Iron Maiden - The Book Of Souls (2015) |
Up the Irons!!
Por
Trevas
Trevas e a Donzela
Outubro de 1995. Um
jovem Trevas, no último ano do segundo grau se encontra longe da sala de aula,
em casa e enfermo com quase 40º de febre somado a muita dor no corpo e náuseas.
A tarde está surpreendentemente fria e chuvosa. Meu sono é então interrompido pela ligação de um amigo: “cara, acabou de chegar o novo disco do Iron Maiden aqui numa loja da Tijuca”.
Trevas respira fundo, e ciente da responsabilidade que acomete um homem com uma
missão, coloca seus tênis e um moletom velho, rumando debaixo de chuva para o
referido bairro, atrás de X Factor,
o primeiro disco da polêmica fase com Blaze
nos vocais.
X Factor tirou um Trevas zumbi de casa |
Bom citei esse episódio para mostrar o quanto o Iron Maiden já significou para mim no passado. Não foi minha
primeira monomania juvenil (essa foi o Queen),
mas certamente foi a mais forte e que durou mais tempo. Logo depois viria Virtual XI para derrubar o tabu, e a
ruindade daquela obra me fez ver o óbvio, o Iron tinha defeitos, era uma banda mortal, como todas. Acabara a
era da inocência e nada mais foi como antes. De repente, músicas horríveis como
Gangland, Back In The Village, The
Assassin, Quest For Fire,
saltaram aos meus olhos. Não, nunca antes eu admitiria que o Iron em sua fase
áurea tivesse pecados tão graves. Ah, a realidade. Bom, o tempo passou, e nem
mesmo o retorno de Bruce e Adrian à banda com o legalzinho Brave New World conseguiram reavivar
minha adoração pela Donzela. Seguiram-se o razoável Dance Of Death, o bom (com boca murcha, como diria um amigo) A Matter Of Life And Death e então o
péssimo Final Frontier e minha
certeza de que o Iron jamais faria
algo realmente marcante de novo só se fortalecia.
Brave New World, um enganoso retorno à boa forma |
Bom,
então quando foi anunciado que o Iron
lançaria mais um disco, novamente produzido por Kevin Shirley e dessa vez em formato duplo e batendo 90 minutos de
duração, não poderia ter ficado menos empolgado. Confesso que nem o confronto
com a morte travado por Mr. Dickinson
foi capaz de me sensibilizar em relação ao futuro lançamento. Sou um rato de
resenhas, o que aliás me fez criar esse blog, e já andava suspeito de que algo
mudara ao esbarrar com palavras de outros ex-maidenmaníacos e atuais detratores
da banda elogiando sem piedade o novo disco. E quando finalmente a banda soltou
a música de trabalho, Speed Of Light,
as suspeitas aumentaram. Não, a faixa não é nada excepcional, mas soa muito
melhor que suas primas recentes (Different
World, a pavorosa Eldorado e
congêneres). Sim, há algo a mais ali. Talvez dessa vez eu esteja enganado. E lá
fui eu, pela primeira vez em muitos e muitos anos, conferir com alguma
expectativa um novo trabalho da banda mais amada da história do metal.
Disco 1
O
início psicodélico de If Eternity Should
Fail causará pavor àqueles que ainda tem na memória a péssima Satellite 15 do disco anterior. Graças
à Odin a música logo se desenvolve para algo pesado e sombrio que muito mais se
aproxima ao material solo de Bruce
do que aos discos recentes da donzela (não por acaso é uma composição assinada
exclusivamente por ele e até o trecho narrado ao final parece saído de Chemical Wedding). Um excelente início
que de cara pôs em dúvida minha crença de que eu estaria com mais um cd para
cumprir tabela em mãos.
Eddie de peito aberto para os fãs... |
Speed Of Light, primeira música de trabalho, fruto da parceria
entre Bruce e Adrian, é simples e direta. Bobinha até. Mas muito melhor que suas
concorrentes dos discos anteriores, com bons solos, um refrão bacana e até
mesmo um curioso cowbell!! Só que nela já podemos ver dois probleminhas na
bolacha: 1. Bruce está penando nos
tons mais altos, está soando feio e forçado em alguns momentos. 2. Kevin Shirley não acerta o som do Iron,
em alguns momentos dá a impressão que estamos com uma demo boa em mãos.
The Great Unknown já tem aquela estrutura típica das
faixas atuais do Iron, e incomoda um pouco em alguns momentos devido à
insistência de Bruce em trabalhar em
tons visivelmente desconfortáveis para sua voz. Mas ainda assim está acima da
média atual da banda e novamente trabalha com um clima sombrio, que parece ditar
a norma aqui, e tem belas obras de guitarra.
Única faixa exclusiva
de Steve Harris na bolachinha, The Red And The Black é também sua
melhor obra desde Sign Of The Cross.
Um épico de 13 minutos com trechos de belas guitarras e um coro que clama por uma
multidão empolgada em um estádio. When
The River Runs Deep abre com algo de Moonchild
e logo se mostra um rockão mais direto, bastante bom, por sinal, com ótimo
refrão e variações interessantes de andamento.
Bruce descansando após chutar a bunda de um câncer |
O
primeiro disco se encerra com a faixa título, um épico pesado e bem inspirado,
com elementos sinfônicos bem encaixados e que certamente fará parte dos shows
vindouros.
Disco 2:
A segunda bolachinha
começa com o pé no acelerador em outra parceria entre Bruce e Adrian chamada Death Or Glory, baseada nos embates
aéreos da primeira guerra. Uma faixa empolgante com belos trechos de guitarra e
que vai na contramão do material mais recente da banda. Shadows Of the Valley é a contribuição de Gers no disco, em conjunto com Harris,
uma música bastante legal, que quase falha no resultado final por conta da voz
de Bruce, novamente rateando nos
tons altos. Tears Of A Clown é a já
tão falada música inspirada no suicídio de Robin
Williams. Quase radiofônica, é outra que deve muito mais aos discos solos
do Mr. Dickinson e possui um refrão
bem grudento e sua aparente simplicidade engrandecida por um andamento algo
quebrado.
Iron Maiden 2015 |
The Man Of Sorrows tem um teclado irritante (para que
tanto teclado fazendo camas desnecessárias numa banda com 3 guitarras???) e
algumas passagens desinteressantes atrapalhando seu bom refrão, fazendo dela a
menos inspirada de todo o disco.
Empire Of the Clouds, a ópera rock de Bruce sobre o acidente com um dirigível
na década de 1930 vem dividindo opiniões. E dá para entender o motivo, seus longos
dezoito minutos de duração tem lá seus altos e baixos. Bruce ao piano cantando em sua primeira parte é de uma rara beleza
e mostra que o britânico ainda tem muita lenha para queimar e serve ainda para
os detratores que reclamam da banda nunca ousar ficarem com uma pulga atrás da
orelha. Mas talvez algumas passagens instrumentais pudessem ser encurtadas, e a
performance do vocalista no momento da catástrofe, repleto de drama e novamente
em tons muito altos, quase põe tudo a perder. Por sorte esses trechos não
comprometem o todo e a música se encerra de forma bela e apoteótica, findando
com ela os pouco mais de 90 minutos do Livro Das almas.
Bruce espreitando o horizonte |
Saldo Final
Não,
The Book Of Souls não vai
ressuscitar seu amor juvenil pela banda, os tempos são outros tanto para os fãs
antigos quanto para os combalidos britânicos. Mas se esse não for o disco a
recuperar ao menos um pouco o respeito do grande público pela maior banda de
Heavy metal da história, não sei que disco o fará. Imperdível.
NOTA: 86
Prós:
O
melhor e mais equilibrado disco do Iron em décadas.
Contras:
Produção
algo capenga, músicas muito longas.
Classifique
como: Heavy Metal
Para
Fãs de: Iron Maiden, claro
Ficha
Técnica
Banda:
Iron Maiden
Origem:
ING
Disco
(ano): The Book Of Souls (2015)
Mídia:
CD Duplo
Lançamento:
EMI (nacional)
Faixas
(duração): CD 1 - 5 (52’), Cd 2 – 4 (42’)
Produção:
Kevin Shirley
Arte
de Capa: Mark Wilkinson
Formação:
Bruce
Dickinson – voz e piano;
Steve
Harris – Baixo;
Adrian
Smith – Guitarra;
Dave
Murray – Guitarra;
Janick
Gers – Guitarra;
Nicko MacBrain –
Bateria.