quarta-feira, 14 de março de 2018

Machine Head – Catharsis (Deluxe Edition – Cd+DVD)

Machine Head - Catharsis

Atirando Para Todo Lado
Por Trevas

Prólogo: Burning Red Parte 2?

Robb Flynn é um tremendo falastrão. Inteligente e articulado, o cara gosta de meter o bedelho em tudo o que é assunto, em especial se for um tema polêmico da moda. Confesso que gosto de muita coisa no ponto de vista dele, mas também tenho que admitir que o cabrunco por vezes dá no saco. E nas entrevistas pré-lançamento do novo disco, tome baboseiras do tipo “não curto mais metal, acho o rap mais relevante”, “não escuto mais música em casa, prefiro perder tempo com séries, são muito mais excitantes” e mais um monte de provocações aos fãs dizendo que a galera iria vomitar em cima do novo material, dando até mesmo a entender que o disco representaria um rompimento com o passado recente da banda da mesma forma que The Burning Red, o disco que um dia quase acabou com o Machine Head, fez lá atrás. Uma publicidade de gosto duvidoso e que me pareceu um pouco forçada.

Se o disco não vender bem, os rapazes farão bico como pintores

Mas ao menos para esse escriba que vos fala, o desespero em querer se dissociar do rumo que a banda vinha tomando fez todo o sentido. Das cinzas da sua fracassada incursão pelo New Metal, a banda se reinventou de maneira impressionante com Through The Ashes Of Empires. Parecia o disco definitivo para a banda. Mas não era. The Blackening levou o direcionamento musical ainda mais longe e aí já não havia mais um cínico sequer na casa. O Machine Head estava vivo e melhor do que nunca. Quando parecia inevitável uma queda de qualidade, a banda pegou o seu novo som, épico e complexo, e tornou tudo mais acessível e conciso, sem perder um pingo da essência, no perfeito Unto The Locust. Porra, a partir de um disco desses, o que fazer? Aí a banda resolveu repetir a fórmula em Bloodstone & Diamonds. E repetiu de maneira para lá de convincente. Mas deixou claro também que esse caminho musical estava criativamente esgotado. É hora de tentar algo novo. Mas será que o Machine Head conseguirá fazer isso sem alienar sua reconstruída base de fãs? Com isso em mente, entrei de cabeça na catarse de Robb e sua trupe.

Catarse Musicada

Volatile abre o disco de forma direta e agressiva. Fuck the World, grita Robb. Um contraponto ás longas faixas que abriram tudo o que a banda fez desde Through The Ashes, Volatile é Machine Head padrão, muito bem-feita, só não é brilhante. Um belo começo, de qualquer forma.


Catharsis, a música, já é bem mais indicativa da quebra de paradigmas que tanto fora anunciada. Sua introdução evoca Who We Are, dos disco anterior, mas a semelhança fica por aí. Uma bela faixa que mistura elementos bem agressivos com um refrão para lá de melodioso. Excelente.



Beyond The Pale é o típico hino de união dos desajustados sociais que veem no metal uma válvula de escape (e fonte de superação) para suas frustrações. “I found my heroes, the freaks and zeros”. Boa música.

California Bleeding é uma faixa que, segundo Robb, tem uma letra estúpida e grosseira que explicita a relação de amor e ódio que ele tem com a Califórnia. Independente da polêmica que a letra vem causando, é bem empolgante e deverá funcionar a contento ao vivo.

Até então, Catharsis não replicava a genialidade dos discos anteriores, mas também não trazia absolutamente nada de assustador. Até o jorro de bosta líquida Triple Beam assaltar nossos ouvidos com um Rap/Nu Metal tão escroto que seria capaz de causar uma ereção no Fred Durst.

Kaleidoscope tem um início que indica que a merda mole continuaria, mas a faixa até que se desenvolve bem e o belo refrão trata de salvá-la de vez, ainda que replique o conceito de salvação pela música explorado bem melhor na perfeita Darkness Within.





Bastards nasceu de forma curiosa. Uma canção folk que Robb improvisou para os filhos pequenos como uma maneira lúdica de explicar o momento esquisito que os EUA vivem politicamente. Uma espécie de mistura entre Bruce Springsteen e Dropkick Murphys, a faixa foi tocada por ele no YouTube e acabou viralizando. Robb então tentou a todo custo convencer o resto da banda que a mesma funcionaria no disco. E assim ela veio parar em Catharsis. Ok, ela absolutamente destoa de tudo aqui, mas acabou me conquistando com o tempo, e traz o mote “Stand Your ground, Dont Let The Bastards grind You Down”, que seria repetido em outras músicas mais adiante no disco.



Hope Begets Hope é outra boa faixa que vai direto ao ponto e que não assustará nenhum fã das antigas, mas que também dificilmente sobreviverá na memória para além da turnê vindoura. O mesmo pode ser dito sobre Screaming At The Sun, talvez um pouco mais elaborada instrumentalmente.

Novamente a fórmula é abruptamente quebrada na totalmente acústica e para lá de melódica Behind A Mask, que funciona, ainda que fique milhas aquém de uma Descend The Shades Of Night, por exemplo.

Heavy Lies The Crown é um épico curioso. Sua duração, beirando os nove minutos, faz com que logo evoquemos os três discos anteriores. Mas, estranhamente, ela evolui para algo muito mais próximo dos melhores momentos dos trabalhos atuais do Megadeth do que propriamente algo que os californianos assinariam. Em sua reta final ela até evoca um pouco a fórmula de Imperium/ Aesthetics Of Hate. Interessante sem ser memorável.
Bom, aí o caldo entorna de novo, com a idiotíssima Psychotic indo do nada a lugar algum, seguida da apenas razoável Grind You Down e da homenagem pouco inspirada ao Lemmy, Razorblade Smile, que desperdiça um ótimo riff com linhas melódicas bem muquiranas. O disco encerra de forma sombria com a balada Eulogy, que evoca novamente o tema de Bastards em sua letra.

Veredito Final

Cão que ladra não morde. A despeito das bravatas de Robb Flynn, Catharsis não é um disco que vá assustar os fãs que sobreviveram a The Burning Red e ao péssimo Supercharger. Longe de inovar, o disco só é longo demais e peca pela total falta de foco. Tivesse sido encurtado de seus exagerados 75 minutos para uns 45, cortando umas 5 músicas menos inspiradas, ninguém estaria reclamando. Talvez Catharsis seja um passo necessário, porém desajeitado, uma transição para um novo Machine Head. Talvez seja simplesmente uma tentativa errática e desesperada da banda se reinventar. Ou talvez represente somente uma declaração, ainda que involuntária, de que não há nada mais a ser feito sob o nome Machine Head. Mas essa resposta, só o próximo trabalho dos estadunidenses dirá.    


NOTA: 7,29

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DVD Bônus – Live At The Regency Ballroom

Se a qualidade do novo trabalho é motivo de controvérsias, o DVD bônus encartado na edição Deluxe analisada aqui é um deleite para qualquer fã da banda. Difícil reclamar de um disco bônus com 21 músicas de toda a carreira da banda em 135 minutos de destruição sonora executados com um poderio e coesão raros de se ver. Robb comanda com maestria um público alucinado e as várias câmeras pegam banda e fãs em inspirados takes e edição bacana. A única explicação para o não lançamento desse show como um produto em separado é a saturação de cores da iluminação, que faz com que a parte visual fique aquém do esperado para os dias de alta definição de hoje. Já o áudio, está mixado de maneira exuberante, talvez até melhor do que no último ao vivo oficial dos caras. Se você ainda compra mídia física, não tem nem discursão, opte pela edição Deluxe que o DVD vale cada centavo.


Gravadora: Nuclear Blast (importado).
Pontos positivos: tem uma penca de boas músicas
Pontos negativos: falta de foco e algumas porcarias enchendo linguiça
Para fãs de: Thrash Moderno
Classifique como: Modern Metal, Thrash metal





2 comentários:

  1. Renato acompanho seu blog já a algum tempo e tenho me identificado muito com suas resenhas, coincide muito com meu gosto musical. Sobre o novo disco do machine head vc resumiu tudo o que passou pela minha cabeça mas não espero um novo Through The Ashes Of Empires como vc sugeriu, desde que Adam Duce saiu da banda o negocio saiu dos trilhos... Torço que a banda consigar encontrar uma nova formula e voltar a fazer discos épicos como antes.

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    1. Olá, Rinaldi!
      Que legal saber que você acompanha a Cripta! Não coloquei a "culpa" do novo trabalho nas costas da ausência de Duce pois o disco anterior já havia sido feito sem ele e o resultado foi bacana. Sobre a banda se soerguer novamente, acredito ser improvável, mas não impossível. Afinal, depois da guinada que a banda teve com Through the Ashes, vinda do fundo do poço, não duvidaria de nada...
      Abraço
      Trevas

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