The Night Flight Orchestra - Amber Galactic |
Rumo às Estrelas
Por
Trevas
Quem acompanha a
Cripta já esbarrou com esse projeto bem louco capitaneado pela dupla do Soilwork, Björn Strid (voz) e David Andersson (guitarra), mais especificamente na resenha do excelente
disco anterior, Skyline Whispers (ver a resenha da Cripta ehistória da banda aqui). Pois bem, na passagem do Soilwork pelo Rio de janeiro, ganhei uma promoção que me levou a um
Meet & Greet com a banda.
Ao lado de meus discos favoritos do Soilwork,
fiz questão que a dupla citada assinasse mina cópia do Skyline Whispers, e a
reação foi hilária: os dois se entreolharam de maneira surpresa com um ar de “de
onde ele tirou isso”? Mas sorridentemente assinaram o encarte. O fato é que o
filhote bastardo vem ganhando uma reputação surpreendentemente positiva na
Europa. E isso fez com que o projeto ganhasse até mesmo um contrato com a Nuclear Blast. Rapidamente os suecos escolheram gravar um terceiro disco,
composto na estrada e gravado em diversos estúdios no decorrer da última turnê
do Soilwork (e até mesmo no próprio
Tour Bus).
Será assim que Björn arruma inspiração para sair do Death rumo ao AOR? |
A
temática por detrás da banda continua a mesma, apostar em letras que façam
referência a situações e sentimentos daqueles que vivem na madrugada, segundo Björn: “naquela estranha dimensão onde cada
mulher é uma comandante intergaláctica de coração partido em vestidos de festa
e as drogas não podem te fazer mal”. Ah, ok. A arte gráfica, ainda que
consideravelmente mais caprichada que nos tentos anteriores, ainda segue a
estética kitsch, o que faz todo o sentido em se tratando do conteúdo musical. Ou
fazia, vamos checar o que acontece nesse novo disco...
Caught Somewhere in
...1978?
“Eu não estou
partindo, apenas indo para outro lugar, para longe dos gritos e sussurros e das
minhas próprias fraquezas”. Sim, em bom português uma suposta aeromoça intergaláctica
nos introduz à Midnight Flyer (ver vídeo), que já mostra que
nada mudou em relação ao estilo dos discos anteriores. Temos aqui aquela
mistura de Disco/Prog/AOR que se fez
razoavelmente comum em algum lugar lá pelos idos de 1978...a música é excelente
e os arranjos não ficam atrás.
Difícil dizer se Star Of Rio
se baseia no filme alemão homônimo ou em alguma moça conhecida por estas
paragens em alguma turnê. O que importa é que temos mais uma excelente música
com excelente refrão e riff
carregado de reverb, aliás, tudo
carregado de reverb, até a alma. A
música tem um clima de algum material que a MK4 do Purple (com Hughes, Coverdale e Bolin)
poderia ter gravado, se não tivesse sido abortada tão cedo. Gemini, primeira faixa de trabalho (ver
vídeo), é o paraíso de qualquer fã de AOR
que se preze – talvez a melhor música do disco.
Sobre a banda, temos um time de respeito e muita experiência, só que em
estilos bem diferentes. Björn tem
voz e interpretação perfeitos para o estilo (quem conhece o Soilwork talvez já tivesse percebido
isso), o baixo pulsante e com linhas bem elaboradas de Sharlee D’Angelo (Mercyful
Fate, Arch Enemy) salta aos
ouvidos. David Andersson faz um ótimo trabalho de pesquisa de timbres e efeitos de
guitarra, tudo soa precisamente envelopado naquele período de tempo entre o
final dos anos 1970/ início dos 1980. De quebra, temos o tecladista Richard Larsson saindo dos temas xaropes e belicosos do Sabaton para explorar os sintetizadores
em profusão, sempre muito bem encaixados. A bateria de Jonas Källsbäck é bem
marcante, com aquela pegada da era disco e ao mesmo tempo que aposta num som
bem orgânico. Completa o time o percussionista/guitarrista Sebastian Forslund.
The Night Flight Orchestra, chegando para uma festa Ploc em Saturno... |
Sad State of Affairs (ver vídeo) é outra
música que poderia ter saído do final do Purple
nos anos 1970/início do Whitesnake.
Um pouco inferior ao material que brilhava absoluto até então. Jennie carrega nos teclados (meio Supertramp) e aposta num riff que
lembra algo do Kansas e um refrão
que quase esbarra na melecosidade. Para nossa sorte o instrumental vence o
refrão chatinho e a música ainda assim vale a pena.
Domino (ver vídeo) é a
própria encarnação daqueles rocks radiofônicos adaptados à era disco. Amaria
odiar essa música, mas não consigo. Uma pérola da roqueirice brega, ornada com
belos e simples solos de Andersson, e
que bem poderia estar na trilha sonora de algum filme ruim e esquecível da
sessão da tarde lá dos idos de 1981. Josephine
enfim cruza a fronteira do aceitável, de longe a coisa mais fraca do disquinho,
lembrando os momentos mais xaropescos de coisas como Survivor ou Toto.
Ah, já estava achando que o caldo ia entornar, mas aí veio a rocker Space Whisperer retomar um pouco do vigor dos trabalhos anteriores. Não,
não é o espírito do Soilwork pintando
por aqui, apenas um AOR com uma
pegada mais pesada que o habitual, muito bem-vinda, por sinal. Björn encarna com maestria Robert Tepper em Something Mysterious (ver vídeo), uma power ballad com refrão irresistível e com arranjos mais comedidos em
relação à atmosfera kitsch. Como nos
discos anteriores, a edição normal fecha com uma faixa mais longa. Só que ao
invés de apostar tanto numa veia mais progressiva, Saturn In Velvet encapsula tudo o que a banda fez
neste e nos discos anteriores em sete minutos de AOR. A edição nacional (e o digipack
Europeu) ainda conta com uma boa cover para Just Another Night, do Mick Jagger (com direito
a solo de sax).
Saldo Final
Nos
discos anteriores a banda apostara no som daquela fase da música em que os
gigantes do início da década de 1970 estavam rastejando e a disco music vivia
seu ápice. Quando bandas como BTO e Foghat apostavam em um rock com grande
apelo radiofônico sem abrir mão de ser...rock...e o AOR ainda tinha vida e viço, em seu princípio de escalada rumo ao
topo. Já neste disco a mistura pendeu, e muito, para a estética oitentista. Uma
era onde a breguice imperou absoluta e as músicas tinham tanta alma quanto as
carreiras de cocaína que os yuppies da indústria fonográfica cheiravam. Ainda assim,
Amber Galactic tem ótimas músicas que suplantam e muito as derrapadas em
alguns arranjos e duas ou três bombas. Um disco muito bom, mas que fica para trás
se comparado aos dois anteriores.
NOTA:
8,37
p.s.: a saber, a banda já está
gravando o quarto disco, com previsão para o início de 2018.
Gravadora:
Shinigami Records (Nacional).
Pontos
positivos: ótimas músicas e uma bela máquina do tempo
Pontos
negativos: a banda exagerou na dose na breguice em umas músicas aqui e acolá
Para
fãs de: Foreigner, Journey, Survivor
Classifique como: AOR, Retro Rock
"Ignorance is bliss"... Se eu soubesse de antemão q tinha alguém do Soilwork por trás da banda, talvez eu nem me interessasse. Tenho aqui os 3 discos deles (mp3) e curto bagarái; saber q estão gravando um próximo é uma ótima notícia!!!
ResponderExcluirML
Fala, Marcello
ExcluirMuita gente já me falou exatamente isso, hehehhee. Eu adoro Soilwork, então...
Eu achei que esse deu uma piorada, mas ainda é bem divertido, espero que o próximo recapture o jeitão dos dois primeiros
Abraço
Trevas
Adorei todos os 3 discos do The Night Flight Orchestra, e estou caçando o primeiro, que saiu por uma gravadora italiana. Mostra que os músicos são ecléticos e não vivem só de metal extremo, apesar de ser fã de carteirinha do Soilwork.
ResponderExcluirOlá, camarada
ExcluirAchei esse novo o menos legal, mas ainda ssim é bom.
O primeiro consegui na loja Headbanger, no Rio de Janeiro, um tempo atrás.
abraço
Trevas