Moonspell - Extinct (Limited Edition - Cd + DVD - 2015) |
Longe da Extinção
Por Trevas
Prólogo: Uma longa
espera
Algumas
resenhas são mais difíceis de serem escritas que a maioria. Tenho dificuldade
justamente quando se trata de minhas bandas favoritas. Sempre escuto os
lançamentos dessas bandas com muito mais atenção e repetidamente para evitar
alguma injustiça. É tão fácil fazer uma resenha precoce exageradamente empolgada
quando uma dessas bandas acerta em cheio quanto carregar demais a mão nas
críticas quando o material sucumbe a expectativas por vezes irreais. Bom, e cá
estou eu diante de uma de minhas bandas de cabeceira, os portugas sombrios do Moonspell. Após dezenas de audições da
nova bolachinha, lá vai a minha resenha para Extinct, cercada de expectativas por poder ver a banda ao vivo pela
primeira vez, no Rock In Rio. Vai ser fixe!!!
Lobisomens de Lisboa
Adentrando sua terceira
década de vida como um dos maiores expoentes da cena Gothic Metal mundial, o Moonspell não entrava em um estúdio
desde a concepção da dobradinha Alpha
Noir/Omega White em 2011. Tal obra havia trabalhado dicotomicamente as
características da banda, centrando o lado mais extremo num dos discos e o lado
gótico em outro. A intenção com o novo disco seria trabalhar de maneira mais
instintiva e direta, com todos contribuindo dentro de um estúdio. Um disco de
grupo que pretende uma volta às origens, nem tanto musicalmente, muito mais em espírito.
Para tanto, Fernando Ribeiro fez
contato com o incensado produtor Sueco Jens
Bogren, que já trabalhou com Amon
Amarth, Katatonia, Opeth e Soilwork, para citar só alguns exemplos.
Bogren e os Portugas |
A
banda queria um disco de canções, carregado no espírito gótico. Jens, que cresceu ouvindo os clássicos
do Gothic Rock, ficou maravilhado
com a possibilidade de trabalhar justamente esse lado do Moonspell. Segundo ele, havia muito tempo que não se sentia tão feliz
em produzir um disco. Seu desafio seria conciliar seu jeito perfeccionista (que
lhe rendeu o apelido de “One More”) com a espontaneidade que o material
necessita.
O
conceito do disco gira em torno da extinção. Como pode ser visto no
documentário que acompanha a edição limitada, vários são os pontos que levaram
a esse tema. Segundo Fernando, a
morte de Peter Steele e Ronnie James Dio expôs a mortalidade do
estilo musical que norteia o gosto de todos da banda. Mas o rock como o
conhecemos não é a única coisa a trilhar um caminho que pode levar à extinção.
A todo o momento lidamos com a extinção de lugares, pessoas, relacionamentos, marcas
e costumes que nos são queridos. E com a partida irreversível destes um pouco
de nós morre. E também o conceito biológico de extinção dá uma carga universal
ao título do disco. A extinção é um fenômeno compreendido mesmo que
superficialmente por todos.
Caminhando para a
extinção em 10 passos
Breath (primeira faixa de trabalho, ver lyric vídeo)
pode ser encarada como um manifesto das intenções da banda quanto à sonoridade
do disco, melódica e atmosférica quando preciso, bombástica e sinfônica no
momento certo, contando com um refrão memorável.
A faixa título (ver vídeo) já equilibra bem o lado gótico e sinfônico
com um bocadinho à mais dos vocais guturais que marcam as influências extremas
da banda. Algo que foi perdido um pouco dentro da temática dicotômica do
lançamento anterior. Mais um clássico obrigatório nos shows, com um baixo
marcante de Aires.
A ótima Medusalem (ver lyric vídeo)
tem um tempero exótico muito bem explorado, seja pelo trabalho de cordas, pela parte
narrada por Mahafsoun ou até mesmo
pelos backing vocals do guitarrista Ricardo
Amorim. Aliás, o interlúdio de guitarra onde a narrativa é feita lembra
bastante o estilo de Billy Duffy (The
Cult), o que é um monstruoso elogio.
Domina é mais tranquila e
possui uma belíssima linha de guitarra. Uma viagem gótica que lembra os tempos
inspirados de bandas como The Gathering
e Tiamat. Obviamente Fernando Ribeiro traz as usuais
melodias bonitas e grudentas que permeiam todas as “baladas Monspellianas”. The Last Of Us é um deleite àqueles que
gostam de Gothic Rock. Com um refrão
apoteótico e intervenções minimalistas e precisas do teclado de Pedro Paixão, é impossível não cantar
logo na segunda audição o final “Black
magic, Unconditional Love”. Aliás, é de se louvar a produção de Jens Bogren, que deixou cada nota no
local perfeito, montes de pequenos detalhes que longe de tornar a obra
exagerada, apenas engrandeceu o poderio das canções.
Bom, nem tudo é perfeito. A despeito do belo início com ótimas camadas
de teclado, Malignia se perde um
pouco com as intervenções guturais e um refrão menos inspirado por parte de Fernando. Disparado o material mais
fraco da bolachinha. Ah, mas logo tudo volta ao alto padrão de qualidade com a
dobradinha Funeral Bloom e A Dying Breed. A primeira com algo irresistível
de Fields Of the Nephilim se tornou
uma das favoritas do material, com o equilíbrio absoluto entre os vocais
góticos e urrados do mestre Fernando
Ribeiro. A segunda contando com os teclados de Pedro fazendo coro com belas
orquestrações logo rumando para um Gothic
Rock direto e absolutamente contagiante, tendo como tema central a extinção
da música que tanto amamos.
Moonspell 2015 |
The Future Is Dark é melodiosa e algo etérea, possuindo um
senso de leveza e esperança que contrasta de maneira brilhante com o restante
do material. Uma ótima faixa (com mais um belo solo de Ricardo Amorim) que encerraria com louvor o disco. Mas ainda temos
espaço para a curta La Baphomette,
praticamente uma algo divertida vinheta cantada em francês que exala Tom Waits (e decadência) por todos os
poros.
Saldo Final
A
banda certou em cheio ao privilegiar as canções e a espontaneidade do material,
fazendo deste um de seus melhores discos em toda a carreira. Um bocado
carregado na faceta gótica, sua única contraindicação se faz para aqueles fãs que
prezam mais pelas influências extremas da discografia dos Portugas. Para
aqueles que assistiram o documentário, uma frase explica bem o sentimento que
tenho sobre Extinct: “Eu quero este
CD!!!”
NOTA: 90
Bônus da Limited
Edition
Quatro
faixas bônus completam o Cd em sua edição limitada, sendo elas versões
remixadas para material presente no repertório original. Os remixes foram
trabalhados por Pedro Paixão, mas
confesso que não me chamaram a atenção.
A
segunda parte do material bônus sim é interessante, um DVD contendo o
documentário Road To Extinction. Produzido
e editado por Victor Castro, o
material traz imagens tanto da pré-produção no Inferno Studios, em Portugal quanto da gravação do disco no Fascination Street Studios, em Örebro. Entremeadas com as imagens de
estúdio temos entrevistas, cenas do cotidiano da banda durante a feitura do
disco e até mesmo algumas falas de cientistas e artistas sobre o tema da
extinção. No geral, um apanhado bacana que mostra que mesmo trabalhando com
temas sombrios, os Portugas levam tudo com leveza e bom humor. Ah e são
hilárias as reações de Ricardo
perante a repetição infinita atrás do “Take Ideal”. Um material equilibrado,
mas destinado somente aos fãs Die Hard!!!
Prós:
Grandes
canções e produção excelente
Contras:
Carregado
de influências góticas, deixa a face extrema da banda de lado, o que pode incomodar
alguns.
Classifique
como: Gothic Metal
Para
Fãs de: Tiamat, Sisters Of mercy, Fields Of the Nephilim
Ficha
Técnica
Banda:
Moonspell
Origem:
POR
Disco
(ano): Extinct – Deluxe Edition (2015)
Mídia:
CD + DVD
Lançamento:
Napalm Records (Importado), existe versão nacional
Faixas
(duração): CD 10 (45’) na versão comum, 13 (62’) na edição deluxe
DVD
- 84’
Produção:
Jens Bogren
Arte
de Capa: Seth Siro Anton
Formação:
Fernando
Ribeiro – voz;
Aires
Pereira– Baixo;
Ricardo
Amorim – Guitarra e voz;
Pedro
Paixão – teclados;
Mike Gaspar –
Bateria.
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