Machine Head - Catharsis |
Atirando
Para Todo Lado
Por Trevas
Prólogo:
Burning Red Parte 2?
Robb Flynn
é um tremendo falastrão. Inteligente e articulado, o cara gosta de meter o
bedelho em tudo o que é assunto, em especial se for um tema polêmico da moda.
Confesso que gosto de muita coisa no ponto de vista dele, mas também tenho que
admitir que o cabrunco por vezes dá no saco. E nas entrevistas pré-lançamento
do novo disco, tome baboseiras do tipo “não curto mais metal, acho o rap mais
relevante”, “não escuto mais música em casa, prefiro perder tempo com séries,
são muito mais excitantes” e mais um monte de provocações aos fãs dizendo que a
galera iria vomitar em cima do novo material, dando até mesmo a entender que o
disco representaria um rompimento com o passado recente da banda da mesma forma
que The Burning Red, o disco que
um dia quase acabou com o Machine Head, fez lá atrás. Uma publicidade de
gosto duvidoso e que me pareceu um pouco forçada.
Se o disco não vender bem, os rapazes farão bico como pintores |
Mas ao menos para esse escriba
que vos fala, o desespero em querer se dissociar do rumo que a banda vinha
tomando fez todo o sentido. Das cinzas da sua fracassada incursão pelo New
Metal, a banda se reinventou de maneira impressionante com Through The Ashes Of Empires. Parecia o
disco definitivo para a banda. Mas não era. The Blackening levou o
direcionamento musical ainda mais longe e aí já não havia mais um cínico sequer
na casa. O Machine Head estava vivo e melhor do que nunca.
Quando parecia inevitável uma queda de qualidade, a banda pegou o seu novo som,
épico e complexo, e tornou tudo mais acessível e conciso, sem perder um pingo
da essência, no perfeito Unto The Locust. Porra, a partir de um disco desses, o que fazer? Aí a banda
resolveu repetir a fórmula em Bloodstone & Diamonds. E repetiu de maneira para lá de convincente. Mas deixou
claro também que esse caminho musical estava criativamente esgotado. É hora de
tentar algo novo. Mas será que o Machine
Head conseguirá fazer isso sem
alienar sua reconstruída base de fãs? Com isso em mente, entrei de cabeça na
catarse de Robb e sua trupe.
Catarse
Musicada
Volatile abre o disco de forma direta e agressiva. Fuck the World, grita Robb. Um contraponto ás longas faixas
que abriram tudo o que a banda fez desde Through
The Ashes, Volatile é Machine Head padrão, muito bem-feita, só não é brilhante. Um belo começo,
de qualquer forma.
Catharsis, a música, já é bem
mais indicativa da quebra de paradigmas que tanto fora anunciada. Sua
introdução evoca Who We Are,
dos disco anterior, mas a semelhança fica por aí. Uma bela faixa que mistura elementos
bem agressivos com um refrão para lá de melodioso. Excelente.
Beyond The Pale é o típico hino de união dos desajustados sociais que veem no
metal uma válvula de escape (e fonte de superação) para suas frustrações. “I found my heroes, the freaks and zeros”.
Boa música.
California Bleeding é uma faixa que, segundo Robb,
tem uma letra estúpida e grosseira que explicita a relação de amor e ódio que
ele tem com a Califórnia. Independente da polêmica que a letra vem causando, é
bem empolgante e deverá funcionar a contento ao vivo.
Até então, Catharsis não replicava a genialidade
dos discos anteriores, mas também não trazia absolutamente nada de assustador.
Até o jorro de bosta líquida Triple Beam assaltar nossos ouvidos com um
Rap/Nu Metal tão escroto que seria capaz de causar uma ereção no Fred Durst.
Kaleidoscope tem um início que indica que a merda mole
continuaria, mas a faixa até que se desenvolve bem e o belo refrão trata de
salvá-la de vez, ainda que replique o conceito de salvação pela música
explorado bem melhor na perfeita Darkness
Within.
Bastards nasceu de forma
curiosa. Uma canção folk que Robb improvisou para os filhos pequenos
como uma maneira lúdica de explicar o momento esquisito que os EUA vivem
politicamente. Uma espécie de mistura entre Bruce Springsteen e Dropkick Murphys, a faixa foi tocada por ele no YouTube e acabou viralizando. Robb
então tentou a todo custo convencer o resto da banda que a mesma funcionaria no
disco. E assim ela veio parar em Catharsis.
Ok, ela absolutamente destoa de tudo aqui, mas acabou me conquistando com o
tempo, e traz o mote “Stand Your ground,
Dont Let The Bastards grind You Down”, que seria repetido em outras músicas
mais adiante no disco.
Hope Begets Hope é outra boa faixa que vai direto ao ponto e que não assustará
nenhum fã das antigas, mas que também dificilmente sobreviverá na memória para
além da turnê vindoura. O mesmo pode ser dito sobre Screaming At The Sun, talvez um pouco mais elaborada instrumentalmente.
Novamente a fórmula é
abruptamente quebrada na totalmente acústica e para lá de melódica Behind A Mask, que funciona,
ainda que fique milhas aquém de uma Descend
The Shades Of Night, por exemplo.
Heavy
Lies The Crown é um épico curioso. Sua duração, beirando os
nove minutos, faz com que logo evoquemos os três discos anteriores. Mas,
estranhamente, ela evolui para algo muito mais próximo dos melhores momentos
dos trabalhos atuais do Megadeth do
que propriamente algo que os californianos assinariam. Em sua reta final ela
até evoca um pouco a fórmula de Imperium/
Aesthetics Of Hate. Interessante sem ser memorável.
Bom, aí o caldo entorna de
novo, com a idiotíssima Psychotic indo
do nada a lugar algum, seguida da apenas razoável Grind You Down e da homenagem pouco inspirada ao Lemmy, Razorblade Smile, que
desperdiça um ótimo riff com linhas melódicas bem muquiranas. O disco encerra
de forma sombria com a balada Eulogy,
que evoca novamente o tema de Bastards
em sua letra.
Veredito
Final
Cão que ladra não morde. A
despeito das bravatas de Robb Flynn, Catharsis não é um disco que vá assustar os fãs que sobreviveram a The Burning Red e ao péssimo
Supercharger. Longe de inovar, o
disco só é longo demais e peca pela total falta de foco. Tivesse sido encurtado
de seus exagerados 75 minutos para uns 45, cortando umas 5 músicas menos
inspiradas, ninguém estaria reclamando. Talvez Catharsis seja um passo necessário, porém desajeitado, uma
transição para um novo Machine Head. Talvez seja simplesmente uma
tentativa errática e desesperada da banda se reinventar. Ou talvez represente
somente uma declaração, ainda que involuntária, de que não há nada mais a ser
feito sob o nome Machine Head. Mas essa resposta, só o próximo
trabalho dos estadunidenses dirá.
NOTA: 7,29
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DVD
Bônus – Live At The Regency Ballroom
Se a qualidade do novo
trabalho é motivo de controvérsias, o DVD
bônus encartado na edição Deluxe
analisada aqui é um deleite para qualquer fã da banda. Difícil reclamar de um
disco bônus com 21 músicas de toda a carreira da banda em 135 minutos de
destruição sonora executados com um poderio e coesão raros de se ver. Robb comanda com maestria um público
alucinado e as várias câmeras pegam banda e fãs em inspirados takes e edição bacana. A única
explicação para o não lançamento desse show como um produto em separado é a
saturação de cores da iluminação, que faz com que a parte visual fique aquém do
esperado para os dias de alta definição de hoje. Já o áudio, está mixado de
maneira exuberante, talvez até melhor do que no último ao vivo oficial dos
caras. Se você ainda compra mídia física, não tem nem discursão, opte pela
edição Deluxe que o DVD vale cada centavo.
Gravadora:
Nuclear Blast (importado).
Pontos
positivos: tem uma penca de boas músicas
Pontos
negativos: falta de foco e algumas porcarias enchendo linguiça
Para
fãs de: Thrash Moderno
Classifique como: Modern Metal, Thrash metal
Renato acompanho seu blog já a algum tempo e tenho me identificado muito com suas resenhas, coincide muito com meu gosto musical. Sobre o novo disco do machine head vc resumiu tudo o que passou pela minha cabeça mas não espero um novo Through The Ashes Of Empires como vc sugeriu, desde que Adam Duce saiu da banda o negocio saiu dos trilhos... Torço que a banda consigar encontrar uma nova formula e voltar a fazer discos épicos como antes.
ResponderExcluirOlá, Rinaldi!
ExcluirQue legal saber que você acompanha a Cripta! Não coloquei a "culpa" do novo trabalho nas costas da ausência de Duce pois o disco anterior já havia sido feito sem ele e o resultado foi bacana. Sobre a banda se soerguer novamente, acredito ser improvável, mas não impossível. Afinal, depois da guinada que a banda teve com Through the Ashes, vinda do fundo do poço, não duvidaria de nada...
Abraço
Trevas