sábado, 17 de novembro de 2018

Liberation Fest (16/11/2018 – Circo Voador – Rio de Janeiro/RJ)

Liberation Fest - Poster original

Satan Is Real!
Texto e fotos (de celular) por Trevas

O anúncio da Liberation Fest Tour foi uma grata surpresa. Trazendo lado a lado Arch Enemy e Kreator a várias cidades, e com adição posterior dos veteranos do Excel e do metalcore do Walls Of Jerycho, ficou no ar uma feliz promessa de uma grande noite. Mas a noite carioca começou com uma baixa inesperada, conforme informações da produção do evento, Candace Kucsulain, a vocalista do Walls Of Jerycho, ficou retida nos EUA devido à nevasca que (dentre mortes e caos) ocasionou centenas de cancelamentos de voos na Costa Leste estadunidense. Com a ausência do Walls, o show de abertura do Excel foi rearranjado para um pouco mais tarde, sem alteração do resto da programação, que traria o Arch Enemy como show de encerramento (respeitando o revezamento dos co-headliners do evento).

Cartaz da edição carioca
Excel

Assistir ao show do combo de Crossover Thrash, reunido em 2012 depois de longo hiato, é como tentar rever depois de coroa aquele filme da sessão da tarde que você adorava quando criancinha, só para descobrir que a película é muito melhor ali na sua memória pueril do que na vida real. A banda (que traz o vocalista Dan Clements e o baixista Shaun Ross da formação clássica) soa anacrônica e deslocada no palco do Circo. Com seu último disco de estúdio registrado em 1995, é até compreensível que tudo o que os caras tocaram nos 40 minutos do set tenha soado datado. O combo, formado por Dan, Ross, Michael Cosgrove (bateria) e Alex Barreto (guitarra) até tem bastante energia, se sacode o tempo todo no palco, mas de uma forma meio “autista”, sem nunca olhar nos olhos do público e com carisma próximo de zero, como se fossem uma banda iniciante que não sabe muito bem o que fazer ali. A recepção, de efusiva pela ala mais velha do público na primeira música, amornou com o passar do set, e se eu fosse um comentarista esportivo, diria na melhor das hipóteses (e com muita boa vontade) que o Excel foi um jogador limitado, mas esforçado. Um show apenas competente, que empalideceu ainda mais diante do massacre sonoro, carisma e profissionalismo das duas outras atrações da noite (NOTA:6)

Excel, em "perdidos na noite"
Kreator

No horário programado, Mars Mantra toma o som mecânico do circo diante de um belo jogo de luzes. Longe dos palcos cariocas desde a turnê do Coma Of Souls, o quarteto teutônico entra com os dois pés na porta com Phantom Antichrist, e  lá do mezanino pude observar a pista, abarrotada, se transformar num imenso liquidificador humano. Com minha base montada logo atrás da mesa de iluminação, com o setlist escancarado à minha frente, fui privado da sensação de surpresa já sabedor de cada passo de um curto repertório de apenas 13 músicas. Mas nem a indesejável presciência foi capaz de conter a emoção e frio na espinha de ver Mille e sua trupe em ação.

Mille, o gremlin
Sim, um só olhar do Gremlin alemão de voz estridente tem centenas de vezes mais carisma do que presenciamos em todo o show do Excel. E o capitão do kreator sabe aproveitar sua presença magnética, chamando para junto o público a todo o momento, comunicativo e simpático. Mas carisma sozinho não ganha o jogo. E dentro da limitação do tempo reservado ao show, que pareceria curto mesmo se tivesse uma hora a mais do que teve, tudo o que foi apresentado foi de uma ferocidade abissal. E como é bonito perceber que porradas eternas como People Of The Lie, Flag Of Hate e até mesmo Phobia (do outrora controverso Outcast) são cantadas com mesmo carinho pelos fãs quanto as novas Hail To The Hordes, Satan Is Real e Civilization Collapse. Sinais de uma banda que nunca parou no tempo e soube se reinventar com honestidade e paixão pelo que faz.

It's Time To Raise The Flag Of Hate!

O set regular se encerra com Fallen Brother (a faixa que teve recepção menos calorosa, mas ao que parece em muito pelo cansaço de um público que agitou monstruosamente e até então de forma ininterrupta). The Patriarch logo entra no som mecânico e todo mundo sabia o que esperar, com Violent Revolution fazendo o liquidificador humano voltar a funcionar, como que preparando o espírito para o tiro de misericórdia Pleasure to Kill. Ok, faltou muita coisa, mas quando Mille gritou a plenos pulmões “The Kreator Will Return”, todos nós, reles mortais, acreditamos. Um show daqueles que será citado como favorito em todos os tempos por muitos dos que ontem estiveram no Circo. E nas filas para comprar cerveja no pós-show, a conversa era única e onipresente: como o Arch Enemy vai subir no palco depois disso? A resposta, logo veríamos (NOTA: 10)


Kreator, a verdadeira horda do caos!

Arch Enemy

Ok, suceder um show apoteótico como o do Kreator poderia parecer uma tarefa ingrata para boa parte das bandas comuns, mas goste ou não do som dos caras, o Arch Enemy está longe de ser uma banda comum. E logo na primeira música, a faixa título do último (e ótimo) disco, já ficou claro que, ainda que não fosse possível superar a banda alemã, o quinteto ao menos tentaria com todas as armas disponíveis. E que armas! Com o palco visualmente muito bem planejado, víamos um verdadeiro arsenal de grandes músicos! O líder e exímio guitarrista Michael Amott (cada vez mais assumindo a postura de seu ídolo mor, Michael Schenker) achou uma companhia perfeita no monstro Jeff Loomis (sim, o prodígio do saudoso Nevermore), uma dupla de guitarrista que parece forjada em Valhalla! E o que dizer de uma cozinha que tem um rolo compressor como Daniel Erlandsson ao lado do gigante Sharlee D’Angelo? Seria o suficiente para estarmos certos de ao menos uma apresentação de qualidade técnica indiscutível. Mas em meio a esses grandes músicos, o grande trunfo do Arch Enemy atual vem numa esguia silhueta de madeixas azuis e talento surreal.

Alissa, Daniel e Sharlee
O salto de qualidade que o Arch Enemy deu ao recrutar a canadense Alissa White-Gluzz é algo comparável ao que o Iron Maiden deu com Bruce Dickinson. Sim, a banda, que teve um início de carreira para lá de genérico, já havia engrandecido sobremaneira ao trocar o fraco Johan Liiva pela musa Angela Gossow, assumindo enfim uma identidade própria. Mas se em estúdio a preferência entre as moças pode ser discutida, ao vivo a pupila de Angela consegue ser muito superior à sua mentora. Alissa agita a cada segundo de cada música, demonstrando vigor físico, simpatia e carisma incomuns. A voz? Muito mais forte e versátil, com guturais de fazer muito marmanjo barbudo e troozão parecer o boneco Ken vestido de coelhinho da páscoa. Com essa equipe tecnicamente afiada, resta um bom repertório para que o show emplaque.

Um verdadeiro Dream Team!
E sim, a banda tem grandes músicas. O repertório, calcado nos dois discos com a canadense, pincelado pelos números mais famosos da fase Angela (We Will Rise, My Apocalypse, Ravenous, Nemesis) e duas curtas instrumentais que deixaram os fãs de grandes solos de guitarra extasiados, funcionou muito bem, aproveitando os curtos 70 minutos disponibilizados com maestria e muita energia. Um show excelente que teve como único “defeito” o comparativo com a perfeição alcançada pouco antes pelo Kreator! (NOTA: 9,50)   



Hey, estou ali em cima, ó! (foto do perfil oficial do Arch Enemy no Instagram)



2 comentários:

  1. Trevopático!

    Tem gente que vai querer comer seu fígado (bastante estragado) sem cebolas por chamar o inexpressivo Liiva de "fraco"... Hahahahaha.

    Confesso que do Excel conhecia só UMA música ("Drive") que, claro, não foi tocada. Achei o show deles esquisito... Muito intenso, rápido, até agressivo mas que não engrenou... Sei lá. Acho que crossover BOM mesmo fazem/fizeram DRI e Cro-Mags. Os demais ficam meio que num nicho deslocado...

    Walls of Jericho desconheço e sua ausência, para mim, não acrescentou nem retirou nada da noite.

    KREATOR... Achei que meu cérebro (?) havia bugado quando o Mille falou que tinham vindo em 1991. Pra mim tinha sido em 1992. E confirmei. Aquele histórico show na quadra (antiga) da Estácio de Sá foi em 14/04/1992. Estava lá (acho que, junto com o Pantera, é o show a que fui para o qual digo: "Podem me idolatrar, malditos!") e sei o quanto são ferozes!! Mas NÃO GOSTEI DO FORMATO do Liberation. Não tiveram tempo para tocar várias delicinhas!!!! Some Pain Will Last, Betrayer, Extreme Aggression, Renewal (acho que sou o único que gosta dessa música), Tormentor, Love Us or Hate Us, Toxic Trace, Coma of Souls, Terror Zone (com que abriram em 92 - E claro que dessas eles não tocam mais algumas ao vivo!)... É muito difícil falar o que faltou de música. O certo é que faltou TEMPO! Respeito a ideia de coheadlining, mas Arch Enemy NÃO É NINGUÉM NA FILA DO PÃO frente ao Kreator (história, músicas, base de fãs) etcetcetc...

    A única coisa boa foi NÃO TER ENCONTRADO sua vermiscência no dia... Hahahahahahahahaha

    Há braços!

    Krill, the Candiru Man (ui!)...

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    1. Fala, prego
      Liiva é fraco demais e acho esse papo de que a banda era boa só com ele coisa de marmanjo bobalhão que tem medo de mina que berra mais que hômi feioso.
      Excel soou datado, os caras se esforçaram, talvez o show funcionasse no Garage...vinte anos atrás...
      Com certeza faltou tempo, mas dentro do tempo dado, por mim foi massacrante.
      Cara, certamente o Kreator tem mais história, mas hoje em dia o AE talvez chame mais gente mesmo. E o show do AE foi excelente também, então não achei ruim. talvez se e tivesse te visto aí sim não teria gostado da noite uhuhuhuhu
      Abracetas
      Mr. Cancromole

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