segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Kobra and the Lotus – Prevail I (Cd-2017)

Kobra and the Lotus - Prevail I (Cd-2017)

Trocando De Pele
Por Trevas

Após um hiato que envolveu 8 meses de estaleiro para a vocalista Kobra Paige (culpa da temida doença do carrapato) e muita confusão nos bastidores (com trocas de integrantes e algum disse me disse), os canadenses do Kobra and the Lotus anunciaram uma campanha de financiamento coletivo para o que seria um trabalho duplo com o nome provisório Zombies. Mas o que seria um ambicioso trabalho duplo pereceu diante de um fato bem-vindo, a assinatura de contrato com a Napalm Records. Após a intervenção da nova gravadora, a empreitada se transformou num par de discos a serem lançados em momentos distintos durante o ano de 2017. Segundo a vocalista, uma estratégia acertada, pois diminuiria a chance da quantidade de canções se diluir diante do short spam da geração atual. A banda logo anunciou também a intenção de trabalhar com algum produtor de fora da América do Norte, em busca de uma sonoridade mais contemporânea e variada. O anúncio pegou desprevenida a crescente base de fãs da trupe, que já conta com muito cartaz em sua terra natal. Escolha feita, a primeira parte de Prevail ganhou o mercado em maio desse ano. Fui escutar a bolachinha ainda sem saber se tudo não passara de estratégia de marketing ou se KATL realmente havia resolvido mudar de pele.

Kobra Paige trocando de pele, para nosso deleite...

Gotham, a bela e orquestrada faixa que abre o disco já dita de cara o tom de Prevail, um Heavy Metal com estrutura próxima ao tradicional, mas rearranjado com uma roupagem moderna auxiliada pela exímia produção e a poderosa e bela voz de Kobra guiando uma melodia absolutamente deliciosa no refrão.


A primeira faixa de trabalho, Trigger Pulse, é bastante pesada e muito mais calcada na estética moderna do Heavy Metal que a faixa de abertura. Bem poderia ser confundida com algo feito pelo Delain ou congêneres, mas ainda assim soa excelente graças à qualidade das melodias. Um gigantesco passo em relação ao material mais Old School de High Priestess, mas parece uma evolução natural se compararmos ao trabalho homônimo que a banda lançou em 2012.



A bateria tribal prepara o terreno para a trauletada que é o Riff de You Don’t Know (ver vídeo), mas de repente somos jogados a uma melodia bem menos metálica que o esperado, culminando num refrão radiofônico que funciona, ainda que de maneira não tão impactante. Há de se notar que o enfoque diferenciado também se traduz na voz de Kobra Paige. Dona de um timbre excelente, a bela exagerava demais nos maneirismos de canto lírico nos discos anteriores, e aqui o enfoque é bem mais equilibrado, com Kobra se saindo muito bem tanto nas melodias mais pop quanto nas mais agressivas.


Specimen X (The Mortal Chamber) já é efetivamente bem mais violenta e, afora a produção de Jacob Hansen (Volbeat, Destruction, Pretty Maids, Amaranthe), que parece ter tentado fazer sua experiência com ao Amaranthe contagiar o material, soa bastante mais próxima ao que a banda fizera no passado. Uma música muito boa, por sinal. A power balada Light Me Up (ver vídeo) tem aquele toque folk na melodia do grudento refrão e nas boas guitarras (e violão) de Jasio Kulakowski.


Bem, nem sempre a infusão de elementos modernos funcionou nesse disco. A alegre Manifest Destiny soa como coca cola quente com purgante e é a grande bola fora da bolachinha, e nem o baixo pulsante de Brad Kennedy e a bateria algo grooveada de Lord Marcus Lee puderam fazer nada para mudar o panorama. Victim segue com uma cascata de melodias e riffs que se não se destacam de muita coisa feita na atualidade, ao menos funcionam e trazem o padrão de qualidade do disco de volta para o aceitável. E se o nome da banda, as fotos de divulgação e as entrevistas colocam a beldade canadense no centro do palco, a virulenta instrumental Check the Phyrg chega aos nossos ouvidos para mostrar que os rapazes têm direito a seu espaço.

KATL 2017 

Hell On Earth é mais uma das faixas que fazem a ponte entre o que a banda produziu em seus discos anteriores e o novo direcionamento. Um exemplo de Power Metal bem feito bem pesado. A faixa título, última do pacote, é uma imponente e contagiante peça de Metal Moderno com refrão absolutamente grudento. Algumas edições contam ainda com a excelente e algo folk The Chain, uma adição curta e bacana a um repertório já muito bem provido.


Veredito da Cripta

Kobra Paige e seus colegas deixaram bastante claro que a intenção em Prevail era dar o passo adiante. Um passo que poderia alçar a banda a um novo patamar ou jogar a carreira no ostracismo. A se levar em conta a receptividade para lá de impressionante tanto no mercado doméstico como em parte da Europa, a aposta deu muito certo. Alguns fãs podem torcer o nariz para a sonoridade moderna e para a quase total ausência de elementos líricos na voz de Paige. Justo. Mas eu já diria que, pela primeira vez, a banda efetivamente mostrou todo seu potencial, num disco muito bem construído, pesado e agradável. A troca de pele definitivamente valeu a pena. Que venha a segunda parte.



NOTA: 8,51


Gravadora: Napalm Records (importado).
Pontos positivos: Kobra Paige cantando como nunca, sonoridade moderna e pesada
Pontos negativos: em alguns (poucos) momentos a banda passa perto de perder sua identidade na ânsia de modernizar o som
Para fãs de: Delain, Kamelot
Classifique como: Heavy Metal, Modern Metal



sábado, 28 de outubro de 2017

Massive Fire – Atomic Fusion (CD-2017)

Massive Fire - Atomic Fusion (Cd-2017)

Fusão Inspirada
Por Trevas

O segundo disco dos cariocas da Massive Fire aposta numa arte bonita e bem diferente e uma produção musical de primeira (por Celo Oliveira). Desde a bela introdução (Chapter II) fica claro o cuidado com as linhas de guitarra do também vocalista Pedro Soriano e a cozinha parruda (como deve ser num Power Trio) de Luiz Felipe Souza (baixo) e Thomas Martin (bateria).

Los 3 Amigos - Massive Fire 2017

E temos aqui ótimas músicas como March Of Souls, The Land (ver vídeo) e The Gates, todas com refrães daqueles que grudam na cabeça. A sonoridade da banda parece trazer influências de bandas oitentistas como Iron Maiden e Helloween adaptadas a modernidade encorpada de grupos como Alter Bridge (vide a faixa título) e Annihilator atual. E cara, como funciona!  


Já na reta final, temos a participação de Rod Rossi, que ajuda a tornar Times Ago um dos destaques da bolachinha. Um senão? Sim, confesso que Pedro até tem uma boa voz e as melodias vocais são excelentes, mas o vocalista exagera um bocado nos maneirismos à lá Myles Kennedy, o que acaba por demandar um tempo para se acostumar. Mas isso se faz apenas um detalhe em um disco em que cada uma das 11 faixas tem ideias boas o suficiente para garantir 50 minutos de um Metal muito bem feito que faz uma deliciosa fusão entre o Old School e o moderno. Discaço!


NOTA: 8,17


Gravadora: Independente.
Pontos positivos: ótimos músicos, ótimas músicas, refrães contagiantes
Pontos negativos: o “wah wah” embutido na voz de Pedro Soriano.
Para fãs de: Iron Maiden, Helloween, Alter Bridge
Classifique como: Heavy Metal



quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Helloween – Pumpkins United (Single-2017)

Helloween - Pumpkins United (Single-2017)
Doce De Abóbora Gourmet
Por Trevas

Talvez uma das maiores notícias (e um dos maiores golpes de marketing) da cena metálica internacional desde o anúncio do retorno de Bruce e Adrian ao Iron Maiden em 1999, a fusão de formações de eras diferentes do Helloween gerou a turnê dos sonhos de muita gente que foi criada com a onda Power Metal dos anos 1990. E os caras realmente não estavam para brincadeira, além dos shows com repertório inchado de clássicos das três eras, forjado para fazer muito marmanjo chorar de felicidade, ainda resolveram soltar um single todo especial para comemorar a turnê. O single, quase um jingle de campanha publicitária, se chama...ehr...Pumpkins United, nome da turnê. 


Quase uma banda de pagode...ao menos o estúdio sai baratinho...

Com mais de seis minutos de duração, a musiquinha tenta encapsular tantos elementos do Power Metal Melódico de uma só vez que acaba quase soando como uma daquelas coisas intragáveis que o Dragonforce lança por aí. É tanta melodia exagerada que você acaba jurando que tem uns 789 refrães alegrinhos acumulados. A letra é daquelas coisas idiotas à lá Manowar, fazendo uma porção de auto referências e tal, como um marombado se admirando no espelho da academia. Uma bomba então? Nah, as guitarras são uma delícia e o contraste entre os vocalistas, com estilos bem diferentes, funciona. E o Power Metal Melódico sempre viveu de exageros, então os fãs do estilo irão amar. Eu? Prefiro ver o filme do Pelé.



segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Final Disaster – The Darkest Path (Ep-2017)

Final Disaster - The Darkest Path
Um Desastre Promissor
Por Trevas


Prólogo: Trevas é Apresentado ao Desastre

Em uma pequena excursão pela Grande São Paulo com a Metalmorphose, tive o prazer de conhecer essa jovem e promissora banda, que fez dois shows de abertura para lá de convincentes. E o que é melhor, com muito material próprio, que trazia uma mistura de elementos de várias vertentes do Metal Moderno, ainda assim mostrando muita personalidade. O material aqui analisado é o primeiro Ep da Final Disaster, e fui conferir a bolachinha na expectativa de que o que havia visto nos palcos se refletisse na qualidade do material em estúdio.

Final Disaster
O Ep 

Dark Passenger começa, ahn...sombria (desculpe, foi inevitável)...com um Riff algo Doom dando lugar a vocalizações que em muito lembram a fase mais recente do Lacuna Coil, apostando no interessante contraste entre a voz mais doce de Laura Giorgi e o trinado cavernoso de Kito Vallim num tema algo hipnótico. Logo a música evolui para um monstro diferente, com a alternância de climas e influências ajudando a banda a trilhar um caminho próprio.


This Is The End já é bem mais intrincada, e fica latente a qualidade da produção e mixagem de Raphael Gazal, com os Riffs e dobras de Daniel Crivello e Rodrigo Alves bem na cara, com a cozinha pesada e precisa de Bruno Garcia (bateria) e Felipe Lucio (baixo) segurando as pontas com maestria. Laura e Kito se revezam em linhas melódicas muito bem boladas e que aproveitam o melhor de cada voz.


A curta e direta Oblivion aposta em um tema de guitarra bem legal que serve de cama para a melodia do refrão. Há um bem-vindo espaço para uma respirada que deixa claro que os dois talentosos vocalistas ainda podem evoluir nas linhas melódicas menos agressivas. E sim, eu citei o Lacuna Coil como referência à dobradinha vocal, mas não se deixe enganar, a banda vai além da formula dos italianos. Os riffs e estruturas musicais tem muito de Thrash moderno, Industrial Metal e até de Melodic Death Metal, fugindo do padrão “Bela e A Fera” popularizado nos anos 1990.  Dito isso, a cereja do bolo vem no final, com a estupenda Beware the Children fechando com seu riff virulento e ótimo refrão um Ep que nos introduz uma banda nova e muito promissora. Que venha logo o primeiro full length



NOTA: 8,13


Gravadora: Independente.
Pontos positivos: ótimos músicos, ótimas músicas
Pontos negativos: nada a destacar.
Para fãs de: Lacuna Coil, Soilwork, In Flames
Classifique como: Modern Metal


sábado, 21 de outubro de 2017

In Flames + Reckoning Hour – 2017 South American Tour - Circo Voador (20/10/2017 – Rio de Janeiro/RJ)

Flyer Digital do Show

Excelente Noite de Metal Moderno No Circo
Fotos, vídeos e texto por Trevas

Reckoning Hour – Melodeath made In Brazil!

Na ativa desde 2011, o quinteto carioca definitivamente foi uma ótima escolha para a abertura deste show. Com o palco ornado com o belo backdrop da banda, além de dois praticados laterais com arte gráfica correlata, o RH iniciou seu show pontualmente às 21:00, quando ainda havia pouco público. Mas o poderio do quinteto, que mostra em eu som uma espécie de compêndio de tudo o que já se fez (e se faz) de bom dentro do Melodic Death Metal, logo atraiu uma parcela bem razoável das pessoas que já se encontravam na casa para a pista. O vocalista JP tem um gutural poderosíssimo (realmente impressionante!) e ótima presença de palco (me parece que ainda há algo a evoluir nas linhas de voz limpas, mas nada que comprometa), e seguiu comandando as ações, mas extremamente bem assessorado por uma dupla de grandes guitarristas (Phil Leander e Lucas Brum) que atua de forma quase telepática. Some-se a isso uma cozinha para lá de poderosa (Johnny Kings e Cavi Montenegro, com seu baixo tão alto no mix que chegava a encobrir as guitarras) e ótimas músicas e temos uma das melhores bandas da nova geração que já vi ao vivo. Uma pena que o set durou apenas meia hora. Fui lá na banquinha e já garanti os dois lançamentos da RH (um Ep e um Full Length) e uma camisa. Sensacional. (NOTA:8,50)

Reckoning Hour ganhando novos fãs







In Flames – Tocando Para Amigos

O palco repentinamente toma nova forma, o backdrop gigante (e clean) dos suecos é o único cenário, afora a bateria...nada de parede de amps, tudo ligado em linha. E a banda sobe com dez minutos de atraso ao som de duas faixas do novo disco, o controverso Battles (e como essas músicas soaram melhores ao vivo, hein?). E controvérsia parece ser uma constante na carreira do In Flames, uma das bandas mais influentes e polarizadoras de seu tempo. A mudança do Melodic Death Metal tipicamente sueco para uma amálgama de heavy metal moderno que deve tanto a seu passado quanto ao Nu Metal e Pop ainda é motivo de muita rabugice na cena. Mas se você veio até aqui procurando alguém que alimente essa gasta polêmica, veio ao lugar errado. O In Flames de hoje é um monstro muito diferente, e pudera, a banda que vemos no palco traz somente dois membros originais (e dá até para discutir se realmente podem ser considerados “originais"): o guitarrista tigrado Björn Gelotte e o vocalista com cara de hipster do Leblon Anders Fridén. De resto, temos os novatos Bryce Paul (baixista) e Joe Rickard (bateria), além do já conhecido guitarrista Niclas Engelin. E cara, como esse novo monstro funciona bem.

In Flames deixando o Circo, ehr...em chamas?
O público, apenas razoável, ficou impressionado com a qualidade sonora da banda, que destilou uma penca de sons de seus discos mais recentes. Todas devidamente cantadas e agitadas pelos ávidos fãs, que a cada intervalo entoava um contagiante “olê, olê, olê, In Flames, In Flames”. A banda retribuía com muito dinamismo e energia, além de uma postura atípica. Anders interagia com todos sempre de maneira calma e jocosa, muito longe da postura fodão malvadão que muitos artistas do estilo destilam. Sempre bebendo ,ora cerveja ora um destilado que não consegui identificar, Anders ainda aproveitou a execução e um número instrumental para consumir um fumígero suspeito no backstage (visível de onde eu estava), seguido pelo seu companheiro Björn. Enfim, o clima era tão agradavelmente descompromissado e amistoso que em determinados momentos dava a impressão de estarmos assistindo a uma banda de amigos. E a prova de que o público da banda renovou seu gosto ficou latente ao percebermos que a dobradinha Moonshield/Jesters Dance (as únicas da fase MeloDeath executadas, se consideramos que Only for The Weak já representa uma fase de transição) teve recepção morna se comparada a músicas novas como The Truth e a derradeira The End. A reclamar, apenas uma certa queda de dinâmica das músicas do meio do set, mas a energia foi logo recuperada na reta final, com a casa vindo abaixo em números como Deliver Us e The Quiet Place. Um show matador! (NOTA:9,00)

domingo, 15 de outubro de 2017

UFO – The Salentino Cuts (Cd-2017)

UFO - The Salentino Cuts (Cd-2017)


Jukebox UFOlógica?
Por Trevas

Acabamos de sair de um disco de covers de uma banda surgida nos anos 1970 e caímos em outro? Exatamente, só que dessa vez temos os britânicos do UFO, banda que continua na ativa, com 12 números inéditos feitos especialmente para este lançamento, num disco dedicado ao falecido Tour Manager da banda -  Tonio Neuhaus.

UFO, direto do asilo mais subversivo da Grã Bretanha
A bolachinha abre com uma ótima versão para Heartful of Soul, do Yardbirds. Impressiona como a voz de Mogg soa jovial apesar dos 70 anos de idade chegando em questão de meses.



Break On Through, do Doors, já me parece uma tremenda bola fora. Não, a versão nem é ruim, mas a música é tão manjada e super explorada que faz a gente se perguntar se eles não podiam ter escolhido algo mais legal para homenagear os caras. River of Deceit, do Mad Season vem em seguida e é totalmente o oposto. Uma banda das antigas fazendo cover de um lado B da era Grunge é de se admirar. E ficou bem legal. Ponto para os vovôs.


Bom ver também que ao escolher um número do Steppenwolf, os britânicos fugiram da obviedade e pegaram a boa The Pusher para fazer uma versão UFOlizada que ao menos para este escriba aqui, soa muito melhor que a original. Paper In Fire, de John Mellencamp é uma música legal e a versão aqui inclusa faz justiça a ela.


E se o andamento da bolachinha andava tranquilo demais, a boa dobradinha Rock Candy (Montrose) e Mississippi Queen (Mountain) trata de trazer vivacidade ao repertório. São dois hinos do rock que parecem feitos para o UFO, diga-se, ainda que as versões aqui nem de longe barrem as destruidoras originais. E trazer as músicas para o mundo do nosso Objeto Voador Não Identificado nem sempre funciona, como prova a razoável rendição para Ain’t No Sunshine, de Bill Withers. Melhor sorte tem Honey Bee, do recém falecido Tom Petty, que ficou bem legal, com destaque para a performance incendiária de Vinnie Moore, que até então andava muito comportado no disco.


Too Rolling Stoned, o subestimado rockão funkeado do igualmente subestimado Robin Trower, faz bonito aqui, de longe um dos melhores números da bolachinha, com mr. Moore debulhando novamente. 



Just Got Paid (ZZ Top) tem um dos riffs mais perfeitos da história do rock e não ia ser o UFO que estragaria isso, não é mesmo? Ótima versão, com ainda mais groove que a original. A bolachinha fecha com It’s My Life, do Animals, numa rendição bacana, ainda que nada especial.


Saldo Final

Como costuma acontecer com discos de covers, The Salentino Cuts não traz absolutamente nada de novo à rica discografia do UFO. Mas tem como trunfo o fato da seleção de músicas ser bem bacana e a banda ter deixado tudo com sua própria cara. Um disco bem divertido, mas nem de longe essencial.


NOTA: 8,16

 
Gravadora: Cleopatra Records (Importado).
Pontos negativos: preferia um disco novo.
Pontos positivos: bom repertório e versões que ficaram com a cara da banda
Para fãs de: Thin Lizzy, Montrose, Ac/Dc
Classifique como: Rock and Roll, Classic Rock, Hard Rock


sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Motörhead – Under Cöver (Cd-2017)

Motörhead - Under Cöver (Cd-2017)

O Baú do Tio Crocotó!
Por Trevas

Under Cöver é o segundo lançamento póstumo do Motörhead, e ao menos tem uma ideia não tão gasta por detrás: uma compilação de covers que Lemmy e companhia fizeram ao longo da carreira. Como todo bom caça níquel, o catadão precisaria de algo inédito para chamar a atenção dos fãs de carteirinha da banda, que provavelmente já terão quase tudo incluso nesta bolachinha, certo? Certo. E existem duas faixas inéditas aqui, uma delas uma improvável versão para um dos maiores clássicos do recém falecido David Bowie, além de mais uma das homenagens do Tio Crocotó a seus amigos da maior banda punk da história, os Ramones.  O disco está disponível desde início de setembro no Spotify, e deve ganhar as prateleiras tupiniquins em breve. Vamos ao que interessa.


Catadão Fenömenal!

Com tanta música boa no repertório do Judas Priest, poderia soar broxante a escolha de Breaking The Law, a faixa mais batida da banda, para o Motörhead coverizar. Mas, convenhamos, ela é simples e direta, a cara de Lemmy e sua trupe. Só consigo pensar em como Grinder ficaria. Ela já havia parecido antes no tributo Hell Bent Forever e a despeito da escolha óbvia, ficou bem legal. God Save The Queen tem até videoclipe (ver abaixo) e era uma das muitas pérolas no subestimado We Are Motörhead. Arrisco dizer que é bem mais legal que a versão original.


E se um disco póstumo já soa quase sempre como oportunismo barato, o que pensar dum disco póstumo que contém uma cover inédita para o maior clássico de outra celebridade recém falecida? Pois é, é o que acontece com Heroes, do David Bowie. A versão que aparece aqui é bem legal, ainda que a fragilidade de Lemmy esteja estampada ao longo de seus pouco mais de quatro minutos. Uma escolha surpreendente e que sabe-se lá como, acaba funcionando. Seguindo a mesma lógica, Starstruck esteve presente no excelente tributo póstumo ao baixinho Ronnie James Dio, amigo pessoal de Lemmy. A música, um bem escolhido lado B do Rainbow, funcionou que é uma beleza naquele tributo. Naquela versão o próprio Lemmy, sabedor de sua limitação vocal, deixou os mesmos com o “parça” Biff Byfford, do Saxon. Já na versão aqui presente a mixagem é diferente da que consta em This Is Your Life, pois Lemmy aparece no refrão. Serve de curiosidade, mas ficou melhor só com o Biff. Sorry Lem


Como qualquer catadão que se preze, temos mais de uma formação da banda aparecendo no disco. Mais especificamente o falecido Würzel aparece em dois números, ambos originalmente contidos no injustamente massacrado March Ör Die, de 1992. O primeiro é a música mais emblemática de um dos artistas mais babacas do rock estadunidense, o infame Ted Nugent, Cat Scratch Fever que é divertida e ficou bem legal. Já o segundo não é exatamente um cover. Hellraiser é uma das músicas que Lemmy compôs para um desesperado Ozzy incluir no seu maior sucesso comercial, No More Tears. Segundo o tio crocotó, ele ganhou mais dinheiro fazendo essas músicas para o comedor de morcegos do que com a carreira inteira do Motörhead.



E por falar em dobradinhas, os Rolling Stones aparecem em dois números por aqui também. Chega a ser curioso que Lemmy, fã declarado de Beatles e que em sua biografia zombara da fama de bad boys dos Stones, tenha tanto apreço pelo som dos caras. Mas quem ganha com isso é a gente. Jumpin’ Jack Flash, que aparecera originalmente no excelente Bastards, ficou matadora. Já Sympathy For The Devil poderia ter ficado bem melhor que a original, se a turma tivesse tido a sacada de limar os chatos “uh-uh” que, sabe-se lá por escolha de quem, infernizam nossos ouvidos desde o longínquo Beggars Banquet, de 1968.

Motörhead nas sessões de fotos para Bad Magic, Lemmy já no puro osso
Mas se o apreço pelos Stones pode ter pego muitos de surpresa, uma homenagem aos Ramones por parte de Lemmy se fazia quase obrigatória. As duas bandas viviam trocando elogios e camaradagens, a despeito das desavenças eventuais com o coxinha Johnny. Rockaway Beach é a segunda pérola inédita no catadão e obviamente funciona bem, como se imaginaria, em se tratando de Motörhead tocando Ramones. E o que dizer do trio encarnando Shoot’em Down do igualmente divertido Twisted Sister? Irresistível? Sim ou claro?

O Metallica diz ter sofrido muita influência do Motörhead em sua sede por criar algo feroz e veloz. E na faixa que encerra o disco, Lemmy desconstrói Whiplash e a transforma em algo que claramente podia estar em Ace Of Spades e/ou Overkill. Matadora.


Saldo Final

Under Cöver é o que é. Um catadão repleto de material já conhecido confeitado com duas cerejas inéditas. Impossível maquiar a cara de caça níqueis. Mas, porra, Motörhead foi uma das bandas mais descompromissadas e divertidas da história do rock e sabia como ninguém converter as músicas dos outros para seu estilo inimitável. Impossível não balançar a cabeça e bater o pé ao som dessa compilação. Ponha para rodar, esqueça a rabugice e relembre que temos que ser gratos por termos vivido neste planeta hostil na mesma época que o Motörhead!


NOTA: 8,71


 
Gravadora: Warner Records (Nacional).
Pontos negativos: ok, é um caça níquel descarado.
Pontos positivos: Quem se importa?
Para fãs de: Motörhead, claro
Classifique como: Rock and Roll



segunda-feira, 9 de outubro de 2017

The Night Flight Orchestra – Amber Galactic (Cd-2017)

The Night Flight Orchestra - Amber Galactic
Rumo às Estrelas
Por Trevas

Quem acompanha a Cripta já esbarrou com esse projeto bem louco capitaneado pela dupla do Soilwork, Björn Strid (voz) e David Andersson (guitarra), mais especificamente na resenha do excelente disco anterior, Skyline Whispers (ver a resenha da Cripta ehistória da banda aqui). Pois bem, na passagem do Soilwork pelo Rio de janeiro, ganhei uma promoção que me levou a um Meet & Greet com a banda. Ao lado de meus discos favoritos do Soilwork, fiz questão que a dupla citada assinasse mina cópia do Skyline Whispers, e a reação foi hilária: os dois se entreolharam de maneira surpresa com um ar de “de onde ele tirou isso”? Mas sorridentemente assinaram o encarte. O fato é que o filhote bastardo vem ganhando uma reputação surpreendentemente positiva na Europa. E isso fez com que o projeto ganhasse até mesmo um contrato com a Nuclear Blast. Rapidamente os suecos escolheram gravar um terceiro disco, composto na estrada e gravado em diversos estúdios no decorrer da última turnê do Soilwork (e até mesmo no próprio Tour Bus).

Será assim que Björn arruma inspiração para sair do Death rumo ao AOR?

A temática por detrás da banda continua a mesma, apostar em letras que façam referência a situações e sentimentos daqueles que vivem na madrugada, segundo Björn: “naquela estranha dimensão onde cada mulher é uma comandante intergaláctica de coração partido em vestidos de festa e as drogas não podem te fazer mal”. Ah, ok. A arte gráfica, ainda que consideravelmente mais caprichada que nos tentos anteriores, ainda segue a estética kitsch, o que faz todo o sentido em se tratando do conteúdo musical. Ou fazia, vamos checar o que acontece nesse novo disco...

Caught Somewhere in ...1978?

“Eu não estou partindo, apenas indo para outro lugar, para longe dos gritos e sussurros e das minhas próprias fraquezas”. Sim, em bom português uma suposta aeromoça intergaláctica nos introduz à Midnight Flyer (ver vídeo), que já mostra que nada mudou em relação ao estilo dos discos anteriores. Temos aqui aquela mistura de Disco/Prog/AOR que se fez razoavelmente comum em algum lugar lá pelos idos de 1978...a música é excelente e os arranjos não ficam atrás.


Difícil dizer se Star Of Rio se baseia no filme alemão homônimo ou em alguma moça conhecida por estas paragens em alguma turnê. O que importa é que temos mais uma excelente música com excelente refrão e riff carregado de reverb, aliás, tudo carregado de reverb, até a alma. A música tem um clima de algum material que a MK4 do Purple (com Hughes, Coverdale e Bolin) poderia ter gravado, se não tivesse sido abortada tão cedo. Gemini, primeira faixa de trabalho (ver vídeo), é o paraíso de qualquer fã de AOR que se preze – talvez a melhor música do disco.



Sobre a banda, temos um time de respeito e muita experiência, só que em estilos bem diferentes. Björn tem voz e interpretação perfeitos para o estilo (quem conhece o Soilwork talvez já tivesse percebido isso), o baixo pulsante e com linhas bem elaboradas de Sharlee D’Angelo (Mercyful Fate, Arch Enemy) salta aos ouvidos. David Andersson faz um ótimo trabalho de pesquisa de timbres e efeitos de guitarra, tudo soa precisamente envelopado naquele período de tempo entre o final dos anos 1970/ início dos 1980. De quebra, temos o tecladista Richard Larsson saindo dos temas xaropes e belicosos do Sabaton para explorar os sintetizadores em profusão, sempre muito bem encaixados. A bateria de Jonas Källsbäck é bem marcante, com aquela pegada da era disco e ao mesmo tempo que aposta num som bem orgânico. Completa o time o percussionista/guitarrista Sebastian Forslund.

The Night Flight Orchestra, chegando para uma festa Ploc em Saturno...


Sad State of Affairs (ver vídeo) é outra música que poderia ter saído do final do Purple nos anos 1970/início do Whitesnake. Um pouco inferior ao material que brilhava absoluto até então. Jennie carrega nos teclados (meio Supertramp) e aposta num riff que lembra algo do Kansas e um refrão que quase esbarra na melecosidade. Para nossa sorte o instrumental vence o refrão chatinho e a música ainda assim vale a pena.


Domino (ver vídeo) é a própria encarnação daqueles rocks radiofônicos adaptados à era disco. Amaria odiar essa música, mas não consigo. Uma pérola da roqueirice brega, ornada com belos e simples solos de Andersson, e que bem poderia estar na trilha sonora de algum filme ruim e esquecível da sessão da tarde lá dos idos de 1981. Josephine enfim cruza a fronteira do aceitável, de longe a coisa mais fraca do disquinho, lembrando os momentos mais xaropescos de coisas como Survivor ou Toto.


Ah, já estava achando que o caldo ia entornar, mas aí veio a rocker Space Whisperer retomar um pouco do vigor dos trabalhos anteriores. Não, não é o espírito do Soilwork pintando por aqui, apenas um AOR com uma pegada mais pesada que o habitual, muito bem-vinda, por sinal. Björn encarna com maestria Robert Tepper em Something Mysterious (ver vídeo), uma power ballad com refrão irresistível e com arranjos mais comedidos em relação à atmosfera kitsch. Como nos discos anteriores, a edição normal fecha com uma faixa mais longa. Só que ao invés de apostar tanto numa veia mais progressiva, Saturn In Velvet encapsula tudo o que a banda fez neste e nos discos anteriores em sete minutos de AOR. A edição nacional (e o digipack Europeu) ainda conta com uma boa cover para Just Another Night, do Mick Jagger (com direito a solo de sax).



Saldo Final

Nos discos anteriores a banda apostara no som daquela fase da música em que os gigantes do início da década de 1970 estavam rastejando e a disco music vivia seu ápice. Quando bandas como BTO e Foghat apostavam em um rock com grande apelo radiofônico sem abrir mão de ser...rock...e o AOR ainda tinha vida e viço, em seu princípio de escalada rumo ao topo. Já neste disco a mistura pendeu, e muito, para a estética oitentista. Uma era onde a breguice imperou absoluta e as músicas tinham tanta alma quanto as carreiras de cocaína que os yuppies da indústria fonográfica cheiravam. Ainda assim, Amber Galactic tem ótimas músicas que suplantam e muito as derrapadas em alguns arranjos e duas ou três bombas. Um disco muito bom, mas que fica para trás se comparado aos dois anteriores.


NOTA: 8,37


p.s.: a saber, a banda já está gravando o quarto disco, com previsão para o início de 2018.

 
Gravadora: Shinigami Records (Nacional).
Pontos positivos: ótimas músicas e uma bela máquina do tempo
Pontos negativos: a banda exagerou na dose na breguice em umas músicas aqui e acolá
Para fãs de: Foreigner, Journey, Survivor
Classifique como: AOR, Retro Rock