domingo, 13 de setembro de 2015

Paradise Lost + Anathema – 08.09.15 – Circo Voador - RJ



Paradise Lost + Anathema – 08.09.15 – Circo Voador – RJ
Fotos e texto por Trevas

Chove bastante no Rio, até o clima parece conspirar para um clichê inevitável: um pano de fundo sombrio para o retorno do Paradise Lost à cidade, depois de exatos 20 anos. E para a estreia em território Fluminense dos contemporâneos e conterrâneos do Anathema.

Paradise Lost
Vinte anos atrás um imberbe Trevas teve a chance de assistir uma das noites da edição carioca do Monsters of Rock. Na noite em questão, Ozzy e Faith No More, duas de minhas bandas favoritas à época. E de Bônus track, uma então desconhecida (para mim) banda inglesa que surpreendentemente vinha tomando de assalto as “paradas de sucesso” (ô expressão velha, hein?) com o fenomenal Draconian Times: o Paradise Lost. Aos primeiros acordes de Enchantment, os britânicos conquistavam um novo fã, para todo o sempre.

Local diferente, mesmo line up - Monsters 1995
Eis que com apenas 3 minutos de atraso, o PL sobe ao palco sob os samplers de The Enemy, um dos clássicos de sua fase de transição entre o período gótico/eletrônico e a fase atual de retomada do peso do passado.

Old Nick ditando a lição: Thou Shall be Doomed!
E por falar em clássicos, os parcos 80 minutos de apresentação foram devidamente recheados com eles, abarcando praticamente toda a obra da banda, desde pérolas de seu período mais ogróide (Gothic, Pity The Sadness), de sua fase Depeche Mode Wannabes (One Second, Erased) e da atual redescoberta do Death/Doom (Faith Divides Us, Death Unites Us e as três belezuras do novo disco). Todas recebidas com muito respeito por parte de uma plateia que mais se assemelhava à de um jogo de tênis: silêncio durante as músicas, aplausos efusivos ao fim das mesmas. A cereja do bolo ficou por conta da dupla do Draconian Times (Hallowed Land, Enchantment).

Seria o velho Greg ou o Tio Al do Ministry?
Se o set list mostrou-se quase irrepreensível (faltaram Forever Failure, Embers Fire e The Last Time para esse escriba aqui), a performance da banda também não ficou atrás: longe de serem virtuoses em seus instrumentos, Aaron Aedy e Greg Mackintosh (que está os cornos do Tio Al do Ministry) possuem timbres, riffs e solos daqueles que podem ser reconhecidos a uma galáxia de distância. Steve Edmonson e Walterii Vayrinen (substituindo provisoriamente Adrian Erlandsson) fazem uma cozinha para lá de competente e Nick Holmes....bom, Old Nick sempre teve pavor dos palcos e nunca foi um vocalista lá muito prendado. Mas hoje em dia utiliza sua limitada voz com muita propriedade (só apanhou que nem boi ladrão do refrão de Isolate) e tem lá seu carisma de tiozão tímido. O único ponto negativo foi a falha no sampler que criou um clima meio sem graça no palco e quebrou muito sensivelmente o andamento do show, que prima por praticamente enfileirar um clássico atrás do outro. Um show memorável que terminou com Say Just Words e com uma sincera homenagem aos amigos do Anathema, mostrando o clima de camaradagem da turnê (NOTA 9).


Redshift?
Anathema
Bom, a atmosfera dark e low profile do show do PL passa longe da apresentação do Anathema. Com um belo palco sempre perfeitamente iluminado, o sexteto inicia o show com seu pop rok açucarado e carregado de elementos do universo alternativo, tudo disfarçado pela estrutura progressivóide das músicas. Não, não consigo conter meu cinismo diante do show dos caras: Danny e Vincent Cavanagh são tão afetados que fariam Clovis Bornay corar, as músicas seguem a mesma estrutura: teclado melecoso e percussão marcando o início, Vincent proferindo cada uma das melodias pop da banda com a pose de quem revela o segredo de Fátima, Vincent rebolando com a guitarra por mais da metade da música sem tocar uma nota, banda entrando em cheio ao final da canção criando aquela sensação de crescendo com belos solos de guitarra à lá Pink Floyd. Isso se repetindo em quase todas as intermináveis faixas da noite, num quase híbrido macabro de Placebo com Dream Theater (the horror, the horror).

A cada 789 reboladas, Vincent eventualmente também emitia sons de sua guitarra, ora pois
Mas mesmo não conseguindo em absoluto me identificar com a banda que o Anathema se tornou, nenhum cinismo do mundo pode ignorar um detalhe: os caras são de uma entrega absurda. O carisma afetado dos irmãos, a proficiência de todos os membros em seus instrumentos (destaque para a dobradinha bateria/percussão), somados à relação emocionada e franca com o público (que abandonou a postura blasè, mostrando quem era a banda da noite, para minha surpresa) fazem da apresentação da banda um evento no mínimo intenso. E descontraído também, como pudemos ver na retomada da insuportável Distant Satellites após o reconhecimento de um erro por parte de um divertido Danny, gerando uma aparentemente risonha discussão entre os músicos no palco. E após a execução de uma de suas melhores músicas (A Natural Disaster, com a tímida Lee Douglas à frente) o Anathema retribui a homenagem do PL ao chamar um desajeitado Old Nick ao palco para ajudar (ao menos nos refrões) com a boa Fragile Dreams e encerrar uma noite memorável de forma única. Um show no máximo interessante para os não muito afeitos e talvez fantástico para os fãs de carteirinha (NOTA 7).


Lee Douglas
Placeb...quer dizer, Muse...erh, não...Anathema!!!

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