Para os malucos(as) que como eu tem prazer em destrinchar as histórias que permeiam a trilha sonora que escolhemos para nossas vidas. E quantas histórias interessantes se escondem em cada esquina desse vasto mundo do rock! Vocês encontrarão por aqui resenhas de shows, discos, livros, dvds (blu-rays) e notícias comentadas sobre o mundo do rock. Espero que vocês gostem e visitem sempre ou eventualmente. Eu, certamente, me divertirei muito escrevendo aqui.
Na estrada tem quase três décadas, os veteranos
de Maryland vem curiosamente
galgando terreno após o lançamento de Earth
Rocker, seu décimo rebento de estúdio de uma rica e pouco explorada
discografia. Pudera, apesar de não reinventar a roda, aquela bolachinha é uma
pedrada que consegue unir tanto headbangers, adoradores de um rock mais puro e
alternativóides no mesmo barco. Foi minha escolha de disco de 2013 (veja minha
lista aqui) e em sua resenha na Cripta (ver aqui ó), faço um apanhado histórico
curto, mas de coração, para a carreira dos cabruncos.
Aproveitando a
boa maré de shows e entrevistas no encalço do sucesso de Earth Rocker, o Clutch
anunciou o nascimento de mais um filhote, Psychic
Warfare. Segundo o hirsuto vocalista Neil
Fallon, o bichano viria na linha do disco anterior, mas ainda mais direto. Seria
isso possível? E se possível, seria isso bom? Vamos checar.
Audição de Raio X?
Depois de uma curtíssima intro falada, X Ray Visions (ver vídeo), repleta de
Sci-fi e nonsense em sua letra se apresenta de maneira direta como a mais nova postulante
a clássico do Clutch. E ela nem
termina, já logo emendando com uma levada de bateria com a espoleta rocker Firebirds!, sim com exclamação, como que
para deixar bem claras suas intenções, lembrando até mesmo algumas das melhores
faixas da fase mais hard do Monster
Magnet.
A Quick Death In Texas traz o disco de volta
aos tempos de From Beale Street e Strange Cousins, com um blues rock algo
malicioso que infelizmente acaba soando um pouco familiar demais. Mas ao deixar
tempo para respirar, essa música evidencia a qualidade de produção que a
própria banda atingiu, com arranjos cuidadosos capazes de enriquecer faixas
aparentemente simples sem deixar cair o punch. Punch esse que aparece em toda
sua glória na dobradinha Sucker For the
Witch (com pitadas de Surf Rock) e a swingada Your Love Is Incarceration, ambas cheirando a palco.
Pelas barbas do profeta! Neil Fallon e o Clutch, 2015
Doom
Saloon é
a melancólica intro western para Our
Lady Of Electric Light, uma pérola que nos faz lembrar que o Clutch é a menos bidimensional das
bandas bidimensionais da história recente do rock. Simplesmente fantástica.
As turbinas
voltam a aquecer com a veloz Noble
Savage e com Behold The Colossus,
um hino de autoadulação que até funciona bem, mas fica aquém de clássicos do
repertório Clutchiano. Melhor se sai Decapitation
Blues, com seu tempero Stoner à lá Orange
Goblin, mantendo acesa a chama de um disco que não tem uma música sequer
que possa ser acusada do pecado de ser chata. Ah e se não bastasse isso, a
bolachinha ainda tem como encerramento a épica e já clássica Son Of Virginia.
Saldo Final
Bom, o Clutch prometera um disco ainda mais
direto que o excelente Earth Rocker.
E promessa é dívida. Talvez falte uma pitada daquele “algo a mais” que elevou
aquele álbum a um patamar tão próximo da perfeição. Mas te garanto que esse Psychic Warfare não vai decepcionar
àqueles ávidos por uma aula de Rock and Roll daquelas que o saudoso tio Lemmy aprovaria entre uma bebericada e
outra em seu Jack and Coke. Ponto pros caras!!
NOTA: 89
Classifique como: Heavy Rock, Stoner, Blues Rock,
Qualquer-cooisa-boa-rock
Para fãs de: Monster Magnet, Graveyard, Kadavar e rock em geral.
Lutando bravamente para se manter no mainstream,
onde fora jogada desde seu surpreendente debut em 2003, The Darkness começa Last Of
Our Kind com sua provável melhor música desde sempre, a deliciosa Barbarian (ver o excelente vídeo). Open Fire segue com uma intro que não
assustaria num disco do The Cult e
um refrão daqueles, pelo qual bandas de Hair Metal dos anos 1980 seriam capazes
de matar a própria mãe. A produção excelente e com muito punch deixa até mesmo
os polarizadores falsetes do ótimo Justin
Hawkins bem na cara, além de que eles não sejam a tônica das músicas aqui. Mas
sim, eles se fazem presentes em alguns momentos – como na ótima faixa título e
em Mudslide. Um disco enxuto, com pouco mais de quarenta
minutos, Last Of Our Kind tem em sua
maior qualidade mesclar suas boas composições oitentistas (tente Sarah O’Sarah e Mighty Wings) com uma sonoridade moderna. Não sei se Last Of Our Kind vai ser capaz de
justificar o status de banda Mainstream dos caras, mas sei que é um disco para
ser escutado de uma tacada só, sem pular músicas, bem divertido.
Five Finger
Death Punch – Got Your Six (Cd – 2015)
Comida (de
Macho) requentada
Um dos Representantes máximos do metal de arena moderno,
a banda estadunidense tinha uma missão árdua em superar a surpreendente reação
que as duas partes de Wrong Side Of
Heaven And The Righteous Side Of Hell receberam da imprensa especializada. Dessa vez o 5FDP escolheu por deixar o som ainda mais direto, apostando no que faz melhor,
um Heavy Metal com letras bem Macho-man com riffs contagiantes executados cirurgicamente
por guitarras de oito cordas. Algo como um Disturbed
mais encorpado. Nada muito elaborado, mas muito bem executado. O primeiro
single, Jekyll And Hyde dá bem a
pista do todo do material encontrado aqui. Mas o problema é que a banda começa
a se repetir bastante, e mesmo boas faixas algo radiofônicas como My Nemesis, Digging My Own Grave e Wash It All Away começam a dar aquela
impressão de comida requentada. Ah, e as faixas mais pesadas como No Sudden Movement e Boots And Blood, apesar de competentes, também estão bem atrás de
petardos dos discos anteriores. Enfim, um disco apenas correto, o que é pouco
para uma banda que almeja atingir o topo do mundo metálico (e que tem apoio de
uma grande gravadora para isso).
NOTA: 70
Classifique como: Modern Heavy Metal
Para fãs de: bandas de: Disturbed, Adrenaline
Mob
Tio, podemos passar o Reveillon na sua casa? 5FDP 2015
Logo na introdução da faixa de abertura Let’s Go, Joe Elliot nos pergunta repetidamente: “Do You really, really Wanna Do This Now?” Deveria ter prestado mais
atenção na pergunta. Aceitei o desafio e o que veio aos meus ouvidos, a
despeito de todo o Hype que envolveu o lançamento desse novo disco, foi uma versão
pasteurizada do Def Leppard em sua
fase áurea. Nem todo o marketing do mundo conseguiria salvar músicas como Energized, Last Dance e We Belong,
que passariam muito bem como trabalhos de qualquer boy band da moda. Ah, claro
que tudo é muito bem feito e se você realmente tentar, há de achar umas quatro
ou cinco faixas que não fariam vergonha em meio aos melhores discos dos
britânicos. Entre elas colocaria Dangerous,
All Time High, Battle Of My Own, Wings Of An
Angel e Sea Of Love. Deixando
bem claro que nenhuma delas pode ser considerada postulante a novo clássico dos
caras. De resto nada substancialmente acima do padrão de qualidade que a banda
vem seguindo desde Adrenalize.
Enfim, muito pouco para uma banda que já há tempo nos deve um disco realmente
bom.
NOTA: 63
Classifique como: Hard Rock/AOR
Para fãs de: Hard bem, mas beeeem açucarado
Tio, podemos passar o Reveillon na sua sauna? Def Leppard 2015
Voodoo Hill
é o projeto do guitarrista italiano Dario
Mollo (Crossbones, The Cage) em conjunto com Glenn Hughes e Waterfall é o terceiro lançamento da dupla em longos quinze anos. A
sonoridade, assim como nos dois discos anteriores, fica num equilíbrio entre o
Hard Rock, AOR e pitadas de Classic Rock. Para muitos, o projeto traz um certo
alívio por não ter as doses de funk que Mr. Hughes costuma imprimir em seus trabalhos solo. Vocalmente, o
approach opta pelo meio termo entre o período mais hard de Glenn e seu trabalho no Black
Country Communion. Dario é um
bom guitarrista que tem como trunfo o bom gosto nos timbres e composições, não
pecando pelo exagero como outros guitarristas talentosos costumam fazer. A
produção beira a perfeição e é uma pena que Waterfall sofra com a inconstância do material. A faixa de
abertura, All That Remains é bonita
e marca uma tendência da banda, as faixas mid tempo costumam se sair muito
melhor que as mais diretas e roqueiras. Que bom que as temos em bom número,
como a ótima faixa título e Underneath
and Down Below (onde Dario evoca
inspiração Blackmoriana). Das mais diretas, destaco Evil Thing, Rattle Shake
Bone e Eldorado. Não fosse o
restante do disco de uma mediocridade algo preguiçosa, estaríamos de frente para
um dos grandes lançamentos do estilo nesse ano de 2015.
NOTA: 76
Classifique como: Hard Rock
Para fãs de: Rainbow fase Joe Lynn Turner, Glenn
Hughes em sua fase mais Hard Rock.
Dario e Glenn: não, eu não quero saber onde esses caras cortam os cabelos!
Ok, banda fazendo Retro Rock não é mais novidade
alguma, certo? Mas e quando a banda em questão vem da Islândia e é formada por
adolescentes, aí você tem que dar o braço a torcer: isso sim é novidade! Formada
em 2006 por garotos de aproximadamente 12 anos de idade, o Vintage Caravan lançou seu terceiro disco, Arrival, em maio de 2015. E cara, que disco legal. A faixa de
trabalho Crazy Horses remete a Hendrix e Pride & Glory e o som dos garotos tem um paralelo grande com o dos estadunidenses do Radio Moscow, com doses cavalares de
Mountain. Nas faixas mais épicas, há um pouco também de Lucifer’s Friend e Rainbow.
A destacar, as excelentes Babylon e Winter Queen e a absurda qualidade das
guitarras do imberbe Óskar Logi
Ágústsson, que também assume a responsabilidade pelos apenas corretos
vocais.
Frequentemente me colocam no meio da inóspita
discussão sobre o papel do Ghost no
metal atual. Sempre me perguntam o que acho da banda, geralmente na esperança
que eu desanque impiedosamente os mascarados. Sorry, não é o caso. Adorei Opus Eponymous, com suas toneladas de
referências, em especial ao meu amado Blue
Öyster Cult (com pitadas generosas de Mercyful
Fate). Ah, então você adora os caras? Também não. Infestissumam passou pelo meu toca discos sem chamar nem um pouco a
atenção uma pá de vezes. O fato é que fui conferir esse Meliora, com sua temática inspirada em Metropolis, sem saber o que acho da banda. E confesso que escutei o
disco diversas vezes com um ponto de interrogação na fuça. Spirit e Cirice (uma de
minhas favoritas do ano, por acaso), com sua aura de filme Z de terror são
deliciosas, tal qual From the Pinnacle
To The Pit.
O Papa e sua comitiva profana
Por outro lado, Mummy Dust é tão insuportável que me dói crer que algum produtor
não tenha vetado essa bagaça de entrar no disco. Tem também algumas peças sem
muito sal, como Majesty e He is. Mas veja só, as faixas que
fecham o trabalho, Absolution e Deus In Absentia são para lá de boas.
Enfim, uma banda que consegue polarizar opiniões dentro do mesmo disco, mas que
vale uma checada: forme sua opinião por conta própria e deixe de lado os
preconceitos babacas da cena.
Taste - What's
Going On: Live at the Isle of Wight 1970 (Cd -2015)
Rory
Gallagher – A Origem!
Volta e meia as gravadoras nos premiam com
belezuras retiradas do alto de suas prateleiras empoeiradas. No caso aqui,
temos o resgate remasterizado da antológica apresentação de um power trio pouco
falado, mas de muito valor: trata-se do Taste,
banda irlandesa responsável por catapultar a carreira de ninguém menos que Rory Gallagher. A apresentação em questão
foi retirada do mítico festival realizado na Ilha de Wight em 1970. O som é cru
e o mesmo tempo impressionante, com a banda toda esmerilhando seu Blues Rock
envenenado com doses cavalares de Jazz. Rory,
mesmo na tenra idade de 22 anos já era um fenômeno, não à toa merecendo
citações extremamente elogiosas por parte de ninguém menos que Hendrix. O show foi lançado também em
DVD, LP e Blu-ray, mas não pude ainda conferir a qualidade da contraparte
visual. Recomendo!!!
Uma das maiores promessas do Hard britânico, o Thunder falhou retumbantemente em
espelhar seu sucesso caseiro em outras paragens. Com a exceção do Japão, o
resto do mundo nunca deu a mínima para os caras, mesmo com o lançamento de
discos do quilate de Back Street
Symphony e Laughing On Judgement Day.
Talvez o crescimento do Grunge possa ser culpado por isso, talvez as
turbulências internas é que sejam os verdadeiros demônios. Deixa para lá, o
importante é que os caras resolveram trazer seu Hard classudo repleto de Blues
em ótima forma para o ano de 2015. A voz de Danny Bowes envelheceu muito bem, por vezes lembrando a forma atual
do também rouco veterano Jimmy Barnes.
Diria se tratar da provável melhor performance vocal do ano. A faixa título,
com um clima pesado, remete a uma bem vinda mistura de Led e Rainbow. The Thing I Want é o paraíso do Hard
clássico. The Rain põe um bocado de
folk britânico no liquidificador e Black
Water tem sua excelência no equilíbrio entre o Hard e o Blues.
Será que os velhinhos já conhecem o Trovão Azul?
The Prophet
tem muito de Lights Out em sua
estrutura e um solo Blackmoriano, já Resurrection
Day é uma balada bacana e nada mais. O ritmo levanta novamente com a
rifferama da correta Chasing Shadows,
mas curiosamente o disco demora a recuperar a qualidade de sua primeira metade.
A redenção vem com a ótima e dramática When
The Music Played. Serpentine
também arregaça, e a essa altura mesmo que I
Love The Weekend não fosse um delicioso rockão conseguiria tirar o sorriso
do rosto do ouvinte. Wonder Days é
um disco para lá de bom, uma grata surpresa vinda de uma banda que parecia não
ter mais muito a mostrar. Discaço.
NOTA: 86
Classifique como: Hard Rock, Blues Rock, Classic
Rock
Para fãs de: Badlands, Deep Purple, UFO, Whitesnake
Califórnia, 1982. Quatro
colegas de escola mais um vizinho resolvem montar uma banda. Os garotos são
muito jovens, na faixa dos 18 anos de idade. Todos fascinados pela NWOBHM, já sabiam eles que a banda
seguiria aquele caminho, do então efervescente “novo Heavy Metal”. Mas falta à
mistura um nome bombástico. Afinal, Judas
Priest, Iron Maiden, Saxon, Angel Witch, todos tinham nomes memoráveis que conjuravam grandes
batalhas ou coisas místicas e algo proibidas. Qual então a maneira mais eficaz
de se pensar num nome de banda do que ficar doidão e assistir a um filme de
capa e espada num cinema da vizinhança? Reza a lenda que assim os garotos
escolheram o insólito nome Armored Saint,
fumando muita erva e assistindo o já suficientemente viajandão Excalibur num empoeirado cinema de
bairro. Nascia ali uma das mais talentosas e mais azaradas bandas de Heavy Metal
da América. Aquela que viveria seu auge à margem do sucesso, fadada a ser
eternamente lembrada dentro daquele umbral artístico no qual colocamos as ditas
“Bandas Cult”.
Xicanos de Armadura
Metallica
x The Saints
Já com a primeira
demo assinada (Lessons Well Learned)
o primeiro contratempo aparece para os jovens Californianos. Uma banda para lá
de incensada no underground Estadunidense, uma tal de Metallica, convida o vocalista John Bush para a gravação de seu
primeiro álbum, que viria a se chamar Kill’Em
All. Bush, aos 20 anos de idade
e com o orgulho e presunção que muito temos nessa idade, refutou o convite,
certo de que os Saints viriam a ser
ainda maiores do que aquela banda, que apesar de longe do fenômeno que hoje
conhecemos, já tinha fama o suficiente na cena para que muitos considerassem a
escolha do vocalista um tremendo erro. Alguns dizem que o que em grande parte
teria influenciado a negativa de Bush
seria o fato do tresloucado Dave
Mustaine ter quebrado a perna do guitarrista Phil Sandoval, ao tentar defender o gnomo e metido colega de banda Lars num entrevero com o guitarrista
dos Saints. Vale lembrar que era uma
época em que as bandas se comportavam meio que como pequenas gangues de
desajustados, e o comportamento algo fraternal fazia parte do jogo. Bush tinha que estar do lado de Phil, seria uma afronta debandar para o
lado da “gangue rival”. A relação dos Saints
com o Metallica ainda teria mais um
capítulo. Joey Vera, eterno baixista
dos Californianos, foi o primeiro a ser lembrado por um já grande Metallica para substituir o falecido Cliff Burton. Mais uma negativa que
mais uma vez se mostrou uma escolha equivocada para uma carreira que não
levantava voo.
Metallic Saint?
Saints
Will Conquer? NOT!
Mas melhor nos atermos
a discografia dos caras, essa sim de qualidade muito superior do que as
escolhas citadas. Descobertos pela Metal
Bade com o EP auto intitulado, os garotos logo seriam cooptados por uma
Major, a Chrysalis para seu primeiro
Full Lenght. Nomeado March Of The Saint
o mesmo é quase que um Blueprint para o que viria a ser o dito American Power
Metal. Apesar do relativo sucesso da faixa de trabalho Can U Deliver, March marcou
o início de uma relação para lá de conturbada: a banda estava infeliz com a
interferência da gravadora na sonoridade do disco e a Chrysalis se sentiu decepcionada com a vendagem apenas razoável do
primeiro tento de sua suposta “mina de ouro”, sua chance de espelhar o sucesso
que as bandas inglesas vinham tendo no mercado americano com o então som da
moda.
Delirious Nomad pode ser um baita
disco, mas teve um gosto amargo para os garotos. O sucesso não vinha e a
interferência da insatisfeita gravadora fez uma séria baixa: Phil Sandoval deixava os Saints, que gravariam o ótimo Raising Fear com apenas Dave Prichard nas guitarras. A falta de
promoção do novo disco mostrou à banda o que Phil já percebera antes, eles já não eram uma opção válida para a
Major. Com um misto de derrota e sangue nos olhos, os garotos retornam à Metal Blade, sua resposta vindo através
do desafiador título de seu primeiro lançamento e volta à casa: Saints Will Conquer. Já com Jeff Duncan como segundo guitarrista,
os Saints tinham em mente uma única
coisa, o próximo disco seria sua última chance de provar ao mundo (na verdade,
à ex-gravadora) que eles tinham sim muito valor. Somando o seu usual Heavy
metal vigoroso a uma maturidade que só a vivência de tempos difíceis costumam
trazer, a fase de pré produção de Symbol
Of Salvation dava a todos a certeza de que o disco definitivo dos Saints estava enfim para sair. Mas nada
na vida dos caras era tão simples. Antes de adentrar o estúdio para as
gravações, Dave é diagnosticado com
um tipo extremamente agressivo de Leucemia. A doença levou o guitarrista ao óbito em pouco
tempo, e as gravações foram então adiadas.
R.I.P. Dave!
Os membros remanescentes estavam em dúvida se seguiam ou não em frente,
até que um reforço conhecido deu a eles a força para continuar: Phil Sandoval
estava de volta. Symbol se tornou o
disco de maior sucesso dos Saints,
com reconhecimento de público (menos) e crítica (mais). Reign Of Fire e Last Train
Home puxaram o relativo sucesso e a banda fez sua maior turnê até então,
abrindo para os gigantes Suicidal Tendencies
e para os heróis da cena Savatage.
Mas já era tarde demais, o desgaste havia sido excessivo para todos. Tão logo o
Anthrax precisou de um substituto para
o demissionário Belladonna e o
convite foi feito, dessa vez John Bush
não deixou passar. O ano era 1992 e morria ali a primeira encarnação da banda.
O
retorno dos Santos Bissextos!
Em 1999, durante um
hiato nas atividades do Anthrax, Bush se juntou a Vera e ambos discutiram se aquele não seria um momento propício
para o retorno, sem compromisso, dos Saints.
O bom Revelation foi lançado em
2000. A recepção foi quase nula, mas isso já não importava mais. Os Saints passaram a se encontrar de forma
errática, para lançamentos espaçados, algo como aqueles encontros de turmas de
colégio esporádicos. Só que ao invés de somente beber e relembrar os velhos
tempos, discos são produzidos no caminho. Dez anos depois, La Raza, não tão inspirado assim, viu a luz do dia. Novamente não
chamou muita atenção, mas e daí? Dessa vez o tempo de espera entre um
lançamento e outro foi menor, mas curiosamente, o resultado foi bem além do
esperado!
Vencendo
Sem Esforço
Se o clima dos
lançamentos anteriores era tão descompromissado que talvez tenha comprometido o
resultado final, no caso do novo disco, parece que os Saints resolveram que tem algo a provar para o mundo. Já a faixa
título (ver vídeo), que numa tradução livre e literal, quer dizer, “vencer sem
esforço”, faz troça com a própria carreira da banda, mostrando em sua letra que
a despeito do que o mundo pode pensar, os Saints
se consideram vitoriosos por sempre terem mantido seu caráter a despeito do que
as modas ditaram ao longo dos anos. Já de cara podemos destacar a bateria para
lá de vigorosa de Gonzo e a
qualidade vocal irrepreensível do subestimado John Bush (uma de minhas maiores influências, diga-se). Isso sem
contar os belos duelos de guitarra. Um novo clássico, com certeza!
Mess não fica muito atrás
não, um belo exemplo de Power Metal feito nos moldes Estadunidenses, uma ode vintage
ao som de conterrâneos como Jag Panzer
e Vicious Rumors! Estranhamente
escolhida como segunda música de trabalho, An
Exercise In Debauchery (ver vídeo) se destaca mais pelo vigor e pelo ótimo
solo de baixo de Joey Vera.
Muscle Memory é outro destaque, remetendo
bastante o clima do material de Symbol
of Salvation e nos fazendo lembrar que Bush
também é um grande letrista, optando por temas e por uma escolha de palavras
bastante incomum em se tratando de Heavy Metal. That Was Then é para lá de anos 1980 e a excelente With A Full Head Of Steam conta com o
reforço da ótima voz de Pearl Aday,
nada mais nada menos que filha do lendário Meat
Loaf e esposa de Scott Ian.
Santos Velhacos!
In
An Instant talvez seja
a menos inspirada das faixas do disco, mas tem uma redenção em sua reta final e
a dobradinha Dive/Up Yours trazem um
pouco dos anos 1970 à mistura, sem descaracterizar o som dos Californianos.
Saldo
Final
Numa discografia nada extensa, mas de
qualidade louvável, Win Hands Down
se destaca com louvor. Uma grata surpresa que certamente deixará feliz todo e
qualquer Headbanger que nutre simpatia pela música dos Saints. Um de seus mais inspirados lançamentos e que entrará com destaque
em minha lista de melhores discos desse ano.
NOTA: 88
Indicado para:
Todos aqueles que ainda sentem um frio
na barriga ao escutar um simples bom disco de metal tradicional.
Fuja se:
Achar enfadonho o metal de décadas
passadas.
Classifique como: Heavy Metal
Para Fãs de: Riot, Vicious Rumors, Metalmorphose,
Jag Panzer
O
sucessor de CVI, um dos discos do
ano de 2012 para esse escriba, me soou a princípio uma decepção. Time Machine, faixa de abertura, é uma
belíssima canção dramática e épica, mas o resto do material falhou em me
impressionar nas primeiras audições. Sorte que depois de um tempo retornei a
esse álbum com a devida atenção. A banda está menos pesada e apostando um
bocado mais em sua verve noventista. Enquanto The Line, Floor e Ear On The Fool (com algo de Mastodon) fazem menção ao peso
sabbathico da estreia, Wake Me e Forget You trazem uma mistura de
psicodelia e peso alternativo que lembram alguns momentos do Soundgarden, caso a banda tivesse como
vocalista Johnette Napolitano, do Concrete Blonde. Sim, Mlny Parzon continua cantando muito, e sua
voz não somente se ampara nos potentes gritos, como podemos ouvir em One Day e nas duas partes de the Bear, que fecham de maneira etérea
um disco repleto de detalhes que talvez não ganhem a devida atenção da geração do
imediatismo.
O
Ep de estreia da banda carioca que define seu som como Goat Rock é uma bela surpresa. No geral a banda aposta num Stoner com pitadas de Doom e Retro Rock, tudo com influências bem dosadas. Drown lembra um Graveyard
mais cru, com a voz de Jonas Araújo
(também baixista e que faz uma bela cozinha com Denys Melo) soando um pouco como Eric Wagner (Trouble). Elementos
psicodélicos dão um tempero bacana à boa Giant’s
Dream e as guitarras de Igor Fabbri
e Julio Latorraca mostram o devido
respeito à Tony Iommi em What I Lost (que também me lembrou os
bons momentos do Down e Orange Goblin). São apenas quatro
faixas, mas que servem de um promissor cartão de visitas dos ditos Goat Rockers.
E
quem poderia apostar que os veteranos do UFO
ainda teriam tanta lenha para queimar? O quinto disco dos britânicos desde que
o virtuose estadunidense Vinnie Moore
preencheu com inesperado louvor o espaço deixado pelo Semi-Deus Michael Schenker é talvez o melhor da (não
tão) nova fase. Recheado de grandes riffs e solos e com a voz encardida do
sexagenário Phil Mogg destilando
letras e melodias igualmente encardidas, não há nenhum minuto desse Conspiracy que não soe inspirado. Uma
pena que o UFO pareça relegado ao
segundo plano na história da música, mesmo tendo uma discografia das mais
consistentes e muito mais rock nas veias que a grande maioria dos “monstros sagrados” que rastejam por aí. Discaço!
NOTA: 84
Esses velhinhos cascudos ainda podem enterrar você
Mais
uma vez envolto num manto de preocupação em relação ao estado de saúde de seu
líder, o lendário e infame Lemmy, o Motörhead faz de seu novo disco um
portentoso “dedo do meio” na fuça dos carcarás. Os únicos cadáveres a serem
velados aqui são os dos nossos tímpanos, atacados com fúria punk por petardos
como Victory Or Die (que traz uma
singela homenagem ao Metallica em um
de seus riffs) e Thunder & Lightning
(não, ela não ficaria deslocada em We
Are Motörhead). Os flashbacks de Heavy Rock dos anos 1970/80, que
engrandeceram Aftershock, estão
presentes em FireStorm Hotel e nas
excelentes Devil e Evil Eye (essa última traz em seu
refrão a referência ao título do disco). Ah, e nem mesmo a escolha da batida Simpathy For the Devil consegue
disfarçar o fato de que um Motörhead
moribundo ainda tem muito mais tesão pela vida que 99,99% das bandas do
universo conhecido.