terça-feira, 30 de julho de 2019

Rammstein – Rammstein (CD-2019)


Fogo Nada Fátuo
Por Trevas

Vamos lá. O headbanger mais sisudo e tradicionalista pode odiar a banda e vomitar o quanto quiser, mas terá que afogar as mágoas abraçadinho com seu LP do Eternal Champion diante de um fato inconteste: O Rammstein se tornou uma das maiores bandas de Heavy Metal da história. Na ativa com seu Metal Industrial único e polêmico desde 1994, o quinteto teutônico é bem econômico em termos de lançamentos de estúdio, e esse novo trabalho (autointitulado) apareceu nas lojas para quebrar um hiato de nada menos que 10 anos sem um disco de inéditas. E esse tempo todo sem um disco de estúdio não fez que a marca perdesse força, pelo contrário: o disco figurou em número 1 em vendagem em nada menos que 9 países na Europa. Abocanhou dois discos de platina na Alemanha natal em pouco menos de 2 meses (com mais de 400.000 cópias vendidas) e é o primeiro trabalho do combo teutônico a alcançar o TOP 10 da Billboard, um feito e tanto se considerarmos que os Estadunidenses costumam ser imensamente refratários à arte em outra língua que não o inglês.

E aí, o que vamos queimar hoje?
A força do Rammstein em muito se deve à reputação da banda ao vivo. Um espetáculo tão grandioso que empalidece até monstros sagrados do entretenimento, como Kiss e Iron Maiden. Então é tiro e queda, a vida dos caras se baseia num ciclo de lançar um CD e passar três ou quatro anos levando esse espetáculo a arenas ao redor do globo. Mas se engana quem pensa que esse Modus Operandi do Rammstein é uma unanimidade entre seus membros. A eterna acusação de que o grupo não passa de uma atração circense com roupagem polêmica e som pesado, mas previsível, costuma incomodar bastante. Tanto que, na turnê passada, no meio do show os caras migravam de seu palco High Tech para um pequeno palanque em meio à multidão, para execução de alguns números sem as pirotecnias e afins. E findada a turnê, Richard Z Kruspe, guitarrista e único dos caras que costuma falar (e muito) com a imprensa, afirmou não ver motivos para lançar um novo trabalho. Após anos em que se especulou se a banda iria um dia retornar, o tal rebento foi anunciado. Kruspe afirmou que dessa vez a havia uma meta clara para o disco: mostrar um Rammstein despido da grandiosidade, focando nas composições. A capa simples, com o fósforo emblemático, vende a ideia. Segundo o guitarrista, será como ouvir um Rammstein 3D, em termos de feeling.

Tá bom.

Vamos deixar de lenga-lenga ouvir o que os esquisitões tem a dizer.

Uma das trocentas edições de Rammstein, o disco
Deutschland, faixa que abre o disco, foi também a primeira a ser lançada. Seu portentoso clipe, uma superprodução repleta de referências à história da Alemanha, é dos melhores que já vi. A música é quase um monumento ao Heavy Metal Industrial vigoroso e monolítico dos primeiros trabalhos da banda. Ao contrário do conteúdo de sua contraparte cinemática, sua produção é simples e sem tantas camadas. Como prometera Kruspe, a banda se despiu. Mas isso não significa um descuido técnico. Podemos ter menos camadas e detalhes que o habitual para o discos do Rammstein, mas o som é absurdamente pesado e cristalino.



E se a faixa de abertura pode dar a impressão de que o quinteto fincaria suas pesadas botas no Metal, o segundo single, Radio chega para nos confundir. Absurdamente grudento, carrega em seu DNA de origem o Synthpop dos anos 1980/1990 (ainda que o peso esteja ali).




E essas referências ao Synthpop transparecem de maneira ainda mais clara em Ausländer (outro single, e uma letra que podia bem estar numa música Glam Metal dos anos 1980, se perdesse a inteligência, claro). Outras faixas investem num Rammstein que remete aos primórdios, mas com adições estilísticas novas: vide o coro sacro em Zeig Dich e os teclados psicodélicos na irresistível Weit Weg.




A produção, primeira a não contar com o comando de Jacob Hellner, é surpreendentemente orgânica. A voz de Till nunca soou tão desesperada. O que salta aos ouvidos na pesada e claustrofóbica Puppe, onde ele grita o refrão de maneira agoniante, emulando a psicopatia do personagem da letra (uma criança perturbada que desconta sua frustração por ser deixada sozinha pela tutora/irmã, que sai para se prostituir, mutilando uma boneca – típico Till Lindemann) e na beleza acústica de Diamant (com o impagável romantismo: “você brilha e é bela feito um diamante, mas é só uma pedra”). Outro ponto central da produção é que quem acompanha o protagonismo de Till dessa vez é a cozinha. O novo disco traz o melhor som de baixo e bateria que os caras já conseguiram. E ouvir um som orgânico de bateria desse num disco de Industrial é para lá de bacana. Quem assina essas mudanças estéticas na produção é Olsen Involtini, parceiro de Kruspe no projeto paralelo Emigrate.





Com a estética do “menos é mais”, o quinteto ganhou foco, caprichando bastante nas composições. Até aquelas que aparentemente nada trazem de novo ao bestiário Rammsteiniano soam deliciosas, como Sex, Was Ich Liebe, Tattoo e Hallomann. Outro acerto foi o de não ceder à tentação de lançar um disco muito longo depois de tanto tempo sem gravar. Com parcos 46 minutos de duração (e as tradicionais 11 músicas), Rammstein é cirúrgico e denso. Um dos melhores discos de 2019, que também ameaça se tornar um dos favoritos dos fãs dentro da discografia da banda. (NOTA: 9,44)


https://www.themetalclub.com/

Gravadora: Universal Music (importado)
Prós: Um Rammstein “orgânico” centrado em grandes composições
Contras: Levou 10 anos para ver a luz do dia...
Classifique como: Metal Industrial
Para Fãs de: Killing Joke, Lindemann, Emigrate


8 comentários:

  1. Disco fodástico e extremamente viciante!!
    Como você disse, já é um dos meus favoritos deles.
    Valeuzão, mizifio!!
    ML

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    1. fala camarada!
      Alta rodagem aqui no som de casa. O curioso é que a primeira audição foi bem morna. Já na segunda o caldo engrossou hehehehhehe
      Abraço
      T

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  2. Que raiva dessas notas quebradas com duas casas decimais! 9,44??? Fale 9,5 ou 9 ou 10! Pqp

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    1. Mothra!!!!
      Por essa raiva que você deixou de ser meio viado para ser uma bichona completa?
      Bjundis babados
      Trevas

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  3. Se olhar sem preconceito o disco é bom mas se olhar com perfeição rock, metal pra mim é cantado em inglês parabéns pelo blog ele e foda ✌

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    1. Olá, Erica! Obrigado pelas palavras!
      Entendo teu ponto de vista, mas como vocalista de uma banda que canta em Português, só posso discordar gwhahhahahaha
      Gosto muito de rock em espanhol, alemão, russo e o escambau. Obviamente o inglês sempre será a referência pois é a língua de boa parte dos clássicos imortais do estilo. Mas há vida na cena em qualquer língua.
      ótima semana
      Trevas

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  4. Curto muito o Rammstein, e achei este CD muito bom! Gostaria de poder vê-los ao vivo...

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    1. Olha, o show deles faz todos os outros shows parecerem de baixo orçamento. É sinistro!
      Espero poder ver novamente
      abraço
      T

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