Para os malucos(as) que como eu tem prazer em destrinchar as histórias que permeiam a trilha sonora que escolhemos para nossas vidas. E quantas histórias interessantes se escondem em cada esquina desse vasto mundo do rock! Vocês encontrarão por aqui resenhas de shows, discos, livros, dvds (blu-rays) e notícias comentadas sobre o mundo do rock. Espero que vocês gostem e visitem sempre ou eventualmente. Eu, certamente, me divertirei muito escrevendo aqui.
Terceiro rebento da
parceria entre os titãs da NWOBHM e
o produtor AndySneap (AmonAmarth, Nevermore, Accept, JudasPriest), e contando novamente com a capa do ilustrador PaulRaymondGregory
(parceiro desde os tempos de Crusader),
Thunderbolt chega com a difícil
missão de manter o impressionante alto padrão de qualidade dos discos recentes
do Saxon.
Poster do único show no Brasil em 2018
OlympusRising introduz Thunderbolt, inspirada na mitologia Grega e primeira música de trabalho
(ver vídeo), que mantém a tradição da banda em caprichar a mão em suas faixas
títulos.
The
Secret Of Flight (ver vídeo) é excelente e já segue o padrão
mais moderno de composição que vem se fazendo comum desde o início da parceria
com Sneap. Curiosamente, a
modernidade é bem menos visível na produção do que em Sacrifice e BatteringRam. Talvez por pressão da banda, dessa
vez Andy trabalhou timbres e uma mixagem
mais abafados e em muito semelhantes ao som que banda adotou nos anos 1990. Nada
que atrapalhe, mas é o disco sonoramente menos impactante da tríade.
Em compensação, as composições estão inspiradíssimas nessa primeira
metade de disco. Nosferatu (TheVampire’sWaltz) é épica
e sombria, e pode muito bem fazer parte de qualquer coletânea que a banda lance
no futuro (ver vídeo). Na bela edição em digipack
lançada no brasil, ela ainda aparece em uma mixagem menos pomposa, que funciona
igualmente bem, obrigado.
Velocidade estonteante é o que encontramos em They Played Rock And Roll, que mostra que o Saxon encontrou inspiração em outras mitologias mais modernas, como
a do Rock. Tematicamente quase uma continuação
e AndTheBandsPlayedOn, o petardo é uma sincera e muito bem-vinda homenagem a LemmyKilmister e sua trupe de vândalos musicais, e contém até mesmo
trechos de fala do mestre.
Bom, a partir daí o disco fica bem menos espetaculoso. Predator (com uma subaproveitada participação
de JohanHegg, o ogro gigante do AmonAmarth), Sniper, SonsOfOdin
e SpeedMerchants (a mais fraca do disco, com letra reprisando a homenagem à
fórmula 1 feita em WarriorsOfTheWorld) são bacanas, mas exploram
fórmulas tão comuns na discografia saxônica que acabam dando a impressão de que
o nível caiu um pouco.
Mas ainda assim há espaço para faixas de grande destaque, como A Wizard’s Tale (apesar da letra para
lá de idiota) e a faixa de encerramento Roadie’sSong, uma bela homenagem àqueles que
fazem o show por detrás do show acontecer.
Saxon 2018, chutando mas bundas que você
Veredito
da Cripta
A primeira metade dos curtos
quarenta minutos de Thunderbolt é
tão arrasadora que chega a empalidecer (injustamente) o restante do disco. Mais
um ótimo trabalho de uma das bandas mais prolíficas e equilibradas de sua
geração.
Entra disco, sai
disco e somos confrontados com as afirmativas por vezes fanfarronescas de
artistas consagrados: meu próximo trabalho é o melhor que já lancei. Promessas que
vem e vão, e raramente se concretizam. Não, não estou acusando o Judas de ter
se utilizado desse expediente. Até por que não usou, no máximo li Richie e Rob dizendo que sentiam algo especial no trabalho vindouro. Mas confesso
que eu é quem me sentia apreensivo. A banda, confrontada com as críticas
pesadas à produção tacanha do (bom) RedeemerOfSouls, mostrou que não estava para brincadeiras: tirou TomAllom da aposentadoria. Sim, o cara que assinou a produção de tudo
o que o Judas lançara entre UnleashedintheEast e Ram It Down. Já parece impressionante? Não parou por aí, chamaram
também o melhor produtor de HeavyMetal dos últimos 20 anos, o britânico AndySneap, mago por detrás dos clássicos do Nevermore e da ressurreição do Accept.
Satisfeito? Não? Nem eles. Além os dois renomados produtores de eras
diferentes, ainda mantiveram MikeExeter, com quem haviam trabalhado no
disco anterior. Com essa trinca, partiram para o estúdio, e deram carta branca
para que os produtores fizessem o que tivessem que fazer para extrair o melhor
do bando de senhores e do já não mais calouro, RichieFaulkner. Uma estratégia
que dependia e muito da maturidade e falta de ego de todos os envolvidos, mas
que podia, enfim, até dar certo.
Judas em Firepower
Não bastasse a escolha incomum
por um triunvirato de produtores, outro fato tornou o lançamento de Firepower uma incógnita. GlennTipton , do alto de seus 70 anos a figura mais icônica da banda, anunciou
que não mais acompanhará o JudasPriest em turnê, devido às limitações
físicas impostas pela terrível doença de Parkinson.
AndySneap assumiria as guitarras nos shows e uma questão ficou no ar. Estaríamos,
pouco depois da aposentadoria do BlackSabbath, diante do ocaso de outros
dos monstros sagrados do HeavyMetal? E se o crepúsculo efetivamente
se aproxima, seria Firepower um fim
digno para uma das bandas mais influentes do estilo? Com essa pequena grande
nuvem na mente, coloquei minha recém-chegada bolachinha para rodar. E no meu
som ela estacionou por toda a semana...e cá relato o que achei...
Poder
De Fogo Intacto
Firepower (ver vídeo), a música, começa vibrante e pesada.
Logo de cara somos confrontados com a perfeição sonora proporcionada pelo trio
de produtores. E somos também confrontados com um fenômeno: como a voz do
senhor RobHalford, 66 anos de estrada, está soando excelentemente bem! De
nada serviriam esses detalhes se a música fosse uma bomba. Não é. Ainda que
recicle o refrão meio panaca da rendição cafona para RapidFire com o Ripper (contida no Ep BulletTrain), a música cresce a cada audição e deve funcionar muito bem
ao vivo, obrigado.
LightningStrike, primeira faixa de trabalho, e totalmente old school, se sai
ainda melhor. Riffs, refrão, solos, simplesmente perfeita em todos os sentidos.
A empolgação nesse ponto era tamanha que a paulada midtempo EvilNeverDies, com sua
letra fazendo uma releitura dos pactos com o cramulhão dos músicos de Blues,
até pareceu uma bola fora. Simples, na mão de uma banda de segunda categoria
como o PrimalFear, realmente poderia soar um daqueles pastiches mequetrefes que
os fãs do revivalismo dos anos 1980 adoram endeusar. Mas nas mãos dos criadores
de 99% dos clichês do gênero, a música acaba por se safar com louvor.
Falei em anos 1980? Então, a produção aqui é cascuda e moderna, ainda
que bastante orgânica. Os músicos gravaram quase a integridade das bases ao
vivo, com a banda tocando toda junto, uma ideia de AndySneap comprada
pelos outros dois produtores. O que não impediu uma ou outra referência às
produções do passado da banda, como na viradinha de bateria artificial da
simplesmente absurda NeverTheHeroes, uma powerballad nas veias de HeartOfALion.
Necromancer é o tipo de música
que se esperaria encontrar no sucessor de Painkiller,
caso Rob não tivesse jogado a banda
num hiato com sua saída. Engrandecida por um bem colocado coro dramático, nessa
altura do disco já se percebe a opção em apostar no poder de interpretação de Halford, limitando os agudos
lancinantes aos backing vocals. E nota-se também que a bateria de ScottTravis não tomava seu devido lugar de destaque na sonoridade de um
disco dos caras desde sua longínqua estreia.
Os coroinhas do Padre Judas: Richie & Andy
ChildrenOfTheSun é uma das faixas que demonstram que
a banda não necessariamente deitou nos louros do passado. Possivelmente fruto
da liberdade dada a RichieFaulkner, é repleta de groove e
dinâmica, mostrando um JudasPriest diferente, ainda que prontamente
reconhecível. Aliás, Richie deve
levar sua parte dos créditos pelo sangue renovado da banda, quem duvida, cheque
os caras ao vivo. O massacre continua com a belíssima instrumental de clima
celta Guardians, que introduz a
avassaladora RisingFromRuins. Tida como a favorita de Scott e Faulkner no novo disco, e
repleta das dobras de guitarra de Richie
e GlennTipton, ela poderia ser definida como uma nova BloodRedSkies, o que é um mega elogio.
FlameThrower é outra faixa diferente, com andamento para lá de
empolgante e algumas experiências (muito boas) na voz de Rob. O refrão parece algo que o careca teria pensado lá na época do
SinAfterSin, e soa um
pouco estranho nas primeiras audições. Uma música que demorou um pouco a me
conquistar, mas que cresceu com o tempo. O groove retorna com a simples e para
lá de viciante Spectre (ver vídeo),
um dos destaques do disco, que já vem constando dos repertórios da nova turnê.
Já me daria por satisfeito com o que meus ouvidos testemunhavam até
então. Mas o disco tem 15 músicas, e isso costuma ser um péssimo sinal. Pensei
comigo, vai desandar em algum momento. Não desandou. TraitorsGate é um
monumento à performance vocal do senhor Halford.
Sua voz pode ter vivido eras de alcance maior, mas nunca antes fora tão bem
gravada e com tantas variações quanto nesse disco. Fazia muito tempo que um
vocalista não me impressionava tanto quanto nesse Firepower e a delícia HardRocker de pouco mais de dois minutos
NoSurrender seguida da paulada moderna cheia de groove LoneWolf só comprovam meu ponto. O disco termina com a PowerBalladSea Of Red, na
veia da já clássica Angel, e poucas
vezes na minha vida me senti compelido a rodar de novo um disco tão longo assim
que o mesmo terminou.
Veredito
da Cripta
O Heavy Metal em sua vertente
mais tradicional parecia esquecido no tempo, as velhas bandas do estilo vivendo
de raros lampejos (com exceções...ok, Accept
e Saxon?), e as novas se limitando a
copiar de forma pálida e diluída o que já fora feito melhor no passado. Aí vem
um dos titãs do estilo e lança, aos mais de 40 anos de estrada, uma obra que
não só se contenta em não fazer feio frente ao passado, como também é capaz de
rivalizar com os melhores momentos de sua vitoriosa carreira. Firepower não é só o melhor disco do JudasPriest em décadas. É também o melhor disco de Metal Tradicional que
escutei nos últimos cinco anos (talvez mais). Se esse realmente for o canto de
cisne de uma das maiores bandas em todos os tempos, será uma saída triunfal de
cena. Forte candidato a futuro clássico.
P.s.: A resposta do mercado
foi unânime, o disco atingiu a maior posição na Billboard que a banda já teve (5ª posição) e nas paradas
britânicas, também estacionou na 5ª posição, a posição mais alta que a banda
conseguiu desde BritishSteel, de...1980!!!
Gravadora:
Sony Music (nacional).
Pontos
positivos: um dos melhores discos da carreira do Judas
JoeBonamassa
alardeou por aí anos atrás que seus dias de workaholic estavam contados. Uma das figuras mais prolíficas de sua
geração, Smokin’Joe chegou a ter média de 3 lançamentos
por ano. Agora as coisas entraram nos eixos e o irrequieto bluesman se contenta
em lançar apenas um ou dois trabalhos por ano com seus diversos projetos, ufa. BlackCoffee é o terceiro lançamento do estadunidense com a cantora
compatriota BethHart. O projeto já havia rendido um excelente trabalho de estreia, Don’tExplain, e outro decepcionante, Seesaw. A despeito dos diferentes resultados, o modelo se repetiu
nos dois discos, e é aqui replicado: covers de clássicos e lados B do Soul e do
Rythm & Blues. Novamente sob a batuta de KevinShirley e contando
com uma banda de músicos de estúdio. Vamos ver se dessa vez o caldo não
entorna.
Joe e Beth
Give Everything You
Got (ver vídeo) mostra
que a fórmula de arranjos de Seesaw
se repete, ao menos em alguns números, com saxofone, trompete e trombone e
backing vocals bem altos no mix. A música, de EdgarWinter, é ok, e
Joe detona no solo. Ainda assim, um início que não me empolgou.
DamnYourEyes, música que fez sucesso na voz de Etta James, já aposta na
fórmula que funcionara tão bem no disco de estreia, uma canção mais dramática e
soturna, o que casa muitíssimo com a interpretação da moça e com o feeling
do nerdão.
Hora do café preto do
título (ver vídeo), cortesia de grãos selecionados por Ike & Tina Turner. Uma boa faixa, com uma slide guitar bacana e
bons arranjos, que empalidece severamente diante do brilhantismo que a dupla
impõe à balada Lullaby Of the Leaves,
de ConneeBoswell. O climão de cabaré esfumaçado dá as caras em Why Don’t Do Right, de LilGreen, absolutamente deliciosa.
Repleta de elementos gospel e
gravada originalmente por LaVernBaker, Saved é bacana e conta com uma bateria bem interessante por parte
do pistoleiro de aluguel AntonFig (fiel escudeiro de David Letterman na banda residente de
seu programa, além de ter gravado com 789 artistas). Sitting On Top Of The World é outra balada climática que, embora
funcione menos que as anteriores, dá bom espaço para Joe contracenar com o hammond
de ReeseWynans (que tocou no Captain
Beyond!). Joy (famosa na voz de LucindaWilliams, ver vídeo) é divertida e cheia de groove, trazendo um
solo diferente de Bonamassa.
Segundo número originalmente gravado por LaVernBaker presente no
disco, SoulOnFire é uma canção bonita
e que funciona bem no respeitoso arranjo escolhido. A edição padrão termina com
Addicted, de KlausWaldeck, com um
clima que destoa um pouco do resto do material, mas que ainda assim funciona na
voz encardida e algo sexy de BethHart.
Beth & Joe
Veredito
da Cripta
BlackCoffee parece intencionalmente apostar
na fusão de elementos dos dois trabalhos anteriores da dupla, tanto na escolha
das músicas quantos nos arranjos. A aposta funcionou, e esse terceiro disco, se
não é memorável como Don’tExplain, ao menos é extremamente
agradável aos ouvidos.
É absolutamente
normal, e até mesmo louvável, que bandas com longa estrada percorrida acabem
por evoluir seu som ao longo do tempo. Só que alguns artistas exageram um
bocado nas mudanças de direcionamento, ao ponto de confundir e até mesmo
polarizar os próprios fãs. Samael, ParadiseLost, Anathema e Opeth são casos emblemáticos dessa esquizofrenia
musical. E podemos incluir os estadunidenses do CorrosionOfConformity (ou COC) nessa lista. Surgida em 1982, a banda se tornou referência na
cena do Hardcore/Crossover, lançando discos seminais
para o estilo. Mas foi a partir de 1991, quando a banda inseriu em seu som
elementos de Sludge, Stoner e SouthernRock é que a
banda decolou comercialmente. Com o guitarrista PepperKeenan assumindo
os vocais, gravaram o best seller Deliverance
e o que se viu foi uma banda tão diferente da original que muitos dos fãs
antigos abandonaram o barco. O sucesso comercial, ainda que jamais tenha sido o
mesmo, continuou acima do esperado, até que, após o aclamadíssimo In The Arms Of God, Pepper decidiu se afastar da banda para
se concentrar nas seis cordas do supergrupo sulista Down.
O COC dali para frente passou
a ter uma agenda errática e inconstante, com MikeDean novamente como
frontman, lançando discos que por vezes honravam a primeira fase, por vezes
seguiam outro rumo diferente de tudo. Em 2015 Pepper anunciou seu retorno à banda, e o COC saiu em uma turnê infindável, sem nenhum horizonte que
vislumbrasse um novo disco. Até que ao final de 2017 os cabruncos anunciaram
esse No Cross No Crown, o primeiro
disco com Keenan cantando em 13
anos. Fui conferir o disco com imensa apreensão, pois acho In the Arms Of God um discaço. E qual não foi minha surpresa ao
descobrir, no mesmo dia que iniciei essa resenha, que a banda vai se apresentar
no Brasil? Timing fantástico, só falta o disco estar à altura de tão esperado
retorno. Vamos checar, então.
Poster da Turnê Sul Americana
NovusDeus é uma introdução bem climática que prepara o árido terreno de
nossos ouvidos para a lavoura de riffs chamada TheLuddite (ver vídeo).
E como é bom ouvir a voz encardida de PepperKeenan (com ponte no gogó de MikeDean) convocar o retorno dos Luditas para destruir a tecnologia
escravizadora. Aliás, já o que se faz uma mensagem perfeita diante da
sonoridade absolutamente retrô e analógica da produção esfumaçada de JohnCuster (culpado por tudo que a banda lançou entre Blind e o excelente In The Arms Of God).
O início arrasa-quarteirões se estende para a faixa seguinte. Cast The First Stone (ver vídeo) é um
delírio furioso aos ouvidos dos fãs de Stoner.
Um breve momento para recuperamos a respiração chega com o belo e sorumbático
interlúdio MorriconeanoNoCross.
O espancamento retorna com a Clutchiana
e virulenta WolfNamedCrow (ver vídeo), e aí você se pega perguntando se o disco
continuará nessa toada genial. Não. Ao menos, não completamente. A LynyrdianaLittleMan, uma pequena
grande letra atacando seitas religiosas, é apenas ok.
Matre’sDiem, outro curto interlúdio instrumental é bonita e tem uma aura
de positivismo que contrasta com a porradaria ácida de ForgiveMe, que bem
poderia ser um destaque do BlackSabbath circa Sabotage, o que é um puta elogio, convenhamos. O nível, altíssimo,
também coaduna com a variedade de intenções musicais. De um Heavy Metal do
final dos anos 1970, somos jogados para dentro de um Bluesão esfumaçado repleto
de feeling, cirrose e guitarras inspiradas na tristonha NothingLeftToSay.
Os sulistas encardidos estão de volta - COC 2018
Outro curto interlúdio (não,
nem pense que são gratuitos, todos funcionam bem, obrigado) precede OldDisaster, um dos raríssimos momentos de inspiração apenas mundana
nesse trabalho. E.L.M. (EternalLosingMind, se você
está se perguntando que porra é essa) joga tudo para o alto, direta, pesadona e
grudenta. A faixa título continua a epopeia de Western psicodélico de NoCross,
culminando no encerramento apoteótico com A
Quest To Believe (A Call To The Void),
um monstrengo que compila todas as características do disco em exatos seis
minutos. A edição especial ainda conta com a boa Son And Daughter, ainda que em aparente versão demo.
Veredito
da Cripta
Parece que o longo hiato só
fez bem ao casamento PepperKeenan/COC. No Cross No Crown é
um disco que beira a perfeição e que deixará os fãs de Stoner/Southern com
lágrimas nos olhos. Figura certa nas listas de melhores do ano, a audição desse
novo disco não é somente recomendada, é uma obrigação.
RobbFlynn
é um tremendo falastrão. Inteligente e articulado, o cara gosta de meter o
bedelho em tudo o que é assunto, em especial se for um tema polêmico da moda.
Confesso que gosto de muita coisa no ponto de vista dele, mas também tenho que
admitir que o cabrunco por vezes dá no saco. E nas entrevistas pré-lançamento
do novo disco, tome baboseiras do tipo “não curto mais metal, acho o rap mais
relevante”, “não escuto mais música em casa, prefiro perder tempo com séries,
são muito mais excitantes” e mais um monte de provocações aos fãs dizendo que a
galera iria vomitar em cima do novo material, dando até mesmo a entender que o
disco representaria um rompimento com o passado recente da banda da mesma forma
que TheBurningRed, o disco que
um dia quase acabou com o MachineHead, fez lá atrás. Uma publicidade de
gosto duvidoso e que me pareceu um pouco forçada.
Se o disco não vender bem, os rapazes farão bico como pintores
Mas ao menos para esse escriba
que vos fala, o desespero em querer se dissociar do rumo que a banda vinha
tomando fez todo o sentido. Das cinzas da sua fracassada incursão pelo New
Metal, a banda se reinventou de maneira impressionante com ThroughTheAshesOfEmpires. Parecia o
disco definitivo para a banda. Mas não era. TheBlackening levou o
direcionamento musical ainda mais longe e aí já não havia mais um cínico sequer
na casa. O MachineHead estava vivo e melhor do que nunca.
Quando parecia inevitável uma queda de qualidade, a banda pegou o seu novo som,
épico e complexo, e tornou tudo mais acessível e conciso, sem perder um pingo
da essência, no perfeito UntoTheLocust. Porra, a partir de um disco desses, o que fazer? Aí a banda
resolveu repetir a fórmula em Bloodstone&Diamonds. E repetiu de maneira para lá de convincente. Mas deixou
claro também que esse caminho musical estava criativamente esgotado. É hora de
tentar algo novo. Mas será que o MachineHead conseguirá fazer isso sem
alienar sua reconstruída base de fãs? Com isso em mente, entrei de cabeça na
catarse de Robb e sua trupe.
Catarse
Musicada
Volatile abre o disco de forma direta e agressiva. FucktheWorld, grita Robb. Um contraponto ás longas faixas
que abriram tudo o que a banda fez desde Through
The Ashes, Volatile é MachineHead padrão, muito bem-feita, só não é brilhante. Um belo começo,
de qualquer forma.
Catharsis, a música, já é bem
mais indicativa da quebra de paradigmas que tanto fora anunciada. Sua
introdução evoca WhoWeAre,
dos disco anterior, mas a semelhança fica por aí. Uma bela faixa que mistura elementos
bem agressivos com um refrão para lá de melodioso. Excelente.
BeyondThePale é o típico hino de união dos desajustados sociais que veem no
metal uma válvula de escape (e fonte de superação) para suas frustrações. “I found my heroes, the freaks and zeros”.
Boa música.
CaliforniaBleeding é uma faixa que, segundo Robb,
tem uma letra estúpida e grosseira que explicita a relação de amor e ódio que
ele tem com a Califórnia. Independente da polêmica que a letra vem causando, é
bem empolgante e deverá funcionar a contento ao vivo.
Até então, Catharsis não replicava a genialidade
dos discos anteriores, mas também não trazia absolutamente nada de assustador.
Até o jorro de bosta líquida TripleBeam assaltar nossos ouvidos com um
Rap/Nu Metal tão escroto que seria capaz de causar uma ereção no FredDurst.
Kaleidoscope tem um início que indica que a merda mole
continuaria, mas a faixa até que se desenvolve bem e o belo refrão trata de
salvá-la de vez, ainda que replique o conceito de salvação pela música
explorado bem melhor na perfeita DarknessWithin.
Bastards nasceu de forma
curiosa. Uma canção folk que Robb improvisou para os filhos pequenos
como uma maneira lúdica de explicar o momento esquisito que os EUA vivem
politicamente. Uma espécie de mistura entre BruceSpringsteen e DropkickMurphys, a faixa foi tocada por ele no YouTube e acabou viralizando. Robb
então tentou a todo custo convencer o resto da banda que a mesma funcionaria no
disco. E assim ela veio parar em Catharsis.
Ok, ela absolutamente destoa de tudo aqui, mas acabou me conquistando com o
tempo, e traz o mote “Stand Your ground,
Dont Let The Bastards grind You Down”, que seria repetido em outras músicas
mais adiante no disco.
HopeBegetsHope é outra boa faixa que vai direto ao ponto e que não assustará
nenhum fã das antigas, mas que também dificilmente sobreviverá na memória para
além da turnê vindoura. O mesmo pode ser dito sobre ScreamingAtTheSun, talvez um pouco mais elaborada instrumentalmente.
Novamente a fórmula é
abruptamente quebrada na totalmente acústica e para lá de melódica BehindAMask, que funciona,
ainda que fique milhas aquém de uma DescendTheShadesOfNight, por exemplo.
Heavy
Lies The Crown é um épico curioso. Sua duração, beirando os
nove minutos, faz com que logo evoquemos os três discos anteriores. Mas,
estranhamente, ela evolui para algo muito mais próximo dos melhores momentos
dos trabalhos atuais do Megadeth do
que propriamente algo que os californianos assinariam. Em sua reta final ela
até evoca um pouco a fórmula de Imperium/
Aesthetics Of Hate. Interessante sem ser memorável.
Bom, aí o caldo entorna de
novo, com a idiotíssima Psychotic indo
do nada a lugar algum, seguida da apenas razoável GrindYouDown e da homenagem pouco inspirada ao Lemmy, RazorbladeSmile, que
desperdiça um ótimo riff com linhas melódicas bem muquiranas. O disco encerra
de forma sombria com a balada Eulogy,
que evoca novamente o tema de Bastards
em sua letra.
Veredito
Final
Cão que ladra não morde. A
despeito das bravatas de RobbFlynn, Catharsis não é um disco que vá assustar os fãs que sobreviveram a TheBurningRed e ao péssimo
Supercharger. Longe de inovar, o
disco só é longo demais e peca pela total falta de foco. Tivesse sido encurtado
de seus exagerados 75 minutos para uns 45, cortando umas 5 músicas menos
inspiradas, ninguém estaria reclamando. Talvez Catharsis seja um passo necessário, porém desajeitado, uma
transição para um novo MachineHead. Talvez seja simplesmente uma
tentativa errática e desesperada da banda se reinventar. Ou talvez represente
somente uma declaração, ainda que involuntária, de que não há nada mais a ser
feito sob o nome MachineHead. Mas essa resposta, só o próximo
trabalho dos estadunidenses dirá.
Se a qualidade do novo
trabalho é motivo de controvérsias, o DVD
bônus encartado na edição Deluxe
analisada aqui é um deleite para qualquer fã da banda. Difícil reclamar de um
disco bônus com 21 músicas de toda a carreira da banda em 135 minutos de
destruição sonora executados com um poderio e coesão raros de se ver. Robb comanda com maestria um público
alucinado e as várias câmeras pegam banda e fãs em inspirados takes e edição bacana. A única
explicação para o não lançamento desse show como um produto em separado é a
saturação de cores da iluminação, que faz com que a parte visual fique aquém do
esperado para os dias de alta definição de hoje. Já o áudio, está mixado de
maneira exuberante, talvez até melhor do que no último ao vivo oficial dos
caras. Se você ainda compra mídia física, não tem nem discursão, opte pela
edição Deluxe que o DVD vale cada centavo.
Gravadora:
Nuclear Blast (importado).
Pontos
positivos: tem uma penca de boas músicas
Pontos
negativos: falta de foco e algumas porcarias enchendo linguiça