quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Enslaved – E (Cd-2017)

Enslaved - E
Space Drakkar
Por Trevas

A norueguesa Enslaved teve início no longínquo ano de 1991. Com boa parte de seus membros ainda curtindo a adolescência, a banda abraçou a subcultura repleta de outros adolescentes ranhentos e bocós, a emergente e infame cena do Black Metal. Provavelmente tão logo a testosterona parou de afetar o cérebro, a banda passou a trazer para seu som influências de outros gêneros, renegando o rótulo Black Metal em prol do menos alienante Metal Extremo. No início dos anos 2000 o Enslaved abraçou de vez sua veia vanguardista na cena, com discos que exploravam novos territórios, o fazendo de maneira tão magistral que conseguiu não causar o afastamento dos fãs mais radicais, ao mesmo tempo que se colocava paulatinamente no radar de outros tantos que usualmente não se aventuram pelo espectro extremo do metal. Sou um desses. Confesso que demorei a dar a devida atenção à banda, embora tenha acompanhado com curiosidade a reação fervorosa de critica a discos como Vertebrae, Riitiir e In Times. E lá vou eu tentar descrever a tortuosa jornada pela mitologia nórdica que é esse novo trabalho.


Ok, nós somos uma banda de Black Metal diferente...mas não, não vamos sorrir!


Storm Son (ver vídeo), o épico que abre o disco, parece uma compilação do que o “novo Enslaved” tem a oferecer: abertura etérea que poderia bem ter saído da fase atual do Anathema, com o novato Håkon Vinje inaugurando as linhas melódicas com uma bela e aveludada voz que faz excelente contraponto aos urros do veterano baixista/vocalista Grutle Kjellson. Enquanto isso Ivar Bjørnson, o outro sobrevivente da formação original, destila riffs que enveredam muito mais para o progressivo, ao lado do já conhecido “Ice Dale”. Mas se engana quem pensa que a banda deixou para trás qualquer laço com o metal extremo, e é o excelente Cato Bekkevold quem melhor faz a transição entre os dois mundos, que se dá logo antes do refrão, com uma performance baterística de tirar o chapéu.  Uma música tão bem construída que faz dez minutos passarem sem nos darmos conta.



The River’s Mouth (ver vídeo) é bem mais direta, mas nem por isso menos abrangente e expansiva em seus limites musicais, com os timbres de guitarra e teclados e ótimo refrão lembrando um bocado o Space Metal que o Amorphis tentara (a meu ver com sucesso) em Am Universum. Mas os grunhidos de Grutle e os cânticos épicos da ponte fazem com que a mistura se mostre única e perfeita. Excelente, assim como a produção da bolachinha, nas mãos da dupla Ivar e Grutle, com mixagem do onipresente Jens Bogren.


Sacred Horse traz elementos de Black Metal mais old school e escalas orientais fundidos a hammonds e emoldurados por um final épico e muito bem bolado que ressalta o nível de maturidade que a banda atingiu em suas composições. Nada aqui é gratuito ou parece fora de lugar. Axis Of the Worlds é outra faixa que faz com maestria a fusão de elementos de rock clássico e progressivo com uma estrutura musical que torna prontamente identificável se tratar de uma banda extrema norueguesa. Os solos de alma bem rocker no meio disso tudo ficaram surpreendentemente agradáveis, diga-se.



Rock Progressivo e cânticos ritualísticos abrem e fecham a por vezes etérea Feathers Of Eoh, que conta com uma flauta como elemento alienígena. E, como parece ter se tornado comum, há também um saxofone no épico que encerra o disco, Hiiindsiight. Cheia de mudanças de andamento e clima, a faixa ainda traz o auxílio vocal de Einar Selvik, famoso por seus trabalhos com o Wardruna, Gorgoroth e Saahg (e pela trilha sonora da série Vikings, onde também chegou a atuar como ator). A edição especial do disco vem com dois inspirados bônus que em nada atrapalham o repertório original.


Veredito da Cripta

O novo trabalho do Enslaved catapultou o nome banda para um novo patamar no mundo do rock. Já respeitada no meio metálico, em muito por sua postura vanguardista, repentinamente passou a ser adulada nas listas de melhores de 2017 por mídias especializadas em progressivo e até mesmo em veículos mais dedicados ao mainstream. Segundo Ivar, um sonho que se faz realidade: “parece que finalmente, após 14 discos, começamos a acertar nosso som”. E o que faz essa conquista mais curiosa (e merecida) é que E está longe, muito longe de ser um disco raso. Pelo contrário, é um trabalho denso e cheio de nuances, mas sem fazer concessões em relação ao peso. Um dos grandes discos de 2017? Com certeza.

  
NOTA: 9,67

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Gravadora: Shinigami Records (nacional).
Pontos positivos: mistura brilhante de elementos de metal extremo com outros estilos
Pontos negativos: definitivamente não é um disco para quem tem problemas de concentração
Para fãs de: Ihsahn, Opeth
Classifique como: Black Metal, Space Metal, Prog Metal


sábado, 20 de janeiro de 2018

Pain Of Salvation – In The Passing Light Of Day (Cd-2017)

Pain Of Salvation - In The Passing Light Of Day (CD-2017)
Do Nascer Ao Pôr Do Sol
Por Trevas

O que um multi-instrumentista sueco que tem uma banda de Prog Metal para lá de idiossincrática faz quando passa meses no leito de um hospital, alguns deles entre a vida e a morte, lutando contra uma bactéria comedora de carne e resistente a boa parte dos antibióticos conhecidos? Anota tudo mentalmente direitinho para lançar um disco conceitual, claro. Brincadeiras à parte, foi exatamente o que fez Daniel Gildenlöw, líder do Pain Of Salvation (ou POS, para encurtar), após passar o ano de 2014 numa feroz luta pela vida.

Daniel, o Prog Hipster? 
In The Passing Light Of Day percorre momentos da vida do sueco, entre altos e baixos, entremeados com os pensamentos que perpassaram sua mente no que poderia ter sido seu leito de morte. Como tudo o que envolve o POS, na verdade um projeto solo mal disfarçado de banda, tanto a temática quanto as músicas sempre trilham a tênue linha entre o genial e o pedante.


Uma música cheia de dinâmica, luz e sombras, silêncios intensos quebrados por riffs cortantes e um refrão excelente - essa é a faixa de abertura, On A Tuesday. Tongue Of God tem um ar calmo rompido repentinamente por aqueles riffs que remetem tanto a uma versão mais Heavy Metal do Faith No More, o que também se reflete no refrão grudento e sombrio.


Meaningless, a bela Power Ballad de contornos Folk, foi muito bem escolhida como primeira música de trabalho do disco. Já nessa terceira música, duas coisas me pareceram bem claras: o tom para lá de sombrio e melancólico do disco. Nada surpreendente dado o tema que norteia a obra. A segunda coisa é a produção um pouco aquém do esperado pelas mãos de Daniel Bergstrand. As músicas tem um som seco e a falta de tato em lidar com os silêncios e rompantes de peso tornam a audição meio complicada em alguns momentos. As partes calmas super baixas no mix, aí você aumenta o volume e daqui a pouco vem um som altíssimo. Um problema semelhante ao que afetou o X Factor do Iron Maiden.


Em termos de musicalidade, a banda soa boa como sempre, a despeito das inúmeras mudanças de formação que basicamente tornaram o POS um projeto de Daniel Gildenlöw. Daniel desenvolveu uma maneira única de cantar e compor. Suas interpretações soam quase esquizofrênicas de tão variadas, mas são de uma sensibilidade ímpar, como podemos ver em números mais “normais”, como Silent Gold, talvez influenciada pela experiência acústica do trabalho anterior.


E na saída da sauna...
Full Throttle Tribe mantém a tradição de faixas midtempo com refrãos marcantes. Já Reasons é irritante até a medula, confesso que me forcei a chegar ao fim da música em todas as tentativas. A baladinha Angels Of Broken Things não ajuda muito (a despeito do belo solo em seu final) e o interesse pela bolachinha dá uma tremenda caída nesse ponto...e a apenas razoável To Tame A Beast não ajuda muito a melhorar o panorama, mesmo com sua eventual transmutação em Rock alternativo dos anos 1990, e o mesmo panorama encontrei em If This Is The End. Se realmente fosse esse o fim, o disco terminaria numa gigantesca decepção.


Sobra então a expectativa de que a faixa título, ao longo de seus mais de quinze minutos de duração, retome o alto padrão de qualidade do disco em sua primeira metade. E In the Passing Light Of Day realmente corresponde a expectativa. Um épico nos moldes dos melhores momentos do Marillion fase Hogarth, com seus momentos de calmaria e fúria sempre guiados por belas melodias.



Veredito da Cripta

In The Passing Light Of Day, fosse um filme, seria daqueles que tem um início fantástico, acaba por se alongar por mais tempo que o necessário, mas que tem um final tão bem bolado que acaba por tornar a experiência irregular uma jornada para lá de válida. Longe de ser o melhor trabalho do POS, ainda assim é um belo álbum. E dia 01 de fevereiro os suecos estarão no palco do Teatro Rival, no Rio de Janeiro...não dá para perder.


NOTA: 8,32


Gravadora: Hellion Records (Nacional).
Pontos positivos: A primeira metade do disco e a faixa título são excelentes
Pontos negativos: a produção e alguns xaropes na segunda metade do disco
Para fãs de: Evergrey, Devin Townsend, Fates Warning
Classifique como: Prog Metal, Metal Moderno

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segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Vuur – In This Moment We Are Free – Cities (CD-2017)

Vuur - In This Moment We Are Free - Cities (Cd-2017)

Anneke Is Back In Town!
Por Trevas

Já se passaram 23 anos desde que Mandylion, terceiro disco do enigmático The Gathering, apresentou a bela voz de Anneke Van Giersbergen ao mundo. Embora a banda flertasse com tantos estilos diferentes dentro de sua música, a aura Doom/Gothic Metal que permeou Mandylion e o álbum subsequente, Nighttime Birds, acabou por tornar Anneke uma espécie de musa da emergente cena de bandas pesadas com vozes femininas. Essa identificação fez com que a ruivinha, após sua saída da banda, em 2007, sempre fosse cobrada em seus trabalhos solo pela falta de peso e flerte com a música alternativa. As várias participações de Anneke em projetos de Heavy Metal (Ayreon, Devin Townsend, Moonspell e até mesmo Napalm Death) acabavam por aumentar a ansiedade daqueles que ainda gostariam de ver a simpaticíssima cantora de volta a uma banda efetivamente pesada. 

Anneke lá nos idos de 1990 e fumacinha

E esses anseios foram respondidos pela criação de uma nova banda, na qual Anneke se junta a amigos compatriotas com quem já tocara no passado. Jord Otto (Revamp) e Ferry Duijsens (Anneke) nas guitarras, Joham Van Stratum (Stream Of Passion) no baixo e o monstro Ed Warby (Gorefest, Ayreon) na bateria. O nome escolhido, Vuur, soa estranho. Mas ao que parece significa fogo, paixão, em holandês. Faz sentido. E o primeiro trabalho é conceitual, trazendo 11 músicas inspiradas por cidades que a cantora julga especiais, e por como a “vibe” de cada cidade desperta de maneira diferente um sentimento de liberdade. Diferente e interessante, mas vamos ver se musicalmente a coisa funciona.


O Disco

My Champion Berlin inaugura o disco de forma interessante, um som diferente, a despeito do approach vocal lembrar seus primórdios no Gathering. A ligação com a antiga banda fica extremamente mais clara em Time Rotterdam, com seus riffs que beiram o Doom e com Anneke cantando (e como canta!) exatamente como fazia em Nighttime Birds.


The Martyr And The Saint - Beirut já traz algo mais próximo do Prog Metal, ainda que em nenhum momento de maneira exibicionista e gratuita, as melodias ainda são o foco da música. E por falar em melodias, a dramática The Fire – San Francisco, traz algumas das mais fantasmagóricas que a ruivinha já compôs em toda sua carreira.

Vuur, banda ou projeto? O tempo dirá...

Freedom – Rio é a primeira faixa a transitar por um clima mais alegrinho e afim da carreira solo da cantora. Falar o tempo todo de Anneke faz parecer que o instrumental aqui é mero objeto decorativo de fundo, o que está longe da verdade. Brilhantemente produzida por Just van der Broek (tecladista do After Forever e ReVamp, embora tenha resistido e não exista sequer um teclado evidente no disco), que assina todas as composições em parceria da vocalista e outros membros da banda, a bolachinha deixa espaço para todos os excelentes músicos brilharem. E talvez o melhor exemplo desse fato seja visto em Days Go By - London, primeira música de trabalho e, possivelmente, a melhor de todo o repertório. Nela podemos apreciar as guitarras afiadas e ótimos solos de Otto e Ferry, além da sempre acachapante bateria da máquina Ed Warby.


Ed que bate bem forte na pesada Sail Away – Santiago, uma música forte e de clima algo pesado, contrastando com a algo sonhadora Valley Of Diamonds- Mexico City. A tranquilidade permeia de maneira um pouco mais soturna a boa Your Glorious Light Will Shine - Helsinki, que traz ótimos solos de guitarra. As guitarras também são o destaque em Save Me – Istambul, a mais Heavy Metal de todo o disco. O link com o que a vocalista faz em sua carreira solo (e com o que ela fez em seu último disco do Gathering) se dá na faixa de encerramento, Reunite! – Paris, que tem mesmo cara de fim de festa.


Veredito da Cripta

In This Moment We Are Free – Cities é um daqueles trabalhos que crescem a cada audição. Excelentemente bem produzido e tocado, traz alguns dos melhores momentos da carreira de Anneke. E o que é melhor, está longe de soar como uma requentada do que ela fizera no The Gathering. Embora as comparações sejam inevitáveis devido a alguns padrões de melodias, Vuur é uma banda totalmente diferente, menos minimalista e mais próxima ao heavy metal, ainda que de enfoque moderno e algo progressivo. Uma excelente estreia num dos melhores trabalhos de 2017.


NOTA: 8,94


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Gravadora: Inside Out/Sony Music (Importado).
Pontos positivos: excelentes canções, ótima produção...ah e a Anneke
Pontos negativos: é definitivamente um disco que carece de algumas audições para chegar aos ouvidos
Para fãs de: The Gathering

Classifique como: Prog Metal, Metal Moderno



quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Omega Blast – Omega Blast (Cd-2017)

Omega Blast  (Cd-2017)

Exército de Um Homem Só
Por Trevas

Originária de Petrópolis, região Serrana do Estado do Rio de janeiro, a Omega Blast é aquele tipo de banda muito mais comum no cenário do Black Metal nórdico: a famigerada One Man Band. O Braddock/Rambo no caso é Guilherme de Siervi, também conhecido por seus trabalhos guitarrísticos junto às bandas Syren e Skyrion. O primeiro rebento, homônimo, por enquanto só está disponível em mídias digitais. Então, ponhamos o Spotify para funcionar e vamos conferir Omega Blast, o disco.

Guilherme de Siervi, Braddock Heavy Metal
Are You Afraid abre o disco de forma avassaladora, e o que ouvimos aqui é uma versão ultra pesada e moderna dos conceitos europeu e americano de Power Metal. E se a proficiência de Guilherme nas guitarras já é conhecida por aqueles afeitos aos trabalhos do Skyrion, sua performance vocal se faz uma grata surpresa. Num enfoque que em muito me lembra o (ótimo) trabalho do finlandês Marco Hietala à frente de seu veteraníssimo combo Heavy Metal Tarot. O peso e urgência continuam na forte Putrid Faded World, que a despeito da carga melódica de seu refrão, bem poderia estar em Crucible, disco mais pesado da carreira solo do mestre Halford.


Primeira música de trabalho, Fire at Will (ver vídeo) é simplesmente uma das melhores coisas feitas no estilo nesse muito bem recheado 2017. Ótimas guitarras e um refrão daqueles para ficar eternamente grudado nessa geleia de abacaxi que você tem no lugar do cérebro.


Shadows On Your Grave (ver vídeo), vem com uma boa dose de dramaticidade na interpretação vocal, numa profusão de riffs cortantes e ótimos solos. O implacável ritmo enfim diminui um pouco na bela The Signs Between The Lines, que traz um dueto de Guilherme com Mariana Figueiredo (Chronicode, ex-Melyra), uma das mais promissoras vozes femininas de nosso país.


A velocidade retorna na furiosa, direta e Halfordiana faixa título, a mais pesada da bolachinha digital. E logo em seguida Guilherme faz sua melhor performance vocal na excelente Death In Life, uma “quase Power Balada” ornada por ótimos solos de guitarra e refrão inspirado.


The Bringer Of Evil devolve o peso ao trabalho, com participações de Guilherme Sevens (voz, Painside) e Alex Macedo (guitarra solo, Syren), mas a despeito dos convidados, a faixa não empolga tanto. A complexa e moderna Welcome, com guitarras que evocam até um pouco de Black Metal se sai bem melhor, com seu refrão excelente, um dos destaques do disco, que termina seus vigorosos 43 minutos com Inner Hate e suas referências (ainda que) homeopáticas ao Symphonic Metal.


Veredito Final

Omega Blast, o disco, é pesado e muito bem elaborado. Um trabalho que traz uma mescla para lá de interessante de diversos subgêneros dentro do Heavy Metal, mas com cara própria e revestido de uma bem-vinda modernidade. Uma promissora estreia!


NOTA: 8,34

Somente em mídias digitais
Pontos positivos: peso e modernidade aliados a boas composições
Pontos negativos: nada a destacar
Para fãs de: Tarot, Vicious Rumors, Halford
Classifique como: Power Metal, Heavy Metal



quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Sons Of Apollo – Psychotic Symphony (Cd-2017)

Sons Of Apollo - Psychotic Symphony

Prog Metal à Lá Michael Bay
Por Trevas

Supergrupos costumam ser a prova cabal de que o ditado “de boas intenções o inferno está cheio” faz muito sentido. E o atual status do mercado fonográfico tem fomentado o surgimento de uma miríade dessas erráticas junções de astros do rock. E esse Sons Of Apollo é um exemplo dos mais fortes line ups que já vi num supergrupo. A banda nasceu da promessa mútua que Derek Sherinian (teclados, Dream Theater, Black Country Communion) e Mike Portnoy (bateria, Dream Theater, Transatlantic, Avenged Sevenfold, Adrenaline Mob...) fizeram de voltar a trabalhar juntos, e o time foi completado por músicos de escolha do próprio Portnoy. Seus favoritos em atividade, ao que parece. E realmente só temos feras por aqui: Billy Sheehan (baixo, Mr. Big) e Jeff Scott Soto (voz, Talisman, Journey, Axel Rudi Pell, WET e mais um bilhão de projetos...) já são figurinhas para lá de carimbadas. Completando o time, talvez a grande aposta de Portnoy, o guitarrista de uma das 789 encarnações do Guns And Roses, o virtuose Bumblefoot. Para chamar ainda mais a atenção de todos, foi informado que o Sons Of Apollo marcaria o retorno triunfante do baterista ao estilo que o consagrou (e que ele ajudou a levar ao Mainstream junto à sua ex-banda, o Dream Theater): o infame Metal Progressivo. Vamos ver o que nos aguarda nesse debut, produzido pela dupla mentora do projeto.

Os próprios filhos do Apolo, seria aquele amigo do Rocky?

A longa e pesada God Of the Sun tem um início promissor, mas logo se perde em uma miríade de convenções e solos tão desnecessários quanto genéricos, sintetizando o ponto falho de todo o disco: boas ideias diluídas em toneladas de exibicionismo (coroado na irritante e interminável Opus Maximus).


E o que que é pior, em nenhum momento temos a menor impressão de que o Sons, a despeito do quilate dos talentos envolvidos, se esforça para ter uma cara própria. Não mesmo. Tudo soa como uma colagem desesperada de qualquer coisa já feita anteriormente dentro do combalido Prog Metal. Ou, em termos vocais, com qualquer projeto que Jeff Scott Soto já tenha montado. Coming Home, por exemplo, parece saída de um dos esquecíveis discos modernos do Ozzy.


Alive poderia ser confundida facilmente por uma balada mediana esquecida do Talisman refeita sobre o ponto de vista do projeto. As interessantes ideias vocais se perdendo na necessidade de mostrar uma complexidade que a música não pede em nenhum momento.



E há até mesmo um simulacro de Deep Purple (fase Perfect Strangers) com uma pitada de Dio fase Sacred Heart, na passável Divine Addiction. Se em termos criativos tudo soa derivativo e desinteressante, tecnicamente o disco atinge o que se espera. A bateria tresloucada de Portnoy casando com o baixo eu-queria-ser-guitarrista de Sheehan. Soto fazendo o mesmo de sempre de forma para lá de competente. Sherinian destilando seus solos metalizados e brincando com timbres diferentes de hammond. E Bumblefoot se esmerando em riffs de metal moderno já vistos outras 789 vezes e solos fritados e sem alma que farão as viúvas dos shredders oitentistas molharem as calcinhas.


Veredito da Cripta

Psychotic Symphony talvez soe como o paraíso para alguns, em especial aos fãs daquela vertente Prog Metal “tiruliruli-tirulirulu” que tem em seu maior expoente a quiche de chuchu chamada Dream Theater.  Honestamente, me soou como o equivalente musical de um filme do Michael Bay. E isso está longe de ser um elogio.


NOTA: 4,97


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Gravadora: Hellion Records (nacional).
Pontos positivos: alguns bons refrães e a sempre boa voz de Soto
Pontos negativos: sem personalidade e lotado de convenções e exibicionismo gratuitos
Para fãs de: Dream Theater
Classifique como: Prog Metal


segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Europe – Walk The Earth (Cd-2017)

Europe - Walk The Earth

Valhalla Garantido
Por Trevas

Um sujeito que fosse congelado em 1986, ano em que Final Countdown tornou a banda sueca ainda que por alguns instantes a improvável maior banda de rock do planeta, e repentinamente acordasse de seu sono criogênico em 2017 ao som desse Walk The Earth, juraria de pés juntos se tratar de outra banda completamente diferente. Pudera, da arte gráfica que lembra propositalmente os trabalhos do Pink Floyd, à maturidade nos timbres e construção das canções, o Europe deu uma guinada de imenso bom gosto em sua carreira após o retorno com Start From The Dark. E Walk the Earth, refazendo a dobradinha com o produtor estadunidense Dave Cobb (Rival Sons) em Nashville, é mais um impressionante capítulo dessa nova vida, longe da papagaiada de laquê e porcarias do naipe de Carrie.

Europe andando por esse vasto mundão, 2017
Walk The Earth, a música, foi escolhida também como primeiro single. Quase uma continuação de War Of Kings, não me pegou de primeira, mas cresceu a cada vez que coloquei a bolachinha para rodar. Excelente, a despeito da sempre inexplicável opção de se colocar vozes de crianças em uma música de rock. Jamais entenderei esse estranho fetiche.



A pesada The Siege segue, com seu baixo pulsante (cortesia de John Leven) e ótimos solos do genial Norum. E aqui o clima do disco já pode ser notado, é como se a banda optasse por seguir o caminho testado em Rainbow Bridge do disco anterior, flertando com escalas orientais e timbres setentistas. A temática desta música também é vista ao redor de boa parte do material, política e democracia. Originalmente, Joey Tempest havia tido a ideia de escrever um disco conceitual sobre o tema. O projeto foi abortado, mas não impediu que o tema desce suas caras aqui e acolá, como podemos ver em seguida na impressionante Kingdom United, primeira a ser composta para o disco, com show de Ian Haugland e Mic Michaeli.



Ok, nem tudo é perfeito aqui. Pictures traz uma daquelas melodias melecosas típicas das baladas de Tempest e nem o arranjo com um belo crescendo ao final ajudam a salvar a faixa da bancarrota. Election Day e Wolves para nossa sorte trazem o vigor de volta ao disco, duas faixas com letras virulentamente políticas. A primeira, acelerada e um pouco mais típica da banda até faz bonito, mas a segunda, gravada de maneira totalmente analógica, é fruto de um delicioso e inédito flerte com o psicodelismo. O trabalho de Norum aqui é belíssimo, uma versão amplificada e menos econômica do que fizera no disco anterior. Um dos grandes destaques do disco.


GTO foi a proposta de Norum para a banda quando o quinteto chegou à conclusão de que o disco carecia de um número mais veloz. Com um quê de Scorpions antigo, traz uma impressionante performance do geralmente excessivamente melodioso Tempest. E logo depois somos presenteados pela surpreendente Haze, um número que poderia até mesmo ser regravado pelo Monster Magnet, apresentando um riff monstruoso e um solo de Haugland. Aliás, o que o baterista tocou nesse disco não está no gibi, de longe seu melhor trabalho em estúdio.



Whenever You’re Ready aumenta novamente a velocidade, com riffs e solos para lá de inspirados de John Norum. O encerramento com Turn To Dust coloca Mic no centro dos holofotes numa peça épica que faria muito marmanjo feliz no California Jam de 1974.


Veredito da Cripta

Levando ainda mais adiante o clima Classic Rock de War Of Kings, Walk The Earth é outra pérola da renovada carreira de um quinteto que se encontrou após se livrar das amarras da música pasteurizada da segunda metade dos anos 1980. O Europe segue brilhando cada vez mais em uma improvável e impressionante redenção! Dá quase para perdoar os caras por Carrie. Quase. Brincadeira, depois desses seis últimos discos, os suecos podem adentrar o Valhalla, merecidamente.


NOTA: 9,33




Gravadora: Hellion Records (nacional).
Pontos positivos: canções excelentes com arranjos cuidadosos e ótimas performances
Pontos negativos: Pictures destoa
Para fãs de: UFO, Rainbow, Thin Lizzy,
Classifique como: Hard Rock, Classic Rock