Enslaved - E |
Space Drakkar
Por
Trevas
A norueguesa Enslaved teve início no longínquo ano
de 1991. Com boa parte de seus membros ainda curtindo a adolescência, a banda
abraçou a subcultura repleta de outros adolescentes ranhentos e bocós, a
emergente e infame cena do Black Metal. Provavelmente tão logo a
testosterona parou de afetar o cérebro, a banda passou a trazer para seu som
influências de outros gêneros, renegando o rótulo Black Metal em prol do
menos alienante Metal Extremo. No início dos anos 2000 o Enslaved abraçou de vez sua veia vanguardista na cena, com discos
que exploravam novos territórios, o fazendo de maneira tão magistral que
conseguiu não causar o afastamento dos fãs mais radicais, ao mesmo tempo que se
colocava paulatinamente no radar de outros tantos que usualmente não se
aventuram pelo espectro extremo do metal. Sou um desses. Confesso que demorei a
dar a devida atenção à banda, embora tenha acompanhado com curiosidade a reação
fervorosa de critica a discos como Vertebrae,
Riitiir e In Times. E lá vou eu
tentar descrever a tortuosa jornada pela mitologia nórdica que é esse novo
trabalho.
Ok, nós somos uma banda de Black Metal diferente...mas não, não vamos sorrir! |
Storm Son (ver vídeo), o épico que abre o disco, parece uma compilação do
que o “novo Enslaved” tem a
oferecer: abertura etérea que poderia bem ter saído da fase atual do Anathema, com o novato Håkon Vinje inaugurando as linhas melódicas com uma bela e aveludada voz
que faz excelente contraponto aos urros do veterano baixista/vocalista Grutle Kjellson. Enquanto isso Ivar
Bjørnson, o outro sobrevivente da
formação original, destila riffs que enveredam muito mais para o progressivo,
ao lado do já conhecido “Ice Dale”. Mas se engana quem pensa que a
banda deixou para trás qualquer laço com o metal extremo, e é o excelente Cato Bekkevold quem melhor faz a transição entre os dois mundos, que se
dá logo antes do refrão, com uma performance baterística de tirar o
chapéu. Uma música tão bem construída
que faz dez minutos passarem sem nos darmos conta.
The River’s Mouth (ver vídeo) é bem
mais direta, mas nem por isso menos abrangente e expansiva em seus limites
musicais, com os timbres de guitarra e teclados e ótimo refrão lembrando um
bocado o Space Metal que o Amorphis
tentara (a meu ver com sucesso) em Am
Universum. Mas os grunhidos de Grutle e os cânticos épicos da ponte
fazem com que a mistura se mostre única e perfeita. Excelente, assim como a
produção da bolachinha, nas mãos da dupla Ivar
e Grutle, com mixagem do onipresente
Jens Bogren.
Sacred Horse traz elementos de Black
Metal mais old school e escalas
orientais fundidos a hammonds e
emoldurados por um final épico e muito bem bolado que ressalta o nível de
maturidade que a banda atingiu em suas composições. Nada aqui é gratuito ou
parece fora de lugar. Axis Of the
Worlds é outra faixa que faz com
maestria a fusão de elementos de rock clássico e progressivo com uma estrutura
musical que torna prontamente identificável se tratar de uma banda extrema
norueguesa. Os solos de alma bem rocker
no meio disso tudo ficaram surpreendentemente agradáveis, diga-se.
Rock
Progressivo e cânticos ritualísticos abrem e fecham a por vezes etérea Feathers Of Eoh, que conta com
uma flauta como elemento alienígena. E, como parece ter se tornado comum, há
também um saxofone no épico que encerra o disco, Hiiindsiight. Cheia de mudanças de andamento e clima, a faixa ainda
traz o auxílio vocal de Einar Selvik, famoso por seus trabalhos com o
Wardruna, Gorgoroth e Saahg (e
pela trilha sonora da série Vikings,
onde também chegou a atuar como ator). A edição especial do disco vem com dois
inspirados bônus que em nada atrapalham o repertório original.
Veredito da Cripta
O
novo trabalho do Enslaved catapultou
o nome banda para um novo patamar no mundo do rock. Já respeitada no meio
metálico, em muito por sua postura vanguardista, repentinamente passou a ser adulada
nas listas de melhores de 2017 por mídias especializadas em progressivo e até
mesmo em veículos mais dedicados ao mainstream.
Segundo Ivar, um sonho que se faz
realidade: “parece que finalmente, após 14 discos, começamos a acertar nosso
som”. E o que faz essa conquista mais curiosa (e merecida) é que E está longe, muito longe de ser um
disco raso. Pelo contrário, é um trabalho denso e cheio de nuances, mas sem fazer
concessões em relação ao peso. Um dos grandes discos de 2017? Com certeza.
NOTA:
9,67
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Gravadora:
Shinigami Records (nacional).
Pontos
positivos: mistura brilhante de elementos de metal extremo com outros estilos
Pontos
negativos: definitivamente não é um disco para quem tem problemas de
concentração
Para
fãs de: Ihsahn, Opeth
Classifique como: Black Metal, Space Metal, Prog
Metal
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