sábado, 7 de outubro de 2017

Sepultura – Machine Messiah (Cd-2017)

Sepultura - Machine Messiah

Prólogo: Muitos Sepulturas
Por Trevas

Existem poucos assuntos mais polarizadores (e cansativos) no universo headbanger brasuca do que a discografia e as relações pessoais entre os integrantes e ex-integrantes do Sepultura. Ousar entrar em uma conversa sobre o assunto costuma gerar mais discórdia e aporrinhação do que uma partida de War. Embora eu tenha minha opinião muito bem formada (e informada) sobre o assunto, deixarei ela para terceiro plano. O fato inconteste é que o Sepultura é de longe a maior banda de Heavy Metal nascida em território brasileiro, tendo vendido cerca de 20 milhões de discos e influenciado uma geração inteira de bandas ao redor do globo. Por aqui, infelizmente, escolhemos perder tempo polemizando ao invés de nos orgulharmos disso. Enfim...

Sepultura em sua formação "clássica"
Uma vez, li uma entrevista com o guitarrista Andreas Kisser que achei bastante valiosa para ilustrar meu pensamento sobre o Sepultura. Nela, o entrevistador (acho que foi na Roadie Crew) perguntava sobre como a expectativa dos fãs sobre o direcionamento de um novo lançamento afetava a banda. Andreas, com sua inteligência habitual, explicou brilhantemente que cada fã tinha uma imagem do que considerava ser o Sepultura ideal. E ele mesmo também tinha uma imagem bem nítida de seu Sepultura ideal. Sendo assim, invariavelmente o que a banda viesse a lançar chegaria perto do Sepultura que alguns idealizam, e distanciaria de maneira igual do Sepultura ideal de outros tantos. Logo, seria tolice compor pensando nisso, o Sepultura real sempre perderia para os vários Sepulturas imaginários.

Andreas Kisser detonando

Ehr, seria essa linha de pensamento demonstração de esquizofrenia? Não, faz todo o sentido do mundo se pensarmos na evolução estilística da banda desde seu primeiro disco até o aclamado (lá fora) e odiado (aqui dentro) Roots. Evolução essa que continuou após a saída de Max e permanece sendo uma característica inata de nosso maior expoente. Uma banda em constante mutação. Se isso é ruim ou bom, depende da visão de cada fã. Apesar de não gostar de todos os discos da banda, admiro muito essa coragem. Por isso mesmo, embora eu tenha achado o disco anterior uma termenda bomba, fui conferir esse Machine Messiah de peito aberto.


Conceito e Arte Gráfica do Messias

O disco é conceitual, e nada melhor do que as palavras de um dos próprios criadores da obra para definir seu conceito. Com vocês, Mr Kisser:

“A principal inspiração em torno de “Machine Messiah” é a robotização da sociedade hoje em dia. O conceito de uma ‘Máquina Divina’ que criou a humanidade e agora parece que este ciclo está se fechando, retornando ao ponto de partida. Nós viemos de máquinas e estamos indo de volta para de onde viemos. O Messias, quando ele voltar, vai ser um robô, ou um humanoide, nosso salvador biomecânico”
Agora me devolve esse baseado que seguiremos em frente. Sobre a arte de capa, muito bonita por sinal, uma surpresa, ao menos para mim. A mesma não foi feita para a banda e nem propositalmente faz referência à capa clássica de Arise. Trata-se de uma arte feita há anos pela artista filipina Camille Della Rosa, com a qual a banda acabou esbarrando por acaso. Não precisa nem dizer que se encaixa perfeitamente no conceito, e seus supostos links com a arte de Arise só evidenciam a ideia de uma entidade mutante, caso do Sepultura. Bom, como vocês já sabem, não sou grande fã de discos conceituais e acredito que a música tem que ser maior do que as ideias por detrás de sua criação. Então, tragamos aos nossos ouvidos a vinda do tal Messias.


Bogren No Comando

Saber que a banda havia escolhido o sueco Jens Bogren como produtor já sgarantia uma enorme pista de que a banda iria ousar, e muito. Bogren e seu estúdio Fascination Street (sim, homenagem ao The Cure) são a bola da vez no universo headbanger europeu, e suas produções tem obtido enorme êxito comercial e crítico. Seus últimos trabalhos, a frente de Moonspell, Angra, Kreator e Soilwork, primam por arranjos complexos e utilização de instrumentos incomuns e orquestrações, sem fazer com que as bandas percam peso ou personalidade. E tão logo a faixa título nos assombra com sua atmosfera mezzo progressiva/mezzo Doom, temos a certeza de que Jens acabou de ajudar a criar um Sepultura diferente. Épica e contando até com soturnos vocais limpos do gigante de ébano Derrick Green, Machine Messiah é tão diferente do que se esperaria da abertura de um disco do Sepultura o possível. Ainda assim, é absurdamente destruidora. 


Bom, aí você está atordoado e fica com medo do que vem pela frente, mas a banda nos presenteia com um colossal tapa na orelha, I Am The Enemy, tão visceral e agressiva quanto as músicas mais pesadas que a banda já compusera até hoje. Certeza de rodas de pogo em profusão.


E novamente a banda reprograma seu hardware, numa mistura de maracatu com groove metal, progressivo e orquestrações (que remetem ao trabalho de Jens com o Moonspell, diga-se) na épica Phantom Self (ver vídeo). Derrick berra as letras distopicas como se o apocalipse fosse eminente, as guitarras de Andreas soam tão na cara e inventivas quanto o possível e Paulo Xisto tem a companhia do monstro Eloy Casagrande em uma das cozinhas mais inventivas e poderosas do metal atual.



Confesso que minha maior crítica quanto à banda sempre residiu na inconstância de seus discos, mesmo os melhores trabalhos do Sepultura sempre foram recheados de músicas que não pareciam se encaixar de maneira alguma. Alethea definitivamente não demonstra a qualidade de boa parte de suas companheiras de disco. Mas de certa maneira ela consegue contribuir para o andamento da obra, então sua existência não chega a atrapalhar. Uma daquelas coisas que acontecem com frequência em discos conceituais. Ainda bem que logo depois dela vem uma belezura instrumental cheia de elementos outrora alienígenas ao universo Sepulturesco, Iceberg Dances. Nela temos violões clássicos e até um bem-vindo hammond, que fazem da faixa muito mais do que mero exibicionismo da formação mais técnica que a banda já teve. As orquestrações retornam na mid tempo Sworn Oath, um mastodonte guiado pelos ótimos urros de Mr. Green e por um refrão marcante, outro dos destaques de um disco que já me conquistara em definitivo até esse ponto.


A agressividade gooveada retorna na boa Resistant Parasites, com o baixo de Paulo saltando distorcido em nossos ouvidos. A orquestração em seu interlúdio chega a lembrar algo que o Dimmu Borgir poderia escrever e há espaço até para uma cítara violenta, mostrando que mesmo em faixas mais diretas e supostamente Sepulturescas a banda resolveu inovar. O mesmo ocorre com a furiosa Silent Violence, que parece seguir uma estrutura mais padrão até seu interlúdio com vocais psicodélicos emoldurando uma orgia instrumental de primeira com destaque ao destruidor Eloy.

Sepultura 2017: patrocinados pelos óculos Ambervision?
Chegamos à reta final, e Vandals Nest novamente impressiona em seus menos de 3 minutos, com uma interessante dinâmica entre os vocais limpos e urrados num disco que já de longe representa o melhor trabalho de voz que Derrick Green já fez junto à banda. Cyber God é o épico mid tempo que encerra nossa jornada, com a versatilidade vocal engrandecendo o clima de distopia que cerca o conceito, uma música que parece querer fechar um ciclo, como se pudesse ser diretamente conectada ao início do disco.


Saldo Final

Machine Messiah marca o nascimento de mais um dos muitos Sepulturas. Um disco extremamente pesado, que conta com a introdução de diversos novos elementos ao universo da banda, ao mesmo tempo que realça a capacidade do Sepultura de ousar, pensar fora da caixinha que é o Heavy Metal, e ainda assim manter sua personalidade. E se as aventuras musicais dos caras resultaram em discos bem irregulares em alguns momentos, aqui em Machine Messiah a precisão foi cirúrgica. Um dos melhores trabalhos da discografia da maior banda brasuca de rock pesado em todos os tempos e certamente um dos grandes discos de 2017.


NOTA: 9,32

 
Gravadora: Nuclear Blast (Nacional).
Pontos positivos: ousado, criativo e muito pesado
Pontos negativos: e tome mimimi da troozada
Para fãs de: Fear Factory, Gojira
Classifique como: Modern Metal, Groove Metal



4 comentários:

  1. Sua resenha só não é totalmente excelentemente perfeita pq precisa de uma revisão de texto mais acurada... hehehe
    No mais, onde assino?
    Abração!!!
    ML

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    1. fala, Marcello
      O babuíno aqui tem a péssima mania de revisar depois que publica, shame, gwhahahhahaha
      Abraço e obrigado pelas palavras
      Trevas

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  2. Respostas
    1. Fala, Marcão!!!
      Muito obrigado camarada, fico feliz que tenha gostado, sou fã do Metal Samsara!
      Abraço
      Trevas

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