Armored Saint - Win Hands Down |
Prólogo
- Tainted Past
Califórnia, 1982. Quatro
colegas de escola mais um vizinho resolvem montar uma banda. Os garotos são
muito jovens, na faixa dos 18 anos de idade. Todos fascinados pela NWOBHM, já sabiam eles que a banda
seguiria aquele caminho, do então efervescente “novo Heavy Metal”. Mas falta à
mistura um nome bombástico. Afinal, Judas
Priest, Iron Maiden, Saxon, Angel Witch, todos tinham nomes memoráveis que conjuravam grandes
batalhas ou coisas místicas e algo proibidas. Qual então a maneira mais eficaz
de se pensar num nome de banda do que ficar doidão e assistir a um filme de
capa e espada num cinema da vizinhança? Reza a lenda que assim os garotos
escolheram o insólito nome Armored Saint,
fumando muita erva e assistindo o já suficientemente viajandão Excalibur num empoeirado cinema de
bairro. Nascia ali uma das mais talentosas e mais azaradas bandas de Heavy Metal
da América. Aquela que viveria seu auge à margem do sucesso, fadada a ser
eternamente lembrada dentro daquele umbral artístico no qual colocamos as ditas
“Bandas Cult”.
Xicanos de Armadura |
Metallica
x The Saints
Já com a primeira
demo assinada (Lessons Well Learned)
o primeiro contratempo aparece para os jovens Californianos. Uma banda para lá
de incensada no underground Estadunidense, uma tal de Metallica, convida o vocalista John Bush para a gravação de seu
primeiro álbum, que viria a se chamar Kill’Em
All. Bush, aos 20 anos de idade
e com o orgulho e presunção que muito temos nessa idade, refutou o convite,
certo de que os Saints viriam a ser
ainda maiores do que aquela banda, que apesar de longe do fenômeno que hoje
conhecemos, já tinha fama o suficiente na cena para que muitos considerassem a
escolha do vocalista um tremendo erro. Alguns dizem que o que em grande parte
teria influenciado a negativa de Bush
seria o fato do tresloucado Dave
Mustaine ter quebrado a perna do guitarrista Phil Sandoval, ao tentar defender o gnomo e metido colega de banda Lars num entrevero com o guitarrista
dos Saints. Vale lembrar que era uma
época em que as bandas se comportavam meio que como pequenas gangues de
desajustados, e o comportamento algo fraternal fazia parte do jogo. Bush tinha que estar do lado de Phil, seria uma afronta debandar para o
lado da “gangue rival”. A relação dos Saints
com o Metallica ainda teria mais um
capítulo. Joey Vera, eterno baixista
dos Californianos, foi o primeiro a ser lembrado por um já grande Metallica para substituir o falecido Cliff Burton. Mais uma negativa que
mais uma vez se mostrou uma escolha equivocada para uma carreira que não
levantava voo.
Metallic Saint? |
Saints
Will Conquer? NOT!
Mas melhor nos atermos
a discografia dos caras, essa sim de qualidade muito superior do que as
escolhas citadas. Descobertos pela Metal
Bade com o EP auto intitulado, os garotos logo seriam cooptados por uma
Major, a Chrysalis para seu primeiro
Full Lenght. Nomeado March Of The Saint
o mesmo é quase que um Blueprint para o que viria a ser o dito American Power
Metal. Apesar do relativo sucesso da faixa de trabalho Can U Deliver, March marcou
o início de uma relação para lá de conturbada: a banda estava infeliz com a
interferência da gravadora na sonoridade do disco e a Chrysalis se sentiu decepcionada com a vendagem apenas razoável do
primeiro tento de sua suposta “mina de ouro”, sua chance de espelhar o sucesso
que as bandas inglesas vinham tendo no mercado americano com o então som da
moda.
Delirious Nomad pode ser um baita
disco, mas teve um gosto amargo para os garotos. O sucesso não vinha e a
interferência da insatisfeita gravadora fez uma séria baixa: Phil Sandoval deixava os Saints, que gravariam o ótimo Raising Fear com apenas Dave Prichard nas guitarras. A falta de
promoção do novo disco mostrou à banda o que Phil já percebera antes, eles já não eram uma opção válida para a
Major. Com um misto de derrota e sangue nos olhos, os garotos retornam à Metal Blade, sua resposta vindo através
do desafiador título de seu primeiro lançamento e volta à casa: Saints Will Conquer. Já com Jeff Duncan como segundo guitarrista,
os Saints tinham em mente uma única
coisa, o próximo disco seria sua última chance de provar ao mundo (na verdade,
à ex-gravadora) que eles tinham sim muito valor. Somando o seu usual Heavy
metal vigoroso a uma maturidade que só a vivência de tempos difíceis costumam
trazer, a fase de pré produção de Symbol
Of Salvation dava a todos a certeza de que o disco definitivo dos Saints estava enfim para sair. Mas nada
na vida dos caras era tão simples. Antes de adentrar o estúdio para as
gravações, Dave é diagnosticado com
um tipo extremamente agressivo de Leucemia. A doença levou o guitarrista ao óbito em pouco
tempo, e as gravações foram então adiadas.
R.I.P. Dave! |
Os membros remanescentes estavam em dúvida se seguiam ou não em frente,
até que um reforço conhecido deu a eles a força para continuar: Phil Sandoval
estava de volta. Symbol se tornou o
disco de maior sucesso dos Saints,
com reconhecimento de público (menos) e crítica (mais). Reign Of Fire e Last Train
Home puxaram o relativo sucesso e a banda fez sua maior turnê até então,
abrindo para os gigantes Suicidal Tendencies
e para os heróis da cena Savatage.
Mas já era tarde demais, o desgaste havia sido excessivo para todos. Tão logo o
Anthrax precisou de um substituto para
o demissionário Belladonna e o
convite foi feito, dessa vez John Bush
não deixou passar. O ano era 1992 e morria ali a primeira encarnação da banda.
O
retorno dos Santos Bissextos!
Em 1999, durante um
hiato nas atividades do Anthrax, Bush se juntou a Vera e ambos discutiram se aquele não seria um momento propício
para o retorno, sem compromisso, dos Saints.
O bom Revelation foi lançado em
2000. A recepção foi quase nula, mas isso já não importava mais. Os Saints passaram a se encontrar de forma
errática, para lançamentos espaçados, algo como aqueles encontros de turmas de
colégio esporádicos. Só que ao invés de somente beber e relembrar os velhos
tempos, discos são produzidos no caminho. Dez anos depois, La Raza, não tão inspirado assim, viu a luz do dia. Novamente não
chamou muita atenção, mas e daí? Dessa vez o tempo de espera entre um
lançamento e outro foi menor, mas curiosamente, o resultado foi bem além do
esperado!
Vencendo
Sem Esforço
Se o clima dos
lançamentos anteriores era tão descompromissado que talvez tenha comprometido o
resultado final, no caso do novo disco, parece que os Saints resolveram que tem algo a provar para o mundo. Já a faixa
título (ver vídeo), que numa tradução livre e literal, quer dizer, “vencer sem
esforço”, faz troça com a própria carreira da banda, mostrando em sua letra que
a despeito do que o mundo pode pensar, os Saints
se consideram vitoriosos por sempre terem mantido seu caráter a despeito do que
as modas ditaram ao longo dos anos. Já de cara podemos destacar a bateria para
lá de vigorosa de Gonzo e a
qualidade vocal irrepreensível do subestimado John Bush (uma de minhas maiores influências, diga-se). Isso sem
contar os belos duelos de guitarra. Um novo clássico, com certeza!
Mess não fica muito atrás
não, um belo exemplo de Power Metal feito nos moldes Estadunidenses, uma ode vintage
ao som de conterrâneos como Jag Panzer
e Vicious Rumors! Estranhamente
escolhida como segunda música de trabalho, An
Exercise In Debauchery (ver vídeo) se destaca mais pelo vigor e pelo ótimo
solo de baixo de Joey Vera.
Muscle Memory é outro destaque, remetendo
bastante o clima do material de Symbol
of Salvation e nos fazendo lembrar que Bush
também é um grande letrista, optando por temas e por uma escolha de palavras
bastante incomum em se tratando de Heavy Metal. That Was Then é para lá de anos 1980 e a excelente With A Full Head Of Steam conta com o
reforço da ótima voz de Pearl Aday,
nada mais nada menos que filha do lendário Meat
Loaf e esposa de Scott Ian.
Santos Velhacos! |
In
An Instant talvez seja
a menos inspirada das faixas do disco, mas tem uma redenção em sua reta final e
a dobradinha Dive/Up Yours trazem um
pouco dos anos 1970 à mistura, sem descaracterizar o som dos Californianos.
Saldo
Final
Numa discografia nada extensa, mas de
qualidade louvável, Win Hands Down
se destaca com louvor. Uma grata surpresa que certamente deixará feliz todo e
qualquer Headbanger que nutre simpatia pela música dos Saints. Um de seus mais inspirados lançamentos e que entrará com destaque
em minha lista de melhores discos desse ano.
NOTA: 88
Indicado para:
Todos aqueles que ainda sentem um frio
na barriga ao escutar um simples bom disco de metal tradicional.
Fuja se:
Achar enfadonho o metal de décadas
passadas.
Classifique como: Heavy Metal
Para Fãs de: Riot, Vicious Rumors, Metalmorphose,
Jag Panzer
O jon Bush tá parecendo o Bruce Willis? O que aconteceu com o cabelo do maluco?
ResponderExcluirVou ouvir isso aí
Danilo
Gwhahahahahahhaha
ExcluirPô, Danilo, ele está parecendo realmente uma versão menos encorpada do eterno Duro de Matar. O cabelo dele já sei foi tem séculos, acho que você parou de acompanhar lá no Sound of White Noise, não?
Escuta sim que vale a pena.
Abraço
T
Cara, muito bom o Win Hands Down! Bela resenha, pude aprender mais sobre essa banda foda! Abs,
ResponderExcluirvaleu, camarada!
ExcluirQueria muito poder assistir o show dos caras esse ano, mas viajar para SP está complicado.
Abraço
T