A HORA E A VEZ DO METAL GREGO
Prólogo – um guitarrista grego na América
Em 1998, Kostas Karamitroudis era apenas um jovem e promissor guitarrista
apaixonado por Heavy Metal. Sua escolha por seguir a carreira musical já não
era nenhuma novidade para sua família, que acompanhou com resignação o jovem de
18 anos abandonar sua Grécia natal para tentar a sorte na América, mais
especificamente na Berklee College of
Music, em Boston.
Aparentemente o jovem Kostas não encontrou dificuldades em se
adaptar à cultura local. Logo seus amigos escolheriam um epíteto de maior
facilidade de pronúncia como apelido, surgindo então Gus, ou para alguns G. Mais
difícil que se adaptar à cultura local foi encontrar quem acompanhasse a paixão
do agora chamado Gus pelo Heavy Metal. Para exercitar sua técnica em seu estilo
favorito, ele resolveu chamar alguns amigos e conhecidos para gravar uma demo. O
estilo seria o Power metal melódico, em voga na Europa na época, e como a banda
(mesmo não existindo de fato) precisaria de um nome, o escolhido foi Firewind.
Kostas Karamitroudis - ou seria Gus G? |
E se o intuito da demo foi
mostrar os talentos do guitarrista a mesma atingiu certeiramente o alvo. Gus G (seu novo nome artístico) foi o
nome de escolha do produtor e músico Fredrik Nordström para montar sua banda laboratório de Power
Metal, o Dream Evil.
Com o Dream Evil |
Em paralelo, Gus foi convidado a integrar o Nightrage e o Mystic
Prophecy. Após lançar discos com as três bandas, em 2003 Gus G
resolveu que era hora de aproveitar a experiência conquistada para levar seu
próprio projeto à frente. E então o Firewind foi aos poucos galgando
território no segundo escalão da cena de metal européia, em especial depois da
entrada do vocalista Apollo Papathanasio (ex-Time Requiem) e
gravação do aclamado The Premonition, que mesclava com sucesso metal
melódico, hard rock e elementos de metal mais moderno, algo próximo do que os
americanos do Kamelot haviam feito após a chegada de Rhoy Khan.
Nas mãos do Príncipe das
Trevas
Mas seria Fredrik Nordstrom o responsável, mesmo que
indiretamente, por um salto de popularidade da banda. O produtor estava
gravando Doomsday Machine do Arch Enemy, e convidou o amigo Gus
G para gravar um solo. Naquela turnê, em 2005, Christopher Amott
deixaria a banda por algum tempo, e Gus G foi então chamado para fazer a
segunda guitarra. Uma das datas coincidiu com o Ozzfest, evento
itinerante que Sharon Osbourne montou para o Príncipe das Trevas. Esses shows
mudariam a vida de Gus G para sempre.
A performance do jovem grego nos shows, assim como a amizade que ele fez
com a equipe de Ozzy, em especial com o baixista Blasko, renderiam frutos
inimagináveis. Em 2009, Ozzy decidiria romper a outrora imbatível pareceria com
Zakk Wylde e Gus G seria então indicado para fazer um show com Ozzy na OzzCon
daquele ano. Se funcionasse, seria efetivado na banda. De lá para cá, Gus G não
só passou a integrar a banda de Ozzy, como ajudou o velho comedor de morcegos a
escrever o bom Screm, trazendo o som do Ozzy um pouco mais próximo do metal
novamente.
Gus G e o Madman! |
E o Firewind?
Mas como agenda do velho Ozz não é das mais cheias, ainda sobrou
tempo para Gus G levar à frente seu Firewind, tentando justamente
capitalizar na fama mainstream proporcionada pelo novo trampo. Só que o tiro
inicial não atingiu o alvo. Days Of Defyance, primeiro disco do Firewind
pós Ozzy saiu magrinho e sem inspiração. Muita gente acreditou que a
falta de resposta (ou ao menos de uma resposta mais forte) a esse disco fosse
decretar o fim da banda. Ainda mais quando
o vocalista Apollo foi efetivado como o novo frontman do Spiritual
Beggars, para lançamento do ótimo Return To Zero.
Apollo à frente em material promocional do Spiritual Beggars |
Mas eis que para surpresa de muitos, Gus G anuncia o novo disco, Few
Against Many, bradando ao mundo que este seria o disco a marcar o nome do Firewind
para um público mais abrangente.
E será que Few Against Many corresponde às bravatas de seu mentor?
Um Verdadeiro Presente de
Grego?
A pesada Wall Of Sound, faixa de abertura e trabalho do disco, mostra-se um
tremendo cartão de visitas. Riffs pesados e com algo de modernidade, bateria
poderosa e o vocal rasgadão e muito acima da média de Apollo poderiam cair no lugar comum de várias bandas de metal da
atualidade, mas os solos inspirados de Gus
G, aliados a um refrão pegajoso ganham o jogo. Confira no vídeo abaixo:
A faixa seguinte, Losing My Mind, parece trazer um pouco
do Spiritual Beggars, no que tange às linhas de voz. O que é bastante
plausível, tendo em vista que além de Apollo ser o vocalista das duas bandas, o
estilo melodioso das guitarras de Gus G em muito lembram o de Michael Amott. Os
dois são muito influenciados por Michael Schenker. Curiosamente, Gus G disse
recentemente que essa música chegou a ser trabalhada com Ozzy para Scream, mas
não fora finalizada a tempo.
A pesada faixa título começa e fica
cada vez mais clara a intenção da banda em se distanciar ao máximo de suas
origens no Power metal melódico europeu, tal como fizera com sucesso o Kamelot. Uma bela escolha e mais uma faixa
poderosa, com grande refrão e ótima participação do novato Jo Nuñez na bateria. Nos solos, mais uma demonstração de que Gus G parece ser mais irmão de Michael Amott do que o próprio Christopher Amott. Uma excelente
rendição metálica do estilo Schenker
de solar.
Bob, Apollo, Gus, Petros e Nuñez - Firewind em 2012 |
O início de Undying Fire nos
engana com um dedilhado e vocal tranqüilo, mas logo a rifferama está de volta e
temos mais um ótimo refrão, que poderia soar melecoso caso Apollo não fosse um
vocalista muito mais inspirado em Dio do que nos Michael Kiskes da vida. Ótima faixa
novamente.
Quando me refiro ao peso das
músicas, obviamente não estou me referindo a nada relativo aos estilos mais
extremos de metal, mas eis que Another Dimension nos trás algo bem próximo do
Thrash Metal europeu. Certamente a música mais pesada feita pela banda e mais
um ótimo desempenho de todos, em especial do debutante baterista. Por alguns
instantes (até entrar o vocal, claro) dá
até para acreditar tratar-se de algo do Kreator
atual.
Digno de nota se faz também o
trabalho do tecladista Bob katsionis, que consegue dar um enfoque a seu instrumento
bastante funcional e moderno, fugindo à lenga lenga neoclássica que faz com que
geralmente amaldiçoemos a presença de teclados no metal. É muito comum ver os
teclados atuarem nesse disco como uma segunda guitarra, com efeitos distorcidos
que contribuem com o peso do resultado final.
Glorious é uma das melhores faixas do disco e possui ótimo refrão e
aproxima-se um pouco do Power metal sem soar nada chata. Logo após temos uma
ligeira queda no ritmo com a participação do arroz-de-festa finlandês Apocalyptica, fazendo os cellos na
bonita Power balada Edge of a Dream.
A faixa começa algo xarope, mas a boa voz rouca de Apollo salva a lavoura.
Infelizmente, nada conseguiria
salvar a péssima Destiny, faixa que
emula o estilo melódico que a banda executava em seus primórdios. Mais uma
prova que Gus G fez muito bem em
procurar um enfoque mais pesado e atual para a banda. Uma faixa absolutamente
desnecessária, ainda mais ao avaliar o estepe de qualidade que a banda utilizou
como faixa bônus em algumas edições do disco.
O nível volta a ficar alto com Long Gone Tomorrow. E se eu não
comentei antes, a produção excelente sob a batuta do próprio guitarrista deixou
bastante espaço para o bom baixista Petros
Christo (no Firewind desde 2003)
mostrar seus talentos, com linhas inventivas geralmente utilizando timbres algo
distorcidos.
A edição padrão de Few Against
Many se encerra com uma das apostas da banda – No Heroes. No Sinners, uma falsa
balada excelente, com um refrão que certamente ficará gravado na cabeça de
todos na primeira audição e que coroa os ótimos desempenhos individuais do
resto do disco.
A edição especial conta com duas
faixas bônus, uma versão acústica para No
Heroes. No Sinners, tão boa quanto a original e uma inédita Battleborn. E ao escutar essa segunda,
fica a surpresa, seu andamento marcial e algo próximo do Doom Metal, além do refrão poderoso, fazem dessa uma das melhores
faixas escritas pela banda. Dezenas de vezes melhor que a porqueira Destiny, que entrou no repertório
oficial. Vai entender...
Saldo Final
A cena metálica atual é
extremamente prolífica em bandas que praticam seus sub-estilos mais extremos. Mas
Odin sabe o quanto anda raro
encontrar bandas que pratiquem um heavy metal mais próximo do tradicional. E mais
raras ainda são aquelas que conseguem fazê-lo sem soar datadas e caricatas. Então
o Firewind, com esse ótimo Few Against Many tem tudo para ganhar
uma boa parcela de fãs, em especial após a notoriedade que a participação de Gus G na banda de Ozzy pode dar,
alçando seu nome em veículos de divulgação mais próximos da cena mainstream. Se
esse não for o disco a catapultar o Firewind
ao primeiro escalão metálico, duvido que algum lançamento futuro o faça. Em
suma - um ótimo disco de metal e uma ótima chance de mostrar que a Grécia tem
muito mais a oferecer que uma infindável crise econômica e um futebol pavoroso.
Esse sim o verdadeiro presente de Grego!
NOTA - 8,5
Curiosidade: a arte de capa e design do livreto é trabalho de um brasileiro, Gustavo Sazes, com quem a banda parece ter firmado uma parceria de sucesso.
Ficha Técnica
Banda (Nacionalidade): Firewind (GRE)
Título (ano de lançamento): Few
Against Many (2012)
Mídia: CD
Gravadora: EONE Music (importado)
Faixas: 10 (12 na edição
limitada)
Duração: 45’ (53’ na edição
limitada)
Rotule como: Heavy Metal, Metal
Tradicional, Power Metal
Indicado para: Fãs de metal
tradicional e Power metal moderno.
Passe longe se: não conseguir
lidar absolutamente com traços de Power metal europeu.
Gus G é um SENHOR guitarrista. Encaixou perfeitamente com o Madman. Mas não conheço nado do Firewind (estou em dúvida até se quero conhecer)...
ResponderExcluirMr. Krill, dê uma olhada nos dois vídeos do youtube que constam na resenha. Se não vomitar em nenhum dos dois, então vale à pena.
ExcluirO disco resenhado é o mais pesado e, em minha opinião, o melhor da banda. Então ele seria um bom início.
Se curtir Few Against Many, então busque The Premonition, que é um pouco mais orientado para o melódico (e com um pouco de hard). de resto não tem nada na discografia dos caras que realmente seja digno de nota.
Abraço
Trevas