domingo, 8 de julho de 2012

Motörhead – The World Is Ours Vol. 1 (2011)





SURDEZ GARANTIDA EM ALTA DEFINIÇÃO

Prólogo – Lemmy e as verrugas da danação

“O planeta está descendo diretamente pela descarga, acompanhado da civilização que o comanda. E nós continuaremos a tocar enquanto ele afunda no esgoto. Seríamos uma banda apropriada para tocar durante o apocalipse. A propósito, nós soamos como um apocalipse...”

(Lemmy, sobre a possibilidade de aposentadoria do Motorhead)

A câmera passeia pela frente do Teatro Caupolican, capturando em slow motion a polícia de Santiago, em conjunto com o exército, organizando o transito de carros e pedestres. Sirenes ao fundo, seguidas de gritos de “Lemmy, Lemmy” como trilha sonora de um ato quase marcial. A imagem de um rapaz vestido com uma camisa de Ozzy Osbourne mostrando o dedo médio para a câmera aparece e o clima belicoso persiste quando a mesma se desloca para a fila que aguarda com um ar de contido entusiasmo pela entrada no show. A sirene soa de novo, e de novo...as imagens em preto e branco passam do rosto dos tensos oficiais do exército para o rosto de um feliz grupo de fãs prestes a assistir a uma das maiores experiências musicais de que se tem notícia, ao menos se você é um dos muitos que não se importam com a morte de um punhado de neurônios auditivos se isso vier acompanhado de uma bela exibição de um rock sujo e voraz.

E essa vem sendo a especialidade de Lemmy e sua trupe pelos últimos 35 anos.

Motorhead 2011 - Mickey Dee, Lemmy e Phil Campbell
Vemos agora uma arena abarrotada, os gritos do público são ofuscados por alguns acordes distorcidos da guitarra de Phil Campbell e de uma virada breve de bateria de um rinoceronte chamado Mickey Dee. Surge a silhueta de um dos seres mais emblemáticos da mitologia do rock, ostentando seu belo Rickenbacker e sua não tão bela cara de vilão de western barato.

Lemmy, 66 anos, cumprimenta a platéia, arranca alguns acordes tão sujos quanto sua aparência e recita a frase que, justamente por ser  tão displicente e simples, ilustra perfeitamente o que representa um show do Motorhead:

“We Are Motörhead, and we play rock and roll!”

O que se segue é tão previsível quanto poderoso:

Os acordes de Iron Fist fazem que o abarrotado teatro se transforme no que parece uma massa contínua de carne que se revolta a cada compasso. Como acontecia com outra platéia em qualquer lugar do mundo há 35 anos atrás, e como continuará acontecendo enquanto o velho tio crocotó continuar na ativa. 

Verrugas em HD

The World Is Ours representa o primeiro lançamento em Blu-Ray do Motorhead, fazendo um apanhado de três momentos diferentes da turnê de 35 anos da banda, realizada em 2011. O show principal, em preto-e-branco, foi gravado em Santiago, no Chile, contando com uma platéia ensandecida do início ao fim de um set contendo 17 músicas do melhor da banda (quase uma hora e meia de duração).

Dois outros shows estão representados, também em alta definição (mas dessa vez coloridos) um em Nova Iorque (contendo 3 músicas) e outro em Manchester (contendo 6 músicas).

Em todos eles a banda encontra-se tão poderosa como sempre, comandando com simplicidade platéias tão empolgadas que nos fazem perguntar o que diabos acontece com o público do Rio de Janeiro, cada vez mais sonolento e blasé.

Participações especiais não são uma raridade em se tratando de shows do Motorhead e aqui elas aparecem nos dois shows extras do pacote.

Em NY, a honra coube (na clássica Killed By Death) à bela Doro Pesch e ao guitarrista Todd Youth, os dois com um longo histórico de envolvimento com o Motorhead.

Doro e Lemmy tem uma amizade (colorida?) que se estende desde meados dos anos 1980, quando um imberbe Warlock era catapultado a um semi-estrelato no mundo metálico, capitaneado pela então ninfeta e musa loirinha, e fazendo alguns shows de abertura para os feiosos britânicos. Desde então Lemmy já gravou dueto com Doro e volta e meia participa dos shows solo da alemã.

Doro e Lemmy em 2011
Todd Youth, que começou no Agnostic Front e já tocou com Danzig e muitos outros, fez parte do Motorhead interinamente durante um breve período da turnê de 2003, quando Phil Campbell perdeu a mãe.

Mas apesar da importância dos convidados, a participação deles pouco ou nada faz da rendição de Killed By Death diferente de tantas outras já registradas.

Muito diferentemente do tresloucado Michael Monroe (Hanoi Rocks), que faz sua melhor personificação de Serguei no show de Manchester, numa versão de Born To Raise Hell que pode soar tanto absolutamente ridícula quanto puramente rock.

Lemmy e Serguei, digo, Michael Monroe
Extras – entrevistas,videoclipes e muito humor

Ainda nos extras, temos três entrevistas imperdíveis. Em uma delas, o repórter pergunta ao Lemmy como ele acha que uma pessoa sai de um show do Motorhead, ao que ele rapidamente responde:

“Mais sábia...ou pelo menos, mais surda...”

Correto, Lemmy. Assisti o Motorhead em três oportunidade diferentes e não acredito ter ficado nem um ponto de QI mais esperto, mas me lembro bem de passar dias com o ouvido zunindo...

Além das impagáveis entrevistas (que na versão que possuo, importada, não contém legendas em português), temos um vídeo legal para Get Back In Line e outro burocrático (com cenas ao vivo) para I Know How To Die. Ainda há o press kit do lançamento do CD The World Is Yours, que contem entrevistas menos engraçadas e mais profissionais com a banda toda falando sobre o novo rebento.

Saldo final

Completo, bem gravado e divertido.

Ao final de tudo, o primeiro rebento em Blu-ray do Motorhead representa uma bela oportunidade de conferir as verrugas mais infames da história do rock em alta definição.
E se não ficar mais sábio ao terminar de assistir o show, fique tranqüilo, Lemmy deixou como de costume seu baixo na frente dos monitores enquanto somos brindados com os créditos, para garantir que ao menos terminemos com os ouvidos zunindo de felicidade...

NOTA – 8,5

Trailer do Blu-Ray:




Ficha Técnica
Banda: Motorhead
Título (ano de lançamento): The World Is Ours, Vol 1 (2011)
Mídia: Blu-Ray Disc (Lançamento nacional em DVD)
Duração: 210’ 
Rotule como: Rock, feio e sujo
Indicado para: Fãs de um Rock sem muita pompa e frescura.
Passe longe se: tem nojinho de verruga ou se curte bandas que usam roupas com babados.







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