Paradise Lost + Anathema – 08.09.15
– Circo Voador – RJ
Fotos e texto por Trevas
Chove bastante no Rio, até o
clima parece conspirar para um clichê inevitável: um pano de fundo sombrio para
o retorno do Paradise Lost à cidade, depois de exatos 20 anos. E para a estreia
em território Fluminense dos contemporâneos e conterrâneos do Anathema.
Paradise Lost
Vinte anos atrás um imberbe Trevas teve a chance
de assistir uma das noites da edição carioca do Monsters of Rock. Na noite em
questão, Ozzy e Faith No More, duas de minhas bandas favoritas à época. E de
Bônus track, uma então desconhecida (para mim) banda inglesa que
surpreendentemente vinha tomando de assalto as “paradas de sucesso” (ô expressão
velha, hein?) com o fenomenal Draconian Times: o Paradise Lost. Aos primeiros
acordes de Enchantment, os britânicos conquistavam um novo fã, para todo o
sempre.
Local diferente, mesmo line up - Monsters 1995 |
Eis
que com apenas 3 minutos de atraso, o PL sobe ao palco sob os samplers de The
Enemy, um dos clássicos de sua fase de transição entre o período gótico/eletrônico
e a fase atual de retomada do peso do passado.
Old Nick ditando a lição: Thou Shall be Doomed! |
E
por falar em clássicos, os parcos 80 minutos de apresentação foram devidamente
recheados com eles, abarcando praticamente toda a obra da banda, desde pérolas
de seu período mais ogróide (Gothic, Pity The Sadness), de sua fase Depeche
Mode Wannabes (One Second, Erased) e da atual redescoberta do Death/Doom (Faith
Divides Us, Death Unites Us e as três belezuras do novo disco). Todas recebidas
com muito respeito por parte de uma plateia que mais se assemelhava à de um
jogo de tênis: silêncio durante as músicas, aplausos efusivos ao fim das
mesmas. A cereja do bolo ficou por conta da dupla do Draconian Times (Hallowed
Land, Enchantment).
Seria o velho Greg ou o Tio Al do Ministry? |
Se
o set list mostrou-se quase irrepreensível (faltaram Forever Failure, Embers
Fire e The Last Time para esse escriba aqui), a performance da banda também não
ficou atrás: longe de serem virtuoses em seus instrumentos, Aaron Aedy e Greg
Mackintosh (que está os cornos do Tio Al do Ministry) possuem timbres, riffs e
solos daqueles que podem ser reconhecidos a uma galáxia de distância. Steve
Edmonson e Walterii Vayrinen (substituindo provisoriamente Adrian Erlandsson) fazem uma cozinha para lá de competente e Nick
Holmes....bom, Old Nick sempre teve pavor dos palcos e nunca foi um vocalista
lá muito prendado. Mas hoje em dia utiliza sua limitada voz com muita
propriedade (só apanhou que nem boi ladrão do refrão de Isolate) e tem lá seu
carisma de tiozão tímido. O único ponto negativo foi a falha no sampler que
criou um clima meio sem graça no palco e quebrou muito sensivelmente o andamento
do show, que prima por praticamente enfileirar um clássico atrás do outro. Um
show memorável que terminou com Say Just Words e com uma sincera homenagem aos
amigos do Anathema, mostrando o clima de camaradagem da turnê (NOTA 9).
Redshift? |
Anathema
Bom, a atmosfera dark e low profile do show do
PL passa longe da apresentação do Anathema. Com um belo palco sempre
perfeitamente iluminado, o sexteto inicia o show com seu pop rok açucarado e
carregado de elementos do universo alternativo, tudo disfarçado pela estrutura
progressivóide das músicas. Não, não consigo conter meu cinismo diante do show
dos caras: Danny e Vincent Cavanagh são tão afetados que fariam Clovis Bornay
corar, as músicas seguem a mesma estrutura: teclado melecoso e percussão
marcando o início, Vincent proferindo cada uma das melodias pop da banda com a pose
de quem revela o segredo de Fátima, Vincent rebolando com a guitarra por mais
da metade da música sem tocar uma nota, banda entrando em cheio ao final da
canção criando aquela sensação de crescendo com belos solos de guitarra à lá
Pink Floyd. Isso se repetindo em quase todas as intermináveis faixas da noite,
num quase híbrido macabro de Placebo com Dream Theater (the horror, the horror).
A cada 789 reboladas, Vincent eventualmente também emitia sons de sua guitarra, ora pois |
Mas
mesmo não conseguindo em absoluto me identificar com a banda que o Anathema se
tornou, nenhum cinismo do mundo pode ignorar um detalhe: os caras são de uma
entrega absurda. O carisma afetado dos irmãos, a proficiência de todos os
membros em seus instrumentos (destaque para a dobradinha bateria/percussão), somados
à relação emocionada e franca com o público (que abandonou a postura blasè,
mostrando quem era a banda da noite, para minha surpresa) fazem da apresentação
da banda um evento no mínimo intenso. E descontraído também, como pudemos ver na retomada da insuportável Distant Satellites após o reconhecimento de um erro por parte de um divertido Danny, gerando uma aparentemente risonha discussão entre os músicos no palco. E após a execução de uma de suas melhores
músicas (A Natural Disaster, com a tímida Lee Douglas à frente) o Anathema
retribui a homenagem do PL ao chamar um desajeitado Old Nick ao palco para
ajudar (ao menos nos refrões) com a boa Fragile Dreams e encerrar uma noite
memorável de forma única. Um show no máximo interessante para os não muito
afeitos e talvez fantástico para os fãs de carteirinha (NOTA 7).
Lee Douglas |
Placeb...quer dizer, Muse...erh, não...Anathema!!! |
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