domingo, 15 de julho de 2012

Firewind – Few Against Many (2012)




A HORA E A VEZ DO METAL GREGO

Prólogo – um guitarrista grego na América

Em 1998, Kostas Karamitroudis era apenas um jovem e promissor guitarrista apaixonado por Heavy Metal. Sua escolha por seguir a carreira musical já não era nenhuma novidade para sua família, que acompanhou com resignação o jovem de 18 anos abandonar sua Grécia natal para tentar a sorte na América, mais especificamente na Berklee College of Music, em Boston.

Aparentemente o jovem Kostas não encontrou dificuldades em se adaptar à cultura local. Logo seus amigos escolheriam um epíteto de maior facilidade de pronúncia como apelido, surgindo então Gus, ou para alguns G. Mais difícil que se adaptar à cultura local foi encontrar quem acompanhasse a paixão do agora chamado Gus pelo Heavy Metal. Para exercitar sua técnica em seu estilo favorito, ele resolveu chamar alguns amigos e conhecidos para gravar uma demo. O estilo seria o Power metal melódico, em voga na Europa na época, e como a banda (mesmo não existindo de fato) precisaria de um nome, o escolhido foi Firewind.

Kostas Karamitroudis - ou seria Gus G?

E se o intuito da demo foi mostrar os talentos do guitarrista a mesma atingiu certeiramente o alvo. Gus G (seu novo nome artístico) foi o nome de escolha do produtor e músico Fredrik Nordström para montar sua banda laboratório de Power Metal, o Dream Evil.

Com o Dream Evil



Em paralelo, Gus foi convidado a integrar o Nightrage e o Mystic Prophecy. Após lançar discos com as três bandas, em 2003 Gus G resolveu que era hora de aproveitar a experiência conquistada para levar seu próprio projeto à frente. E então o Firewind foi aos poucos galgando território no segundo escalão da cena de metal européia, em especial depois da entrada do vocalista Apollo Papathanasio (ex-Time Requiem) e gravação do aclamado The Premonition, que mesclava com sucesso metal melódico, hard rock e elementos de metal mais moderno, algo próximo do que os americanos do Kamelot haviam feito após a chegada de Rhoy Khan




Nas mãos do Príncipe das Trevas

Mas seria Fredrik Nordstrom o responsável, mesmo que indiretamente, por um salto de popularidade da banda. O produtor estava gravando Doomsday Machine do Arch Enemy, e convidou o amigo Gus G para gravar um solo. Naquela turnê, em 2005, Christopher Amott deixaria a banda por algum tempo, e Gus G foi então chamado para fazer a segunda guitarra. Uma das datas coincidiu com o Ozzfest, evento itinerante que Sharon Osbourne montou para o Príncipe das Trevas. Esses shows mudariam a vida de Gus G para sempre.

A performance do jovem grego nos shows, assim como a amizade que ele fez com a equipe de Ozzy, em especial com o baixista Blasko, renderiam frutos inimagináveis. Em 2009, Ozzy decidiria romper a outrora imbatível pareceria com Zakk Wylde e Gus G seria então indicado para fazer um show com Ozzy na OzzCon daquele ano. Se funcionasse, seria efetivado na banda. De lá para cá, Gus G não só passou a integrar a banda de Ozzy, como ajudou o velho comedor de morcegos a escrever o bom Screm, trazendo o som do Ozzy um pouco mais próximo do metal novamente. 

Gus G e o Madman!
E o Firewind?

Mas como agenda do velho Ozz não é das mais cheias, ainda sobrou tempo para Gus G levar à frente seu Firewind, tentando justamente capitalizar na fama mainstream proporcionada pelo novo trampo. Só que o tiro inicial não atingiu o alvo. Days Of Defyance, primeiro disco do Firewind pós Ozzy saiu magrinho e sem inspiração. Muita gente acreditou que a falta de resposta (ou ao menos de uma resposta mais forte) a esse disco fosse decretar o fim da banda.  Ainda mais quando o vocalista Apollo foi efetivado como o novo frontman do Spiritual Beggars, para lançamento do ótimo Return To Zero.




Apollo à frente em material promocional do Spiritual Beggars
Mas eis que para surpresa de muitos, Gus G anuncia o novo disco, Few Against Many, bradando ao mundo que este seria o disco a marcar o nome do Firewind para um público mais abrangente.

E será que Few Against Many corresponde às bravatas de seu mentor?

Um Verdadeiro Presente de Grego?

A pesada Wall Of Sound, faixa de abertura e trabalho do disco, mostra-se um tremendo cartão de visitas. Riffs pesados e com algo de modernidade, bateria poderosa e o vocal rasgadão e muito acima da média de Apollo poderiam cair no lugar comum de várias bandas de metal da atualidade, mas os solos inspirados de Gus G, aliados a um refrão pegajoso ganham o jogo. Confira no vídeo abaixo:




A faixa seguinte, Losing My Mind, parece trazer um pouco do Spiritual Beggars, no que tange às linhas de voz. O que é bastante plausível, tendo em vista que além de Apollo ser o vocalista das duas bandas, o estilo melodioso das guitarras de Gus G em muito lembram o de Michael Amott. Os dois são muito influenciados por Michael Schenker. Curiosamente, Gus G disse recentemente que essa música chegou a ser trabalhada com Ozzy para Scream, mas não fora finalizada a tempo.

A pesada faixa título começa e fica cada vez mais clara a intenção da banda em se distanciar ao máximo de suas origens no Power metal melódico europeu, tal como fizera com sucesso o Kamelot. Uma bela escolha e mais uma faixa poderosa, com grande refrão e ótima participação do novato Jo Nuñez na bateria. Nos solos, mais uma demonstração de que Gus G parece ser mais irmão de Michael Amott do que o próprio Christopher Amott. Uma excelente rendição metálica do estilo Schenker de solar.

Bob, Apollo, Gus, Petros e Nuñez - Firewind em 2012
O início de Undying Fire nos engana com um dedilhado e vocal tranqüilo, mas logo a rifferama está de volta e temos mais um ótimo refrão, que poderia soar melecoso caso Apollo não fosse um vocalista muito mais inspirado em Dio do que nos Michael Kiskes da vida. Ótima faixa novamente.

Quando me refiro ao peso das músicas, obviamente não estou me referindo a nada relativo aos estilos mais extremos de metal, mas eis que Another Dimension nos trás algo bem próximo do Thrash Metal europeu. Certamente a música mais pesada feita pela banda e mais um ótimo desempenho de todos, em especial do debutante baterista. Por alguns instantes (até entrar o vocal, claro) dá até para acreditar tratar-se de algo do Kreator atual.

Digno de nota se faz também o trabalho do tecladista Bob katsionis, que consegue dar um enfoque a seu instrumento bastante funcional e moderno, fugindo à lenga lenga neoclássica que faz com que geralmente amaldiçoemos a presença de teclados no metal. É muito comum ver os teclados atuarem nesse disco como uma segunda guitarra, com efeitos distorcidos que contribuem com o peso do resultado final.

Glorious é uma das melhores faixas do disco e possui ótimo refrão e aproxima-se um pouco do Power metal sem soar nada chata. Logo após temos uma ligeira queda no ritmo com a participação do arroz-de-festa finlandês Apocalyptica, fazendo os cellos na bonita Power balada Edge of a Dream. A faixa começa algo xarope, mas a boa voz rouca de Apollo salva a lavoura.

Infelizmente, nada conseguiria salvar a péssima Destiny, faixa que emula o estilo melódico que a banda executava em seus primórdios. Mais uma prova que Gus G fez muito bem em procurar um enfoque mais pesado e atual para a banda. Uma faixa absolutamente desnecessária, ainda mais ao avaliar o estepe de qualidade que a banda utilizou como faixa bônus em algumas edições do disco.

O nível volta a ficar alto com Long Gone Tomorrow. E se eu não comentei antes, a produção excelente sob a batuta do próprio guitarrista deixou bastante espaço para o bom baixista Petros Christo (no Firewind desde 2003) mostrar seus talentos, com linhas inventivas geralmente utilizando timbres algo distorcidos.

A edição padrão de Few Against Many se encerra com uma das apostas da banda – No Heroes. No Sinners, uma falsa balada excelente, com um refrão que certamente ficará gravado na cabeça de todos na primeira audição e que coroa os ótimos desempenhos individuais do resto do disco.

A edição especial conta com duas faixas bônus, uma versão acústica para No Heroes. No Sinners, tão boa quanto a original e uma inédita Battleborn. E ao escutar essa segunda, fica a surpresa, seu andamento marcial e algo próximo do Doom Metal, além do refrão poderoso, fazem dessa uma das melhores faixas escritas pela banda. Dezenas de vezes melhor que a porqueira Destiny, que entrou no repertório oficial. Vai entender...


Saldo Final

A cena metálica atual é extremamente prolífica em bandas que praticam seus sub-estilos mais extremos. Mas Odin sabe o quanto anda raro encontrar bandas que pratiquem um heavy metal mais próximo do tradicional. E mais raras ainda são aquelas que conseguem fazê-lo sem soar datadas e caricatas. Então o Firewind, com esse ótimo Few Against Many tem tudo para ganhar uma boa parcela de fãs, em especial após a notoriedade que a participação de Gus G na banda de Ozzy pode dar, alçando seu nome em veículos de divulgação mais próximos da cena mainstream. Se esse não for o disco a catapultar o Firewind ao primeiro escalão metálico, duvido que algum lançamento futuro o faça. Em suma - um ótimo disco de metal e uma ótima chance de mostrar que a Grécia tem muito mais a oferecer que uma infindável crise econômica e um futebol pavoroso. Esse sim o verdadeiro presente de Grego!

NOTA - 8,5

Curiosidade:  a arte de capa e design do livreto é trabalho de um brasileiro, Gustavo Sazes, com quem a banda parece ter firmado uma parceria de sucesso.


Ficha Técnica

Banda (Nacionalidade): Firewind (GRE)

Título (ano de lançamento): Few Against Many (2012)

Mídia: CD
Gravadora: EONE Music (importado)
Faixas: 10 (12 na edição limitada)
Duração: 45’ (53’ na edição limitada)

Rotule como: Heavy Metal, Metal Tradicional, Power Metal
Indicado para: Fãs de metal tradicional e Power metal moderno.
Passe longe se: não conseguir lidar absolutamente com traços de Power metal europeu.




2 comentários:

  1. Gus G é um SENHOR guitarrista. Encaixou perfeitamente com o Madman. Mas não conheço nado do Firewind (estou em dúvida até se quero conhecer)...

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    1. Mr. Krill, dê uma olhada nos dois vídeos do youtube que constam na resenha. Se não vomitar em nenhum dos dois, então vale à pena.
      O disco resenhado é o mais pesado e, em minha opinião, o melhor da banda. Então ele seria um bom início.
      Se curtir Few Against Many, então busque The Premonition, que é um pouco mais orientado para o melódico (e com um pouco de hard). de resto não tem nada na discografia dos caras que realmente seja digno de nota.
      Abraço
      Trevas

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