terça-feira, 29 de setembro de 2015

Iron Maiden – The Book Of Souls (2Cds – 2015)

Iron Maiden - The Book Of Souls (2015)
Up the Irons!!
Por Trevas

Trevas e a Donzela
Outubro de 1995. Um jovem Trevas, no último ano do segundo grau se encontra longe da sala de aula, em casa e enfermo com quase 40º de febre somado a muita dor no corpo e náuseas. A tarde está surpreendentemente fria e chuvosa. Meu sono é então interrompido pela ligação de um amigo: “cara, acabou de chegar o novo disco do Iron Maiden aqui numa loja da Tijuca”. Trevas respira fundo, e ciente da responsabilidade que acomete um homem com uma missão, coloca seus tênis e um moletom velho, rumando debaixo de chuva para o referido bairro, atrás de X Factor, o primeiro disco da polêmica fase com Blaze nos vocais.

X Factor tirou um Trevas zumbi de casa
Bom citei esse episódio para mostrar o quanto o Iron Maiden já significou para mim no passado. Não foi minha primeira monomania juvenil (essa foi o Queen), mas certamente foi a mais forte e que durou mais tempo. Logo depois viria Virtual XI para derrubar o tabu, e a ruindade daquela obra me fez ver o óbvio, o Iron tinha defeitos, era uma banda mortal, como todas. Acabara a era da inocência e nada mais foi como antes. De repente, músicas horríveis como Gangland, Back In The Village, The Assassin, Quest For Fire, saltaram aos meus olhos. Não, nunca antes eu admitiria que o Iron em sua fase áurea tivesse pecados tão graves. Ah, a realidade. Bom, o tempo passou, e nem mesmo o retorno de Bruce e Adrian à banda com o legalzinho Brave New World conseguiram reavivar minha adoração pela Donzela. Seguiram-se o razoável Dance Of Death, o bom (com boca murcha, como diria um amigo) A Matter Of Life And Death e então o péssimo Final Frontier e minha certeza de que o Iron jamais faria algo realmente marcante de novo só se fortalecia.

Brave New World, um enganoso retorno à boa forma
Bom, então quando foi anunciado que o Iron lançaria mais um disco, novamente produzido por Kevin Shirley e dessa vez em formato duplo e batendo 90 minutos de duração, não poderia ter ficado menos empolgado. Confesso que nem o confronto com a morte travado por Mr. Dickinson foi capaz de me sensibilizar em relação ao futuro lançamento. Sou um rato de resenhas, o que aliás me fez criar esse blog, e já andava suspeito de que algo mudara ao esbarrar com palavras de outros ex-maidenmaníacos e atuais detratores da banda elogiando sem piedade o novo disco. E quando finalmente a banda soltou a música de trabalho, Speed Of Light, as suspeitas aumentaram. Não, a faixa não é nada excepcional, mas soa muito melhor que suas primas recentes (Different World, a pavorosa Eldorado e congêneres). Sim, há algo a mais ali. Talvez dessa vez eu esteja enganado. E lá fui eu, pela primeira vez em muitos e muitos anos, conferir com alguma expectativa um novo trabalho da banda mais amada da história do metal.


Disco 1
O início psicodélico de If Eternity Should Fail causará pavor àqueles que ainda tem na memória a péssima Satellite 15 do disco anterior. Graças à Odin a música logo se desenvolve para algo pesado e sombrio que muito mais se aproxima ao material solo de Bruce do que aos discos recentes da donzela (não por acaso é uma composição assinada exclusivamente por ele e até o trecho narrado ao final parece saído de Chemical Wedding). Um excelente início que de cara pôs em dúvida minha crença de que eu estaria com mais um cd para cumprir tabela em mãos.

Eddie de peito aberto para os fãs...

Speed Of Light, primeira música de trabalho, fruto da parceria entre Bruce e Adrian, é simples e direta. Bobinha até. Mas muito melhor que suas concorrentes dos discos anteriores, com bons solos, um refrão bacana e até mesmo um curioso cowbell!! Só que nela já podemos ver dois probleminhas na bolacha: 1. Bruce está penando nos tons mais altos, está soando feio e forçado em alguns momentos. 2. Kevin Shirley não acerta o som do Iron, em alguns momentos dá a impressão que estamos com uma demo boa em mãos.


The Great Unknown já tem aquela estrutura típica das faixas atuais do Iron, e incomoda um pouco em alguns momentos devido à insistência de Bruce em trabalhar em tons visivelmente desconfortáveis para sua voz. Mas ainda assim está acima da média atual da banda e novamente trabalha com um clima sombrio, que parece ditar a norma aqui, e tem belas obras de guitarra.

Única faixa exclusiva de Steve Harris na bolachinha, The Red And The Black é também sua melhor obra desde Sign Of The Cross. Um épico de 13 minutos com trechos de belas guitarras e um coro que clama por uma multidão empolgada em um estádio. When The River Runs Deep abre com algo de Moonchild e logo se mostra um rockão mais direto, bastante bom, por sinal, com ótimo refrão e variações interessantes de andamento.

Bruce descansando após chutar a bunda de um câncer
O primeiro disco se encerra com a faixa título, um épico pesado e bem inspirado, com elementos sinfônicos bem encaixados e que certamente fará parte dos shows vindouros.

Disco 2:
A segunda bolachinha começa com o pé no acelerador em outra parceria entre Bruce e Adrian chamada Death Or Glory, baseada nos embates aéreos da primeira guerra. Uma faixa empolgante com belos trechos de guitarra e que vai na contramão do material mais recente da banda. Shadows Of the Valley é a contribuição de Gers no disco, em conjunto com Harris, uma música bastante legal, que quase falha no resultado final por conta da voz de Bruce, novamente rateando nos tons altos. Tears Of A Clown é a já tão falada música inspirada no suicídio de Robin Williams. Quase radiofônica, é outra que deve muito mais aos discos solos do Mr. Dickinson e possui um refrão bem grudento e sua aparente simplicidade engrandecida por um andamento algo quebrado.

Iron Maiden 2015
The Man Of Sorrows tem um teclado irritante (para que tanto teclado fazendo camas desnecessárias numa banda com 3 guitarras???) e algumas passagens desinteressantes atrapalhando seu bom refrão, fazendo dela a menos inspirada de todo o disco.

Empire Of the Clouds, a ópera rock de Bruce sobre o acidente com um dirigível na década de 1930 vem dividindo opiniões. E dá para entender o motivo, seus longos dezoito minutos de duração tem lá seus altos e baixos. Bruce ao piano cantando em sua primeira parte é de uma rara beleza e mostra que o britânico ainda tem muita lenha para queimar e serve ainda para os detratores que reclamam da banda nunca ousar ficarem com uma pulga atrás da orelha. Mas talvez algumas passagens instrumentais pudessem ser encurtadas, e a performance do vocalista no momento da catástrofe, repleto de drama e novamente em tons muito altos, quase põe tudo a perder. Por sorte esses trechos não comprometem o todo e a música se encerra de forma bela e apoteótica, findando com ela os pouco mais de 90 minutos do Livro Das almas.

Bruce espreitando o horizonte
Saldo Final
Não, The Book Of Souls não vai ressuscitar seu amor juvenil pela banda, os tempos são outros tanto para os fãs antigos quanto para os combalidos britânicos. Mas se esse não for o disco a recuperar ao menos um pouco o respeito do grande público pela maior banda de Heavy metal da história, não sei que disco o fará. Imperdível.

NOTA: 86

Prós:
O melhor e mais equilibrado disco do Iron em décadas.
Contras:
Produção algo capenga, músicas muito longas.

Classifique como: Heavy Metal

Para Fãs de: Iron Maiden, claro

Ficha Técnica
Banda: Iron Maiden
Origem: ING
Disco (ano): The Book Of Souls (2015)
Mídia: CD Duplo
Lançamento: EMI (nacional)

Faixas (duração): CD 1 - 5 (52’), Cd 2 – 4 (42’)
Produção: Kevin Shirley
Arte de Capa: Mark Wilkinson

Formação:
Bruce Dickinson – voz e piano;
Steve Harris – Baixo;
Adrian Smith – Guitarra;
Dave Murray – Guitarra;
Janick Gers – Guitarra;
Nicko MacBrain – Bateria.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Moonspell – Extinct (Limited Edition – Cd + DVD – 2015)

Moonspell - Extinct (Limited Edition - Cd + DVD - 2015)
Longe da Extinção
Por Trevas

Prólogo: Uma longa espera
Algumas resenhas são mais difíceis de serem escritas que a maioria. Tenho dificuldade justamente quando se trata de minhas bandas favoritas. Sempre escuto os lançamentos dessas bandas com muito mais atenção e repetidamente para evitar alguma injustiça. É tão fácil fazer uma resenha precoce exageradamente empolgada quando uma dessas bandas acerta em cheio quanto carregar demais a mão nas críticas quando o material sucumbe a expectativas por vezes irreais. Bom, e cá estou eu diante de uma de minhas bandas de cabeceira, os portugas sombrios do Moonspell. Após dezenas de audições da nova bolachinha, lá vai a minha resenha para Extinct, cercada de expectativas por poder ver a banda ao vivo pela primeira vez, no Rock In Rio. Vai ser fixe!!!

Lobisomens de Lisboa
Adentrando sua terceira década de vida como um dos maiores expoentes da cena Gothic Metal mundial, o Moonspell não entrava em um estúdio desde a concepção da dobradinha Alpha Noir/Omega White em 2011. Tal obra havia trabalhado dicotomicamente as características da banda, centrando o lado mais extremo num dos discos e o lado gótico em outro. A intenção com o novo disco seria trabalhar de maneira mais instintiva e direta, com todos contribuindo dentro de um estúdio. Um disco de grupo que pretende uma volta às origens, nem tanto musicalmente, muito mais em espírito. Para tanto, Fernando Ribeiro fez contato com o incensado produtor Sueco Jens Bogren, que já trabalhou com Amon Amarth, Katatonia, Opeth e Soilwork, para citar só alguns exemplos.

Bogren e os Portugas
A banda queria um disco de canções, carregado no espírito gótico. Jens, que cresceu ouvindo os clássicos do Gothic Rock, ficou maravilhado com a possibilidade de trabalhar justamente esse lado do Moonspell. Segundo ele, havia muito tempo que não se sentia tão feliz em produzir um disco. Seu desafio seria conciliar seu jeito perfeccionista (que lhe rendeu o apelido de “One More”) com a espontaneidade que o material necessita.

O conceito do disco gira em torno da extinção. Como pode ser visto no documentário que acompanha a edição limitada, vários são os pontos que levaram a esse tema. Segundo Fernando, a morte de Peter Steele e Ronnie James Dio expôs a mortalidade do estilo musical que norteia o gosto de todos da banda. Mas o rock como o conhecemos não é a única coisa a trilhar um caminho que pode levar à extinção. A todo o momento lidamos com a extinção de lugares, pessoas, relacionamentos, marcas e costumes que nos são queridos. E com a partida irreversível destes um pouco de nós morre. E também o conceito biológico de extinção dá uma carga universal ao título do disco. A extinção é um fenômeno compreendido mesmo que superficialmente por todos.

Caminhando para a extinção em 10 passos
Breath (primeira faixa de trabalho, ver lyric vídeo) pode ser encarada como um manifesto das intenções da banda quanto à sonoridade do disco, melódica e atmosférica quando preciso, bombástica e sinfônica no momento certo, contando com um refrão memorável.


A faixa título (ver vídeo) já equilibra bem o lado gótico e sinfônico com um bocadinho à mais dos vocais guturais que marcam as influências extremas da banda. Algo que foi perdido um pouco dentro da temática dicotômica do lançamento anterior. Mais um clássico obrigatório nos shows, com um baixo marcante de Aires.


A ótima Medusalem (ver lyric vídeo) tem um tempero exótico muito bem explorado, seja pelo trabalho de cordas, pela parte narrada por Mahafsoun ou até mesmo pelos backing vocals do guitarrista Ricardo Amorim. Aliás, o interlúdio de guitarra onde a narrativa é feita lembra bastante o estilo de Billy Duffy (The Cult), o que é um monstruoso elogio.


Domina é mais tranquila e possui uma belíssima linha de guitarra. Uma viagem gótica que lembra os tempos inspirados de bandas como The Gathering e Tiamat. Obviamente Fernando Ribeiro traz as usuais melodias bonitas e grudentas que permeiam todas as “baladas Monspellianas”. The Last Of Us é um deleite àqueles que gostam de Gothic Rock. Com um refrão apoteótico e intervenções minimalistas e precisas do teclado de Pedro Paixão, é impossível não cantar logo na segunda audição o final “Black magic, Unconditional Love”. Aliás, é de se louvar a produção de Jens Bogren, que deixou cada nota no local perfeito, montes de pequenos detalhes que longe de tornar a obra exagerada, apenas engrandeceu o poderio das canções.


Bom, nem tudo é perfeito. A despeito do belo início com ótimas camadas de teclado, Malignia se perde um pouco com as intervenções guturais e um refrão menos inspirado por parte de Fernando. Disparado o material mais fraco da bolachinha. Ah, mas logo tudo volta ao alto padrão de qualidade com a dobradinha Funeral Bloom e A Dying Breed. A primeira com algo irresistível de Fields Of the Nephilim se tornou uma das favoritas do material, com o equilíbrio absoluto entre os vocais góticos e urrados do mestre Fernando Ribeiro. A segunda contando com os teclados de Pedro fazendo coro com belas orquestrações logo rumando para um Gothic Rock direto e absolutamente contagiante, tendo como tema central a extinção da música que tanto amamos.

Moonspell 2015
The Future Is Dark é melodiosa e algo etérea, possuindo um senso de leveza e esperança que contrasta de maneira brilhante com o restante do material. Uma ótima faixa (com mais um belo solo de Ricardo Amorim) que encerraria com louvor o disco. Mas ainda temos espaço para a curta La Baphomette, praticamente uma algo divertida vinheta cantada em francês que exala Tom Waits (e decadência) por todos os poros.

Saldo Final
A banda certou em cheio ao privilegiar as canções e a espontaneidade do material, fazendo deste um de seus melhores discos em toda a carreira. Um bocado carregado na faceta gótica, sua única contraindicação se faz para aqueles fãs que prezam mais pelas influências extremas da discografia dos Portugas. Para aqueles que assistiram o documentário, uma frase explica bem o sentimento que tenho sobre Extinct: “Eu quero este CD!!!”

NOTA: 90

Bônus da Limited Edition
Quatro faixas bônus completam o Cd em sua edição limitada, sendo elas versões remixadas para material presente no repertório original. Os remixes foram trabalhados por Pedro Paixão, mas confesso que não me chamaram a atenção.
A segunda parte do material bônus sim é interessante, um DVD contendo o documentário Road To Extinction. Produzido e editado por Victor Castro, o material traz imagens tanto da pré-produção no Inferno Studios, em Portugal quanto da gravação do disco no Fascination Street Studios, em Örebro. Entremeadas com as imagens de estúdio temos entrevistas, cenas do cotidiano da banda durante a feitura do disco e até mesmo algumas falas de cientistas e artistas sobre o tema da extinção. No geral, um apanhado bacana que mostra que mesmo trabalhando com temas sombrios, os Portugas levam tudo com leveza e bom humor. Ah e são hilárias as reações de Ricardo perante a repetição infinita atrás do “Take Ideal”. Um material equilibrado, mas destinado somente aos fãs Die Hard!!!

Prós:
Grandes canções e produção excelente
Contras:
Carregado de influências góticas, deixa a face extrema da banda de lado, o que pode incomodar alguns.

Classifique como: Gothic Metal

Para Fãs de: Tiamat, Sisters Of mercy, Fields Of the Nephilim

Ficha Técnica
Banda: Moonspell
Origem: POR
Disco (ano): Extinct – Deluxe Edition (2015)
Mídia: CD + DVD
Lançamento: Napalm Records (Importado), existe versão nacional

Faixas (duração): CD 10 (45’) na versão comum, 13 (62’) na edição deluxe
DVD -  84’
Produção: Jens Bogren
Arte de Capa: Seth Siro Anton

Formação:
Fernando Ribeiro – voz;
Aires Pereira– Baixo;
Ricardo Amorim – Guitarra e voz;
Pedro Paixão – teclados;
Mike Gaspar – Bateria.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Curtas: Black Star Riders + Lindemann + Halestorm + Disturbed

Black Star Riders + Lindemann + Halestorm + Disturbed

Black Stard Riders - The Killer Instinct
Black Star Riders –The Killer Instinct (CD -2015)

Um Spin-Off de Responsa

Uma espécie de spin-off da versão ressurreta do Thin Lizzy, o BSR hoje conta apenas com um músico em sua formação que tenha passado pelo combo irlandês de Phil Lynnot. Ok, esse membro é ninguém menos que o guitarrista americano Scott Gorham, que efetivamente colaborou um bocado para o som do Lizzy que aprendemos a amar. Nesse segundo tento a expectativa era de se distanciar um pouquinho da obra Lizzyana, com a ajuda de gente do calibre de Ricky Warwick (The Almighty), Jimmy DeGrasso (Megadeth, Ozzy, Dave Lee Roth, etc.), Damon Johnson (Alice Cooper) e Robbie Crane (Ratt, Lynch Mob). Com ótima produção por parte de Nick Raskulinecz (Foo Fighters, Rush, Ghost), fica difícil não lembrar do Thin Lizzy em petardos como Bullet Blues, Turn In Your Arms e a faixa título. Mas há espaço realmente para músicas muito mais antenadas com o rock mainstream estadunidense, como a xarope Finest Hour. Já em outros casos como a boa Soldierstown, dá para imaginar se não seria esse o caminho que o Lizzy teria seguido caso Phil ainda estivesse vivo. Enfim, The Killer Instinct não tira o BSR dos trilhos em relação às raízes, mas mostra que os caras tem um grande tino para produzir discos divertidos e bem feitos, repletos de músicas e riffs que ficam na cabeça e que podem agradar a gerações diferentes de fãs. Muito legal.

NOTA: 80

Classifique como: Hard Rock, Classic Rock

Para fãs de: Thin Lizzy (dã)

Black Star Riders 2015


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Lindemann - Skills In Pills
Lindemann – Skills In Pills (Cd -2015)

Incorreção Política em 10 Lições

Aproveitando uma torrente criativa e o então interminável hiato nas atividades do Rammstein, o vocalista grandalhão Till Lindemann encontrou no multi-instrumentista sueco Peter Tägtgren uma válvula de escape para suas ideias doentias. Nomeado Lindemann por uma certa pressão da gravadora, o novo projeto na verdade parece uma versão mais crua e direta da banda alemã, bebendo também em muito do Pain, uma das bandas de Peter. Ou seja, o jogo aqui é Metal Industrial. Se criativamente não há nada de muito novo aqui, o cara precisa ser muito rabugento para não se divertir ao menos um pouco com preciosidades como a bizarra Praise Abort, a faixa título ou Golden Shower (“Let me sip champagne, let cry your pinky flower, gimme gimme Golden Shower”). Pérolas da incorreção política que se tornam ainda mais especiais pela escolha de Peter por alguns timbres de teclado propositalmente ultrapassados e no uso do inglês como língua, com o sotaque macarronesco de Till fazendo tudo soar assustadoramente engraçado, bem cine trash. Todas as músicas aqui são interessantes e a produção do sueco, responsável por tudo exceto os vocais, equilibra bem entre a grandiosidade e a crueza. Extremamente divertido.

NOTA: 80

Classifique como: Industrial Metal

Para fãs de: Rammstein, Pain, Deathstars

Bolsonaro chamaria esse belo casal para um jantar?




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Halestorm - Into the Wild Life
Halestorm – Into the Wild Life – Deluxe Edition (Cd – 2015)

Talento Pasteurizado Rumo ao Topo

Os irmãos Lzzy (voz e guitarra) e Arejay Hale (bateria) podem ser cinicamente apresentados como uma espécie de Sandy e Júnior do Hard americano. Na estrada desde tenra idade, finalmente eles explodiram com o disco The Strange Case Of, um misto de Hard Rock vigoroso com pitadas um pouco demais de um pop rock mundano. Lzzy é uma das vozes mais poderosas da nova geração e uma frontwoman de raro talento, e com um Grammy em mãos, imaginei que talvez eles pudessem dar um passo à frente e lançar um discaço de Hard Rock. Infelizmente o caminho que os irmãos escolheram foi o do Mainstream, optando por uma produção hollywoodiana que cairia como uma luva para as Pinks e Britneys da vida, mas que dilui o potencial de rockões como Scream, I Am The Fire, Sick Individual e Amen colocando a voz de Lzzy lá na estratosfera em conjunto com efeitos em profusão. O restante da banda fica enterrado no mix, em especial as guitarras. Ah, e ainda temos baladas radiofônicas em profusão, resvalando no pop mais rasteiro, como a pavorosa Dear Daughter. Mas não, não estou dizendo que se trata de um disco ruim, em absoluto. A voz de Lzzy por si só é uma força da natureza, e existem boas ideias ao longo de todo o disco, que em se tratando de Pop Rock é realmente uma bela obra. Mas para amantes de um rock mais encorpado, fica aquela sensação de que o Halestorm perdeu uma grande chance de renovar as esperanças do Hard moderno.

p.s.: A edição deluxe conta com duas faixas mais roqueiras que a média do repertório do disco, as boas Jump the Gun e Unapologetic.

NOTA:  72

Classifique como: Hard Rock, Hard Pop

Para fãs de: Def Leppard, Lita Ford, Joan Jett, The Runnaways

Lzzy e sua turma


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Disturbed - Immortalized
Disturbed – Immortalized – Deluxe Edition (Cd-2015)

Previsivelmente Poderoso

Longe dos holofotes desde o razoável Asylum, de 2010, o Disturbed foi dado como extinto por quase todos na mídia especializada, ainda mais depois que o falastrão vocalista David Draiman engatou sua carreira como produtor e lançou seu projeto Industrial, o Device. Immortalized foi gravado sobre raro sigilo e muitos só souberam que a banda estava voltando à ativa quando lançaram o primeiro single, a já clássica Vengeful One. Previsível e ao mesmo tempo empolgante como sempre, Immortalized é um dos melhores lançamentos da carreira da banda. Músicas como a excelente faixa título, Open Your Eyes, Fire It Up e You’re Mine, engrandecidas pelos riffs certeiros de Dan Donegan e pela produção caprichada de Kevin Churko, farão a felicidade dos adeptos do “Metal para malhar” que é a especialidade dos Estadunidenses. Claro que temos algumas faixas que destoam, como o absolutamente desnecessário e xaropesco cover para The Sound Of Silence (Simon and Garfunkel), que é de fazer vergonha até para trilha sonora de desenho da Disney. Mas mesmo assim, Immortalized pode ser considerado um dos trabalhos mais fortes da banda, ao lado de Ten Thousand Fist. A versão deluxe conta com três faixas bônus bacanas, mas nenhuma delas um clássico escondido em potencial.

NOTA: 82

Classifique como: Heavy Metal, Alternative Metal

Para fãs de: Five Finger Death Punch, Godsmack

Draiman estranhamente não apostou nos habituais sons de macaco dessa vez

sábado, 19 de setembro de 2015

Metalmorphose – Fúria dos Elementos (Cd -2015)

Metalmorphose - Fúria dos Elementos (Cd - 2015)
A Fúria Inspirada dos Veteranos!!
Por Trevas

Uma das pioneiras do Heavy Metal brasuca, a Metalmorphose surgiu em 1983 e escreveu seu nome na história ao lançar o Split Ultimatum, em conjunto com a mítica Dorsal Atlântica, em 1985. Sempre senti a banda como uma prima tupiniquim de bandas clássicas do metal Estadunidense surgidas sob a influência da NWOBHM, em especial Armored Saint e Riot. Com o diferencial da escolha pela língua portuguesa como forma de passar suas mensagens, dando uma cara única ao resultado final. Infelizmente os anos 1980 passaram sem que a banda conseguisse deixar sua marca em obras oficiais, encerrando suas atividades em 1989 e rumando a passos largos para um não merecido esquecimento por parte de muitos headbangers mais jovens.

Metalmorphose na época da arca de noé...
Eis que em 2008 um show comemorativo mudou esse destino fatalista por completo e com parte de sua formação clássica completada por outros craques veteranos com longa lista de serviços prestados em prol do rock nacional, a banda recuperou o material perdido de sua juventude através de compilações e um disco ao vivo e se arriscou até mesmo a remar contra a maré e lançar um disco com material novo. Surge então Máquina dos Sentidos, um baita disco que mostrou que o tempo não apagara em nada a sede da banda por destilar seu metal tradicional com equilíbrio entre o romantismo do metal oitentista de suas origens e um bem vindo toque de classe proporcionado pela experiência e rodagem na cena.


Seguiu-se uma turnê devidamente registrada através de um combo CD + DVD, Máquina Ao Vivo e então somos agraciados com a promessa de uma nova bolachinha, intitulada Fúria dos Elementos, contando com bela apresentação gráfica num digipack caprichado.

Fúria Em Detalhes

Marcas do Tempo abre o disco num tom algo sombrio e pesado e apesar do bom refrão linha de baixo marcante e ótimos solos (e uma convenção bacana com bateria à lá Bill Ward), não soa como a escolha ideal para abrir um disco. Mas talvez a intenção tenha sido justamente essa, iniciar de maneira inesperada. A acelerada música de trabalho Corda Bamba sim é a típica abertura de um disco de metal, direta ao ponto e grudenta pacas. Aliás, a produção de Gustavo Andriewiski deixou tudo com aquela pegada ao vivo que faz tão bem à sonoridade de bandas de metal tradicional.


O início de Puro Prazer faria Phil Lynnot abrir um sorriso de satisfação, e depois a música segue uma toada bem anos 1980, com um interlúdio bem legal. Porrada....bem essa faixa é uma...porrada? Uma música tão simples, divertida e direta que você fica encasquetado de como não haviam pensado nela antes! A épica e algo sombria Acorrentado demorou um pouco a me conquistar, mas se trata de uma música muito bem construída e que casa bastante bem com a letra.

Metalmorphose 2015 - too old to rock and roll? NOT!!
O nível cai um bocado com a fraca Ninguém é Maior que Você e a não tão inspirada Sinais Trocados, mas as pedradas Espanhola e Vá Para o Inferno (primeira música de trabalho) logo colocam as coisas de volta nos trilhos, preparando o terreno para uma de minhas favoritas do disco (e da banda), a épica Evolução. Contando com uma performance absurda de todos os integrantes (o que toca o rinoceronte branco Delacroix nessa faixa, camarada?) e um arranjo com elementos sinfônicos bem colocados, a música dribla a letra algo esquisita com um final para lá de apoteótico, com solos e dobras de guitarra de fazer chorar os fãs de NWOBHM, cortesia da dupla dinâmica Marcos Dantas e PP Cavalcante. Não me canso de escutar as guitarras dessa música! Excelente!


Me Leve Embora evoca o espírito do Candlemass em seu início e final, o mais perto de um Doom Metal que a banda já chegou. Talvez o material mais moderno e variado da bolachinha, a música não faz feio, e conta com ótima performance de Tavinho, mostrando uma capacidade de interpretação que falta a muita gente da nova safra. A majestosa Luta e Glória poderia se perder ao juntar dobras de guitarra, orquestrações, coral e piano em seus mais de sete minutos. Poderia, mas não se perde não. Um clássico obrigatório nos novos shows, certamente. E se você é daqueles que acha que metal em português não funciona, faça um favor a vossa pessoa e escute essa música, ok!?

Saldo Final
Para aqueles que encararam com algum ceticismo o retorno do Metalmorphose à ativa, Fúria dos Elementos é uma resposta para lá de convincente. Novamente a banda mostra um material ainda melhor do que o de sua juventude. Quantos grupos de metal agarraram uma segunda chance com tamanha gana? Um discaço, altamente recomendado.

NOTA: 82

Prós:
Grandes performances e músicas inspiradas.

Contras:
Só tem contra indicação para quem não consegue ouvir metal em outra língua que não o inglês.

Classifique como: Heavy Metal

Para Fãs de: Armored Saint, Riot, Jag Panzer

Ficha Técnica
Banda: Metalmorphose
Origem: BRA
Disco (ano): Metalmorphose: Fúria dos Elementos (2015)
Mídia: CD
Lançamento: Rising Records/ Voice Music

Faixas (duração): CD  - 12 (60’).

Produção: Gustavo Andriewiski
Arte de Capa: Imaginativa Design

Formação:
Tavinho Godoy – voz;
PP Cavalcante – guitarra;
Marcos Dantas – Guitarra;
André Bighinzoli – baixo, teclados e voz;
André Delacroix – bateria.

domingo, 13 de setembro de 2015

Luficer – Lucifer I (Cd – 2015)

Lucifer I (Cd - 2015)
Reerguido Das Cinzas
Por Trevas

Ano passado uma nova banda - The Oath - capitaneada por duas pequenas loiras, surpreendeu o mundo do rock pesado duas vezes. A primeira vez, ao lançar a bolachinha homônima, listada em muitas revistas e sites especializados como um dos melhores discos do ano. A segunda ao, pouco depois do lançamento do primeiro rebento, anunciar o fim de suas atividades. O motivo: diferenças pessoais irreconciliáveis entre a guitarrista sueca Linnéa Olsson e a vocalista alemã Johanna Sadonis.

Olsson e Sadonis = The Oath
E veja só, Johanna Sadonis também foi pega de surpresa pelo desmantelamento de sua banda. Já então cheia de planos para um novo disco, foi um alento para ela saber que a cozinha de sua antiga banda estava a seu lado para uma nova empreitada. Mas faltava uma peça importante: um guitarrista. Eis que um encontro casual com Lee Dorrian, que por anos ostentou o microfone junto ao Cathedral, resolveu miraculosamente a questão: “Por que você não chama Gaz, ele é um ótimo guitarrista”! Sim, o “Gaz” em questão é o mestre por traz dos riffs do Cathedral, Gaz Jennings. Johanna se mostrou incrédula com a sugestão, mas não mais incrédula do que com o aceite do lendário guitarrista. Gaz se juntaria ao novo projeto, intitulado Lucifer, ao menos em estúdio.

Lucifer e a esfinge
Tendo como engenheiro de som Ingo Krauss (que também trabalhou recentemente com o Kadavar), todas as músicas foram compostas pela dupla Sadonis/Jennings e evocam um rock pesado à lá anos 1970, com pitadas marcantes de psicodelia e muito ocultismo nas letras. Bom, quanto ao ocultismo, a capa e títulos como Abracadabra, Purple Pyramid, Sabbath e Izrael (ver clipe) logo entregam o jogo.



No geral, temos a junção de riffs sabáticos típicos de Gaz com a doce e algo misteriosa voz de Sadonis, que muitas vezes parece uma versão mais crua e vintage da Anneke dos primórdios (The Gathering circa Mandylion). A cozinha é bastante competente, e ainda temos alguns teclados adornando o resultado final.

Sadonis em destaque na capa da Decibel
A produção é direta e com aquela aura esfumaçada de outrora, e todas as músicas são muito boas, fazendo os 43 minutos passarem voando. Um disco daqueles que você acaba por escutar por muitas vezes seguidas! Ah e o nome da bolacha parte da promessa de Johanna: haverá uma parte II. Aguardemos a segunda vinda de Lucifer, então!

NOTA: 93

Prós:
Peso e doçura mesclados com uma aura mística.

Contras:
Um pouco curto demais.

Classifique como: Retro Rock, Stoner, Ocult Rock

Para Fãs de: Death Penalty, Purson, Jess and The Ancient Ones

Ficha Técnica
Banda: Lucifer
Origem: ALE
Disco (ano): Lucifer I (2015)
Mídia: CD
Lançamento: Rise Above Records (importado)

Faixas (duração): CD  - 8 (43’)
Produção: Lucifer
Arte de Capa: Johanna Sadonis

Formação:
Johanna Sadonis – voz e teclados;
Dino Gollnick – Baixo;
Gaz Jennings – Guitarra;
Andrew Prestidge – Bateria.