Pain Of Salvation - In The Passing Light Of Day (CD-2017) |
Por Trevas
O que um multi-instrumentista sueco que tem uma banda de Prog Metal para lá de idiossincrática faz quando passa meses no leito de
um hospital, alguns deles entre a vida e a morte, lutando contra uma bactéria
comedora de carne e resistente a boa parte dos antibióticos conhecidos? Anota
tudo mentalmente direitinho para lançar um disco conceitual, claro.
Brincadeiras à parte, foi exatamente o que fez Daniel Gildenlöw, líder
do Pain Of Salvation (ou POS, para encurtar), após passar o ano
de 2014 numa feroz luta pela vida.
Daniel, o Prog Hipster? |
In
The Passing Light Of Day percorre momentos da vida do sueco, entre
altos e baixos, entremeados com os pensamentos que perpassaram sua mente no que
poderia ter sido seu leito de morte. Como tudo o que envolve o POS, na verdade um projeto solo mal
disfarçado de banda, tanto a temática quanto as músicas sempre trilham a tênue
linha entre o genial e o pedante.
Uma música cheia de
dinâmica, luz e sombras, silêncios intensos quebrados por riffs cortantes e um refrão excelente - essa é a faixa de abertura, On A Tuesday. Tongue Of God tem um ar calmo rompido
repentinamente por aqueles riffs que
remetem tanto a uma versão mais Heavy
Metal do Faith No More, o que também se reflete no refrão
grudento e sombrio.
Meaningless, a bela Power Ballad de contornos Folk,
foi muito bem escolhida como primeira música de trabalho do disco. Já nessa terceira
música, duas coisas me pareceram bem claras: o tom para lá de sombrio e
melancólico do disco. Nada surpreendente dado o tema que norteia a obra. A
segunda coisa é a produção um pouco aquém do esperado pelas mãos de Daniel Bergstrand. As músicas tem um som seco e a falta de tato em lidar
com os silêncios e rompantes de peso tornam a audição meio complicada em alguns
momentos. As partes calmas super baixas no mix,
aí você aumenta o volume e daqui a pouco vem um som altíssimo. Um problema
semelhante ao que afetou o X Factor
do Iron Maiden.
Em termos de musicalidade, a banda soa boa como sempre, a despeito das
inúmeras mudanças de formação que basicamente tornaram o POS um projeto de Daniel
Gildenlöw. Daniel desenvolveu uma maneira única de cantar e compor. Suas
interpretações soam quase esquizofrênicas de tão variadas, mas são de uma
sensibilidade ímpar, como podemos ver em números mais “normais”, como Silent Gold, talvez influenciada pela experiência acústica do trabalho
anterior.
E na saída da sauna... |
Full Throttle Tribe mantém a
tradição de faixas midtempo com refrãos
marcantes. Já Reasons é irritante
até a medula, confesso que me forcei a chegar ao fim da música em todas as
tentativas. A baladinha Angels Of Broken
Things não ajuda muito (a despeito
do belo solo em seu final) e o interesse pela bolachinha dá uma tremenda caída
nesse ponto...e a apenas razoável To
Tame A Beast não ajuda muito
a melhorar o panorama, mesmo com sua eventual transmutação em Rock alternativo
dos anos 1990, e o mesmo panorama encontrei em If This Is The End. Se realmente fosse esse o fim, o disco
terminaria numa gigantesca decepção.
Sobra então a expectativa de que a faixa título, ao longo de seus mais
de quinze minutos de duração, retome o alto padrão de qualidade do disco em sua
primeira metade. E In the Passing Light
Of Day realmente corresponde a expectativa. Um épico nos moldes dos
melhores momentos do Marillion fase Hogarth, com seus momentos de calmaria
e fúria sempre guiados por belas melodias.
Veredito
da Cripta
In
The Passing Light Of Day, fosse um filme, seria daqueles que tem um
início fantástico, acaba por se alongar por mais tempo que o necessário, mas
que tem um final tão bem bolado que acaba por tornar a experiência irregular
uma jornada para lá de válida. Longe de ser o melhor trabalho do POS, ainda assim é um belo álbum. E dia 01 de fevereiro os suecos estarão no palco do Teatro Rival, no Rio de Janeiro...não dá para perder.
NOTA:
8,32
Gravadora:
Hellion Records (Nacional).
Pontos
positivos: A primeira metade do disco e a faixa título são excelentes
Pontos
negativos: a produção e alguns xaropes na segunda metade do disco
Para
fãs de: Evergrey, Devin Townsend, Fates Warning
Nenhum comentário:
Postar um comentário