terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Moonspell – Lisboa Under The Spell (Box-Set – 2018)




Lisboa Em Chamas!
Por Trevas

A maior banda de rock pesado da história de Portugal, a despeito de uma carreira para lá de produtiva e do reconhecimento internacional, é bastante econômica em seus lançamentos em vídeo. Afora o ótimo Lusitanian Metal e um ou outro DVD bônus encartado nas edições especiais de seus álbuns, os grandes shows dos Moonspell só podiam até então ser conferidos na íntegra em Bootlegs ou filmagens toscas no YouTube. Talvez por ter se apercebido já ter passado a hora de um Home Video caprichado, o quinteto preparou uma noite ambiciosa em fevereiro de 2017, no Campo Belo, casa com grande capacidade. O plano? Registrar com produção para lá de caprichada uma noite especial, onde três de seus trabalhos mais icônicos seriam tocados na íntegra. O pacote, sintomaticamente nomeado Lisboa Under The Spell, foi lançado em vários formatos. O formato analisado aqui é o do Box-Set, prontamente adquirido por este que vos escreve, sabidamente um grande fã dos caras. 

Fanâ e um dos brinquedinhos da produção caprichada do show
Apresentação

O Box é caprichado, contendo um Blu-Ray, um DVD (mesmo conteúdo do BD) e os três Cds, cada qual para um dos atos do show. Tudo encartado (e encaixado em miolos de acrílico) em belo mediabook encapsulado por uma capa em cartão. A arte do pacote é bela e o design interno, informativo e contando com fotos excelentes da noite do show.

O Box Set 
Documentário:

O documentário é a perfeita contraparte para a excelente biografia Lobos Que Foram Homens (ler resenha aqui), repleta de filmagens para lá de pitorescas. Aqui acompanhamos os lusos em cenas que retratam desde tarefas prontamente identificáveis e mundanas como preparar o café para a esposa e as crianças, praticar atividades físicas, rever risonhamente imagens do passado com os colegas tomando uma birita e fumando umas ervas, até tarefas nada comuns aos reles mortais, como guiar uma banda internacionalmente reconhecida em suas peripécias criativas/administrativas. Os preparativos para a grande noite também aparecem aqui, sempre em takes despojados. Com legendas em inglês para os não lusófonos, é um apanhado para lá de agradável que nos faz sentir parte dessa simpática e batalhadora alcateia. A edição já é emendada com os shows, o que garante uma maratona para lá de bem-vinda aos fãs dispostos a reservar 3 horas de seu tempo junto à maior banda Portuguesa da história.


O documentário espia os homens por debaixo desses lobos aí

Os Shows

Arena abarrotada de fãs dispostos a cantar cada nota junto à banda, produção de palco de altíssima qualidade e ótima captação de imagens em alta resolução, com takes e edição bem pensados, que conseguem alternar performances, plateia e os detalhes da produção esmerada sem que tudo pareça um grande videoclipe. Tudo isso se perderia caso os Moonspell não fossem uma máquina funcional em cima dos palcos. Mas eles hoje são sua melhor versão ao vivo, uma alcateia que, mesmo sem contar com os mais virtuosos dos músicos, atende a um padrão alto de qualidade de espetáculo e musicalidade.



O repertório é dividido em três atos, cada um replicando um disco da carreira dos lusos na íntegra. O primeiro ato com Wolfheart, o segundo com Irreligious e o terceiro com o então disco novo, Extinct. A escolha tem uma explicação simples: Wolfheart e Irreligious, a despeito do impacto que causaram à cena europeia em seus lançamentos, vieram em uma época de consolidação da banda, e as suas turnês tinham um Moonspell majoritariamente servindo de opening act para outras bandas, tendo então a restrição habitual de tempo de palco. Logo, o material clássico desses trabalhos, afora as mais manjadas, raramente viu a luz do dia nas turnês posteriores. E é para lá de bacana ver o quanto esses discos, em especial Irreligious, sobreviveram ao teste do tempo, soando ainda melhores interpretados ao vivo por uma banda mais madura e proficiente. A plateia participativa, os coros reais e a presença de Mariangela DeMurtas (Tristania, esposa do guitarrista Ricardo Amorim) em Raven Claws ainda ajudam a tornar as versões aqui mostradas melhores que suas contrapartes de estúdio.


O terceiro ato, com o bem mais moderno e complexo Extinct encerra um ciclo que demonstra que, a despeito da evolução musical da banda, que experimentou muito em cada disco nesse interim, há uma lógica estética clara. Jamais poderiam acusar não ser a banda que fez Wolfheart capaz de anos depois entregar o belo Extinct, interpretado com emocionante excelência. Talvez o único senão resida no fato que o som do Blu-Ray e sua mixagem não acompanhem o visual Blockbuster da noite. Não, o som não é ruim, apenas mais cru do que se imaginaria. Tal pormenor estético fica ainda mais claro no áudio dos Cds. O lado bom é que efetivamente a experiência fica mais próxima de um show real, nada parece sonoramente superproduzido ou artificial.


Veredito da Cripta  

Lisboa Under The Spell veio ao mundo para suprir a falta de registros ao vivo oficiais do Moonspell.  Trazendo três horas de um ótimo e completo material, acompanhado de um grande esmero na apresentação, temos aqui um pacote dos sonhos para os fãs de uma das bandas mais idiossincráticas da história.


NOTA: 10


Gravadora: Napalm Records (importado)
Prós: produção visual impecável, três horas de um material de primeira
Contras: áudio algo cru, contrastando com a superprodução da noite
Classifique como: Gothic Metal
Para Fãs de: Paradise Lost, Type O Negative, Tiamat




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