fazem as
vezes do bestiário Fateswarniano
aqui representado. As três covers que
completam o disco bônus tem origens tão díspares que só vem a mostrar o grau de
ecletismo dos caras da banda. A primeira é Pray
Your Gods, gravada em 1991 por Toad
the Wet Sprocket. Quase tão
soturna quanto a bela original, mostra-se uma escolha tão surpreendente quanto
acertada. Adela é a improbabilíssima
curta versão para uma música de Joaquim
Rodrigo, o virtuose espanhol
responsável pelo Concerto de Aranjuez.
Rain, do Uriah Heep
definitivamente é a única das escolhas que deve soar coerente aos ouvidos da
maioria dos fãs. Enfim, em uma época em que os materiais bônus geralmente
chafurdam num monte de entulho redundante (versões demo das músicas do disco ou
versões ao vivo mal gravadas), há de se considerar que o Fates Warning fez uma
aposta bem bacana aqui. Uma pena que as seis faixas contabilizem pouco mais de
vinte minutos.
Caríssimo Trevas. Ouvi atentamente as três primeiras músicas que você postou, The Ghosts of Home e The Light And Shade Of Things. Segue minha humilde opinião: Muito bom! Gostei mais da voz do “chicano” nesse disco, principalmente nas duas primeiras e em The Light And Shade Of Things. O sutil trabalho de backing vocal é muito bom .
ResponderExcluirCom relação às comparações inevitáveis com o expoente do Progmetal Dream Theater acho o seguinte: Já fui ouvinte “nerd” de todos os álbuns do Dream Theater com exceção do Astonishing, e por isso desenvolvi o insuportável poder de identificar até telepaticamente qualquer fragmento de som parecido com o que já escutei da banda. E nas duas primeiras músicas alguns riffs em intervalos vocais me aludiram a algumas passagens dos últimos álbuns mais pesados do DT, desde Black Clouds até o Homônimo. Aliás outro ponto na guitarra que me remete bastante aos últimos álbuns do DT é o timbre pesado da guitarra. São muitos semelhantes principalmente aos que estão em A Dramatic Turn of Events. Se o guita usou esse timbre de forma proposital ou não, não temos como saber, mas achei muita semelhança. Sobre o pirulipiruli...totalmente desnecessário.
Por fim, como sou tecladista diria que o único ponto fraco do álbum é a ausência de climas e efeitos tecladísticos, mas as guitarras cumprem bem o papel climático. Sei que esse não é o propósito nem a característica da banda, mas acho que há muito no som que pede isso.
Fala, camarada
ExcluirAqui cabe um adendo bem legal:
Os caras do DT sempre assumiram que o FW foi a principal inspiração para a criação da banda. Segundo o próprio Mike Portnoy, que assina o belo prefácio da edição remaster do Awaken the Guardian (em tradução livre e tosca do trevas, hehehe):
"Eu os vi ao vivo em 1985, e eles não soavam como nada que eu já tivesse ouvido. à época eu estava escutando coisas como Anthrax, Metallica e Megadeth, todas agressivas, mas nada progressivas. O fates Warning era exatamente o som que eu buscava para minha banda.
Quando Awaken the Guardian foi lançado, eu pirei. Escutei o disco no mínimo umas cem vezes. cada música era uma jornada.
Sempre me surpreendo que as pessoas falem de Dream Theater para definir todo o estilo do prog metal. mas na verdade, o Fates Warning já fazia esse tipo de som anos antes da gente"
Então. Explica-se aí as semelhanças entre algumas coisas das duas bandas, que aliás, vivem se agradecendo nos encartes...são 'parças" hehehehe
Sobre a falta de teclados, realmente, acho que nesse disco eles praticamente aboliram o uso do mesmo. Os arranjos de guitarras compensam isso, mas aí realmente vai de gosto mesmo.
Fico feliz em ouvir um disco que me traga prazer em escutar algo mais progressivo, confesso que o Dream Theater acabou por me fazer relegar bastante a cena que um dia já curti.
Abração
Trevas