Sepultura - Machine Messiah |
Prólogo: Muitos
Sepulturas
Por
Trevas
Existem poucos
assuntos mais polarizadores (e cansativos) no universo headbanger brasuca do que a discografia e as relações pessoais entre
os integrantes e ex-integrantes do Sepultura.
Ousar entrar em uma conversa sobre o assunto costuma gerar mais discórdia e
aporrinhação do que uma partida de War.
Embora eu tenha minha opinião muito bem formada (e informada) sobre o assunto,
deixarei ela para terceiro plano. O fato inconteste é que o Sepultura é de longe a maior banda de Heavy Metal nascida em território brasileiro, tendo vendido cerca de 20
milhões de discos e influenciado uma geração inteira de bandas ao redor do
globo. Por aqui, infelizmente, escolhemos perder tempo polemizando ao invés de
nos orgulharmos disso. Enfim...
Sepultura em sua formação "clássica" |
Uma vez, li uma entrevista com o guitarrista Andreas Kisser que
achei bastante valiosa para ilustrar meu pensamento sobre o Sepultura. Nela, o entrevistador (acho
que foi na Roadie Crew) perguntava sobre como a
expectativa dos fãs sobre o direcionamento de um novo lançamento afetava a
banda. Andreas, com sua inteligência
habitual, explicou brilhantemente que cada fã tinha uma imagem do que
considerava ser o Sepultura ideal. E
ele mesmo também tinha uma imagem bem nítida de seu Sepultura ideal. Sendo assim, invariavelmente o que a banda viesse
a lançar chegaria perto do Sepultura
que alguns idealizam, e distanciaria de maneira igual do Sepultura ideal de outros tantos. Logo, seria tolice compor
pensando nisso, o Sepultura real
sempre perderia para os vários Sepulturas
imaginários.
Andreas Kisser detonando |
Ehr,
seria essa linha de pensamento demonstração de esquizofrenia? Não, faz todo o
sentido do mundo se pensarmos na evolução estilística da banda desde seu
primeiro disco até o aclamado (lá fora) e odiado (aqui dentro) Roots. Evolução essa que continuou após
a saída de Max e permanece sendo uma
característica inata de nosso maior expoente. Uma banda em constante mutação.
Se isso é ruim ou bom, depende da visão de cada fã. Apesar de não gostar de
todos os discos da banda, admiro muito essa coragem. Por isso mesmo, embora eu
tenha achado o disco anterior uma termenda bomba, fui conferir esse Machine Messiah de peito aberto.
Conceito e Arte Gráfica
do Messias
O
disco é conceitual, e nada melhor do que as palavras de um dos próprios criadores
da obra para definir seu conceito. Com vocês, Mr Kisser:
“A principal inspiração em torno de “Machine Messiah” é a robotização da sociedade hoje em dia. O conceito de uma ‘Máquina Divina’ que criou a humanidade e agora parece que este ciclo está se fechando, retornando ao ponto de partida. Nós viemos de máquinas e estamos indo de volta para de onde viemos. O Messias, quando ele voltar, vai ser um robô, ou um humanoide, nosso salvador biomecânico”
Agora me devolve esse
baseado que seguiremos em frente. Sobre a arte de capa, muito bonita por sinal,
uma surpresa, ao menos para mim. A mesma não foi feita para a banda e nem
propositalmente faz referência à capa clássica de Arise. Trata-se de uma arte feita há anos pela artista filipina Camille Della Rosa, com a qual a
banda acabou esbarrando por acaso. Não precisa nem dizer que se encaixa
perfeitamente no conceito, e seus supostos links com a arte de Arise só evidenciam a ideia de uma
entidade mutante, caso do Sepultura.
Bom, como vocês já sabem, não sou grande fã de discos conceituais e acredito
que a música tem que ser maior do que as ideias por detrás de sua criação.
Então, tragamos aos nossos ouvidos a vinda do tal Messias.
Bogren No Comando
Saber que a banda
havia escolhido o sueco Jens Bogren como produtor já sgarantia uma
enorme pista de que a banda iria ousar, e muito. Bogren e seu estúdio Fascination
Street (sim, homenagem ao The Cure) são a bola da vez no universo headbanger europeu, e suas produções tem obtido enorme êxito comercial
e crítico. Seus últimos trabalhos, a frente de Moonspell, Angra, Kreator e Soilwork, primam por arranjos complexos e utilização de
instrumentos incomuns e orquestrações, sem fazer com que as bandas percam peso
ou personalidade. E tão logo a faixa título nos assombra com sua atmosfera mezzo progressiva/mezzo Doom, temos a
certeza de que Jens acabou de ajudar
a criar um Sepultura diferente. Épica
e contando até com soturnos vocais limpos do gigante de ébano Derrick Green, Machine Messiah é tão diferente do que se
esperaria da abertura de um disco do Sepultura
o possível. Ainda assim, é absurdamente destruidora.
Bom, aí você está atordoado e fica com medo do que vem pela frente, mas
a banda nos presenteia com um colossal tapa na orelha, I Am The Enemy, tão visceral e agressiva quanto as músicas mais
pesadas que a banda já compusera até hoje. Certeza de rodas de pogo em
profusão.
E novamente a banda reprograma seu hardware,
numa mistura de maracatu com groove metal, progressivo e orquestrações (que
remetem ao trabalho de Jens com o Moonspell, diga-se) na épica Phantom Self (ver vídeo). Derrick
berra as letras distopicas como se o apocalipse fosse eminente, as guitarras de
Andreas soam tão na cara e
inventivas quanto o possível e Paulo
Xisto tem a companhia do monstro Eloy Casagrande em uma das cozinhas mais inventivas e poderosas do metal
atual.
Confesso que minha maior crítica quanto à banda sempre residiu na
inconstância de seus discos, mesmo os melhores trabalhos do Sepultura sempre foram recheados de
músicas que não pareciam se encaixar de maneira alguma. Alethea definitivamente não demonstra a qualidade de boa parte de
suas companheiras de disco. Mas de certa maneira ela consegue contribuir para o
andamento da obra, então sua existência não chega a atrapalhar. Uma daquelas
coisas que acontecem com frequência em discos conceituais. Ainda bem que logo
depois dela vem uma belezura instrumental cheia de elementos outrora alienígenas
ao universo Sepulturesco, Iceberg Dances. Nela temos violões clássicos e
até um bem-vindo hammond, que fazem
da faixa muito mais do que mero exibicionismo da formação mais técnica que a
banda já teve. As orquestrações retornam na mid tempo Sworn Oath, um
mastodonte guiado pelos ótimos urros de Mr. Green e por um refrão marcante, outro dos destaques de um disco que
já me conquistara em definitivo até esse ponto.
A agressividade gooveada
retorna na boa Resistant Parasites, com o baixo de Paulo saltando distorcido em nossos
ouvidos. A orquestração em seu interlúdio chega a lembrar algo que o Dimmu Borgir poderia escrever e há espaço até para uma cítara violenta,
mostrando que mesmo em faixas mais diretas e supostamente Sepulturescas a banda
resolveu inovar. O mesmo ocorre com a furiosa Silent Violence, que
parece seguir uma estrutura mais padrão até seu interlúdio com vocais
psicodélicos emoldurando uma orgia instrumental de primeira com destaque ao destruidor
Eloy.
Sepultura 2017: patrocinados pelos óculos Ambervision? |
Chegamos
à reta final, e Vandals Nest novamente impressiona em seus
menos de 3 minutos, com uma interessante dinâmica entre os vocais limpos e
urrados num disco que já de longe representa o melhor trabalho de voz que Derrick Green já fez junto à banda. Cyber
God é o épico mid tempo que encerra
nossa jornada, com a versatilidade vocal engrandecendo o clima de distopia que
cerca o conceito, uma música que parece querer fechar um ciclo, como se pudesse
ser diretamente conectada ao início do disco.
Saldo Final
Machine Messiah
marca o nascimento de mais um dos muitos Sepulturas.
Um disco extremamente pesado, que conta com a introdução de diversos novos
elementos ao universo da banda, ao mesmo tempo que realça a capacidade do Sepultura de ousar, pensar fora da
caixinha que é o Heavy Metal, e ainda assim manter sua
personalidade. E se as aventuras musicais dos caras resultaram em discos bem irregulares
em alguns momentos, aqui em Machine Messiah a precisão foi cirúrgica. Um
dos melhores trabalhos da discografia da maior banda brasuca de rock pesado em
todos os tempos e certamente um dos grandes discos de 2017.
NOTA:
9,32
Gravadora:
Nuclear Blast (Nacional).
Pontos
positivos: ousado, criativo e muito pesado
Pontos
negativos: e tome mimimi da troozada
Para
fãs de: Fear Factory, Gojira
Classifique como: Modern Metal, Groove Metal
Sua resenha só não é totalmente excelentemente perfeita pq precisa de uma revisão de texto mais acurada... hehehe
ResponderExcluirNo mais, onde assino?
Abração!!!
ML
fala, Marcello
ExcluirO babuíno aqui tem a péssima mania de revisar depois que publica, shame, gwhahahhahaha
Abraço e obrigado pelas palavras
Trevas
Mandou muito, Trevas!
ResponderExcluirFala, Marcão!!!
ExcluirMuito obrigado camarada, fico feliz que tenha gostado, sou fã do Metal Samsara!
Abraço
Trevas