quarta-feira, 18 de julho de 2012

Europe – Bag Of Bones (2012)




DO LAQUÊ PARA O BOURBON

Prólogo – quando o valium engoliu a farofa

Ano: 1992, Rolf Maguns Joakim Larsson percebe que o mundo está mudando. Sua banda vive um ritmo frenético de trabalho há anos, entre estúdios cada vez mais caros e turnês progressivamente mais pomposas. Por um par de anos o Europe desfrutara do prestígio de uma das maiores bandas de rock do mundo, mas agora o recém lançado Prisioners In Paradise (1991) falhava retumbantemente em atingir os corações (e bolsos) da juventude. Uma nova banda de Seattle acabara de tornar mainstream a depressão e o sentimento de inadequação, através de um multiplatinado Nevermind. Os dias de glória do hair metal estavam contados, Rolf - ou como é conhecido mundialmente – Joey Tempest - sabia disso.

E foi sem nenhuma despedida oficial e sem nenhum glamour que o Europe se retirou repentinamente de cena.

Europe em sua glória purpurinada

Europe II – recomeçando das trevas


Setembro de 2004, tão silenciosamente quanto havia desaparecido, e sem ninguém ter pedido, o Europe ressurgia.

Mas tal qual uma carcaça enterrada no Cemitério Micmac idealizado por Stephen King, o Europe que levantava da tumba, embora carnalmente fosse representado pela formação clássica, em essência era uma coisa muito diferente.




Europe em 2004

Ao vivo, a mudança ficava ainda mais clara. Com visual resumido ao tradicional couro e jeans, sem efeitos de pirotecnia, o Europe passou a assaltar os palcos com uma pegada muito diferente. A banda não virou as costas ao seu catálogo pregresso, apenas mostrou que existiam grandes músicas por detrás daquelas produções pasteurizadas. Ou como John Norum gosta de dizer nas entrevistas atuais, “agora as músicas soam como deveriam, sem a interferência de gravadoras e empresários”. Um exemplo pode ser visto no vídeo abaixo para Seven Doors Hotel:





E esse “novo” Europe angariava uma nova geração de fãs, e gente que outrora torcera o nariz para banda, passava a ver a marca com outros olhos.
E eu fui um deles.

Bag of Bones – o quarto e bluesy rebento

A mudança, bem arquitetada pelo líder e principal compositor, o vocalista Joey Tempest, atendeu aos anseios de todos da banda. “Somos crias do heavy rock britânico dos anos 1970”, disse o vocalista à Classic Rock Magazine em junho desse ano.

Não é novidade, por exemplo, a adoração do guitarrista John Norum pelo Thin Lizzy, que foi inclusive alvo de uma homenagem em Start From the Dark (na faixa Hero).

Uma prova de que não se trata de oportunismo a repentina aproximação do Europe com o heavy rock é próprio o nome da banda, inicialmente Force, e que fora mudado por conta de uma de uma das maiores paixões de Tempest e Norum, o disco Made in Europe, do Deep Purple.

Tendo dito isso, nos últimos lançamentos após seu retorno a banda veio, ainda que aos poucos, introduzindo essas influências em seu som.

Mas é somente no quarto rebento após o retorno, Bag Of Bones, que as influências do hard setentista deixam de ser uma referência residual para se tornarem explícitas. 

Europe 2012
O início com o riff grooveado e repleto de wah-wah de Riches to Rags, mostra grandes pitadas de blues rock. O solo hendrixiano do sempre excelente Norum remete diretamente ao seu último disco solo, Playard Blues.

E se soa estranho aos seus ouvidos Europe tocando blues rock, você não está sozinho, Not Supposed to Sing the Blues (um heavy rock, na realidade – ver vídeo abaixo) é uma resposta justamente a uma crítica que a banda recebera no passado, na qual um repórter disse que ele seriam o tipo de banda que nunca conseguiria tocar um blues. Desafio vencido: diga-se de passagem, a banda se sai muito bem fazendo-o. obviamente, sob a forma de uma versão pesada de um blues.



Aliás, o Blues Rock anabolizado dá as caras em My Woman My Friend e na faixa título, que inclusive conta com a participação do atual fenômeno do Blues rock – Joe Bonamassa – fazendo slide guitar. Joe, aliás, que foi trazido à tiracolo pelo produtor da bolacha, Kevin Shirley. O Sul-africano ganhou o posto justamente pelas produções atuais com enfoque no classic rock, seja com Bonamassa, seja com o Black Country Communion. Embora não seja exatamente entusiasta do som de suas produções, não há como não reconhecer que o trabalho aqui é muito bom. Tudo soa com punch e clareza.
E se há algo de notável nesse disco é o som das guitarras. John Norum está inspiradíssimo em seus solos, totalmente calcados nos guitar-heroes do passado. A furiosa Firebox é um exemplo dessa excelência guitarristica, lembra bastante as faixas mais pesadas de Start From the Dark e é uma das melhores do disco. Outra que se destaca pelo peso é Demon Head e se não citei ainda o quanto a cozinha da banda contribui para o resultado, é porque Ian Haughland e John Levèn, ainda que excelentes músicos, se preocupam principalmente com a coesão e pegada, e não com exibicionismos.


Encontro de titãs: John Norum e Joe Bonamassa

Aliás, no que tange ao desempenho individual, minha única ressalva é justamente quanto à Joey Tempest. Não que ele esteja cantando mal, Joey tem uma voz bonita e precisa, além de ser um letrista de mão cheia e criar boas melodias. O problema na verdade é que seu timbre é limpo ao extremo, contrastando com a dose de bourbon que o Europe colocou em sua música para esse disco. Não consigo deixar de imaginar, por exemplo, como a pesada Mercy You Mercy Me (ou My Woman My Friend) se sairia melhor com a voz encardida de John Norum. Mas se há um momento em que fica clara sua qualidade é na totalmente zeppeliana Drink And A Smile.


Joey Tempest botando as roupas de lycra para lavar

Doghouse já vinha fazendo parte do repertório dos shows da banda desde 2011 (ver vídeo), e é talvez a mais sem graça do disco.



Ah, e talvez você esteja estranhando algo. Estou quase no fim da resenha de um disco do Europe e não fiz nenhuma referência a baladas. Mas é porque a mesma só dá as caras a final do disco, com a bonitinha (mas desnecessária) Bring It All Home. Não, em nada se parece com Carrie (graças à Deus). E sim, tem um ar setentista.

Saldo Final

Longe de seu passado purpurinado, o Europe nos presenteia com um bom disco de hard rock calcado em blues e coisas que rescendem à mofo.

Bag Of Bones em nenhum momento soa cansativo e prova mais uma vez que o Europe é sim uma grande banda de rock e que você não precisa se envergonhar de ter uma cópia de Final Countdown em sua coleção. Resta torcer para eles substituírem Carrie por alguma das boas faixas desse disco nos shows.


NOTA - 8

Ficha Técnica

Banda (Nacionalidade): Europe (SUE)
Título (ano de lançamento): Bag Of Bones (2012)
Mídia: CD, lançamento Hellion Records(Nacional)
Faixas: 11
Duração: 40’

Faixas:
1. Riches to Rags; 2. Not Supposed to Sing The Blues; 3. Firebox; 4. Bag Of Bones; 5. Requiem; 6. My Woman My Friend; 7. Demon Head; 8. Drink And A Smile; 9. Doghouse; 10. Mercy You Mercy Me; 11. Bring it All Home.

Rotule como: Hard Rock, Heavy Rock
Indicado para: Fãs de um hard mais classudo.
Passe longe se: adorar laquê e roupas de lycra.

















6 comentários:

  1. Confesso que do Europe, só conheço Final Countdown e Carrie... Nem sabia que Levén & Haugland eram da banda. Mas tenho o "Burning Japan Live" do Glenn Hughes e eles dois estão na banda, DETONANDO!!!

    Talvez valha a pena deixar de lado o antigo nojo e ouvir esse daí.

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    1. Señor Krill
      Eles sempre fizeram parte da banda.
      Sim, o Europe pós 2004 vale uma chance.
      John Norum é um mega guitarrista e abandonou a banda em 86, no auge, justamente pelo mesmo nojo que vc tinha deles.
      E Burning Japan Live detona, mesmo. Uma pena que após conseguir uma cópia de um vídeo daquela mesma turnê no Japão, tenha ficado claro que, pelo menos no que tange a voz de Hughes, Burning Japan Live poderia se chamar Burning a Japanese Studio Live.
      jundis
      T

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  2. Po, Europe pra mim (e provavelmente pra 90% do mundo) sempre foi apenas Final Countdown! hehe

    Mas fiquei mt curioso nesse "novo som", dos caras.
    Você descreveu o novo cd usando dois "estilos" que, quando se juntam, ganham o meu coração: Blues e Hard Rock.
    Procurarei esse cd com certeza! =)

    PS: não se assuste com esses comentários em posts antigos... mas é q eu to lendo as resenhas das mais recentes pras mais antigas! hehe

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    1. Pablê
      Estão melhor ver as resenhas sobre o Joe Bonamassa (primeira do blog) e Rory Gallagher...
      Sobre o Europe, eles mudaram consideravelmente o som. O primeiro disco dessa nova fase é excelente, os seguintes e esse atual são muito bons.
      Ah, e certamente não ficarei assustado com comentários sobre posts antigos...fico assustado mesmo é de alguém ler essa josta de blog, hehehe
      abracetas
      T

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  3. Confiando na sua palavra, já baixei aki todos os cds mais recentes do europe!

    Já tinha lido o post sobre o Bonamassa e me amarro mt nele e, principalmente, no Black Country Communion (acho q é impossível um projeto com o hughes ser ruim! hehe)

    Essa josta de blog é um excelente lugar pra se descobrir novas bandas, ou então saber das novidades de bandas que a gente nem lembrava mais (Europe, por ex).

    E fique sabendo q tem outras pessoas que lêem e não comentam! hehe

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    1. Pablê,
      Espero que goste dos cds, eu sou fã do John Norum, guitarrista do europe...e terminei fã dos cds atuais do europe (aliás, nem tenho os antigos...).
      E obrigado pelas palavras sobre essa josta, depois te pago uma pizza pelo merchandise, whahaha
      abração
      T

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