domingo, 21 de julho de 2019

Demons & Wizards – Demons & Wizards Remastered Edition (CD-2019 – originalmente lançado em 2000)




Blind Earth ou Iced Guardian?
Por Trevas

Para tentar explicar a força por detrás do lançamento desse projeto no início de 2000, temos que relembrar o cenário da música pesada nos anos 1990. Em uma era em que o Metal foi absolutamente defenestrado do Mainstream, uma penca de subgêneros floresceu, tanto para o lado mais extremo quanto para o lado mais melódico. E comercialmente, o Power Metal era a estrela do dia. Zilhões de imitações de segunda categoria do Helloween surgiram. E como é comum em qualquer cena que floresça, algumas pérolas conseguiram soerguer acima da média. Os alemães do Blind Guardian, capitaneados pelo baixista/vocalista Hansi Kürsch, mais pesados que boa parte de seus pares, com sua sonoridade completamente calcada na fantasia, rapidamente galgaram degraus para se tornar uma das maiores bandas de seu tempo.

Hansi, antes do visual tiozão do churrasco

E nos Estados Unidos, onde o Metal como então se conhecia sofria ainda mais com o surgimento da cena moderna do infame Nu Metal, um obstinado (e complicado) guitarrista, Jon Schaffer, enfim conseguia que sua visão levasse seu Iced Earth do quinto escalão para uma das grandes promessas do Metal mundial com o lançamento de dois petardos em sequência, The Dark Saga e Something Wicked This Way Comes e o surpreendente sucesso do triplo ao vivo Alive In Athens.


Jon, fazendo o que ele faz quando não está mandando alguém embora

Hansi e Jon haviam se tornado grandes amigos. Após uma noitada na Alemanha, regada a muita birita, um ressacado Jon esbarra com um violão na sala da casa de Hansi e começa a dedilhar algo novo. Hansi logo cria uma melodia em cima. Em pouco tempo nascia My Last Sunrise, e com ela, a semente da colaboração que seria Demons & Wizards. O nome, triado do disco clássico do Uriah Heep, era perfeito para exemplificar a mistura da fantasia do BG com o clima mais capetão do IE. O anúncio do disco, em 1999, teve um impacto absurdo. Era então como imaginar algo como uma colaboração do Rob Halford com o Steve Harris. O disco, produzido por Jim Morris (que também ficaria ao encargo das guitarras solo), agora ganha uma edição comemorativa, remasterizada pelo premiado produtor Zeuss, devidamente relançada aqui no Brasil pela Hellion Records.

Hansi & Jon 
Rites Of Passage é a introdução climática e marcial, que bem poderia musicar a marcha de orcs em um derivado do Senhor dos Anéis. Ela prepara um sombrio terreno para Heaven Denies, uma daquelas músicas tão absurdamente perfeitas que por si só já valeria a recomendação de aquisição do disco. A sonoridade é exatamente a mescla da Rifferama Thrashy do Iced Earth com as melodias únicas (e guitarras dobradas) do Blind Guardian.


Boa parte dos ouvintes já se daria por satisfeita com o que ouvira até aí, mas há muito mais por vir. A qualidade não cai por um segundo sequer, seja em números “chugga-chugga” como Poor Man’s Crusade e Blood On My Hands, seja em canções únicas e algo fantasmagóricas como a apoteótica Fiddler On The Green (canção cuja letra é ilustrada na bela arte de capa) e Path Of Glory.



A mistura do que há de melhor no mundo dos demônios estadunidenses do Iced Earth com o ápice criativo dos magos alemães do Blind Guardian foi tão cirúrgica, e o timing tão perfeito, que dali para frente nenhuma das duas bandas conseguiria lançar nada que sequer chegasse perto do que ouvimos aqui. A carreira do Iced Earth, então postulante ao primeiro escalão do Heavy Metal mundial, minguou de disco em disco, raramente colocando a cabeça para fora do lago da mediocridade. Já o Blind Guardian conseguiu se manter comercialmente como uma grande potência, mas nenhum dos discos dali para a frente seria uma unanimidade entre os fãs, com o lado orquestral e exagerado da banda suplantando o peso de seus primórdios. Nem mesmo repetição da dobradinha, com Touched By The Crimson King, em 2005, conseguiria chamar tanto a atenção, sucumbindo rapidamente à expectativa criada pelo debut


O tratamento dado para essa reedição é louvável. Além da presença de White Room (um improvável e apenas ok cover do Cream), presente apenas na edição especial à época do lançamento, temos as demos de Heaven Denies e uma versão alternativa para The Wistler. A remasterização não impressiona, mas o encarte possui liner notes bacanas, pelas mãos dos mentores da obra. E a edição nacional ficou bem bonita, com um digipack caprichado encartado em um belo Paper Sleeve.

Jon & Hansi, 2019. A parceria reativada. 
Veredito da Cripta

Para quem já tem a bolachinha, confesso que os extras não são exatamente imperdíveis. Já para quem perdeu essa pérola à época em que saiu, a caprichada reedição em solo tupiniquim vale cada centavo. Afinal, trata-se de um dos melhores discos de Power Metal em todos os tempos, capaz de rivalizar com o que de melhor fizeram tanto Blind Guardian quanto Iced Earth.


NOTA: CLÁSSICO DA CRIPTA


Gravadora: Hellion Records (nacional)
Prós: A mistura perfeita entre Blind Guardian e Iced Earth
Contras: O disco acaba.
Classifique como: Power Metal
Para Fãs de: Iced Eath e Blind Guardian (dã)



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