Corrosion Of Conformity - No Cross No Crown |
Corrosivamente
Pesado
Por Trevas
É absolutamente
normal, e até mesmo louvável, que bandas com longa estrada percorrida acabem
por evoluir seu som ao longo do tempo. Só que alguns artistas exageram um
bocado nas mudanças de direcionamento, ao ponto de confundir e até mesmo
polarizar os próprios fãs. Samael, Paradise Lost, Anathema e Opeth são casos emblemáticos dessa esquizofrenia
musical. E podemos incluir os estadunidenses do Corrosion Of Conformity (ou COC) nessa lista. Surgida em 1982, a banda se tornou referência na
cena do Hardcore/Crossover, lançando discos seminais
para o estilo. Mas foi a partir de 1991, quando a banda inseriu em seu som
elementos de Sludge, Stoner e Southern Rock é que a
banda decolou comercialmente. Com o guitarrista Pepper Keenan assumindo
os vocais, gravaram o best seller Deliverance
e o que se viu foi uma banda tão diferente da original que muitos dos fãs
antigos abandonaram o barco. O sucesso comercial, ainda que jamais tenha sido o
mesmo, continuou acima do esperado, até que, após o aclamadíssimo In The Arms Of God, Pepper decidiu se afastar da banda para
se concentrar nas seis cordas do supergrupo sulista Down.
O COC dali para frente passou
a ter uma agenda errática e inconstante, com Mike Dean novamente como
frontman, lançando discos que por vezes honravam a primeira fase, por vezes
seguiam outro rumo diferente de tudo. Em 2015 Pepper anunciou seu retorno à banda, e o COC saiu em uma turnê infindável, sem nenhum horizonte que
vislumbrasse um novo disco. Até que ao final de 2017 os cabruncos anunciaram
esse No Cross No Crown, o primeiro
disco com Keenan cantando em 13
anos. Fui conferir o disco com imensa apreensão, pois acho In the Arms Of God um discaço. E qual não foi minha surpresa ao
descobrir, no mesmo dia que iniciei essa resenha, que a banda vai se apresentar
no Brasil? Timing fantástico, só falta o disco estar à altura de tão esperado
retorno. Vamos checar, então.
Poster da Turnê Sul Americana |
Novus Deus é uma introdução bem climática que prepara o árido terreno de
nossos ouvidos para a lavoura de riffs chamada The Luddite (ver vídeo).
E como é bom ouvir a voz encardida de Pepper
Keenan (com ponte no gogó de Mike Dean) convocar o retorno dos Luditas para destruir a tecnologia
escravizadora. Aliás, já o que se faz uma mensagem perfeita diante da
sonoridade absolutamente retrô e analógica da produção esfumaçada de John Custer (culpado por tudo que a banda lançou entre Blind e o excelente In The Arms Of God).
O início arrasa-quarteirões se estende para a faixa seguinte. Cast The First Stone (ver vídeo) é um
delírio furioso aos ouvidos dos fãs de Stoner.
Um breve momento para recuperamos a respiração chega com o belo e sorumbático
interlúdio Morriconeano No Cross.
O espancamento retorna com a Clutchiana
e virulenta Wolf Named Crow (ver vídeo), e aí você se pega perguntando se o disco
continuará nessa toada genial. Não. Ao menos, não completamente. A Lynyrdiana Little Man, uma pequena
grande letra atacando seitas religiosas, é apenas ok.
Matre’s Diem, outro curto interlúdio instrumental é bonita e tem uma aura
de positivismo que contrasta com a porradaria ácida de Forgive Me, que bem
poderia ser um destaque do Black Sabbath circa Sabotage, o que é um puta elogio, convenhamos. O nível, altíssimo,
também coaduna com a variedade de intenções musicais. De um Heavy Metal do
final dos anos 1970, somos jogados para dentro de um Bluesão esfumaçado repleto
de feeling, cirrose e guitarras inspiradas na tristonha Nothing Left To Say.
Os sulistas encardidos estão de volta - COC 2018 |
Outro curto interlúdio (não,
nem pense que são gratuitos, todos funcionam bem, obrigado) precede Old Disaster, um dos raríssimos momentos de inspiração apenas mundana
nesse trabalho. E.L.M. (Eternal Losing Mind, se você
está se perguntando que porra é essa) joga tudo para o alto, direta, pesadona e
grudenta. A faixa título continua a epopeia de Western psicodélico de No Cross,
culminando no encerramento apoteótico com A
Quest To Believe (A Call To The Void),
um monstrengo que compila todas as características do disco em exatos seis
minutos. A edição especial ainda conta com a boa Son And Daughter, ainda que em aparente versão demo.
Veredito
da Cripta
Parece que o longo hiato só
fez bem ao casamento Pepper Keenan/COC. No Cross No Crown é
um disco que beira a perfeição e que deixará os fãs de Stoner/Southern com
lágrimas nos olhos. Figura certa nas listas de melhores do ano, a audição desse
novo disco não é somente recomendada, é uma obrigação.
NOTA: 9,19
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Gravadora:
Nuclear Blast (importado).
Pontos
positivos: um delírio analógico de riffs poderosos
Pontos
negativos: dificilmente agradará os fãs do COC da era Hardcore
Para
fãs de: Clutch, Orange Goblin
Classifique como: Stoner, Southern Metal
Curto muito mais as bandas q diversificam seu repertório do q aquelas q ficam eternamente se repetindo. O COC conseguiu fazer isso com maestria! Em todo e qqr estilo q meteram a mão, mandaram muito bem. Agradar a um público específico ou deixar um legado autêntico? Eis a questão.
ResponderExcluirAbração, mizifio!
ML
Grande Lacerda!
Excluirconcordo contigo, prefiro que a banda mantenha fresca a criatividade, ainda que por vezes o passo escolhido não vá na direção que eu ache a mais bacana. Algumas bandas conseguiram repetir a mesma fórmula com poucas mudanças ao longo do tempo com sucesso e sem perder a relevância, (AC/DC- menos, Motörhead - mais - como exemplos mais óbvios)...mas isso é raro.
Abraço
T