DO LAQUÊ PARA O BOURBON
Prólogo – quando o valium engoliu a farofa
Ano: 1992, Rolf Maguns Joakim Larsson percebe que o mundo está mudando. Sua banda
vive um ritmo frenético de trabalho há anos, entre estúdios cada vez mais caros
e turnês progressivamente mais pomposas. Por um par de anos o Europe desfrutara do prestígio de uma
das maiores bandas de rock do mundo, mas agora o recém lançado Prisioners In Paradise (1991) falhava
retumbantemente em atingir os corações (e bolsos) da juventude. Uma nova banda
de Seattle acabara de tornar mainstream a depressão e o sentimento de
inadequação, através de um multiplatinado Nevermind.
Os dias de glória do hair metal estavam
contados, Rolf - ou como é conhecido
mundialmente – Joey Tempest - sabia
disso.
E foi sem nenhuma despedida
oficial e sem nenhum glamour que o Europe
se retirou repentinamente de cena.
Europe em sua glória purpurinada |
Europe II – recomeçando das trevas
Setembro de 2004, tão
silenciosamente quanto havia desaparecido, e sem ninguém ter pedido, o Europe
ressurgia.
Europe em 2004 |
Ao vivo, a mudança ficava ainda
mais clara. Com visual resumido ao tradicional couro e jeans, sem efeitos de
pirotecnia, o Europe passou a
assaltar os palcos com uma pegada muito diferente. A banda não virou as costas
ao seu catálogo pregresso, apenas mostrou que existiam grandes músicas por
detrás daquelas produções pasteurizadas. Ou como John Norum gosta de dizer nas entrevistas atuais, “agora as músicas
soam como deveriam, sem a interferência de gravadoras e empresários”. Um exemplo
pode ser visto no vídeo abaixo para
Seven Doors Hotel:
E esse “novo” Europe angariava uma nova geração de
fãs, e gente que outrora torcera o nariz para banda, passava a ver a marca com
outros olhos.
E eu fui um deles.
Bag of Bones – o quarto e bluesy rebento
A mudança, bem arquitetada pelo
líder e principal compositor, o vocalista Joey
Tempest, atendeu aos anseios de todos da banda. “Somos crias do heavy rock
britânico dos anos 1970”, disse o vocalista à Classic Rock Magazine em junho desse ano.
Não é novidade, por exemplo, a
adoração do guitarrista John Norum
pelo Thin Lizzy, que foi inclusive
alvo de uma homenagem em Start From the
Dark (na faixa Hero).
Uma prova de que não se trata de oportunismo
a repentina aproximação do Europe
com o heavy rock é próprio o nome da
banda, inicialmente Force, e que fora
mudado por conta de uma de uma das maiores paixões de Tempest e Norum, o disco
Made in Europe, do Deep Purple.
Tendo dito isso, nos últimos
lançamentos após seu retorno a banda veio, ainda que aos poucos, introduzindo
essas influências em seu som.
Mas é somente no quarto rebento
após o retorno, Bag Of Bones, que as
influências do hard setentista deixam de ser uma referência residual para se
tornarem explícitas.
Europe 2012 |
O início com o riff grooveado e
repleto de wah-wah de Riches to Rags,
mostra grandes pitadas de blues rock. O solo hendrixiano do sempre excelente Norum remete diretamente ao seu último
disco solo, Playard Blues.
E se soa estranho aos seus
ouvidos Europe tocando blues rock, você
não está sozinho, Not Supposed to Sing
the Blues (um heavy rock, na realidade – ver vídeo abaixo) é uma resposta
justamente a uma crítica que a banda recebera no passado, na qual um repórter
disse que ele seriam o tipo de banda que nunca conseguiria tocar um blues. Desafio
vencido: diga-se de passagem, a banda se sai muito bem fazendo-o. obviamente, sob
a forma de uma versão pesada de um blues.
Aliás, o Blues Rock anabolizado
dá as caras em My Woman My Friend e
na faixa título, que inclusive conta com a participação do atual fenômeno do
Blues rock – Joe Bonamassa – fazendo
slide guitar. Joe, aliás, que foi
trazido à tiracolo pelo produtor da bolacha, Kevin Shirley. O Sul-africano ganhou o posto justamente pelas
produções atuais com enfoque no classic rock, seja com Bonamassa, seja com o Black
Country Communion. Embora não seja exatamente entusiasta do som de suas
produções, não há como não reconhecer que o trabalho aqui é muito bom. Tudo soa
com punch e clareza.
E se há algo de notável nesse disco é o som das guitarras. John Norum está inspiradíssimo em seus solos, totalmente calcados nos guitar-heroes do passado. A furiosa Firebox é um exemplo dessa excelência guitarristica, lembra bastante as faixas mais pesadas de Start From the Dark e é uma das melhores do disco. Outra que se destaca pelo peso é Demon Head e se não citei ainda o quanto a cozinha da banda contribui para o resultado, é porque Ian Haughland e John Levèn, ainda que excelentes músicos, se preocupam principalmente com a coesão e pegada, e não com exibicionismos.
E se há algo de notável nesse disco é o som das guitarras. John Norum está inspiradíssimo em seus solos, totalmente calcados nos guitar-heroes do passado. A furiosa Firebox é um exemplo dessa excelência guitarristica, lembra bastante as faixas mais pesadas de Start From the Dark e é uma das melhores do disco. Outra que se destaca pelo peso é Demon Head e se não citei ainda o quanto a cozinha da banda contribui para o resultado, é porque Ian Haughland e John Levèn, ainda que excelentes músicos, se preocupam principalmente com a coesão e pegada, e não com exibicionismos.
Encontro de titãs: John Norum e Joe Bonamassa |
Aliás,
no que tange ao desempenho individual, minha única ressalva é justamente quanto
à Joey Tempest. Não que ele esteja
cantando mal, Joey tem uma voz
bonita e precisa, além de ser um letrista de mão cheia e criar boas melodias. O
problema na verdade é que seu timbre é limpo ao extremo, contrastando com a
dose de bourbon que o Europe colocou
em sua música para esse disco. Não consigo deixar de imaginar, por exemplo, como
a pesada Mercy You Mercy Me (ou My Woman My Friend) se sairia melhor
com a voz encardida de John Norum. Mas
se há um momento em que fica clara sua qualidade é na totalmente zeppeliana Drink And A Smile.
Joey Tempest botando as roupas de lycra para lavar |
Doghouse já
vinha fazendo parte do repertório dos shows da banda desde 2011 (ver vídeo), e
é talvez a mais sem graça do disco.
Ah, e talvez você esteja
estranhando algo. Estou quase no fim da resenha de um disco do Europe e não fiz nenhuma referência a
baladas. Mas é porque a mesma só dá as caras a final do disco, com a bonitinha (mas
desnecessária) Bring It All Home. Não,
em nada se parece com Carrie (graças
à Deus). E sim, tem um ar setentista.
Saldo Final
Longe de seu passado purpurinado,
o Europe nos presenteia com um bom
disco de hard rock calcado em blues e coisas que rescendem à mofo.
Bag Of Bones em nenhum momento soa cansativo e prova mais uma vez
que o Europe é sim uma grande banda
de rock e que você não precisa se envergonhar de ter uma cópia de Final Countdown em sua coleção. Resta torcer
para eles substituírem Carrie por
alguma das boas faixas desse disco nos shows.
NOTA - 8
Ficha Técnica
Banda (Nacionalidade): Europe (SUE)
Título (ano de lançamento): Bag
Of Bones (2012)
Mídia: CD, lançamento Hellion Records(Nacional)
Faixas: 11
Duração: 40’
Faixas:
1. Riches to Rags; 2. Not Supposed to Sing The Blues; 3. Firebox;
4. Bag Of Bones; 5. Requiem; 6. My Woman My Friend; 7. Demon Head; 8. Drink And
A Smile; 9. Doghouse; 10. Mercy You Mercy Me; 11. Bring it All Home.
Rotule como: Hard Rock, Heavy Rock
Indicado para: Fãs de um hard mais classudo.
Passe longe se: adorar laquê e
roupas de lycra.
Confesso que do Europe, só conheço Final Countdown e Carrie... Nem sabia que Levén & Haugland eram da banda. Mas tenho o "Burning Japan Live" do Glenn Hughes e eles dois estão na banda, DETONANDO!!!
ResponderExcluirTalvez valha a pena deixar de lado o antigo nojo e ouvir esse daí.
Señor Krill
ExcluirEles sempre fizeram parte da banda.
Sim, o Europe pós 2004 vale uma chance.
John Norum é um mega guitarrista e abandonou a banda em 86, no auge, justamente pelo mesmo nojo que vc tinha deles.
E Burning Japan Live detona, mesmo. Uma pena que após conseguir uma cópia de um vídeo daquela mesma turnê no Japão, tenha ficado claro que, pelo menos no que tange a voz de Hughes, Burning Japan Live poderia se chamar Burning a Japanese Studio Live.
jundis
T
Po, Europe pra mim (e provavelmente pra 90% do mundo) sempre foi apenas Final Countdown! hehe
ResponderExcluirMas fiquei mt curioso nesse "novo som", dos caras.
Você descreveu o novo cd usando dois "estilos" que, quando se juntam, ganham o meu coração: Blues e Hard Rock.
Procurarei esse cd com certeza! =)
PS: não se assuste com esses comentários em posts antigos... mas é q eu to lendo as resenhas das mais recentes pras mais antigas! hehe
Pablê
ExcluirEstão melhor ver as resenhas sobre o Joe Bonamassa (primeira do blog) e Rory Gallagher...
Sobre o Europe, eles mudaram consideravelmente o som. O primeiro disco dessa nova fase é excelente, os seguintes e esse atual são muito bons.
Ah, e certamente não ficarei assustado com comentários sobre posts antigos...fico assustado mesmo é de alguém ler essa josta de blog, hehehe
abracetas
T
Confiando na sua palavra, já baixei aki todos os cds mais recentes do europe!
ResponderExcluirJá tinha lido o post sobre o Bonamassa e me amarro mt nele e, principalmente, no Black Country Communion (acho q é impossível um projeto com o hughes ser ruim! hehe)
Essa josta de blog é um excelente lugar pra se descobrir novas bandas, ou então saber das novidades de bandas que a gente nem lembrava mais (Europe, por ex).
E fique sabendo q tem outras pessoas que lêem e não comentam! hehe
Pablê,
ExcluirEspero que goste dos cds, eu sou fã do John Norum, guitarrista do europe...e terminei fã dos cds atuais do europe (aliás, nem tenho os antigos...).
E obrigado pelas palavras sobre essa josta, depois te pago uma pizza pelo merchandise, whahaha
abração
T