Royal Thunder - Wick |
Acendendo o Pavio
Por
Trevas
“Não há ninguém nos
empurrando musicalmente em nenhuma direção. E nem nunca haverá, pois nós não
deixaremos. O que se escuta em Wick
é simplesmente o som dos músicos da banda evoluindo junto”. Mlny Parzons, a diminuta
baixista/vocalista com voz gigante dos estadunidenses do Royal Thunder resume de
forma concisa e decidida a influência que a mudança de gravadora trouxe para o
universo criativo de um dos grupos musicais mais difíceis de se rotular da
atividade. A pressão existente para o lançamento do primeiro disco pela Spinefarm viria de somente uma direção:
da própria banda.
Royal Thunder 2017 |
Descobri que o disco estava em produção por uma série de pequenos
diários de estúdio lançados pela gravadora anterior (eles mudaram da Relapse para a Spinefarm no meio do processo) e descobri também que existia uma
campanha de financiamento coletivo para o já intitulado Wick. Corri e garanti um dos muitos bundles disponíveis. Quando a bolachinha chegou em casa, logo fui
conferir e tentar elucidar o que o “pavio” tinha a oferecer.
O meu singelo Bundle do Wick |
Burning Tree abre o disco com uma aura hipnótica e que remete a
reinterpretação dos anos 1970 que o Soundgarden
fez no passado, só que novamente reinterpretada, pela visão única da banda. Um
início intrigante e que cresce a cada audição. E logo a escuridão se apossa do
disco com a poderosa April Showers, primeira música de trabalho e
a que melhor traça um paralelo com os discos anteriores e a evolução musical da
banda. Uma espécie de túnel que atravessa as três fases. Um clássico imediato,
repleto de dinâmica, o baixo estalado de Mlny
fazendo a cama para a banda montar uma estrutura dramática que só enaltece o
poderio da voz da baixista. Excelente.
O processo de mudança da Relapse
para a Spinefarm aconteceu majoritariamente
devido à dificuldade da primeira, um selo tipicamente Heavy Metal, de entender
e vender o som do Royal Thunder. E não, não é realmente uma
tarefa fácil. Tied, por exemplo, tem
seu início repetindo a atmosfera Superunknown
do Soundgarden e logo evolui para um
monstrinho diferente e indecifrável. Josh
Weaver e Will Fiore devem tanto
seus riffs e solos ao universo alternativo quanto devem ao Doom e Stoner. Evan Diprima faz uma cozinha bem dinâmica e pesada com Mlny. Bom, dessa salada musical nascem coisas
tão díspares quanto a ótima e algo pop We
Slipped (com letra aparentemente
refletindo o fim do casamento entre a vocalista e Josh) e a trauletada proto-metal Sinking Chair (ver
vídeo).
E então, justamente quando você acha que está conseguindo entender a
lógica do disco, vem Plans, um
número acústico repleto de feeling que não ficaria perdido em algum disco do Fleetwood Mac ou do Bliss, e te
derruba. Mlny canta aqui com o
coração na garganta, cada nota batendo claramente fundo no peito. Belíssima
música.
Anchor traz o rock de volta
ao repertório, com uma aura Zeppeliana
aparecendo aqui e acolá, fazendo do que parecia a princípio um simples número
direto uma pequena viagem. A faixa título retoma a aura sombria e hipnótica: “No Wind, No Sail, All Colors Washed Out And
Pale, No Tick, No Tock, No Time Spins Off The Clock” definindo bem o
sentimento de desesperança da bela música. Push
vem em seguida trazer um outro tipo de melancolia, seu início com piano (tocado
pela vocalista) e orquestra abrindo espaço para um arranjo interessante que,
por vezes, fez-me lembrar os melhores momentos do The Gathering.
Acidentalmente evocando aquele ensaio fotográfico do Type O Negative |
Turnaround é outro número mais visceral, mas a
essa altura do campeonato você já se encontra imerso e entende que nada é o que
parece por aqui. Arranjos e vozes fluem de maneira única e nunca de maneira
hermética e o refrão consegue conquistar sem muito esforço. Crédito seja dado
também ao produtor e engenheiro de som Joey
Jones, que repete a parceria com a
banda pela terceira vez e parece realmente entender a visão algo turva do
quarteto. The Well evoca algo da já clássica Time
Machine (do disco anterior, Crooked Doors) em parte de sua melodia, e curiosamente, também faz um agradável
contraponto de otimismo num disco que jazia denso e fúnebre. Os 52 minutos de
Wick terminam com Mlny urrando na psicodélica e estranha We Never Fell Asleep. E
não podia ser diferente.
Saldo Final
Mais
uma vez o Royal Thunder nos assombra com um disco inclassificável, denso e repleto
de nuances, fácil de escutar, mas difícil de assimilar por completo. Um disco
daqueles para ser apreciado ritualisticamente. Chegue em casa, apague as luzes,
deite no chão e coloque a bolachinha para rodar. E prepare-se então para uma
viagem sombria e intensa guiada por uma das bandas mais idiossincráticas de seu
tempo. Excelente.
NOTA:
9,14
Gravadora:
Spinefarm Records (nacional).
Pontos
positivos: Imprevisível e denso
Pontos
negativos: Ehr... Imprevisível e denso?
Para
fãs de: Soundgarden
Classifique como: Stoner, Rock Psicodélico
Mizifio, gostei de absolutamente tudo q li e escutei enquanto lia. Agora só me resta escutar o disco na íntegra pra formar minha própria opinião, mas já sei q o disco não só não me decepcionará qto me surpreenderá, como aconteceu com os anteriores.
ResponderExcluirSe continuarem nesse ritmo, logo se tornarão mega, têm tudo pra isso.
Valeu!!!
ML
Fala, Marcello!!
ExcluirCara, essa banda, desde a primeira vez que acidentalmente esbarrei com ela, me conquistou por completo. É mais um disco diferente, que aponta por direções diversas sem parecer esquizofrênico. Infelizmente é uma banda fadada a atividades pontuais, assisti uma entrevista deles em que falam que precisam manter seus empregos normais e conciliar as atividades musicais. mas, quem sabe um dia isso mude. Gostaria de conseguir ver um show deles, mas acho pouco provável.
Abraço
Trevas
Melhor banda do mundo. Pronto, falei!
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