SURDEZ GARANTIDA EM ALTA DEFINIÇÃO
Prólogo – Lemmy e as verrugas da danação
“O planeta está descendo
diretamente pela descarga, acompanhado da civilização que o comanda. E nós
continuaremos a tocar enquanto ele afunda no esgoto. Seríamos uma banda
apropriada para tocar durante o apocalipse. A propósito, nós soamos como um
apocalipse...”
(Lemmy, sobre a possibilidade de aposentadoria do Motorhead)
(Lemmy, sobre a possibilidade de aposentadoria do Motorhead)
A câmera passeia pela frente do
Teatro Caupolican, capturando em slow motion a polícia de Santiago, em conjunto
com o exército, organizando o transito de carros e pedestres. Sirenes ao fundo,
seguidas de gritos de “Lemmy, Lemmy” como trilha sonora de um ato
quase marcial. A imagem de um rapaz vestido com uma camisa de Ozzy Osbourne mostrando o dedo médio para
a câmera aparece e o clima belicoso persiste quando a mesma se desloca para a fila que
aguarda com um ar de contido entusiasmo pela entrada no show. A sirene soa de
novo, e de novo...as imagens em preto e branco passam do rosto dos tensos oficiais
do exército para o rosto de um feliz grupo de fãs prestes a assistir a uma das
maiores experiências musicais de que se tem notícia, ao menos se você é um dos
muitos que não se importam com a morte de um punhado de neurônios auditivos se
isso vier acompanhado de uma bela exibição de um rock sujo e voraz.
E essa vem sendo a especialidade
de Lemmy e sua trupe pelos últimos
35 anos.
Motorhead 2011 - Mickey Dee, Lemmy e Phil Campbell |
Vemos agora uma arena abarrotada,
os gritos do público são ofuscados por alguns acordes distorcidos da guitarra
de Phil Campbell e de uma virada
breve de bateria de um rinoceronte chamado Mickey
Dee. Surge a silhueta de um dos seres mais emblemáticos da mitologia do
rock, ostentando seu belo Rickenbacker
e sua não tão bela cara de vilão de western barato.
Lemmy, 66 anos, cumprimenta a platéia, arranca alguns acordes tão
sujos quanto sua aparência e recita a frase que, justamente por ser tão displicente e simples, ilustra
perfeitamente o que representa um show do Motorhead:
“We Are Motörhead,
and we play rock and roll!”
O que se segue é tão previsível
quanto poderoso:
Os acordes de Iron Fist fazem que o abarrotado teatro
se transforme no que parece uma massa contínua de carne que se revolta a cada
compasso. Como acontecia com outra platéia em qualquer lugar do mundo há 35
anos atrás, e como continuará acontecendo enquanto o velho tio crocotó
continuar na ativa.
Verrugas em HD
The World Is Ours representa o primeiro lançamento em Blu-Ray do Motorhead, fazendo um apanhado de três momentos
diferentes da turnê de 35 anos da banda, realizada em 2011. O show principal,
em preto-e-branco, foi gravado em Santiago, no Chile, contando com uma platéia ensandecida
do início ao fim de um set contendo 17 músicas do melhor da banda (quase uma
hora e meia de duração).
Dois outros shows estão
representados, também em alta definição (mas dessa vez coloridos) um em Nova
Iorque (contendo 3 músicas) e outro em Manchester (contendo 6 músicas).
Em todos eles a banda encontra-se
tão poderosa como sempre, comandando com simplicidade platéias tão empolgadas
que nos fazem perguntar o que diabos acontece com o público do Rio de Janeiro,
cada vez mais sonolento e blasé.
Participações especiais não são
uma raridade em se tratando de shows do Motorhead
e aqui elas aparecem nos dois shows extras do pacote.
Em NY, a honra coube (na clássica
Killed By Death) à bela Doro Pesch e ao guitarrista Todd Youth, os dois com um longo
histórico de envolvimento com o Motorhead.
Doro e Lemmy tem uma
amizade (colorida?) que se estende desde meados dos anos 1980, quando um imberbe
Warlock era catapultado a um
semi-estrelato no mundo metálico, capitaneado pela então ninfeta e musa
loirinha, e fazendo alguns shows de abertura para os feiosos britânicos. Desde então
Lemmy já gravou dueto com Doro e volta e meia participa dos shows
solo da alemã.
Doro e Lemmy em 2011 |
Já Todd Youth, que começou no Agnostic
Front e já tocou com Danzig e
muitos outros, fez parte do Motorhead
interinamente durante um breve período da turnê de 2003, quando Phil Campbell perdeu a mãe.
Mas apesar da importância dos
convidados, a participação deles pouco ou nada faz da rendição de Killed By Death diferente de tantas
outras já registradas.
Muito diferentemente do
tresloucado Michael Monroe (Hanoi Rocks), que faz sua melhor
personificação de Serguei no show de
Manchester, numa versão de Born To Raise
Hell que pode soar tanto absolutamente ridícula quanto puramente rock.
Lemmy e Serguei, digo, Michael Monroe |
Extras – entrevistas,videoclipes
e muito humor
Ainda nos extras, temos três
entrevistas imperdíveis. Em uma delas, o repórter pergunta ao Lemmy como ele acha que uma pessoa sai
de um show do Motorhead, ao que ele
rapidamente responde:
“Mais sábia...ou pelo menos, mais
surda...”
Correto, Lemmy. Assisti o Motorhead
em três oportunidade diferentes e não acredito ter ficado nem um ponto de QI
mais esperto, mas me lembro bem de passar dias com o ouvido zunindo...
Além das impagáveis entrevistas
(que na versão que possuo, importada, não contém legendas em português), temos
um vídeo legal para Get Back In Line
e outro burocrático (com cenas ao vivo) para I Know How To Die. Ainda há o press kit do lançamento do CD The World Is Yours, que contem
entrevistas menos engraçadas e mais profissionais com a banda toda falando
sobre o novo rebento.
Saldo final
Completo, bem gravado e
divertido.
Ao final de tudo, o primeiro rebento em
Blu-ray do Motorhead representa uma bela oportunidade de conferir as verrugas
mais infames da história do rock em alta definição.
E se não ficar mais sábio ao
terminar de assistir o show, fique tranqüilo, Lemmy deixou como de costume seu
baixo na frente dos monitores enquanto somos brindados com os créditos, para
garantir que ao menos terminemos com os ouvidos zunindo de felicidade...
NOTA – 8,5
Trailer do Blu-Ray:
Ficha Técnica
Banda: Motorhead
Título (ano de lançamento): The
World Is Ours, Vol 1 (2011)
Mídia: Blu-Ray Disc (Lançamento
nacional em DVD)
Duração: 210’
Rotule como: Rock, feio e sujo
Indicado para: Fãs de um Rock sem
muita pompa e frescura.
Motörhead! TUDO DITO!
ResponderExcluirUma das poucas bandas cujo material ao vivo sempre vale a pena.
ExcluirAbraço
Trevas