quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Clutch - Psychic Warfare (Cd -2015)

Clutch - Psychic Warfare
Para Tirar O Tapete da Sala!
Por Trevas

Na estrada tem quase três décadas, os veteranos de Maryland vem curiosamente galgando terreno após o lançamento de Earth Rocker, seu décimo rebento de estúdio de uma rica e pouco explorada discografia. Pudera, apesar de não reinventar a roda, aquela bolachinha é uma pedrada que consegue unir tanto headbangers, adoradores de um rock mais puro e alternativóides no mesmo barco. Foi minha escolha de disco de 2013 (veja minha lista aqui) e em sua resenha na Cripta (ver aqui ó), faço um apanhado histórico curto, mas de coração, para a carreira dos cabruncos.


Aproveitando a boa maré de shows e entrevistas no encalço do sucesso de Earth Rocker, o Clutch anunciou o nascimento de mais um filhote, Psychic Warfare. Segundo o hirsuto vocalista Neil Fallon, o bichano viria na linha do disco anterior, mas ainda mais direto. Seria isso possível? E se possível, seria isso bom? Vamos checar.

Audição de Raio X?

Depois de uma curtíssima intro falada, X Ray Visions (ver vídeo), repleta de Sci-fi e nonsense em sua letra se apresenta de maneira direta como a mais nova postulante a clássico do Clutch. E ela nem termina, já logo emendando com uma levada de bateria com a espoleta rocker Firebirds!, sim com exclamação, como que para deixar bem claras suas intenções, lembrando até mesmo algumas das melhores faixas da fase mais hard do Monster Magnet.


A Quick Death In Texas traz o disco de volta aos tempos de From Beale Street e Strange Cousins, com um blues rock algo malicioso que infelizmente acaba soando um pouco familiar demais. Mas ao deixar tempo para respirar, essa música evidencia a qualidade de produção que a própria banda atingiu, com arranjos cuidadosos capazes de enriquecer faixas aparentemente simples sem deixar cair o punch. Punch esse que aparece em toda sua glória na dobradinha Sucker For the Witch (com pitadas de Surf Rock) e a swingada Your Love Is Incarceration, ambas cheirando a palco.


Pelas barbas do profeta! Neil Fallon e o Clutch, 2015


Doom Saloon é a melancólica intro western para Our Lady Of Electric Light, uma pérola que nos faz lembrar que o Clutch é a menos bidimensional das bandas bidimensionais da história recente do rock. Simplesmente fantástica.


As turbinas voltam a aquecer com a veloz Noble Savage e com Behold The Colossus, um hino de autoadulação que até funciona bem, mas fica aquém de clássicos do repertório Clutchiano. Melhor se sai Decapitation Blues, com seu tempero Stoner à lá Orange Goblin, mantendo acesa a chama de um disco que não tem uma música sequer que possa ser acusada do pecado de ser chata. Ah e se não bastasse isso, a bolachinha ainda tem como encerramento a épica e já clássica Son Of Virginia.

Saldo Final

Bom, o Clutch prometera um disco ainda mais direto que o excelente Earth Rocker. E promessa é dívida. Talvez falte uma pitada daquele “algo a mais” que elevou aquele álbum a um patamar tão próximo da perfeição. Mas te garanto que esse Psychic Warfare não vai decepcionar àqueles ávidos por uma aula de Rock and Roll daquelas que o saudoso tio Lemmy aprovaria entre uma bebericada e outra em seu Jack and Coke. Ponto pros caras!!

NOTA: 89

Classifique como: Heavy Rock, Stoner, Blues Rock, Qualquer-cooisa-boa-rock
Para fãs de: Monster Magnet, Graveyard, Kadavar e rock em geral.
Fuja se: estiver em busca de compassos 789/456.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Curtas: The Darkness, Five Finger Death Punch, Def Leppard, Voodoo Hill

The Darkness, 5FDP, Def Leppard, Voodoo Hill



The Darkness - Last Of Our Kind
The Darkness – Last Of Our Kind (Cd – 2015)

Finalmente honrando a fama

Lutando bravamente para se manter no mainstream, onde fora jogada desde seu surpreendente debut em 2003, The Darkness começa Last Of Our Kind com sua provável melhor música desde sempre, a deliciosa Barbarian (ver o excelente vídeo). Open Fire segue com uma intro que não assustaria num disco do The Cult e um refrão daqueles, pelo qual bandas de Hair Metal dos anos 1980 seriam capazes de matar a própria mãe. A produção excelente e com muito punch deixa até mesmo os polarizadores falsetes do ótimo Justin Hawkins bem na cara, além de que eles não sejam a tônica das músicas aqui. Mas sim, eles se fazem presentes em alguns momentos – como na ótima faixa título e em Mudslide.  Um disco enxuto, com pouco mais de quarenta minutos, Last Of Our Kind tem em sua maior qualidade mesclar suas boas composições oitentistas (tente Sarah O’Sarah e Mighty Wings) com uma sonoridade moderna. Não sei se Last Of Our Kind vai ser capaz de justificar o status de banda Mainstream dos caras, mas sei que é um disco para ser escutado de uma tacada só, sem pular músicas, bem divertido.
                                                                                                                                              
NOTA: 82

Classifique como: Hard Rock
Para fãs de: bandas de Hair Metal em geral

Justin e sua trupe, há época da gravação do disco

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5FDP - Got Your Six
Five Finger Death Punch – Got Your Six (Cd – 2015)

Comida (de Macho) requentada

Um dos Representantes máximos do metal de arena moderno, a banda estadunidense tinha uma missão árdua em superar a surpreendente reação que as duas partes de Wrong Side Of Heaven And The Righteous Side Of Hell receberam da imprensa especializada. Dessa vez o 5FDP escolheu por deixar o som ainda mais direto, apostando no que faz melhor, um Heavy Metal com letras bem Macho-man com riffs contagiantes executados cirurgicamente por guitarras de oito cordas. Algo como um Disturbed mais encorpado. Nada muito elaborado, mas muito bem executado. O primeiro single, Jekyll And Hyde dá bem a pista do todo do material encontrado aqui. Mas o problema é que a banda começa a se repetir bastante, e mesmo boas faixas algo radiofônicas como My Nemesis, Digging My Own Grave e Wash It All Away começam a dar aquela impressão de comida requentada. Ah, e as faixas mais pesadas como No Sudden Movement e Boots And Blood, apesar de competentes, também estão bem atrás de petardos dos discos anteriores. Enfim, um disco apenas correto, o que é pouco para uma banda que almeja atingir o topo do mundo metálico (e que tem apoio de uma grande gravadora para isso).

NOTA: 70

Classifique como: Modern Heavy Metal
Para fãs de: bandas de: Disturbed, Adrenaline Mob

Tio, podemos passar o Reveillon na sua casa? 5FDP 2015

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Def Leppard
Def Leppard – Def Leppard (Cd – 2015)

Muito Marketing, pouca música

Logo na introdução da faixa de abertura Let’s Go, Joe Elliot nos pergunta repetidamente: “Do You really, really Wanna Do This Now?” Deveria ter prestado mais atenção na pergunta. Aceitei o desafio e o que veio aos meus ouvidos, a despeito de todo o Hype que envolveu o lançamento desse novo disco, foi uma versão pasteurizada do Def Leppard em sua fase áurea. Nem todo o marketing do mundo conseguiria salvar músicas como Energized, Last Dance e We Belong, que passariam muito bem como trabalhos de qualquer boy band da moda. Ah, claro que tudo é muito bem feito e se você realmente tentar, há de achar umas quatro ou cinco faixas que não fariam vergonha em meio aos melhores discos dos britânicos. Entre elas colocaria Dangerous, All Time High, Battle Of My Own, Wings Of An Angel e Sea Of Love. Deixando bem claro que nenhuma delas pode ser considerada postulante a novo clássico dos caras. De resto nada substancialmente acima do padrão de qualidade que a banda vem seguindo desde Adrenalize. Enfim, muito pouco para uma banda que já há tempo nos deve um disco realmente bom.

NOTA: 63

Classifique como: Hard Rock/AOR
Para fãs de: Hard bem, mas beeeem açucarado

Tio, podemos passar o Reveillon na sua sauna? Def Leppard 2015

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Voodoo Hill - Waterfall
Voodoo Hill – Waterfall (Cd – 2015)

Batendo na trave

Voodoo Hill é o projeto do guitarrista italiano Dario Mollo (Crossbones, The Cage) em conjunto com Glenn Hughes e Waterfall é o terceiro lançamento da dupla em longos quinze anos. A sonoridade, assim como nos dois discos anteriores, fica num equilíbrio entre o Hard Rock, AOR e pitadas de Classic Rock. Para muitos, o projeto traz um certo alívio por não ter as doses de funk que Mr. Hughes costuma imprimir em seus trabalhos solo. Vocalmente, o approach opta pelo meio termo entre o período mais hard de Glenn e seu trabalho no Black Country Communion. Dario é um bom guitarrista que tem como trunfo o bom gosto nos timbres e composições, não pecando pelo exagero como outros guitarristas talentosos costumam fazer. A produção beira a perfeição e é uma pena que Waterfall sofra com a inconstância do material. A faixa de abertura, All That Remains é bonita e marca uma tendência da banda, as faixas mid tempo costumam se sair muito melhor que as mais diretas e roqueiras. Que bom que as temos em bom número, como a ótima faixa título e Underneath and Down Below (onde Dario evoca inspiração Blackmoriana). Das mais diretas, destaco Evil Thing, Rattle Shake Bone e Eldorado. Não fosse o restante do disco de uma mediocridade algo preguiçosa, estaríamos de frente para um dos grandes lançamentos do estilo nesse ano de 2015.

NOTA: 76

Classifique como: Hard Rock
Para fãs de: Rainbow fase Joe Lynn Turner, Glenn Hughes em sua fase mais Hard Rock.

Dario e Glenn: não, eu não quero saber onde esses caras cortam os cabelos!

domingo, 27 de dezembro de 2015

Curtas: The Vintage Caravan, Ghost, Taste, Thunder

The Vintage Caravan, Ghost, Taste, Thunder



The Vintage Caravan - Arrival
The Vintage Caravan – Arrival (Cd-2015)

Retro Rock da Terra da Bjork!

Ok, banda fazendo Retro Rock não é mais novidade alguma, certo? Mas e quando a banda em questão vem da Islândia e é formada por adolescentes, aí você tem que dar o braço a torcer: isso sim é novidade! Formada em 2006 por garotos de aproximadamente 12 anos de idade, o Vintage Caravan lançou seu terceiro disco, Arrival, em maio de 2015. E cara, que disco legal. A faixa de trabalho Crazy Horses remete a Hendrix e Pride & Glory  e o som dos garotos tem um paralelo grande com o dos estadunidenses do Radio Moscow, com doses cavalares de Mountain. Nas faixas mais épicas, há um pouco também de Lucifer’s Friend e Rainbow. A destacar, as excelentes Babylon e Winter Queen e a absurda qualidade das guitarras do imberbe Óskar Logi Ágústsson, que também assume a responsabilidade pelos apenas corretos vocais.  

NOTA: 78

Classifique como: Retro Rock
Para fãs de: Radio Moscow, Hendrix, Graveyard

Old enough to rock your socks off!

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Ghost - Meliora
Ghost – Meliora (Cd -2015)

Um Fantasminha Camarada

Frequentemente me colocam no meio da inóspita discussão sobre o papel do Ghost no metal atual. Sempre me perguntam o que acho da banda, geralmente na esperança que eu desanque impiedosamente os mascarados. Sorry, não é o caso. Adorei Opus Eponymous, com suas toneladas de referências, em especial ao meu amado Blue Öyster Cult (com pitadas generosas de Mercyful Fate). Ah, então você adora os caras? Também não. Infestissumam passou pelo meu toca discos sem chamar nem um pouco a atenção uma pá de vezes. O fato é que fui conferir esse Meliora, com sua temática inspirada em Metropolis, sem saber o que acho da banda. E confesso que escutei o disco diversas vezes com um ponto de interrogação na fuça. Spirit e Cirice (uma de minhas favoritas do ano, por acaso), com sua aura de filme Z de terror são deliciosas, tal qual From the Pinnacle To The Pit.

O Papa e sua comitiva profana
Por outro lado, Mummy Dust é tão insuportável que me dói crer que algum produtor não tenha vetado essa bagaça de entrar no disco. Tem também algumas peças sem muito sal, como Majesty e He is. Mas veja só, as faixas que fecham o trabalho, Absolution e Deus In Absentia são para lá de boas. Enfim, uma banda que consegue polarizar opiniões dentro do mesmo disco, mas que vale uma checada: forme sua opinião por conta própria e deixe de lado os preconceitos babacas da cena.

NOTA: 74

Classifique como: Heavy Rock, Occult Rock
Para fãs de: Blue Öyster Cult


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Taste - What's Going On
Taste - What's Going On: Live at the Isle of Wight 1970 (Cd -2015)

Rory Gallagher – A Origem!

Volta e meia as gravadoras nos premiam com belezuras retiradas do alto de suas prateleiras empoeiradas. No caso aqui, temos o resgate remasterizado da antológica apresentação de um power trio pouco falado, mas de muito valor: trata-se do Taste, banda irlandesa responsável por catapultar a carreira de ninguém menos que Rory Gallagher. A apresentação em questão foi retirada do mítico festival realizado na Ilha de Wight em 1970. O som é cru e o mesmo tempo impressionante, com a banda toda esmerilhando seu Blues Rock envenenado com doses cavalares de Jazz. Rory, mesmo na tenra idade de 22 anos já era um fenômeno, não à toa merecendo citações extremamente elogiosas por parte de ninguém menos que Hendrix. O show foi lançado também em DVD, LP e Blu-ray, mas não pude ainda conferir a qualidade da contraparte visual. Recomendo!!!

Nota: 86

Classifique como: Blues Rock, Classic Rock
Para fãs de: Cream, Hendrix, Rory Gallagher


Rory nos primórdios



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Thunder - Wonder Days
Thunder – Wonder Days (Cd – 215)

Trovão Velho Ribomba Alto

Uma das maiores promessas do Hard britânico, o Thunder falhou retumbantemente em espelhar seu sucesso caseiro em outras paragens. Com a exceção do Japão, o resto do mundo nunca deu a mínima para os caras, mesmo com o lançamento de discos do quilate de Back Street Symphony e Laughing On Judgement Day. Talvez o crescimento do Grunge possa ser culpado por isso, talvez as turbulências internas é que sejam os verdadeiros demônios. Deixa para lá, o importante é que os caras resolveram trazer seu Hard classudo repleto de Blues em ótima forma para o ano de 2015. A voz de Danny Bowes envelheceu muito bem, por vezes lembrando a forma atual do também rouco veterano Jimmy Barnes. Diria se tratar da provável melhor performance vocal do ano. A faixa título, com um clima pesado, remete a uma bem vinda mistura de Led e Rainbow. The Thing I Want é o paraíso do Hard clássico. The Rain põe um bocado de folk britânico no liquidificador e Black Water tem sua excelência no equilíbrio entre o Hard e o Blues.

Será que os velhinhos já conhecem o Trovão Azul?
The Prophet tem muito de Lights Out em sua estrutura e um solo Blackmoriano, já Resurrection Day é uma balada bacana e nada mais. O ritmo levanta novamente com a rifferama da correta Chasing Shadows, mas curiosamente o disco demora a recuperar a qualidade de sua primeira metade. A redenção vem com a ótima e dramática When The Music Played. Serpentine também arregaça, e a essa altura mesmo que I Love The Weekend não fosse um delicioso rockão conseguiria tirar o sorriso do rosto do ouvinte. Wonder Days é um disco para lá de bom, uma grata surpresa vinda de uma banda que parecia não ter mais muito a mostrar. Discaço.

NOTA: 86

Classifique como: Hard Rock, Blues Rock, Classic Rock
Para fãs de: Badlands, Deep Purple, UFO, Whitesnake



sábado, 26 de dezembro de 2015

Armored Saint - Win Hands Down (Cd - 2015)

Armored Saint - Win Hands Down
Prólogo - Tainted Past

Califórnia, 1982. Quatro colegas de escola mais um vizinho resolvem montar uma banda. Os garotos são muito jovens, na faixa dos 18 anos de idade. Todos fascinados pela NWOBHM, já sabiam eles que a banda seguiria aquele caminho, do então efervescente “novo Heavy Metal”. Mas falta à mistura um nome bombástico. Afinal, Judas Priest, Iron Maiden, Saxon, Angel Witch, todos tinham nomes memoráveis que conjuravam grandes batalhas ou coisas místicas e algo proibidas. Qual então a maneira mais eficaz de se pensar num nome de banda do que ficar doidão e assistir a um filme de capa e espada num cinema da vizinhança? Reza a lenda que assim os garotos escolheram o insólito nome Armored Saint, fumando muita erva e assistindo o já suficientemente viajandão Excalibur num empoeirado cinema de bairro. Nascia ali uma das mais talentosas e mais azaradas bandas de Heavy Metal da América. Aquela que viveria seu auge à margem do sucesso, fadada a ser eternamente lembrada dentro daquele umbral artístico no qual colocamos as ditas “Bandas Cult”.

Xicanos de Armadura
Metallica x The Saints

Já com a primeira demo assinada (Lessons Well Learned) o primeiro contratempo aparece para os jovens Californianos. Uma banda para lá de incensada no underground Estadunidense, uma tal de Metallica, convida o vocalista John Bush para a gravação de seu primeiro álbum, que viria a se chamar Kill’Em All. Bush, aos 20 anos de idade e com o orgulho e presunção que muito temos nessa idade, refutou o convite, certo de que os Saints viriam a ser ainda maiores do que aquela banda, que apesar de longe do fenômeno que hoje conhecemos, já tinha fama o suficiente na cena para que muitos considerassem a escolha do vocalista um tremendo erro. Alguns dizem que o que em grande parte teria influenciado a negativa de Bush seria o fato do tresloucado Dave Mustaine ter quebrado a perna do guitarrista Phil Sandoval, ao tentar defender o gnomo e metido colega de banda Lars num entrevero com o guitarrista dos Saints. Vale lembrar que era uma época em que as bandas se comportavam meio que como pequenas gangues de desajustados, e o comportamento algo fraternal fazia parte do jogo. Bush tinha que estar do lado de Phil, seria uma afronta debandar para o lado da “gangue rival”. A relação dos Saints com o Metallica ainda teria mais um capítulo. Joey Vera, eterno baixista dos Californianos, foi o primeiro a ser lembrado por um já grande Metallica para substituir o falecido Cliff Burton. Mais uma negativa que mais uma vez se mostrou uma escolha equivocada para uma carreira que não levantava voo.

Metallic Saint?
Saints Will Conquer? NOT!

Mas melhor nos atermos a discografia dos caras, essa sim de qualidade muito superior do que as escolhas citadas. Descobertos pela Metal Bade com o EP auto intitulado, os garotos logo seriam cooptados por uma Major, a Chrysalis para seu primeiro Full Lenght. Nomeado March Of The Saint o mesmo é quase que um Blueprint para o que viria a ser o dito American Power Metal. Apesar do relativo sucesso da faixa de trabalho Can U Deliver, March marcou o início de uma relação para lá de conturbada: a banda estava infeliz com a interferência da gravadora na sonoridade do disco e a Chrysalis se sentiu decepcionada com a vendagem apenas razoável do primeiro tento de sua suposta “mina de ouro”, sua chance de espelhar o sucesso que as bandas inglesas vinham tendo no mercado americano com o então som da moda.



Delirious Nomad pode ser um baita disco, mas teve um gosto amargo para os garotos. O sucesso não vinha e a interferência da insatisfeita gravadora fez uma séria baixa: Phil Sandoval deixava os Saints, que gravariam o ótimo Raising Fear com apenas Dave Prichard nas guitarras. A falta de promoção do novo disco mostrou à banda o que Phil já percebera antes, eles já não eram uma opção válida para a Major. Com um misto de derrota e sangue nos olhos, os garotos retornam à Metal Blade, sua resposta vindo através do desafiador título de seu primeiro lançamento e volta à casa: Saints Will Conquer. Já com Jeff Duncan como segundo guitarrista, os Saints tinham em mente uma única coisa, o próximo disco seria sua última chance de provar ao mundo (na verdade, à ex-gravadora) que eles tinham sim muito valor. Somando o seu usual Heavy metal vigoroso a uma maturidade que só a vivência de tempos difíceis costumam trazer, a fase de pré produção de Symbol Of Salvation dava a todos a certeza de que o disco definitivo dos Saints estava enfim para sair. Mas nada na vida dos caras era tão simples. Antes de adentrar o estúdio para as gravações, Dave é diagnosticado com um tipo extremamente agressivo de Leucemia.  A doença levou o guitarrista ao óbito em pouco tempo, e as gravações foram então adiadas.

R.I.P. Dave!
Os membros remanescentes estavam em dúvida se seguiam ou não em frente, até que um reforço conhecido deu a eles a força para continuar: Phil Sandoval estava de volta. Symbol se tornou o disco de maior sucesso dos Saints, com reconhecimento de público (menos) e crítica (mais). Reign Of Fire e Last Train Home puxaram o relativo sucesso e a banda fez sua maior turnê até então, abrindo para os gigantes Suicidal Tendencies e para os heróis da cena Savatage. Mas já era tarde demais, o desgaste havia sido excessivo para todos. Tão logo o Anthrax precisou de um substituto para o demissionário Belladonna e o convite foi feito, dessa vez John Bush não deixou passar. O ano era 1992 e morria ali a primeira encarnação da banda.


O retorno dos Santos Bissextos!

Em 1999, durante um hiato nas atividades do Anthrax, Bush se juntou a Vera e ambos discutiram se aquele não seria um momento propício para o retorno, sem compromisso, dos Saints. O bom Revelation foi lançado em 2000. A recepção foi quase nula, mas isso já não importava mais. Os Saints passaram a se encontrar de forma errática, para lançamentos espaçados, algo como aqueles encontros de turmas de colégio esporádicos. Só que ao invés de somente beber e relembrar os velhos tempos, discos são produzidos no caminho. Dez anos depois, La Raza, não tão inspirado assim, viu a luz do dia. Novamente não chamou muita atenção, mas e daí? Dessa vez o tempo de espera entre um lançamento e outro foi menor, mas curiosamente, o resultado foi bem além do esperado!


Vencendo Sem Esforço

Se o clima dos lançamentos anteriores era tão descompromissado que talvez tenha comprometido o resultado final, no caso do novo disco, parece que os Saints resolveram que tem algo a provar para o mundo. Já a faixa título (ver vídeo), que numa tradução livre e literal, quer dizer, “vencer sem esforço”, faz troça com a própria carreira da banda, mostrando em sua letra que a despeito do que o mundo pode pensar, os Saints se consideram vitoriosos por sempre terem mantido seu caráter a despeito do que as modas ditaram ao longo dos anos. Já de cara podemos destacar a bateria para lá de vigorosa de Gonzo e a qualidade vocal irrepreensível do subestimado John Bush (uma de minhas maiores influências, diga-se). Isso sem contar os belos duelos de guitarra. Um novo clássico, com certeza!


Mess não fica muito atrás não, um belo exemplo de Power Metal feito nos moldes Estadunidenses, uma ode vintage ao som de conterrâneos como Jag Panzer e Vicious Rumors! Estranhamente escolhida como segunda música de trabalho, An Exercise In Debauchery (ver vídeo) se destaca mais pelo vigor e pelo ótimo solo de baixo de Joey Vera.


Muscle Memory é outro destaque, remetendo bastante o clima do material de Symbol of Salvation e nos fazendo lembrar que Bush também é um grande letrista, optando por temas e por uma escolha de palavras bastante incomum em se tratando de Heavy Metal. That Was Then é para lá de anos 1980 e a excelente With A Full Head Of Steam conta com o reforço da ótima voz de Pearl Aday, nada mais nada menos que filha do lendário Meat Loaf e esposa de Scott Ian.

Santos Velhacos!
In An Instant talvez seja a menos inspirada das faixas do disco, mas tem uma redenção em sua reta final e a dobradinha Dive/Up Yours trazem um pouco dos anos 1970 à mistura, sem descaracterizar o som dos Californianos.  

Saldo Final

Numa discografia nada extensa, mas de qualidade louvável, Win Hands Down se destaca com louvor. Uma grata surpresa que certamente deixará feliz todo e qualquer Headbanger que nutre simpatia pela música dos Saints. Um de seus mais inspirados lançamentos e que entrará com destaque em minha lista de melhores discos desse ano.

NOTA: 88

Indicado para:
Todos aqueles que ainda sentem um frio na barriga ao escutar um simples bom disco de metal tradicional.

Fuja se:
Achar enfadonho o metal de décadas passadas.

Classifique como: Heavy Metal

Para Fãs de: Riot, Vicious Rumors, Metalmorphose, Jag Panzer

domingo, 13 de dezembro de 2015

Curtas: Royal Thunder, Kahbra, UFO e Motörhead





Royal Thunder - Crooked Doors



Royal Thunder - Crooked Doors (Cd - 2015)

Um Estranho e belo segundo rebento

O sucessor de CVI, um dos discos do ano de 2012 para esse escriba, me soou a princípio uma decepção. Time Machine, faixa de abertura, é uma belíssima canção dramática e épica, mas o resto do material falhou em me impressionar nas primeiras audições. Sorte que depois de um tempo retornei a esse álbum com a devida atenção. A banda está menos pesada e apostando um bocado mais em sua verve noventista. Enquanto The Line, Floor e Ear On The Fool (com algo de Mastodon) fazem menção ao peso sabbathico da estreia, Wake Me e Forget You trazem uma mistura de psicodelia e peso alternativo que lembram alguns momentos do Soundgarden, caso a banda tivesse como vocalista Johnette Napolitano, do Concrete Blonde. Sim, Mlny Parzon continua cantando muito, e sua voz não somente se ampara nos potentes gritos, como podemos ouvir em One Day e nas duas partes de the Bear, que fecham de maneira etérea um disco repleto de detalhes que talvez não ganhem a devida atenção da geração do imediatismo.

NOTA: 83

Royal Thunder longe de despencar no penhasco
                                                                              

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Kahbra

Kahbra - Kahbra (Ep - 2015)

Goat Rock, babe!

O Ep de estreia da banda carioca que define seu som como Goat Rock é uma bela surpresa. No geral a banda aposta num Stoner com pitadas de Doom e Retro Rock, tudo com influências bem dosadas. Drown lembra um Graveyard mais cru, com a voz de Jonas Araújo (também baixista e que faz uma bela cozinha com Denys Melo) soando um pouco como Eric Wagner (Trouble). Elementos psicodélicos dão um tempero bacana à boa Giant’s Dream e as guitarras de Igor Fabbri e Julio Latorraca mostram o devido respeito à Tony Iommi em What I Lost (que também me lembrou os bons momentos do Down e Orange Goblin). São apenas quatro faixas, mas que servem de um promissor cartão de visitas dos ditos Goat Rockers.

NOTA: 75

Kahbra bandcamp

Goat Rock Fever

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UFO - A Conspiracy of Stars


UFO - A Conspiracy Of Stars (Cd - 2015)

Objeto Voador ancião se recusa a pousar

E quem poderia apostar que os veteranos do UFO ainda teriam tanta lenha para queimar? O quinto disco dos britânicos desde que o virtuose estadunidense Vinnie Moore preencheu com inesperado louvor o espaço deixado pelo Semi-Deus Michael Schenker é talvez o melhor da (não tão) nova fase. Recheado de grandes riffs e solos e com a voz encardida do sexagenário Phil Mogg destilando letras e melodias igualmente encardidas, não há nenhum minuto desse Conspiracy que não soe inspirado. Uma pena que o UFO pareça relegado ao segundo plano na história da música, mesmo tendo uma discografia das mais consistentes e muito mais rock nas veias que a grande maioria dos “monstros sagrados” que rastejam por aí. Discaço!

NOTA: 84

Esses velhinhos cascudos ainda podem enterrar você

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Motörhead - Bad Magic



Motörhead - Bad Magic (Cd - 2015)

Ainda longe de desligar os aparelhos

Mais uma vez envolto num manto de preocupação em relação ao estado de saúde de seu líder, o lendário e infame Lemmy, o Motörhead faz de seu novo disco um portentoso “dedo do meio” na fuça dos carcarás. Os únicos cadáveres a serem velados aqui são os dos nossos tímpanos, atacados com fúria punk por petardos como Victory Or Die (que traz uma singela homenagem ao Metallica em um de seus riffs) e Thunder & Lightning (não, ela não ficaria deslocada em We Are Motörhead). Os flashbacks de Heavy Rock dos anos 1970/80, que engrandeceram Aftershock, estão presentes em FireStorm Hotel e nas excelentes Devil e Evil Eye (essa última traz em seu refrão a referência ao título do disco). Ah, e nem mesmo a escolha da batida Simpathy For the Devil consegue disfarçar o fato de que um Motörhead moribundo ainda tem muito mais tesão pela vida que 99,99% das bandas do universo conhecido.

NOTA: 84

Com o pé na cova, mas melhor que você