Blind
Earth ou Iced Guardian?
Por Trevas
Para tentar explicar
a força por detrás do lançamento desse projeto no início de 2000, temos que relembrar
o cenário da música pesada nos anos 1990. Em uma era em que o Metal foi absolutamente defenestrado do
Mainstream, uma penca de subgêneros
floresceu, tanto para o lado mais extremo quanto para o lado mais melódico. E
comercialmente, o Power Metal era a estrela do dia. Zilhões de
imitações de segunda categoria do Helloween
surgiram. E como é comum em qualquer cena que floresça, algumas pérolas
conseguiram soerguer acima da média. Os alemães do Blind Guardian, capitaneados
pelo baixista/vocalista Hansi Kürsch, mais pesados que boa parte de
seus pares, com sua sonoridade completamente calcada na fantasia, rapidamente
galgaram degraus para se tornar uma das maiores bandas de seu tempo.
Hansi, antes do visual tiozão do churrasco |
E nos Estados Unidos, onde o Metal
como então se conhecia sofria ainda mais com o surgimento da cena moderna do
infame Nu Metal, um obstinado (e complicado) guitarrista, Jon Schaffer, enfim conseguia que sua visão levasse seu Iced Earth do quinto escalão para uma das grandes promessas do Metal mundial com o lançamento de dois
petardos em sequência, The Dark Saga e Something Wicked This Way Comes e o surpreendente sucesso do triplo
ao vivo Alive In Athens.
Jon, fazendo o que ele faz quando não está mandando alguém embora |
Hansi e Jon haviam se tornado grandes amigos. Após
uma noitada na Alemanha, regada a muita birita, um ressacado Jon esbarra com um violão na sala da
casa de Hansi e começa a dedilhar
algo novo. Hansi logo cria uma melodia
em cima. Em pouco tempo nascia My Last Sunrise, e com ela, a semente da colaboração que seria Demons & Wizards. O nome,
triado do disco clássico do Uriah Heep, era perfeito para exemplificar a
mistura da fantasia do BG com o
clima mais capetão do IE. O anúncio
do disco, em 1999, teve um impacto absurdo. Era então como imaginar algo como uma
colaboração do Rob Halford com o Steve Harris. O disco,
produzido por Jim Morris (que também ficaria ao encargo
das guitarras solo), agora ganha uma edição comemorativa, remasterizada pelo
premiado produtor Zeuss, devidamente
relançada aqui no Brasil pela Hellion
Records.
Hansi & Jon |
Rites Of Passage é a
introdução climática e marcial, que bem poderia musicar a marcha de orcs em um
derivado do Senhor dos Anéis. Ela prepara um sombrio terreno para Heaven Denies, uma daquelas músicas tão absurdamente perfeitas que por si
só já valeria a recomendação de aquisição do disco. A sonoridade é exatamente a
mescla da Rifferama Thrashy do Iced Earth com as
melodias únicas (e guitarras dobradas) do Blind
Guardian.
Boa parte dos ouvintes já se daria por satisfeita com o que ouvira até aí,
mas há muito mais por vir. A qualidade não cai por um segundo sequer, seja em números
“chugga-chugga” como Poor Man’s Crusade e Blood On My
Hands, seja em canções únicas e algo
fantasmagóricas como a apoteótica Fiddler
On The Green (canção cuja
letra é ilustrada na bela arte de capa) e Path
Of Glory.
A mistura do que há de melhor no mundo dos demônios estadunidenses do Iced Earth com o ápice criativo dos magos alemães do Blind Guardian foi tão cirúrgica, e o timing tão perfeito, que dali para
frente nenhuma das duas bandas conseguiria lançar nada que sequer chegasse
perto do que ouvimos aqui. A carreira do Iced
Earth, então postulante ao primeiro
escalão do Heavy Metal mundial, minguou de disco em
disco, raramente colocando a cabeça para fora do lago da mediocridade. Já o Blind Guardian conseguiu se manter comercialmente como uma grande
potência, mas nenhum dos discos dali para a frente seria uma unanimidade entre
os fãs, com o lado orquestral e exagerado da banda suplantando o peso de seus
primórdios. Nem mesmo repetição da dobradinha, com Touched By The Crimson King, em 2005,
conseguiria chamar tanto a atenção, sucumbindo rapidamente à expectativa criada
pelo debut.
O tratamento dado para essa reedição é louvável. Além da presença de White Room (um improvável e apenas ok cover do Cream), presente apenas na edição especial à época do lançamento,
temos as demos de Heaven Denies e uma versão alternativa para The Wistler. A remasterização não impressiona, mas o encarte possui liner notes bacanas, pelas mãos dos mentores da obra. E a edição nacional
ficou bem bonita, com um digipack caprichado
encartado em um belo Paper Sleeve.
Jon & Hansi, 2019. A parceria reativada. |
Veredito
da Cripta
Para quem já tem a bolachinha,
confesso que os extras não são exatamente imperdíveis. Já para quem perdeu essa
pérola à época em que saiu, a caprichada reedição em solo tupiniquim vale cada
centavo. Afinal, trata-se de um dos melhores discos de Power Metal em todos os
tempos, capaz de rivalizar com o que de melhor fizeram tanto Blind Guardian quanto Iced Earth.
NOTA:
CLÁSSICO DA CRIPTA
Gravadora: Hellion Records (nacional)
Prós: A mistura perfeita entre Blind
Guardian e Iced Earth
Contras: O disco acaba.
Classifique como: Power Metal
Para Fãs de: Iced Eath e Blind Guardian (dã)
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