Nasce
Um Novo Clássico
Por Trevas
Uma vez, li uma entrevista com o guitarrista Andreas Kisser que achei bastante valiosa para ilustrar meu pensamento sobre o Sepultura. Nela, o entrevistador (acho que foi na Roadie Crew) perguntava sobre como a expectativa dos fãs sobre o direcionamento de um novo lançamento afetava a banda. Andreas, com sua inteligência habitual, explicou brilhantemente que cada fã tinha uma imagem do que considerava ser o Sepultura ideal. E ele mesmo também tinha uma imagem bem nítida de seu Sepultura ideal. Sendo assim, invariavelmente o que a banda viesse a lançar chegaria perto do Sepultura que alguns idealizam, e distanciaria de maneira igual do Sepultura ideal de outros tantos. Logo, seria tolice compor pensando nisso, o Sepultura real sempre perderia para os vários Sepulturas imaginários. Machine Messiah representou com maestria o nascimento de mais um desses muitos Sepulturas, ganhando espaço nas listas de melhores do ano ao redor do globo em 2017. Surpreendente para um disco cuja gestão total durou poucos meses. Mas Kisser queria mais. Repetindo a parceria com Jens Bögren, dessa vez a banda tomou todo o tempo necessário para trabalhar em seu sucessor. Novamente conceitual, as ideias por detrás de Quadra são repletas de nuances, e deixarei aos curiosos pesquisar mais sobre o assunto. Em resumo, o conceito brinca com estereótipos e maneiras diferentes de ver a realidade, com uma mensagem simplificada de respeito às diferenças. Como sempre digo, a intenção quando da criação de um disco conceitual pode ser brilhante, mas de nada servirá se as músicas não estiverem à altura. Então, vamos ao que interessa: como soa Quadra?
Os quatro de Quadra |
O disco também está dividido em quartos, cada qual com 3 músicas. A dobradinha que abre a bolacha é de destruir qualquer pescoço. Isolation e a pretendente a clássico Means To An End mesclam os elementos sinfônicos típicos das produções de Bögren com uma ferocidade absurda. Os detratores podem reclamar de qualquer coisa do Sepultura atual, mas definitivamente jamais poderão acusar a banda de amansar seu som. Last Time encerra o primeiro quarto do disco, com orquestrações que dão um certo tom épico em outra pancadaria que ficará muito bem ao vivo.
O segundo quarto abre com elementos tribais em Capital Enslavement, outro destaque, com sua forte letra. Ali é o primeiro momento menos frenético do disco, contando com um groove carregado, assim como em Raging Void, um dos refrães mais legais de todo o disco. Já nesse ponto dá para comemorar Quadra como a melhor performance vocal do gigante Derrick Green, cada vez mais versátil.
A épica Guardians of Earth inaugura o terceiro quarto, com sua mensagem poderosa e preservacionista traduzida perfeitamente em um clipe igualmente forte. The Pentagram é uma das duas instrumentais que vem salientar a força criativa dessa formação da banda e nos lembrar do monstruoso guitarrista que é Andreas Kisser. E se alguém souber de que planeta vem Eloy Casagrande, favor avisar. Além da performance colossal, o baterista também co-assina quase todas as faixas do disco com Kisser. Autem encerra mais um quarto do disco de maneira tão experimental quanto empolgante.
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Gravadora: BMG (nacional)
Prós: pesado, experimental e ainda assim
viciante
Contras: só os muito puristas terão algo a
reclamar
Classifique como: Thrash Metal, Modern
Metal
Para Fãs de: Gojira, Machine Head