Rainbow - Memories In Rock |
We Must Be Over The
Rainbow, Again!!!
Por
Trevas
Prólogo: Mimimi e Dor
de Cotovelo
Ritchie Blackmore
é um dos músicos mais influentes da história do rock. Compositor de pelo menos
90% do material do Purple até 1993,
quando deixou de vez a banda, o cara também nos fez o favor de montar um dos
combos mais perfeitos da história do rock quando deixou a banda provisoriamente
no meio da década de 1970. O projeto/banda, se chamava Rainbow. Três discos se seguiram com um então pouco conhecido
vocalista chamado Ronnie James Dio. Esses três discos se tornaram clássicos quase perfeitos na
história do rock.
Rainbow com Cozy Powell e Dio - dream team? |
Ah, esqueci só de comentar uma coisa...Blackmore é também reconhecido como um dos caras mais complicados
da história do rock. De completo babaca a totalmente maluco e excêntrico, você
vai encontrar uma miríade de definições nada bacanas sobre o lendário
guitarrista.
Até Eddie tira selfie com Ritchie |
Ao tentar angariar o mercado estadunidense, Blackmore acabou abrindo mão dos serviços de Dio em prol de vozes voltadas para o Pop Rock. Com Graham Bonnet lançou um grande disco, Down
To Earth e então partiu para uma versão imensamente menos inspirada da
banda com o vocalista xarope e peruqueiro Joe Lynn Turner. A banda se arrastou
até meados da década de 1980, encerrando as atividades com o retorno do Deep Purple. No meio da década de 1990, Blackmore chegou a reativar o Rainbow,
com o escocês Doogie White na voz. Um puta disco se seguiu,
mas logo após a turnê (que tive a cagada de conseguir assistir), o Rainbow foi jogado no ostracismo e Ritchie se voltou para um projeto de
música de fadinha com sua esposa Candice
Night.
Rainbow na década de 1990 |
Para
surpresa de quase todos os seres desse universo, quando nada mais se esperava
vindo de Ritchie Blackmore, eis que ela anuncia uma
série curta de shows na Alemanha e Inglaterra, com uma formação completamente
nova do Rainbow. E aí começou o
mimimi. Ah, mas ele só chamou gente desconhecida, ah, fulano tinha que estar
nessa, ah, não chamou beltrano.
Deixa
eu contar uma coisa para vocês, amiguinhos - O Rainbow nunca foi exatamente uma banda, nunca mesmo.
O
Rainbow sempre foi um projeto sinônimo
de Ricthie Blackmore. Mais ou menos como o Whitesnake é para David Coverdale. Um canal para o patrão
colocar sua criatividade para fora ajudado pelos músicos que bem entender. A maioria também escolhida entre meros "desconhecidos".
Dito
isso, Memories In Rock é um
lançamento que retrata o primeiro show da polêmica nova encarnação do Rainbow.
Ouvi
muita reclamação em especial em relação a escolha do chileno Ronnie Romero como o vocalista desse retorno. Ronnie, vocalista do ótimo
combo espanhol Lords of Black
(ver resenha aqui) é ainda muito pouco conhecido mundo afora.
Ok, existem milhares
de grandes vocalistas que não fariam feio capitaneando o Rainbow. E cada um tem lá seu favorito para o posto. Muitos desses com
toneladas de experiência nas costas. Ronnie
tem pouco tempo de estrada. Verdade.
Ronnie Romero |
Mas
o que parece que nenhum dos reclamões gosta de lembrar é que caras como Graham Bonnet, Doogie White e Joe Lynn Turner também não eram figurões mundialmente
conhecidos quando foram escolhidos por Blackmore
para cantar no Rainbow. Aliás, nem o
mestre Dio era um vocalista mundialmente
reconhecido até então.
Escutar
gente como os xaropes Mr. Turner e Bonnet chiando do alto de seus
cotovelos doloridos que deveriam fazer parte da nova formação?
E,
esses mesmos xaropes – que nunca fizeram nada de monstuosamente relevante em suas carreiras antes ou
depois do Rainbow, ter a cara de pau
de dizer que Ronnie Romero não está no lugar certo?
Vai
para a puta que o pariu! O único vocalista que teria o direito de se sentir
dono da posição no Rainbow já partiu
de nossa dimensão. E Ronnie Dio, do alto de sua sabedoria, nunca o
fez. Então, Mr. Turner, vai chupar
um canavial de rola!
Bem-vindo, novo Ronnie.
Bem-vindo, novo Ronnie.
Vamos enfim começar a
avaliação do produto, que de fato é o que interessa:
Apresentação:
Memories In Rock foi lançado em vário formatos: Cd duplo, DVD e Blu-Ray. O que
está sendo analisado aqui é o supra sumo nesse caso, o EarBook contendo todos os formatos citados anteriormente.
Trevas segurando o Box, teclado do note ao fundo para dar noção do tamanho |
E cara, o
cuidado com o lançamento é para lá de louvável. Os quatro discos, cada um impresso
com uma cor diferente, estão alojados na parte interna da contracapa, num
estojo feito de material aveludado para não arranhar as bolachinhas.
Contracapa interna com os disquinhos |
O miolo do
Earbook é composto por 48 páginas de
um papel fosco de alta qualidade recheadas de belas fotos da apresentação
principal. A única falha é que a ficha técnica não define quais faixas são
retiradas de qual das duas apresentações em solo teutônico.
Vista das páginas do EarBook |
Vista das páginas do EarBook |
Repertório e Execução:
Vai
ter gente, como eu, que iria preferir ouvir mais Rainbow e menos Purple
no repertório. Afinal, bem ou mal, o Purple
ainda está na ativa e não me faz tanta falta ver mais uma versão de Smoke on the Water ou Highway Star ao vivo. Mas dentro das
duas horas e blau de show temos belezuras como Stargazer, Spotlight Kid,
Since You’ve Been Gone, Sixteenth Century Greensleeves e Catch The Rainbow. E tudo muito bem
executado, obrigado.
O
novo Ronnie canta muito, mas muito
mesmo, e tem carisma.
Sua
performance é perfeita? Não.
Mas
não por falta de “pedigree”, talento ou carisma e sim por um motivo inusitado:
seu inglês.
O chileno se enrola
com as letras em parte das músicas, cantando uma ou outra frase que sequer
existe na língua da rainha...confesso que me identifiquei. E esse ponto toca em
outra característica desse lançamento: a ausência de retoques em estúdio. A
banda certamente ainda está verde nos palcos, e claramente vai se soltando ao
longo do show. Os erros acontecem, e foram mantidos na edição, cada nota na
trave do patrão, cada erro de inglês do chileno, cada pequeno desencontro no
fechar das músicas.
Ah, mas então está tudo errado e o show é uma bosta? Não, o show é
surpreendentemente bacana, começa meio desengonçado, mas vai crescendo de tal maneira
que chega uma hora que você se pega cantando junto com o público e pulando no
meio da sua sala, bêbado e feliz. Felicidade inclusive é o que vemos estampado no rosto do público, no geral composto por uma galera mais velha, mas que demonstra imensa emoção em poder escutar e cantar junto alguns dos maiores clássicos do rock.
E o resto da trupe? Bob Nouveau é um bom baixista e forma
uma dupla interessante com David Keith.
A escolha obviamente foi por uma execução mais classic rock e menos incendiária,
então você não vai ver a bateria pegando pesado não. Mas Keith está longe de ser um perna de pau das baquetas. Jens Johansson tem uma performance
contida, bem menos histriônica do que se esperaria dum virtuose de sua estirpe.
E o próprio Blackmore está com uma
pegada muito mais leve, tocando exatamente como vem fazendo no Blackmore’s Night. Muito foi falado
sobre sua forma técnica e não é por acaso. Aos 71 anos de idade e quase 20 anos
afastado do Hard/Heavy, era de se esperar que o homem de preto tivesse perdido
ao menos em parte seu poder de fogo. E perdeu sim, mas não tanto quanto era de
se esperar. Por vezes as notas ficam na trave, nos momentos que exigem uma
maior velocidade na execução, mas no geral o patrão se saiu muito melhor do que
o também enferrujado Mr. Page no Celebration Day, por exemplo. Duvida?
Então pesque a versão da instrumental Difficult
to Cure e tire suas próprias conclusões. E já que falei em Celebration Day do Led, aquele
lançamento é um bom comparativo para o que vemos aqui. Um show contagiante a
despeito de suas imperfeições.
Vídeo:
Tanto
em Blu-Ray quanto em DVD a qualidade de imagem é absurda,
límpida mesmo com a profusão de cores da iluminação. As tomadas são bem bonitas
alternando entre as mais abertas, nas quais se vê perfeitamente a interação dos
músicos e execução de seus instrumentos e outras mais fechadas, se concentrando
nas expressões faciais ou imagens mais “poéticas”. Existem tomadas aéreas
também, que pegam a reação do público e a beleza dos arredores bucólicos da
cidade onde o festival foi realizado. Enfim, em termos de vídeo, não há nada o
que reclamar.
Áudio:
Nos
Cds tudo ocorre na maior perfeição,
áudio límpido e muito bem mixado, com um bom equilíbrio com o som da plateia, o
que é parte importante de um lançamento ao vivo. Na mixagem do Blu-ray e DVD, um problema curioso: o som, ainda que perfeito, está bem
baixo, tenho que colocar o volume do meu aparelho lá nas alturas se quiser fazer
a apresentação soar como um show de rock na minha sala.
Extras
Adoraria
ver nos extras os bastidores dos shows ou da seleção dos músicos e ensaios.
Mas, infelizmente temos apenas quatro faixas de uma segunda apresentação na
Alemanha, sendo que as mesmas são repetecos do repertório principal. As mesmas
faixas bônus estão presentes em Cd também e a qualidade em áudio e vídeo seguem
o material principal. Ainda que valham a pena por serem execuções bem diferentes,
fica aquela sensação de que podiam ter feito um Making Of.
Saldo Final
Memories In Rock traz em um Box Set de alta qualidade
direto para nossa sala um show tão histórico quanto imperfeito, com uma banda por
vezes algo desajeitada mas que agarrou os clássicos de maneira tão honesta que
você se sente parte do evento. E não seria justamente essa a melhor qualidade
de um lançamento ao vivo? Resta torcer para novas datas em 2017, quem sabe ao
menos uma por aqui no Brasil?
NOTA: 8,00
Pontos positivos: clássicos
em profusão em ótima qualidade de som e imagem
Pontos negativos: um Ritchie
algo enferrujado e uma banda ainda se encontrando rendem lá mais erros do que o
normal
Para fãs de: Hard/Heavy
stentista
Classifique como: Heavy
Metal, Classic Rock
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