Um
Grandioso Adeus
Por Trevas
Prólogo
– Dane, o Vocal-Hero
Mais uma resenha
difícil de ser escrita. Warrel Dane foi um dos meus Vocal-heroes, uma
inspiração tremenda e que contribuiu com um tempero especial dentro das
influências que ajudaram a construir minha identidade musical como vocalista e
letrista. Mas minha relação com aquela figura algo excêntrica de longos e
indefectíveis cabelos louros (o que provavelmente rendeu ao rapaz o apelido “Dane”- vernáculo levemente pejorativo
para quem se encaixa no estereótipo Nórdico) não foi exatamente um amor à
primeira vista. Um amigo me apresentou Refuge
Denied, do Sanctuary, lá nos idos de 1999. Até achei o disco interessante, mas
esbarrei justamente nos agudos estratosféricos de Warrel. Sempre tive dificuldades com vocalistas com registros muito
altos. Mas quase que de imediato uma banda despontava na cena com uma
sonoridade única, uma tal Nevermore.
Escutar Dreaming Neon Black foi um soco no estômago e quando descobri que o versátil
cantor, que alternava graves góticos, melodias complexas e, eventualmente,
agudos lancinantes, era o mesmo Warrel
Dane do Sanctuary, ganhei um novo herói.
Warrel em sua cativante excentricidade |
Warrel vinha excursionando
desde 2014 na companhia de um excelente time de músicos brasileiros, e em 2017
resolveu selar essa parceria com a gravação de um disco. Infelizmente a jornada
foi interrompida ao final do mesmo ano, quando justamente o coração que ele
punha em cada nota que cantava o traiu, e Warrel
se foi antes de poder gravar os vocais definitivos. O quarteto de músicos e a
gravadora fizeram então um esforço hercúleo de juntar os cacos das demos e
pré-produção e conseguiram montar um quebra-cabeças de oito músicas, intitulado
Shadow Work. O disco ganhou uma belíssima edição nacional em Mediabook, contando com várias
ilustrações do mestre Travis Smith. Confesso que custei a colocar a bolachinha,
supostamente um trabalho inacabado, para rodar. Mas tão logo o fiz, o coração
apertou. Lá vão minhas impressões.
Dane And The Zucas! |
Ethereal Blessing abre o trabalho, uma melodia fantasmagórica nos moldes que
só Warrel seria capaz de criar,
emoldurada sorumbaticamente por sons tribais. Pouco ela nos diz sobre o
direcionamento do mesmo trabalho, mas logo somos arremessados a Madame Satan, e aí a sombra do Nevermore
aparece. A faixa parece a evolução do que a banda vinha tentando fazer antes de
seu precoce encerramento, e chega até a convencer, graças à qualidade dos
aliados do estadunidense. Quanto talento os rapazes brasileiros têm!
O mesmo não pode ser dito dos outros momentos Nevermorianos: Disconnection
Sistem é menos empolgante e remonta
ao Politics Of Ecstasy, disco
complexo e algo mecanizado que marcou o corte do cordão umbilical do Nevermore com o legado musical do Sanctuary. Shadow Work, a faixa, é
de longe a menos interessante e parece um puxadinho construído por cima do
alicerce de Narcosynthesis. Já o
encerramento com Mother Is The Word For God quase desperdiça um
dos mais belos temas que Warrel já
cantou em nove longos e titubeantes minutos de quebradeira.
Mas é justamente quando a banda leva o saudoso vocalista para terrenos
anteriormente pouco explorados por ele que o disco vive seus melhores momentos:
As Fast As The Others gruda feito
piche no cérebro, a reinvenção de The Hanging
Garden (do The Cure) é ouro puro, e Rain é aquele cruzamento Metal/Gótico
que sempre funcionou tão bem com mr. Dane.
Sobre a performance do vocalista, ainda que ela seja feita de uma
compilação de gravações demo ou da pré-produção, tudo funciona bem. Não, você
não vai encontrar a performance vocal da vida dele aqui, mas cada palavra é
cantada com o coração na ponta da língua, e as melodias são muito boas. As letras? Fortes e únicas, como sempre! Já os
músicos, dão um show à parte: Marcus
Dotta definitivamente não é humano -
é o batera Cthulhu, um destruidor mestre
dos polvos; Thiago Oliveira (que compôs todas as músicas
autorais aqui) e Johnny Moraes não só sobrevivem ao peso da
comparação com Jeff Loomis como trazem inúmeros solos melodiosos
que engrandeceram em muito o disco; e até mesmo o baixo de Fabio Carito, por vezes
enterrado em meio à multitude de informações da produção, tem seus bons
momentos aqui e acolá. Enfim, Warrel
se foi em ótima companhia.
O belo mediabook de Shadow Work |
Veredito
da Cripta
Shadow Work não é o trabalho definitivo de Warrel Dane. Por vezes o disco pecou ao sucumbir à tentação de emular o
passado no Nevermore, se saindo
melhor quando deixou estilisticamente essa sombra ficar para trás. Mas também
está longe de nos dar qualquer pista de se tratar de um corte e colagem
qualquer. É sim um disco para lá de digno e instigante, pesado e denso. Um grande
e empolgante Cd, que só entristece
ao nos fazer sonhar o que seria de uma hipotética continuação se esse vitorioso
e virtuoso time fosse mantido. RIP,
mr. Dane. Parabéns, Thiago, Johnny, Fabio e Dotta!
NOTA: 8,57
Visite o The Metal Club |
Gravadora: Valhall Music (nacional)
Prós: um disco forte e denso
Contras: nos deixa com imensa saudade
Classifique como: Modern Metal, Prog Metal
Para Fãs de: Nevermore, é claro...
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