Kobra and the Lotus - Prevail I (Cd-2017) |
Trocando
De Pele
Por Trevas
Após um hiato que
envolveu 8 meses de estaleiro para a vocalista Kobra Paige (culpa da
temida doença do carrapato) e muita confusão nos bastidores (com trocas de
integrantes e algum disse me disse), os canadenses do Kobra and the Lotus anunciaram uma campanha de
financiamento coletivo para o que seria um trabalho duplo com o nome provisório
Zombies. Mas o que seria um ambicioso
trabalho duplo pereceu diante de um fato bem-vindo, a assinatura de contrato
com a Napalm Records. Após a intervenção da nova gravadora, a empreitada se transformou
num par de discos a serem lançados em momentos distintos durante o ano de 2017.
Segundo a vocalista, uma estratégia acertada, pois diminuiria a chance da
quantidade de canções se diluir diante do short spam da geração atual. A banda logo
anunciou também a intenção de trabalhar com algum produtor de fora da América
do Norte, em busca de uma sonoridade mais contemporânea e variada. O anúncio
pegou desprevenida a crescente base de fãs da trupe, que já conta com muito
cartaz em sua terra natal. Escolha feita, a primeira parte de Prevail ganhou o mercado em maio desse
ano. Fui escutar a bolachinha ainda sem saber se tudo não passara de estratégia
de marketing ou se KATL realmente havia resolvido mudar de pele.
Kobra Paige trocando de pele, para nosso deleite... |
Gotham, a bela e
orquestrada faixa que abre o disco já dita de cara o tom de Prevail, um Heavy Metal com estrutura
próxima ao tradicional, mas rearranjado com uma roupagem moderna auxiliada pela
exímia produção e a poderosa e bela voz de Kobra
guiando uma melodia absolutamente deliciosa no refrão.
A primeira faixa de trabalho, Trigger
Pulse, é bastante pesada e muito
mais calcada na estética moderna do Heavy
Metal que a faixa de abertura. Bem
poderia ser confundida com algo feito pelo Delain
ou congêneres, mas ainda assim soa excelente graças à qualidade das melodias. Um
gigantesco passo em relação ao material mais Old School de High Priestess, mas parece uma evolução natural se compararmos ao trabalho
homônimo que a banda lançou em 2012.
A bateria tribal prepara o terreno para a trauletada que é o Riff de You Don’t Know (ver vídeo), mas de repente somos jogados a uma
melodia bem menos metálica que o esperado, culminando num refrão radiofônico
que funciona, ainda que de maneira não tão impactante. Há de se notar que o
enfoque diferenciado também se traduz na voz de Kobra Paige. Dona de um
timbre excelente, a bela exagerava demais nos maneirismos de canto lírico nos
discos anteriores, e aqui o enfoque é bem mais equilibrado, com Kobra se saindo muito bem tanto nas
melodias mais pop quanto nas mais agressivas.
Specimen X (The
Mortal Chamber) já é efetivamente bem mais violenta e, afora a produção de Jacob Hansen (Volbeat, Destruction, Pretty Maids, Amaranthe), que parece ter tentado
fazer sua experiência com ao Amaranthe
contagiar o material, soa bastante mais próxima ao que a banda fizera no
passado. Uma música muito boa, por sinal. A power balada Light Me Up (ver vídeo) tem aquele toque folk na melodia do grudento refrão e
nas boas guitarras (e violão) de Jasio
Kulakowski.
Bem, nem sempre a infusão de elementos modernos funcionou nesse disco. A
alegre Manifest Destiny soa como coca cola quente com purgante e é a grande bola
fora da bolachinha, e nem o baixo pulsante de Brad Kennedy e a bateria
algo grooveada de Lord Marcus Lee puderam fazer nada para mudar o panorama. Victim segue com uma cascata de melodias e riffs que se não se
destacam de muita coisa feita na atualidade, ao menos funcionam e trazem o padrão
de qualidade do disco de volta para o aceitável. E se o nome da banda, as fotos
de divulgação e as entrevistas colocam a beldade canadense no centro do palco, a
virulenta instrumental Check the Phyrg chega aos nossos ouvidos para mostrar que os rapazes têm direito
a seu espaço.
KATL 2017 |
Hell On Earth
é mais uma das faixas que fazem a ponte entre o que a banda produziu em seus
discos anteriores e o novo direcionamento. Um exemplo de Power Metal bem feito
bem pesado. A faixa título, última do pacote, é uma imponente e contagiante peça
de Metal Moderno com refrão absolutamente grudento. Algumas edições contam
ainda com a excelente e algo folk The
Chain, uma adição curta e bacana a
um repertório já muito bem provido.
Veredito
da Cripta
Kobra Paige e seus colegas deixaram bastante
claro que a intenção em Prevail era
dar o passo adiante. Um passo que poderia alçar a banda a um novo patamar ou
jogar a carreira no ostracismo. A se levar em conta a receptividade para lá de
impressionante tanto no mercado doméstico como em parte da Europa, a aposta deu
muito certo. Alguns fãs podem torcer o nariz para a sonoridade moderna e para a
quase total ausência de elementos líricos na voz de Paige. Justo. Mas eu já diria que, pela primeira vez, a banda
efetivamente mostrou todo seu potencial, num disco muito bem construído, pesado
e agradável. A troca de pele definitivamente valeu a pena. Que venha a segunda
parte.
NOTA:
8,51
Gravadora:
Napalm Records (importado).
Pontos
positivos: Kobra Paige cantando como nunca, sonoridade moderna e pesada
Pontos
negativos: em alguns (poucos) momentos a banda passa perto de perder sua
identidade na ânsia de modernizar o som
Para
fãs de: Delain, Kamelot
Classifique como: Heavy Metal, Modern Metal