quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Moonspell – Extinct (Limited Edition – Cd + DVD – 2015)

Moonspell - Extinct (Limited Edition - Cd + DVD - 2015)
Longe da Extinção
Por Trevas

Prólogo: Uma longa espera
Algumas resenhas são mais difíceis de serem escritas que a maioria. Tenho dificuldade justamente quando se trata de minhas bandas favoritas. Sempre escuto os lançamentos dessas bandas com muito mais atenção e repetidamente para evitar alguma injustiça. É tão fácil fazer uma resenha precoce exageradamente empolgada quando uma dessas bandas acerta em cheio quanto carregar demais a mão nas críticas quando o material sucumbe a expectativas por vezes irreais. Bom, e cá estou eu diante de uma de minhas bandas de cabeceira, os portugas sombrios do Moonspell. Após dezenas de audições da nova bolachinha, lá vai a minha resenha para Extinct, cercada de expectativas por poder ver a banda ao vivo pela primeira vez, no Rock In Rio. Vai ser fixe!!!

Lobisomens de Lisboa
Adentrando sua terceira década de vida como um dos maiores expoentes da cena Gothic Metal mundial, o Moonspell não entrava em um estúdio desde a concepção da dobradinha Alpha Noir/Omega White em 2011. Tal obra havia trabalhado dicotomicamente as características da banda, centrando o lado mais extremo num dos discos e o lado gótico em outro. A intenção com o novo disco seria trabalhar de maneira mais instintiva e direta, com todos contribuindo dentro de um estúdio. Um disco de grupo que pretende uma volta às origens, nem tanto musicalmente, muito mais em espírito. Para tanto, Fernando Ribeiro fez contato com o incensado produtor Sueco Jens Bogren, que já trabalhou com Amon Amarth, Katatonia, Opeth e Soilwork, para citar só alguns exemplos.

Bogren e os Portugas
A banda queria um disco de canções, carregado no espírito gótico. Jens, que cresceu ouvindo os clássicos do Gothic Rock, ficou maravilhado com a possibilidade de trabalhar justamente esse lado do Moonspell. Segundo ele, havia muito tempo que não se sentia tão feliz em produzir um disco. Seu desafio seria conciliar seu jeito perfeccionista (que lhe rendeu o apelido de “One More”) com a espontaneidade que o material necessita.

O conceito do disco gira em torno da extinção. Como pode ser visto no documentário que acompanha a edição limitada, vários são os pontos que levaram a esse tema. Segundo Fernando, a morte de Peter Steele e Ronnie James Dio expôs a mortalidade do estilo musical que norteia o gosto de todos da banda. Mas o rock como o conhecemos não é a única coisa a trilhar um caminho que pode levar à extinção. A todo o momento lidamos com a extinção de lugares, pessoas, relacionamentos, marcas e costumes que nos são queridos. E com a partida irreversível destes um pouco de nós morre. E também o conceito biológico de extinção dá uma carga universal ao título do disco. A extinção é um fenômeno compreendido mesmo que superficialmente por todos.

Caminhando para a extinção em 10 passos
Breath (primeira faixa de trabalho, ver lyric vídeo) pode ser encarada como um manifesto das intenções da banda quanto à sonoridade do disco, melódica e atmosférica quando preciso, bombástica e sinfônica no momento certo, contando com um refrão memorável.


A faixa título (ver vídeo) já equilibra bem o lado gótico e sinfônico com um bocadinho à mais dos vocais guturais que marcam as influências extremas da banda. Algo que foi perdido um pouco dentro da temática dicotômica do lançamento anterior. Mais um clássico obrigatório nos shows, com um baixo marcante de Aires.


A ótima Medusalem (ver lyric vídeo) tem um tempero exótico muito bem explorado, seja pelo trabalho de cordas, pela parte narrada por Mahafsoun ou até mesmo pelos backing vocals do guitarrista Ricardo Amorim. Aliás, o interlúdio de guitarra onde a narrativa é feita lembra bastante o estilo de Billy Duffy (The Cult), o que é um monstruoso elogio.


Domina é mais tranquila e possui uma belíssima linha de guitarra. Uma viagem gótica que lembra os tempos inspirados de bandas como The Gathering e Tiamat. Obviamente Fernando Ribeiro traz as usuais melodias bonitas e grudentas que permeiam todas as “baladas Monspellianas”. The Last Of Us é um deleite àqueles que gostam de Gothic Rock. Com um refrão apoteótico e intervenções minimalistas e precisas do teclado de Pedro Paixão, é impossível não cantar logo na segunda audição o final “Black magic, Unconditional Love”. Aliás, é de se louvar a produção de Jens Bogren, que deixou cada nota no local perfeito, montes de pequenos detalhes que longe de tornar a obra exagerada, apenas engrandeceu o poderio das canções.


Bom, nem tudo é perfeito. A despeito do belo início com ótimas camadas de teclado, Malignia se perde um pouco com as intervenções guturais e um refrão menos inspirado por parte de Fernando. Disparado o material mais fraco da bolachinha. Ah, mas logo tudo volta ao alto padrão de qualidade com a dobradinha Funeral Bloom e A Dying Breed. A primeira com algo irresistível de Fields Of the Nephilim se tornou uma das favoritas do material, com o equilíbrio absoluto entre os vocais góticos e urrados do mestre Fernando Ribeiro. A segunda contando com os teclados de Pedro fazendo coro com belas orquestrações logo rumando para um Gothic Rock direto e absolutamente contagiante, tendo como tema central a extinção da música que tanto amamos.

Moonspell 2015
The Future Is Dark é melodiosa e algo etérea, possuindo um senso de leveza e esperança que contrasta de maneira brilhante com o restante do material. Uma ótima faixa (com mais um belo solo de Ricardo Amorim) que encerraria com louvor o disco. Mas ainda temos espaço para a curta La Baphomette, praticamente uma algo divertida vinheta cantada em francês que exala Tom Waits (e decadência) por todos os poros.

Saldo Final
A banda certou em cheio ao privilegiar as canções e a espontaneidade do material, fazendo deste um de seus melhores discos em toda a carreira. Um bocado carregado na faceta gótica, sua única contraindicação se faz para aqueles fãs que prezam mais pelas influências extremas da discografia dos Portugas. Para aqueles que assistiram o documentário, uma frase explica bem o sentimento que tenho sobre Extinct: “Eu quero este CD!!!”

NOTA: 90

Bônus da Limited Edition
Quatro faixas bônus completam o Cd em sua edição limitada, sendo elas versões remixadas para material presente no repertório original. Os remixes foram trabalhados por Pedro Paixão, mas confesso que não me chamaram a atenção.
A segunda parte do material bônus sim é interessante, um DVD contendo o documentário Road To Extinction. Produzido e editado por Victor Castro, o material traz imagens tanto da pré-produção no Inferno Studios, em Portugal quanto da gravação do disco no Fascination Street Studios, em Örebro. Entremeadas com as imagens de estúdio temos entrevistas, cenas do cotidiano da banda durante a feitura do disco e até mesmo algumas falas de cientistas e artistas sobre o tema da extinção. No geral, um apanhado bacana que mostra que mesmo trabalhando com temas sombrios, os Portugas levam tudo com leveza e bom humor. Ah e são hilárias as reações de Ricardo perante a repetição infinita atrás do “Take Ideal”. Um material equilibrado, mas destinado somente aos fãs Die Hard!!!

Prós:
Grandes canções e produção excelente
Contras:
Carregado de influências góticas, deixa a face extrema da banda de lado, o que pode incomodar alguns.

Classifique como: Gothic Metal

Para Fãs de: Tiamat, Sisters Of mercy, Fields Of the Nephilim

Ficha Técnica
Banda: Moonspell
Origem: POR
Disco (ano): Extinct – Deluxe Edition (2015)
Mídia: CD + DVD
Lançamento: Napalm Records (Importado), existe versão nacional

Faixas (duração): CD 10 (45’) na versão comum, 13 (62’) na edição deluxe
DVD -  84’
Produção: Jens Bogren
Arte de Capa: Seth Siro Anton

Formação:
Fernando Ribeiro – voz;
Aires Pereira– Baixo;
Ricardo Amorim – Guitarra e voz;
Pedro Paixão – teclados;
Mike Gaspar – Bateria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário