segunda-feira, 23 de julho de 2012

Candlemass - Psalms For The Dead (2012)



NO MORE DOOM?



Prólogo -Surge a máquina Sueca do Juízo Final

Um dos baluartes do doom metal na década de 1980, o Candlemass fez sua fama ao misturar o peso sombrio e monolítico dos primórdios doBlack Sabbath com o então novo metal europeu. Após um início bombástico com o excelente Epicus Doomicus Metallicus, os suecos liderados por Leif Edling (baixista e compositor de 99% do material da banda) acharam sua voz sob a rotunda forma do maluquete Messiah Marcolin, uma gigante e desgrenhada figura que se vestia de monge. Dono de voz e carisma muito acima da média, Messiah levou a banda a uma sequência de trabalhos obrigatórios na discografia de qualquer fã de metal (Nightfall, Ancient dreams e Tales Of Creation).

Candlemass - Messiah ao centro em sua glória capilar


Isso até que os egos começaram a falar mais alto que a música, culminando com a saída de Messiah, em 1990. Nãos em deixar para trás o monstruoso registro ao vivo Candlemass – LIVE.
A banda prosseguiu sob a forma de uma espécie de projeto solo de Leif Edling, lançando discos cada vez mais experimentais (discos esses desprezados sem eu tempo, mas que ganharam estatus “cult” recentemente), até que desapareceu do mapa em 1999.
No início dos anos 2000, pegando carona na onda de reuniões de formações clássicas de bandas de metal, eis que o improvável acontece: Messiah retorna ao Candlemass.


Candlemass 2002 - o retorno
Uma turnê de retorno matadora foi o prenúncio do lançamento de um dos melhores discos da banda, uma pedrada homônima produzida pelo mestre Andy Sneap e que se tornou um dos melhores discos de 2005 (ver vídeo para Black Dwarf):






Mas logo a personalidade insana de Messiah entraria novamente em choque com a tirania assumida de Leif Edling. No momento em que adentravam o estúdio para gravar o sucessor de Candlemass, o monge maluco pelou fora do barco.


Messiah colocou o terninho e foi procurar emprego


A Nuclear Blast, gravadora da banda à época, tentou demover Messiah e convencê-lo ao menos a concluir as gravações. Chegaram a oferecer um ótimo contrato para um disco solo para o balofo, mas sem sucesso.

Parecia tudo perdido...

Candlemass redivivo – De novo!

Mas o obstinado Leif Edling convenceu a Nuclear Blast que seu material era forte o suficiente para sobreviver à mudança dramática de formação.  Substituto? Robert Lowe, excelente vocalista americano que há alguns anos já emprestava sua voz a um filhote do Candlemass, o bom Solitude Aeturnus.

Robert "Leôncio" Lowe
Com voz única e poderosa, aliada a excentricidade visual comparável à do Messiah, Robert Lowe conquistou de cara quase todos os fãs da banda. Facilitou em muito o fato dos discos subsequentes, King Of The Grey Islands e Death Magic Doom apresentarem material que rivalizava facilmente com os clássicos de outrora.

A banda com Robert Lowe

Mas, após a boa fase, somos pegos de surpresa com duas notícias:

A primeira, o Candlemass lançaria seu disco derradeiro, encerrando suas atividades ao final da turnê.

A segunda, dada logo após o anúncio da data de lançamento do disco, é ainda mais triste. Robert Lowe fora chutado da banda, sob a estranha acusação de que suas performances ao vivo não vinham atingindo um padrão de qualidade aceitável (ver link da página oficial):



Resignado, corri atrás de uma cópia do canto de cisne de uma das bandas que mais gosto, ansiando fortemente que tal canto fizesse justiça a carreira brilhante da mesma.

Psalms for The Dead foi lançado em vários formatos. O formato aqui analisado conta com o CD original e um DVD. Como não existem faixas bônus, o conteúdo extra do DVD será analisado após a resenha. O pacote em si é bonito, um digibook contendo letras e fotos interessantes. A arte gráfica segue o padrão dos últimos discos, sombria, simples e efetiva.

Quanto ao material sonoro, lá vamos nós:


Entoando os Salmos

Logo nos primeiros instantes de Prophet fica claro que peso não faltará à bolacha. A faixa é um tanto mais veloz que de costume, tal qual If I Ever Die na abertura do álbum anterior. Clima épico, boas linhas de voz, mas coroadas por um refrão algo preguiçoso, ótimos solos e o som de hammond, todos esses pontos se destacam em Prophet e seriam uma constante no restante disco. Uma boa faixa de abertura, certamente.



Passamos a The Sound Of Dying Demons.A bateria marcando o tempo seguida de um riff soturno e distorcido parece uma óbvia referência a Iron Man, mas há de se lembrar, a própria existência do Candlemass é uma eterna referência (e reverência) ao som do Black Sabbath. Os teclados criando um clima de filme de terror ou ficção científica de baixo orçamento fazem ressurgir resquícios do Candlemass de Dactylis Glomerata ou From the 13th Sun (cortesia de Carl Westholm, que fez parte da banda nessa época). Mais um refrão preguiçoso e repetitivo (estaria o Candlemass ouvindo muito o Iron Maiden atual?). Dispensável. Começo a temer pelo restante do disco.

Começa Dancing in The Temple (of the Mad Queen Bee), uma faixa atípica.Algo acelerada, curta e nada melancólica (ao menos para os padrões da banda), a faixa vale novamente pelos ótimos solos.Forçando bastante a barra, poderíamos fazer um paralelo desta música com as influências neoclássicas de Tales Of Creation.

Waterwitch começa pesada e promissora, sua estrutura épica lembrando bastante outras faixas da atual encarnação do Candlemass. Mas nada a salva de mais um refrão modorrentamente preguiçoso – “Waterwitch, Waterwitch, Waterwicth...”. Fica a clara impressão que o chefão, compositor, letrista e baixista Leif Edling já viveu dias mais criativos.

Leif, pouco antes de soltar os cachorros...pobre Lowe

O clima de desesperança não é algo incomum e necessariamente ruim em um disco de doom metal, exceto quando se trata de desesperança na capacidade da banda em fazer um bom disco. Mas o jogo ainda não havia terminado, e as coisas começariam a melhorar. Consideravelmente, diga-se.

Reminiscências do passado do Candlemass com Messiah Marcolin podem ser encontradas em The Lights Of Thebe, cujo clima oriental misterioso leva o típico carimbo de excelência da banda. Ótima música, que marca uma considerável reviravolta de qualidade no restante da bolacha.


A faixa título é o tipo de material que esperava escutar desde que apertei o play em meu aparelho de som para fazer essa resenha: riffs monolíticos, solos inspirados, belas linhas melódicas e refrão marcante. Tudo isso coroado pelo peso típico do doom metal. Forte candidata a clássico.

Outro início com marcação de bateria e logo somos presenteados com um riff que parece saído de Vol4, do Black SabbathThe Killing Of The Sun tem algo que a deixa no meio tempo entre o doom tradicional e o Stoner. Matadora.

Efeitos que novamente remetem aos álbuns mais experimentais da banda iniciam Siren Song, deixando-a com algo de Uriah Heep, o que não pode ser considerado um insulto. Algo como um remake deRainbow Demon, conta com uma ótima performance de todos e solo de teclado, cortesia de Per Wiberg (Spiritual Beggars, Opeth).

O disco se encerra com a boa Black As Time. A descontar a desnecessária introdução falada, que ao invés de criar um clima sombrio parece mais saída de algum esquete perdido do Monty Python, Black As Time literalmente fecha o caixão do Candlemass com alguma dignidade funesta.

Sobre os desempenhos individuais, o Candlemass sempre primou em jogar para a equipe. Leif Edling e Jan Lindh formam uma cozinha precisa e funcional, primando em imprimir o peso monolítico que faz parte da marca registrada da banda. A produção, sob a batuta do chefão Edling, é bastante boa. Todos os instrumentos aparecem em igual destaque e o peso e punch são quase palpáveis.

Os guitarristas Mats "Mappe" Björkman e Lars “Lasse”Johansson podem não ser reconhecidos individualmente pela técnica apurada. Entretanto, quando juntos, são responsáveis por algo raro no metal atual: solos daqueles que ficam na memória tanto quanto as melodias vocais. E talvez abraçando o que seria a última oportunidade em deixar sua marca para a posteridade, a dupla é o destaque absoluto do disco.

Quanto ao demissionário Robert Lowe, ele faz o melhor com o que foi dado (leia-se, as melodias algo repetitivas criadas pelo chefe para os refrãos), cantando cada frase com a maestria que lhe é peculiar. Poucas vezes uma banda acertou tão em cheio no substituto de um vocalista de renome e é uma pena que não seja ele a excursionar nesta que deve ser a ultima turnê da banda.

Saldo Final

Em se tratando do alto padrão de qualidade dos últimos três discos, aliado à grande expectativa criada por (supostamente) se tratar do derradeiro capítulo de uma das melhores bandas escandinavas em todos os tempos, é impossível não chegar a terrível conclusão:

Psalms For The Dead é tranquilamente o disco mais fraco desde o retorno da banda em 2005.

Mas se não será lembrado como um dos melhores discos do Candlemass, também fica a milhas de distância de ser considerado um disco ruim. Em suma, Psalms For The Dead é um bom disco de doom metal em sua vertente mais tradicional. O disco dificilmente deixará algum fã descontente, mas a irregularidade do material nele contido talvez seja a prova cabal de que esse é o momento certo para se aposentar.


NOTA:7

DVD da Edição Limitada:

Intitulado Let There Be Doom, o material do DVD é constituído de um making of do álbum intercalado com cenas do 70.000 Tons of Metal, o famigerado cruzeiro com shows de metal. Logo de início somos avisados que um dos guitarristas, Lars “Lasse”Johansson não pode participar do cruzeiro por problemas familiares. Logo de início, um problema – não há legendas. E tome cenas em línguas escandinavas e alemão. E mesmo os diálogos em inglês são de difícil compreensão, o sotaque dos caras (com exceção do americano Robert) é complicado. Algumas cenas da gravação do disco ou da sessão de fotos para o mesmo se salvam com muita boa vontade. No mais, são pouco mais de 25 minutos de imagens ruins e perfeitamente dispensáveis. Não vale tempo (para quem faz download) e muito menos dinheiro (para quem compra). Passe longe!

Curiosidade:
Para a turnê de despedida foi confirmado MatsLevén no posto de vocalista. Para quem não conheceMats já integrou o próprio Candlemass (e outros dois projetos de Edling: Krux e Abstrakt Algebra), além de ter participado de discos e turnês com o Therion, Yngwie Malmsteen, At Vance, dentre outros. Dotado de boa performance de palco, sua extensão vocal só fica aquém de sua capacidade em irritar tímpanos alheios. Uma pena que tenha que terminar assim. Para diminuir o fiasco, foi anunciado também que Per Wiberg arcará com as partes de teclado dessa derradeira turnê.



Ficha Técnica
Banda (Nacionalidade): Candlemass (SUE)
Título (ano de lançamento): Psalms For the Dead (2012)
Mídia: CD
Gravadora: Napalm Records (Importado)
Faixas: 9
Duração: 50’
Faixas:
1. Prophet; 2. The Sound of Dying Demons; 3. Dancing In The Temple; 4. Waterwitch; 5. The Lights Of Thebe; 6. Psalms For the Dead; 7. The Killing Of The Sun; 8. Siren Song; 9. Black as Time;

Rotule como: Doom Metal
Indicado para: Fãs de metal tocado à velocidade de uma tartaruga sifilítica, mas pesado como um elefante obeso.


7 comentários:

  1. Baixei aqui o cd e, realmente, alguns refrões são bem chatinhos pela repetição. hehe

    Mas de um modo geral tem uns riffs e climas bem legais!

    Não conhecia a banda, e to pegando uns cds mais antigos, porque achei a voz do Robert Lowe meio cansativa, e curti mais a voz do Messiah (q tem uma das maiores caras de maluco que eu já vi)

    Metal tocado à velocidade de uma tartaruga sifilítica é algo que me agrada! =)

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    1. Pablo
      Recomendo fortemente o primeirão "Epicus Doomicus Metallicus", o "Nightfall" (primeiro com o Messiah) e o disco de retorno da formação clássica, simplesmente intitulado "Candlemass". A fase mais experimental não me agrada e com o Robert Lowe, os dois primeiros são muito bons, em especial o "Death Magic Doom".
      Abracetas
      T

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  2. Respostas
    1. Fica triste não, miguxo, serás sempre bem vindo à cripta, whahaha
      abracetas
      T

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  3. Coisas que nem conhecia sobre a banda, gostei mucho!

    Amo-te!

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  4. COMO É QUE BAIXA AQUI MEU VELHO,ESTOU PERDIDO...VOU PASSAR MEU FACE QUALQUER COISA ME ADD LÁ https://www.facebook.com/blackniilista

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    1. Fala, Camarada, bem vindo.
      Não tenho link para baixar os discos, na verdade, nem sei como baixar música na internet direito, hehe...na época que eu baixava ainda se usava um tal de soulseek, hehe
      O intuito aqui é falar sobre os lançamentos e shows, ajudar as pessoas a conhecer novos sons de bandas novas ou novos sons de bandas já conhecidas...quanto a baixar ou comprar, aí já fica a cargo de cada um.
      Abração e espero que curta o site mesmo assim
      Trevas

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